IGREJAS OU DUMBANENGUIZAÇÃO DA
RELIGIÃO?
Centelha por Viriato Caetano Dias
WAMPHULA FAX – 10.08.2015
“O ridículo da situação é que,
mesmo os que sabem que estão a ser enganados, continuam a acreditar nos manipuladores
e a gostar de ser enganados!” Padre Manuel Maria Madureira da Silva
Ando
aborrecido com algumas igrejas. Por causa disso, contra todas as advertências
de fórum familiar e da congregação a que perfilhava, decidi, mesmo assim,
afastar-me e repudiar o comportamento de algumas igrejas que são grandes roedoras
das algibeiras dos cristãos.
Nem as
capivaras são tão roedoras quanto algumas igrejas que pululam no país,
especializadas na extorsão do mísero salário dos cristãos e promovendo intrigas
entre as organizações religiosas.
Os
responsáveis por essas congregações religiosas transformaram os santuários da
fé e sentinelas dos valores da sociedade em organizações criminosas para sugar
o sangue dos cristãos. Hoje muitas igrejas estão ausentes da educação da
comunidade cristã, as homilias ou pregação da palavra, não atingem o coração
entristecido e dificilmente corrigem um comportamento prevaricador, visto que
existe uma concentração de esforços que consiste e persiste na roubalheira.
Num passado
não muito recente, no país, ser padre, pastor, sheik, etc., era, genericamente,
sinónimo de rectidão, mas, actualmente, a luxúria e a imoralidade tomaram conta
dos que deveriam ser a bússola da sociedade.
Enquanto os
seus crentes choram de estiagem alimentar e buscam forças para aliviar o peso
da vida, esses líderes religiosos têm uma vida folgada e perante uma ligeira
dor de cabeça tem o jacto a disposição para se tratar no estrangeiro. O
dinheiro provém do dízimo e das ofertas que são arrancadas à força aos crentes,
já que a religião está dumbaneguizada, onde a fé tem um preço.
Não há
critérios nem fiscalização, pois gente de conduta altamente duvidosa é
transformada em líderes religiosos, e em qualquer esquina, até em minúsculas
capoeiras de aves, nascem igrejas apelidadas de “casa de Cristo”.
No prédio
onde vivo, os lugares comuns deram lugares a igrejas. A poluição sonora
ultrapassa rajadas de canhões militares. A higiene é quase inexistente. O
perigo de desabamento de chapas de zinco improvisado é iminente.
Não paro de
interrogar-me o porque de Moçambique ser palco preferido de muitas igrejas
estrangeiras. Será que o nosso país tem a população mais triste do mundo? Será
que somos campeões da solidão? Porque será que somos “presas” de gananciosos
que nos seus países os crucifixos de Cristo foram substituídos pelos crucifixos
do diabo? Onde está o nosso governo para pôr cobro a esses abusos?
Tenho
algumas hipóteses.
Em primeiro
lugar, este é um país de “paz perpétua”. Eu explico melhor. Criou-se uma
sociedade de paz perpétua com os criminosos, com os trafulhas, com os
salafrários, com os prevaricadores, com as sanguessugas, com os falsos
profetas, com os impostores, com os mafiosos. Paz perpétua, nesse caso,
significa perdoar o mal para evitar choques e atrair investimentos a preços que
podem custar caro ao país.
Em segundo,
não somos o país mais triste do mundo, apesar de grandes adversidades que
comportam a maioria dos moçambicanos, mas o elevado nível de analfabetismo
contribui para que a população compre gato por lebre. É mais fácil enganar mil
analfabetos juntos que um instruído a dormir, pior ainda quando as escolas não
ensinam o povo os trilhos da dignidade como valor inalienável.
Em terceiro,
por natureza, o africano não sofre dessa doença que se chama solidão. As
igrejas estrangeiras associam a solidão com a falta de janelas de oportunidade.
O que o povo moçambicano precisa é de oportunidade para gerar emprego e
segurança. Em Moçambique, por incrível que pareça, a falta de oportunidade é
proporcional ao sofrimento do povo.
Em quarto, o
governo ausentou-se de disciplinar as igrejas, quiçá para não reabrir feridas
do passado, em que era bastante ríspido com a religião. Há uma resignação e o
“deixa-andar” para não ferir sensibilidades. Estabeleceu-se um vício do silêncio
em que ninguém diz nada e essas igrejas contrárias aos valores morais fazem e
desfazem ao bel-prazer.
O culto de
personalidade que se cria em volta de líderes religiosos torna-os imunes à
crítica, à confrontação e à fiscalização (os negócios das igrejas e mesquitas
devem ser do conhecimento do Estado), daí que haja uma “paz perpétua” reinante.
Fica aqui o
meu repúdio.
Zicomo
(obrigado).
P.S.: Não
sou muito a favor da nomeação de profissionais de saúde para assumir cargos de
ministros, à excepção do ministro de saúde, porque perde-se um profissional e
ganha-se um político que passa a vida a dar paliativos ao povo. Sou ainda menos
a favor de técnicos de saúde que se tornam porta-vozes do governo. Deixa de
gerir medicamentos, doenças como a tuberculose, cancro da mamã, HIV – sida,
passa decorar verborreias. Ao fim de cinco anos, esse porta-voz não estará em
condições de operar uma simples apêndice, perde a noção dos dados
epidemiológicos, enfim, não lida directamente com a vida humana,
desaproveitando todo o potencial existente.
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