CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO É
ESCUDO PARA O INSUCESSO
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
CANALMOZ – 25.08.2015
Será que um encontro de alto nível vai trazer a
ansiada paz e sossego?
Seria
interessante e um sinal claro de comprometimento dos políticos por uma agenda
de interesse nacional. Já não se pode prolongar mais este estado em que nada se
faz e nada acontece. Sofre a estabilidade com os ataques esporádicos e
debate-se a economia com a penúria nos investimentos e um OGE aparentemente
refém das contribuições dos doadores ou parceiro externos.
Haverá já
consenso ao nível da Comissão Política da Frelimo para deixar o PR Filipe
Jacinto Nyusi rubricar homologar os consensos alcançados em sede negociação no
CCJC?
Quando se
negoceia com realismo dá-se oportunidade a que pequenos passos se transformem
em pontes para a continuação dos passos na direcção consensualizada.
Está visto
que os termos normalmente utilizados pela Frelimo e seu Governo são formas
claras de demagogia baseadas numa CRM imutável e conveniente.
Mas a CRM é
um instrumento vinculativo não estático. A CRM pode ser emendada, se esse for o
consenso dos políticos. A Comissão Parlamentar antes presidida por Eduardo
Mulembué gastou rios de dinheiro procurando formas de rever a CRM, tendo, no
fim, produzido um emaranhado cosmético.
Numa
aparente tentativa de encontrar formas de prolongamento do mandato de AEG, que
não teve consenso nem no seio da Frelimo e muito menos na oposição, porque
havia vontade política, a CRM não foi alterada.
Agora que se
enfrenta um conjunto de questões que requerem uma revisita à CRM, o que impede
os políticos de o fazerem?
Dizer que
respeita a CRM é uma coisa, mas a CRM não é um livro acabado que não possa
receber acréscimos nem emendas.
Se a guerra
não é do interesse das partes, deveremos ver algo acontecendo com urgência.
Na actual
situação em que as partes vão dando mostras de cansaço num diálogo que não está
sendo honesto, urge encontrar uma fórmula que não coloque tudo a perder.
Teremos
chegado a um ponto de viragem em que as partes se convenceram de que uma saída
realmente airosa é possível?
Estarão as
partes interessadas em sanar por via política aquilo que a maioria parlamentar
certamente rejeitaria?
Ou estaremos
numa situação em que o partido no poder concluiu que já tem elementos
suficientes para considerar tudo blindando a seu favor e que a partir de agora
já pode anunciar cedências?
Haverá
moedas de troca que a Renamo aceitará? Muitas são as perguntas que pairam no ar
e, de facto, só quem está próximo dos círculos negociais pode dizer alguma
coisa.
Com o
secretismo que reina e com as proclamações demagógicas flutuando, repensar o
modelo negocial mostra-se pertinente.
Uma defesa
extensiva envolta na minúcia judicial revela-se inflexível e pouco dada a
cedências e compromissos.
Um ataque
extensivo denotando inflexibilidade provoca nervos no outro interlocutor e
leva-o a dar o dito por não dito, num processo já demasiado longo.
Se
tivéssemos que tirar alguma conclusão, uma delas seria sem dúvidas de que tanto
negociadores como mediadores não se mostram com capacidade de levar a bom termo
as suas funções. Falharam na missão que lhes foi confiada. Assim sendo,
deveriam dar a lugar a outro tipo de concertação, numa base qualitativamente
diferente.
Reconhecer
que falharam seria um primeiro passo. É por demais evidente que, a partir de
determinado momento, se começou a gastar tempo com “pontos e vírgulas” e não
com a substância dos assuntos na mesa de negociações.
Evitar tocar
nos pontos que contam e que são a razão de ser da disputa tem sido
religiosamente executado.
A isso
chama-se negociar para adiar. Dizer que se negoceia quando na verdade se está
na retranca e com todas as baterias apontadas para um desfecho previamente
decidido.
Não havendo
cedências e com o aumento de tom e de conteúdo, as partes se colocam em rota de
colisão. As proclamações mais recentes da Renamo são um dado novo ao
anunciar-se uma reorganização da sua estrutura militar.
É munição
fresca para um conflito que uma das partes reaja de modo tão claro e indicativo
de que se chegou ao fim de linha.
Secundado e
protegido pela prerrogativa da soberania, houve uma tentativa de cercar e
encurralar as forças da Renamo, e isso foi feito como continuação da opção de
força militar-policial para debelar um opositor.
Face a uma
realidade de insucesso dessa opção e havendo uma progressiva reorganização,
pelo menos verbal, da sua componente militar, a Renamo apresenta-se revigorada
e disposta a fazer finca-pé nas suas posições.
O anunciado
convite formal para um encontro de alto nível entre Filipe Jacinto Nyusi e
Afonso Dlahkama é uma novidade aguardada por todos.
Poderá ser
um encontro produtivo se a sua preparação for bem-feita. Com o manancial
informativo existente no CCJC, uma compilação inteligente dos pontos de
discórdia e uma prévia apresentação aos órgãos colegiais de decisão das partes,
poderia proporcionar aos dois líderes a oportunidade de homologarem algo e
darem desse modo um pouco de alegria aos moçambicanos.
Não vale a
pena reunirem-se, se não há pontos claros a debater. Após as inúmeras rondas
negociais, já se sabe em substância quais são os pontos de divergência.
Enquanto
líderes, caberá a eles terem o discernimento necessário e suficiente para dar
fim à especulação e ao gratuito e dispendioso espectáculo de negociações
infrutíferas.
Se os políticos
que temos são nacionalistas e patrióticos, estão obrigados a encarar com
realismo renovado todos os aspectos que entravam a consensualidade após tantas
rondas.
Se as partes
no CCJC esgotaram as suas ideias e não possuem mandato ou carta-branca para avançar,
então que o digam às suas lideranças e que se abra o caminho para o tal
encontro entre FJV e AMMD. Entreguem-se os “dossiês” conflituantes aos dois, e
esperem por instruções.
Seria de
bom-tom e estratégico que o “famoso” Conselho de Estado se reunisse e que a
Comissão Política da Frelimo também se reunisse com brevidade para dar todo o
apoio que o PR necessita para formalizar algo que restitua a paz ao país.
Um encontro
de alto nível, se não for rigorosamente preparado e se não tiver apoio firme dos
partidos de que os dois fazem parte, não vai trazer resultados sólidos.
Outra coisa
a ter em conta é que o espaço de manobra se esgota a cada dia que passa.
É um momento
importante e singular que pode não se repetir tão cedo.
Joguem-se os
egos para o caixote de lixo e dê-se oportunidade para um debate e negociações
com espírito patriótico.
Moçambique
está cansado da inconsequência política, e a responsabilidade é dos políticos
que temos.
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