DAS ORIGENS DA DESIGNAÇÃO CAHORA BASSA

Um dos seguidores do meu blog tem, no seu blog, um link de um outro blog que exibe uma linda imagem da Barragem Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB). O autor daquele blog explica que o termo “Chora Basa” deviva do Nyungwe "Kahoura-Bassa", que significa "acabar o trabalho". Os gestores da HCB também já me referiram, numa das visitas que fiz com uma delegação malawiana que “Cahora Bassa” significa "acabar o trabalho". Na altura contei-lhes aversão que eu havia tido dos nativos quando se referiam a então “Cabora Bassa” da ZAMCO por Kawola Basa. Julguei que fosse erro de pronunciação, mas me explicaram que não por isso.


Na verdade a expressão "Kahoura-Bassa" não existe entre os Anyungwe ou na sua língua Chinyungwe. Entre os Anyungwe (plural de Nyungwe), "acabar o trabalho" diz-se "kumala basa" para se referir ao término de uma jornada; "lamala basa" para se referir ao fim de uma dada empreitada.

Cahora Bassa é, de facto, uma corruptela da expressão "kuwola basa", uma gíria de origem Tawala durante o império do Mwene-Utaka que transitou para Chinyungwe.

Mwene-Utaka é o mesmo que Munhu-Mutapa em Shona (que em português é Monomotapa) e significa literalmente dono da riqueza, mas que tem um sentido muito amplo para se referir a dono de todo um território, sua gente e sua riqueza.

"Kuwola basa" em Chinyungwe e "kuhora basa" em Shona e no seu subgrupo Tawara (em Chinyungwe Tawala), como no dialecto Dema (falado por nativos do Planalto do Songo), significa "trabalho abundante".

Conta a Lenda Oral que, em tempos, durante as explorações missionárias, teria chegado naquele Planalto do Songo um missionário europeu para difundir o cristianismo e disse que Deus é a fonte da vida e se encontrava no Céu. Tal conceito da divindade contradizia-se com a crença local de que a fonte da vida estava na profundeza das águas do Kwahama (de onde são originários os nossos ancestrais, nome pelo qual designavam o rio Zambeze).

Para os nativos de todo o Vale do Zambeze, Deus não estava no Céu, mas sim nas profundas águas do rio Zambeze que designavam por Kwahama.

Então, o então Mwene-Utaka desafiou ao sacerdonte que mandaria construir uma torre, através da qual o sacerdote devia levá-lo ao encontro do tal Deus de que se referia estar no Céu. Daí a abundância de trabalho porque a torre não se erguia (seria algo quase semelhante a história da torre de Babilónia).

A tal torre estava para ser erguida num local na área onde se encontra o actual Estádio do HCB. Parte do acúmulo de pedras ainda existia em 1975 quando saí do Songo e estava nas proximidades do Estaleiro da Ermoque SARL como resto do que a Ermoque usou para fazer brita nas suas obras (na altura trabalhava para a Ermoque como Apontador do Livro de Ponto dos Trabalhadores).

Quando se decide pela construção da Hidroeléctrica, dada a abundância de trabalho, os nativos compararam a empreitada com a bundância de trabalho na tentativa da construção da famigerada torre para o Céu e chamaram o projecto de Kawola Basa, cuja nova corruptela é a actual designação Cahora Bassa.

De referir que, na grafia das línguas Bantu, o equivante a "c" seguido das letras "a", "o" e "u", tem o valor é a letra "k". Na língua Cinyungwe ou simplemesmente Cinyungwe, o "c" é equivalente a "ch" em português.

PS: Refiro-me a esta versão por uma “lenda”, pelo simples facto de que, embora faça lógica e eu concorde plenamente com ela, não tenho outras bases documentais que a sustentem para além das fontes orais locais, cuja autenticidade pode ser questionável por quem tenha outras fontes dignas de crédito.

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