MOÇAMBIQUE À DERIVA OU PRESIDÊNCIA
AINDA SEM FOCO?
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo, CANALMOZ – 03.08.2015
A máquina ainda por ser limpa de integrantes do
passado.
Uma coisa é
herdar a presidência, e outra bem diferente é herdar a equipa de apoio do
presidente anterior.
Há uma
manifesta falta de coordenação de agendas na Presidência da República. Entre a
necessidade de o PR ser conhecido por todo o país e, no processo, agradecer aos
seus eleitores após a sua “vitória”, existe uma outra realidade que não pode
conhecer adiamentos. Os assuntos nacionais, nomeadamente a eminência de um
conflito militar, deveria e deve constituir o principal ponto da agenda
presidencial. Neste aspecto, a delegação de responsabilidades não é suficiente.
É preciso ver-se o PR metido no assunto todos os dias.
Parece que
houve um erro crasso na constituição da equipa de apoio do PR, ou não se deu
importância ao facto, partindo do princípio de que, sendo o antigo PR e o
actual pertencentes ao mesmo partido, não havia necessidade de gastar tempo
definindo quem seriam os assistentes do PR “eleito”.
Os gabinetes
presidenciais são motivo de muita preocupação pelos titulares do cargo em todo
o mundo.
A menos que
o PR seja alguém sem poderes para atacar esse sector e fazer as suas escolhas.
Será o nosso caso?
Numa altura
em que a sociedade moçambicana se encontra agastada pelo atraso que se verifica
no CCJC, fica a impressão de que o país anda à deriva e ao sabor dos ventos.
Existem
efectivamente dois exércitos num só país. FADM, que é governamental, embora se
sinta e se acredite que obedece a comando partidário, Frelimo, e outro dirigido
pela Renamo. Portanto, dois exércitos partidários. Não vale a pena andar em
curvas e apresentar defesas que não colhem nem são consistentes sobre o
assunto.
Existe uma
situação de conflitualidade potencial que já se manifesta através de focos de
tensão e mesmo disparos entre estes dois exércitos.
Um executivo
que toma posse tem obrigação de implementar o que foi o seu manifesto
eleitoral, e, se a escolha foi de continuidade, não se pode esperar muitas
surpresas.
Só que o
país e o seu povo querem ver mudanças sendo operadas a um passo que signifique
alteração efectiva da sua vida. Visitas já foram efectuadas, muitas a um título
ou outro. Despesismo governamental de carro ou de helicóptero não deixa de ser
o mesmo.
O “dossier”
principal, neste momento, é a iminência de um conflito militar de grandes proporções.
Quando o PR
fala de que Tete não pode ser campo de treino para a guerra, deve lembrar-se
que Satungira e Muxungué foram campos de treino militar.
A equipa
herdada pelo PR e a composição do seu executivo significam, aos olhos de todos,
uma espécie de compromisso entre AEG e FJN. Cada um colocou os seus “confiados”
e daí se espera que tal arranjo funcione pelo menos nos tempos mais próximos.
Esqueceu-se
que um Governo funciona quando os seus integrantes puxam todos na mesma
direcção. Não se pode ter um Governo produzindo êxitos com ministros-figurantes
ou simples guardiões de interesses e posições. Uma equipa executiva não é um
conjunto de personalidades guardando ou defendendo retalhos ou pedaços da
“capulana”. Silos, parques de máquinas e outras realizações do Governo de AEG
sendo inauguradas por FJN são motivo insuficiente de tanta visita presidencial.
Para além da
manutenção da paz e construção de um Exército único apartidário, existe o
“dossier” da economia, que se mostra de tratamento urgente e prioritário.
O Governo
tem de dar sinais de que pretende abordar as questões económicas com uma visão
diferente.
A terra e os
recursos minerais, os megaprojectos que lhe estão adstritos merecem tratamento
baseado nos mais altos interesses da nação e não de um grupo de
ministros-empresários e lobistas.
Há que
trazer para a mesa toda a questão dos megaprojectos de forma transparente, para
que a economia beneficie. Não se pode permitir que a proliferação de escândalos
de natureza económico-financeira continuem a lesar os cofres públicos e
aumentando a dívida pública.
Moçambique
não pode viver e desenvolver-se com Ematumgate,
EDMgate, LAMgate, CFMgate, TDMgate, mCelgate, Procurementgate,
Madeiragate. O PR já teve tempo de se
inteirar dos “dossiers” nacionais.
Também já
teve tempo de reflectir sobre as prioridades do seu Governo. Falar dos seus
pilares como falava nos tempos de campanha eleitoral é inútil e
contraproducente.
O país
precisa de uma liderança que imprima velocidade, dinâmicas desenvolvimentistas
combinadas com uma capacidade acutilante de ouvir e ler os anseios dos
governados.
Enquanto
guardião da Constituição, espera-se que o PR contribua para a democratização do
país aprofundando a separação dos poderes democráticos com actos e não com mais
discursos.
Tem-se visto
e é sabido que a impunidade judicial prejudica sobremaneira o país e que é a
partir de directivas subliminares que governantes, figuras políticas e
empresários ensaiam e realizam operações que lesam o erário público e as
aspirações de milhões de moçambicanos.
De maneira
paulatina, mas obedecendo a um grande plano, o país foi sendo tomado, vendo os
seus destinos desenhados numa perspectiva de enriquecimento rápido e ilícito
dos seus mentores.
O país
carece de soluções apontadas para a resolução dos seus grandes problemas, e o
PR tem de começar a imprimir outra dinâmica a governação.
Já é tempo
de aproveitar os espaços que surgem de maneira natural e criar espaços que lhe
permitam construir uma equipa de apoio própria obedecendo aos seus comandos.
Aquele poder
bicéfalo, que se temia, não pode continuar existindo.
Há indecisão
em aspectos fundamentais e estruturantes. Sabe-se o que faz falta e o que
emperra as transformações genuínas que o país precisa e requer.
Não há problemas
para a maioria que o PR seja PR, mas ninguém quer ter um PR figurino que não
“orienta a orquestra”.
É estratégia
muito má conselheira privilegiar o adiamento dos problemas, esperando que, por
si, tudo se encaixará nos carris e que a normalidade sobrevirá depois de alguns
anos.
O PR não
deve nem pode ter receio de presidir, de governar e sobretudo de liderar. Ou
ele se torna num aluno rápido a aprender, ou veremos a crise se aprofundando e
o país escorregando para o abismo.
Boa
estratégia é “não esticar a corda” nem “encurralar o gato com as portas e
janelas fechadas”.
Ninguém se
esqueça que, sem saídas airosas para as partes, o que se consegue é adiar novas
guerras, como a história ensina.
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