QUANDO É QUE DEVEMOS COMEÇAR A COBRAR?
Ranking dos bons e maus governadores provinciais aos oito meses
Por: Egidio Vaz, Visão Jovem 71, Agosto 2015

Ontem defendi que a nova divisão administrativa devia privilegiar a autarcização em vez da criação de novos distritos. Este é meu apelo vibrante para uma reflexão urgente sobre formas de tornar a nossa administração mais eficaz. Também sugeri uma decisão corajosa em redividir administrativamente o país para apenas três regiões.

O meu argumento foi que não há tanto trabalho assim para políticos de topo, vulgo governadores provinciais e toda armadura que a envolve. Hoje, oito meses depois, da tomada de posse, julgo útil fazer o ponto de situação dos nossos governadores; uma espécie de ranking.

Os critérios são entre tantos, o da noticiabilidade, impacto das acções governativas na opinião pública e “dinâmica” do seu modelo de governação.

O ranking está subdividido em “bom desempenho”, “no caminho certo”, “em problemas” e “os invisíveis”.

A disponibilização é por ordem crescente, dos melhores aos mais problemáticos.

BOM DESEMPENHO

1. Maria Helena Taipo - A governadora Helena Taipo é para mim a heroína da Frelimo em Sofala. Muito rapidamente conseguiu encarnar o “espírito” sofalense e resolver os problemas concretos.

Longe e perto das câmaras, parece ter ido com a lição bem aprendida. A questão dos madeireiros ilegais, a economia e a reconstrução pós-cheias notabilizaram-na, principalmente na sua dimensão informal e simples de tomar decisões socorrendo-se da experiência local.

2. Abdul Razak - Um outro apaziguador e muito modesto no estilo e forma de governação, não quer problemas com as chefaturas locais. Um bom intérprete do discurso reconciliador.

Se não fosse muçulmano diria que pertence à Opus Dei. Vale-lhe a longa experiência de governador de Nampula, Cabo Delgado, mas é na sua humildade e sabedoria que busca consensos alargados na governação.

Muito atento às novas tecnologias de comunicação e informação, possui uma página web no mínimo actualizada.

Zambézia é de facto a província de gente apaixonada pela informação. Muita pena que os recursos lá escasseiam.

3. Victor Borges - Eu nunca quis ele como governador por causa da idade. Mas parece-me que corre mais que alguns jovens. Nomeação acertada esta para uma cidade berço de barões.

A economia, grande área de concentração deste governador.

NO CAMINHO CERTO

4. Arlindo Chilundo - O meu Professor e amigo Arlindo Chilundo foi lhe dado uma missão espinhosa. Levantar uma Província afundada pelo então governador Malizane, um tetense que surgiu do fundo das cinzas para dirigir uma província com um potencial enorme.

Pior erro de Guebuza, ele foi para lá e sentou-se por cima da fortuna... até deixar o poleiro. Hoje, já há sinais concretos da reanimação da economia local, com destaque à linha férrea que liga Cuamba a Lichinga.

Professor, estamos juntos.

EM PROBLEMAS

5. Stela Zeca - A governadora tem muita vontade em resolver os problemas de Gaza. Mas quem lhe nomeou não pensou no seu bem.

Uma província governada por proxys de Maputo, está a ser difícil tomar decisões radicais e expurgar a corja de abutres instalados na máquina provincial.

Também faltam-lhe anciãos bem-intencionados.

Um ex-provável governador de Gaza disse-me que quando circulou a lista dos governadores, alguém de Xai-xai enviou uma mensagem com seguinte teor: “parabéns pela nomeação senhor Governador, aqui caça furtiva é comigo”. Não sei se a Dra. Stela também recebeu esta mensagem depois de confirmada a sua nomeação.

O ponto que estou a levantar para Gaza é simples. De tanto serem fieis à Frelimo, estão a deixar de cuidar de vocês próprios. Gaza precisa de emprestar a “rebeldia” sofalense, ou melhor, “o espírito ndau”.

Com o Vale de Chokwe, a servir de cartaz de visita, não se justificam os efeitos da estiagem, da fome que provoca, da desnutrição, etc.

À Stela falta-lhe o poder de tomar decisões. A intromissão sempre emperrou aquela província

6. Celmira Silva - As notícias que vêm de Cabo Delgado não são boas. A senhora Governadora não começou a trabalhar.

No “cartas na mesa” em que participou na RM, a senhora Celmira não disse nada; tentou enganar o jornalista com longas descrições geográficas da Província - até disse quantas ilhas, recursos pesqueiros e marinhos a província possuía - num autêntico esforço de queimar tempo.

De dentro do gabinete, lamentam os funcionários que ela fala muito, convoca reuniões improdutivas e com muita frequência, sem objectivos concretos e, pior, fala sozinha durante longas horas. Error 905 (Android)

7. Paulo Awade - Este governador é dos mais polémicos.

Sobre ele já falei em posts anteriores. O povo não está a ver nada. Só ele é que anda atarefado...

8. Alberto Ricardo Mondlane - Também parece que ainda não entendeu o que é ser governador.

Notabilizou-se em perseguir os homens da Renamo durante o tempo que Dhlakama estava por lá. Mas trabalho mesmo, zero.

No tempo de Soares Nhaca, Manica já exportava paprica e milho. Os outros que se lhe seguiram estragaram tudo. Ele ainda não fez nada de especial.

Aquela província podia não ter tido um governador nomeado até hoje, as coisas estariam como estão.

INVISÍVEIS

9. Iolanda Cintura - Ela é uma competente engenheira. Não sei porque não gosta da sua profissão.

Governar Maputo não tem sido fácil, até porque o David Simango, dos piores edis desta pátria amada, sentou-se por cima de todo o trabalho e com razão. A cidade é dele.

10. Raimundo Diomba - Também não se percebe bem como o ilustre foi nomeado. E o trabalho, tanto que há para fazer, lhe foge da mira.

Tem muita sorte em dirigir uma província relativamente avançada, com condições básicas como acesso aos mercados, electricidade e água. Mas ele está sentado.

11. Agostinho Trinta - Este ilustre governador apenas apareceu durante a onda xenófoba que abalou a África do Sul. Mas ele abusa da calmia dos manhambane.

O seu desempenho é muito duvidoso, o que me leva a acreditar que deve ser por razões mais de interesse de grupo que do povo.

Inhambane, uma província com enorme potencial, possui das mais monótonas cidades, uma economia dormente, com todos os problemas do mundo: acesso a água potável deficiente, energia eléctrica incipiente e de má qualidade, rede escolar péssima mas boa gente.

É daqueles governadores que quando for exonerado perguntará: “mas o que fiz para ser exonerado”?

Claro, nada.

CONCLUINDO

Estou convicto que apenas três governadores tomariam conta do território nacional, pois todos estes dez fazem mesma coisa, uns da melhor outros da pior forma: viagens, reuniões populares, gestão de queixas, gestão do orçamento, trabalho político.

Reconheço algumas inconsistências; o ranking é da minha pura responsabilidade, ciente de que não fui equilibrado em algumas avaliações. Mas tinha que começar de algum lado, e espero ter contribuído para iniciar um debate.

Regra geral, a função de governador é mais política que técnica. Foi pensando nisso que defendo a redivisão administrativa para apenas três regiões.

NOTAS: 1 - Todos estes governadores foram entrevistados pela Rádio Moçambique no programa Cartas na Mesa ou outro. Eu acompanhei TODAS as entrevistas entre os meses de Março e Junho

2 - Todos estes governadores foram visitados pelo Presidente Nyusi e eu acompanhei TODOS os seus relatórios dos cem dias e seis meses; alguns enganosos.

3 - Todos estes governadores tiveram a disponibilidade orçamental ao mesmo tempo e iniciaram as funções ao mesmo tempo.

4 - A primeira coisa que TODOS estes governadores fizeram foi visitar e conhecer os distritos, com excepção do senhor Awade, que já os conhecia. Mesmo assim, encetou algumas. Portanto, existem bases concretas para comparação.

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