OUTRO FORMATO PRECISA-SE PARA A
REDISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA
Causou
alguma estranheza a forma como a Renamo fundamentou a proposta do ponto quatro
do “diálogo político” que, segundo se sabe, tem a ver com as chamadas “questões
económicas”.
Diz a
Renamo, na sua fundamentação, que há exclusão de maior parte da população
moçambicana do usufruto das riquezas nacionais, pois, tudo quanto é riqueza
nacional vai unicamente para os políticos e pessoas umbilicalmente ligadas a
políticos. E esses políticos não são quaisquer.
São
políticos na nomenklatura frelimista, o partido que governa Moçambique
desde 25 de Junho de 1975.
Para se sair
desta realidade, que a Renamo diz ser inaceitável, propõe a mesma Renamo que se
encontrem maneiras de redistribuir essa riqueza.
Uma das
formas que pode e deve ser usada para assegurar melhor redistribuição e
usufruto da riqueza nacional, no entendimento da Renamo, é através da garantia
de acesso ao emprego.
Só que a
Renamo, considerando-se legítimo representante do seu nicho populacional, diz
que os tais empregos, da base até ao topo, devem beneficiar directamente os
seus membros.
Ou seja, os
membros da Renamo.
Completando
a lista dos beneficiários directos, a Renamo coloca igualmente os membros da
Frelimo e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), formando assim, o
triunvirato parlamentar.
Entende assim
a Renamo que, com a distribuição dos benefícios (empregos) pelos membros dos
três partidos, legítimos representantes do povo, fica resolvida a questão da
distribuição equitativa da riqueza nacional.
Nesta
perspectiva e de forma concrecta, a Renamo propõe que daqui em diante, as
nomeações aos órgãos dirigentes do Estado, das empresas públicas e de outras
instituições ligadas ao Estado sejam feitas tendo em conta a necessidade de
distribuir os cargos pelos membros dos três partidos políticos com assento
parlamentar.
Ora, é
exactamente esse formato que causou bastante estranheza nas pessoas. As pessoas
dizem que este formato é inaceitável por ser manifestamente injusto e com
tonalidade de aldrabice.
As pessoas
não criticam o fim ou o objectivo da proposta da Renamo, criticam, isso sim, o
formato. Mesmo considerando (aliás, não há dúvidas), que a Frelimo confiscou e
penhorou completamente tudo quanto seja riqueza nacional e redistribuiu pelos
seus membros, militantes, simpatizantes e pessoas umbilicalmente ligadas a si,
há o consenso de que não é recorrendo ao formato proposto que se vai resolver o
problema.
Com o
formato da distribuição pela representatividade parlamentar, se está a tentar
resolver um problema grave (não restam dúvidas), criando um outro problema
(também grave).
E as pessoas
têm muita razão de assim pensar e concluir. As razões são várias. É que não é
verdade que os três partidos com representação parlamentar representam todos os
moçambicanos.
Representam,
isso sim, o seu nicho de eleitorado.
Aliás, o
país tem o registo de cerca de 50 partidos políticos e todos esses (com maior
ou menor expressão) tem o seu nicho de eleitorado.
Mas, há
mais. Sabemos que a filiação partidária é livre neste país. Ninguém é obrigado
a fazer parte de qualquer formação partidária neste país. Significa isto que
milhares de moçambicanos são simplesmente apartidários por razões que lhes são
próprias.
Assim, as
perguntas são: quem representa a todos estes? São milhares e milhares de
moçambicanos que ficam e ficarão de fora no acesso aos empregos em resultado da
exploração das riquezas nacionais? São milhares que continuarão excluídos dos
benefícios da riqueza nacional?
Na verdade,
entre os dois grupos (apartidários e partidários), os apartidários levam larga
vantagem. O país tem o registo de 23 milhões de moçambicanos e a maior parte
tem idade eleitoral.
Da população
em idade eleitoral, apenas 10 milhões tem o registo eleitoral. Destes 10
milhões, apenas quatro milhões votaram.
Significa
isto que 6 milhões da população com registo eleitoral não esta nem aí para
partidos políticos.
Posto isto,
de novo se pergunta:
Quem
representa tanta gente que fica de fora? É pois, por isso, que achamos que a
Renamo deve reflectir e colocar formatos mais exequíveis, justos e razoáveis.
Pois, a proposta em si tem muito mérito e sentido, mas o formato é uma
autêntica estupidez.
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