UMA FROTA PARA A CPLP
Adelto Gonçalves, marilizadelto@uol.com.br,
23.08.15
O governo
federal anunciou a compra do navio Siroco, de fabricação francesa, a
pretexto de recompor uma lacuna na Marinha do Brasil. Embarcação usada, o Siroco,
que deverá ser rebaptizado como NAM (Navio Anfíbio Multipropósito) Bahia,
terá de passar por um período de manutenção antes de entrar em serviço. Com
grande capacidade anfíbia e de transporte, o navio pode ser utilizado em
situação de apoio à comunidade nacional e internacional, em casos de ajuda humanitária,
como o fez durante o terremoto que devastou o Haiti em 2010.
Para
garantir a compra do navio, o Brasil participou de uma concorrência que contou
com a presença de Portugal, que desistiu de sua compra, provavelmente em razão
dos altos valores em jogo. Nada contra que a Marinha do Brasil aumente sua
capacidade operacional e anfíbia, mas é preciso ver que se trata de um navio
usado, que foi incorporado em 1998 pela Marinha francesa.
Diante
disso, parece que está mais do que na hora de Brasil, Portugal e seus parceiros
na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) – Angola, Moçambique,
Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial e Timor Leste –
começarem a pensar na criação de uma indústria naval que os sirva, produzindo primeiro
navios de guerra e, depois, os de carga.
Provavelmente,
os recursos que o Brasil aplicou na compra do navio usado e os que Portugal
pretendia investir com o mesmo fim seriam suficientes para viabilizar o negócio
ou estimular a iniciativa privada das nove nações da CPLP a participar desse
empreendimento, com cada país-membro encarregando-se da produção de diversos
componentes. Além disso, como sétima maior economia do mundo, o Brasil já
deveria ter deixado para trás esse papel de receptáculo da sucata dos países do
Primeiro Mundo.
É de se
ressaltar também que a defesa do Atlântico Sul é um problema que afeta todos os
membros da CPLP. Portanto, esses países, se tiverem uma indústria naval comum,
em vez de comprarem navios de guerra usados, poderão fabricá-los de acordo com
suas necessidades e com tecnologia mais moderna. É de se acrescentar ainda que
primeiro a Guiné Equatorial e, ultimamente, Angola vêm procurando preparar suas
marinhas para o combate à pirataria marítima na região do Golfo da Guiné.
Aliás, esta
não é uma ideia que tenha saído agora da disputa comercial entre Brasil e
Portugal por um navio usado, mas uma sugestão antiga do professor e
ex-embaixador português Adriano Moreira, que propôs não só a criação de um
organismo de segurança da CPLP à semelhança da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) para o combate à pirataria e tráfico de drogas no
Atlântico-Sul como uma frota comercial comum, já que todos são países
marítimos.
É verdade
que, de antemão, há dificuldades jurídicas, sem contar a instabilidade política
que, de vez em quando, afeta um dos países-membros da CPLP, como é o caso da
Guiné-Bissau neste momento. Mas parece claro que a criação de uma indústria
naval e de uma frota comercial no âmbito da CPLP só trará benefícios para os
seus países-membros.
Comentário
Afinal, a
preocupação pela defesa e segurança não é apenas de Moçambique! Não sei se
neste caso houve o envolvimento do Parlamento e houve concurso público de
adjudicação. Me parece que não.
Pelos
vistos, nem se quer nas massivas manifestações dos brasileiros, havidas na
semana passada contra a Presidente Dilma Rousseff, se fez eco de que o Brasil
estava a gastar dinheiro do erário público para compra de “ferro velho” para a
marinha estadual.
Vejamos
Portugal, cuja economia está a passar por crise, mas disputou com o Brasil para
a compra do mesmo “ferro velho” para a sua marinha… E nós aqui fazemos muito
barulho pela compra de seis lanchas para a nossa marinha de guerra para
patrulhar os mais de dois mil quilómetros de linha de costa e o imenso Canal de
Moçambique que delegamos a soberania nacional a favor da África do Sul para a
sua patrulha, porque não temos capacidade! Quando é que teremos capacidade de
sermos nós próprios a buscar “engenharias” de formas para não abdicarmo-nos da
defesa da nossa própria soberania!
Somos bons,
mas muito bons mesmo, de fazer eco a EMATUM em nome daqueles que exploram
ilegalmente às toneladas o nosso atum, alegadamente por ter sido usada para a
aquisição das seis lanchas para a Marinha de Guerra de Moçambique. Se nos pagam
ou não, não sei.
Até o Malawi
esteve para meter 5 fragatas de guerra no Lago Niassa importadas de Taiwan, não
fizeram tanto eco. Infelizmente, não houve condições técnicas de os fazer
chegar ao Lago Niassa. Se calhar hoje estariam a confrontar a Tanzânia e a nós
mesmos pela hegemonia militar naquele lago.
Quem foi que
disse que a paz em Moçambique veio para o sempre e não precisamos de nos reerguermos,
do ponto de vista de Defesa e Segurança…
Piratas da costa
da Somália sequestraram o nosso navio de pescas recentemente. Moçambicanos
perderam suas vidas sem nada podermos fazer… Tivemos que correr atrás de prejuízos
até a Índia onde foi fundeado pela Marinha de Guerra indiana na tentativa de o
resgatar.
Será que
este barulho todo era necessário por aquilo que se considera erros cometidos!
Só erra quem
trabalha.
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