PARTIDARIZAÇÃO DO ESTADO OU
REVANGUARDIZAÇÃO DA FRELIMO?
Por: Ilídio Nhantumbo, WAMPHULA FAX – 30.07.2015
A primeira
vez que me atrevi a colocar minha opinião em público (no jornal O País em
2007), defendi que ao invés da afamada partidarização do estado, o ciclo rodava
no sentido contrário. Hoje me parece que minha ideia era míope, por isso volto
a enfatizar e expandir minha opinião.
Partidarização
do Estado refere-se ao uso do aparelho público nacional em benefício dos
apoiantes ou minoria do partido. Estatização do partido é no sentido contrário,
abuso do poder (il) legítimo para alargar e transformar a função pública em
função partidária.
O fascismo e
o nazismo, respectivamente na Itália e Alemanha, partidos e líderes eleitos
transformaram a função pública em doutrinas perigosas. Não será essa a tendência
em Moçambique?
O
Socialismo, como Lenine adiantou, atribui de forma legítima a vitória da classe
trabalhadora, culminando com o revolucionário Partido da Vanguarda. O Partido
Frelimo estabelecido em 1977 foi proclamado Partido da Vanguarda, estabelecendo
um Estado de Partido Único.
A tal de
democracia multipartidária estabelecida na actual Constituição da República de
Moçambique está cada vez mais infestando eleitoralmente os poderes do Partido
Frelimo aos poderes do Estado. Eleições justas ou fraudulentas, não constituem
aqui meu tema.
O famoso
obstáculo da partidarização do Estado a que eu chamo de Estatização do Partido
não deve ser visto como simples ilusão ou opinião dos oponentes do Partido
Frelimo e/ou cidadãos contra as políticas e estratégias viciosas do poder da
Frelimo. Ilusão ou realidade, ao invés do nível de colesterol decrescer, vai-se
elevando e engordando no dia-a-dia político de Moçambique.
O Partido da
Vanguarda está de regresso com a vitória da classe do cartão Vermelho. Partidarização
do Estado não faz sentido, a Frelimo está infestando o País usando o aparelho
burocrático Nacional em seu benefício pelo vício do poder e seu virulento
exercício.
Não tenho
previsão para os resultados das próximas eleições e comportamento da Frelimo
para necessariamente vencer e continuar a infestar o Estado Moçambicano.
O anterior
presidente da Frelimo e do Estado tentou e saiu vencedor no estabelecimento do
Reino Guebuziano; o que resta para Nyusi? O aceite entretenimento da Renamo
pelo Partido da Vanguarda. Minha pura ilusão? A Frelimo está-se
Revanguardizando, e míopes como eu vão engolindo a mentira que cantam no Hino
Nacional. A expansão do Partido da Vanguarda é regresso à tirania do big-man.
Não sei se
será fascismo ou nazismo, mas a semente foi lançada, a planta cresceu e tem as
flores à vista. Qual será o fruto da Vanguardização da Frelimo?
Ainda
concordo com ingenuidade da ideia de que a partidarização do Estado, mas a rota
contrária é visível no aparelho burocrático Moçambicano. Mais do que mera ingenuidade
da partidarização, a Estatização do Partido não é vista por mero senso comum da
nossa parte. Vamos gradualmente ingerindo o falso ciclo, apelidando-o de
partidarização do Estado.
Aliás, não
se trata de ciclo vicioso, mas de um vírus. A Renamo e o Acordo Geral de Paz,
tentaram transformar o vírus da Estatização do Partido em Estado
multipartidário, mas o regresso ao Partido da Vanguarda vai engordando com uma
oposição que se enfraquece dia após dia.
Posso
continuar míope, mas trata-se de puxar o saco e voltar ao Partido da Vanguarda pré-Acordo
de Paz. Parte “aparentemente” humilde da Revanguadização veio à tona e
concordar com o vício do seu Partido; pedaço da sociedade civil, académicos e
atrevidos da media Moçambicana vão
trazendo o assunto mais à tona.
Machado da
Graça esteve no vaivém de partido-estado, estado-partido e finalmente veio
aceitar o conceito de partidarização no Savana de 17 de Julho, Número 1123.
Pura ilusão
da minha parte? Vanguardização da Frelimo!
A
Revanguardização da Frelimo infestou, infesta, e vai infestando o aparelho do
Estado à de forma galopante. Da mesma forma que a SIDA infestou Moçambicanos de
forma veloz, a Revanguardização apoquenta e me parece não ter sinais de
remédio. Será tarde demais para tomar anti-retrovirais.
Os arranjos
poderiam minimizar seu efeito, mas ainda não tem sinais sequer de remediar, por
isso o mercado se expande. A porção da humilde sociedade Frelímica interessada
pela política e pelo aparelho político Frelimizado pouco se interessa pela tal
de despartidarização, se é que alguma vez se interessou. Porquê? O vírus
contaminou enorme porção do aparelho Frelímico e estatal que acabou levemente
perdendo a boca anti-Revangurdização.
Que aparente
anti-retroviral nos aldraba? O fracasso do fracasso do acordo Frelimo-Renamo
pela despartidarização do Estado, vem confirmar minha ideia de Estatização do
Partido.
Facilmente
se percebe e volto a explicar minha ideia do vírus de Estatização do Partido.
Da mesma forma que um cientista político colocou sua ideia, e aqui aplico, com
a profissionalização da política, o político não difere do comerciante;
“enquanto o comerciante pretende expandir o mercado e ganhar monopólio”, os
políticos e partidos que controlam o Estado, tornam seu partido, a Frelimo, num
Estado.
O partido
Frelimo – que não se deve confundir com o movimento de libertação, FRELIMO – ao
invés de ser concorrente da visível autocracia Moçambicana vai regressando e
consolidando a autocracia. O partido Frelimo vai regressando à ideia Socialista
do Partido da Vanguarda. E o que a Renamo esperava do fracasso explícito do
acordo? Os revolucionários da Vanguarda não aceitam sequer reduzir a
partidarização.
O vírus da
Estatização do Partido vitima àqueles que conseguem se atrever. Espero não ser
vítima do meu atrevimento, mas aqui me atrevo a solidarizar-me com as já
vítimas do vírus, chamar atenção aos desinteressados, e desafiar os mentirosos
que cantam o Hino Nacional. E aqui sublinho, não encontro diferença alguma de
conteúdo senão frásica entre “nenhum tirano nos irá escravizar” e “viva, viva a
Frelimo, guia do povo Moçambicano.”
Que actos
contra o vírus? Será que a Renamo estava em siesta enquanto assinava
essa dissonância? Tal como o acordo Dlhakama-Nyusi, a “separação
de poderes” requer a aprovação da Assembleia da República.
Mas a
vanguardização torna acordos políticos em anti-projectos que passam pela
Assembleia da República. Na actual legislatura, a menos que requeiram uma
maioria de dois terços ou mais, os anti-projectos são aprovados ou desaprovados
antes do seu envio ao Parlamento. Apenas um intervalo racional ou sonolência
levariam à assinatura de um acordo político pré-fracassado antes da sua
submissão à Assembleia da República avassalada pelo Partido Frelimo.
Acordos políticos
iriam ao Tribunal Supremo para verificar sua constitucionalidade. Mas aqui não
me atrevo a trazer argumentos de vanguardização no Tribunal.
Bastante já
debatemos a questão da “partidarização do estado,” aliás “estatização do
partido.” Será que faz sentido debatermos algo que depende de vitórias ou
fracassos pré-conhecidos? Será que faz sentido pensarmos que podemos acordar e dizer
“bom dia” Senhor Estado?”
O fracasso inicia,
por vezes, em ideias pré-concebidas, senão de senso comum.
Em 1992, o
Governo da Frelimo e a Resistência Nacional Moçambicana assinaram o Acordo
Geral de Paz (AGP) que incluía duas partes intangíveis, mas actores que antes
de mais exigiam cooperação para seu sucesso ou fracasso. Com violações,
incumprimentos, mentiras e verdades das duas partes, o AGP teve e está a ter
mais sucessos do que fracassos!
Acordo anti-Estatização
do partido significaria um actor – Partido Frelimo – parar com a
revanguardização e desvanguardizar-se em acordo com o Partido Renamo. O acordo
ao menos reduziria a velocidade da Revanguardização da Frelimo. Partidarização
do Estado é algo dúbia. Se não podemos apertar às mãos, sentarmo-nos à mesa com
o “Senhor Estado;” estamos sonhando que podemos extrair água dum “puro sumo” de
laranja.
Estado é
algo intangível: território, população, governo, e internacionalmente
reconhecido.
Fará sentido
representantes e membros da Renamo, apoiantes da não estatização do partido
separem-se do Estado e chegarem a acordo com o Estado?
Lembremo-nos do que digo acima, Estado requer população e as partes a que me
refiro fazem parte da população. O “fracasso do fracasso” começou do senso
comum.
Ilusão,
sonolência, miopia ou seja o que for neste sentido da matéria, são fontes do
fracasso.
Se a Renamo
e a Frelimo e já agora o excluído Movimento Democrático de Moçambique, entre
outros partidos sentarem-se à mesa e discutirem a questão da estatização do
partido, mesmo com omnipotência e omnipresença da Frelimo, o acordo a ser
atingido seria pluralista e com maior possibilidade de redução da estatização
do partido. As partes poderiam formal e informalmente ser “cães da guarda” da
implementação do acordo. O Partido da Vanguarda teria obstáculos na sua
tendência estatizante. Partidarização ou Revanguardização da Frelimo?
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