“PLÁGIO
ACADÉMICO – FRAUDE POLÍTICA”, BINÓMIO CANCEROSO
Noé
Nhantumbo, CANALMOZ – 15.07.2015
Os resultados não deixam mentir.
Universidades moçambicanas seguindo
o curso do mercado informal? É uma pergunta que algumas declarações, estudos e
opiniões concluem.
Quem andou estes últimos anos
vangloriando-se de que a expansão universitária em Moçambique conseguiu cobrir
todo o país tem numericamente razão. Infelizmente só isso.
Do ponto de vista de qualidade,
sente-se, mesmo antes de estudos provarem que o plágio abunda nas principais universidades
do país e que a maioria dos graduados não traz muitos subsídios para a economia
e a política no país.
Veja-se o caso dos recursos
minerais, para se compreender que andamos estudando coisas pouco relevantes
para a rápida transformação económica do país. A nível nacional, não há
recursos humanos nem laboratórios para aferirem o que temos e a qualidade do
temos em termos de recursos minerais. Dependemos do comprador para nos dizer
quanto temos e o que temos.
Mas esta situação tem causas e uma
génese específica.
O modelo de governação escolhido
pelo partido no poder foi, ao longo dos anos, permeando-se para toda a
sociedade, e os resultados não tardaram.
Quando falamos do binómio “plágio
académico – fraude política”, queremos dizer que uma se relaciona com a outra
numa espécie de simbiose permanente.
Quem defende a fraude são pessoas
que passaram pelos bancos das nossas universidades.
Mesmo que os instigadores da fraude
sejam os detentores do poder real, é preciso notar que a fraude não se
concretizaria nem se afirmaria sem um suporte da “academia moçambicana”.
Quando predomina o plágio académico,
existem condições concretas para esse florescimento.
Alguém montou um sistema que permite
que assim seja e aconteça.
E quando a fraude política,
nomeadamente a político-eleitoral, floresce e se enraíza, isso é montado e
mantido por gente com conhecimentos específicos e que aceita realizar ou montar
operações conducentes à vitória da fraude.
O poder político deseja e exige que
as vitórias aconteçam e que o poder continue nas suas mãos, independentemente
dos votos expressos nas urnas.\
Após o estabelecimento de uma
cultura de temor-terror superiormente dirigida por departamentos específicos do
partido-Estado, viu-se toda uma sociedade aprendendo a cumprir religiosamente
qualquer tipo de instrução ou orientação emanada da cadeia hierárquica do poder
instituído.
Tornar as universidades em centros
de replicação dos ideais dos detentores do poder foi um passo curto executado
com precisão.
No lugar de centros de pensamento
independente por excelência e com independência de pensar e ensinar, os
docentes viram-se envolvidos numa malha ou rede controlada por células do
partido omnipresentes. Foram outros tempos que deixaram as suas marcas mais ou
menos indeléveis no que se faz e como se faz na academia moçambicana. Estava na
moda uma ideia de que “Fazer da educação uma base para o povo tomar o poder”
era a verdade indiscutível.
Até se descobrir que, afinal, o
poder não estava caminhando para o povo e nem era exercido pelo povo, passaram
alguns anos.
Se o surgimento de uma oposição
político-militar teve uma génese própria, que ditou alterações profundas no
figurino político nacional, isso não foi acompanhado pela emergência de uma
academia crítica e independente face ao poder político institucionalizado.
Evidentemente que uma academia
dirigida ao mais alto nível por pessoas fortemente ligadas ao partido no poder
poderia cortar o cordão umbilical sem consequências. Foi-se andando e
concretamente na boleia do partido-Estado, que o advento do pluralismo
democrático não conseguiu romper nem remover.
Agora, com o aprofundamento da crise
pós-eleitoral, é possível ver e ler o tipo de consequências que a combinação e
conjugação de factores podem desempenhar numa sociedade.
Se a academia é incapaz de produzir
ou propor soluções exequíveis para vencer obstáculos ou desafios sociopolíticos
e socioeconómicos, isso revela que a qualidade final dos graduados é sofrível,
mas também se deve entender e compreender que, pela “manutenção do poder”, a
escolha dos seus detentores é muitas vezes não escutar nem ler o que a academia
produz.
Os esforços despendidos na esfera
académica são enormes e de louvar, mas, ao mesmo tempo, importa referir que a
academia se afunilou e recusou a equidistância crítica em relação ao poder
político. Há consciência de que um afastamento dos paradigmas impostos pode
levar à derrocada financeira de instituições académicas.
As instituições tutelares e
provedoras de fundos e créditos estão ligadas ao poder do dia.
Há um emaranhado institucional que
acorrenta a academia de uma maneira cada vez mais forte.
Incapaz de sobreviver por si, a
academia vê-se compelida a servir os detentores do poder. Encomendas de
inquéritos de tendência eleitorais talvez sejam elementos habituais noutros
países, mas, em Moçambique, quem os realiza ganha preponderância e preferência
nos círculos políticos. E se os vencedores apontados pelos inquéritos e
pesquisas eleitorais se concretizam, o vencedor principal é quem previu e pesquisou.
Os contratos para palestras seguem-se, e créditos para expansão patrimonial
ficam assegurados.
Só que este estado de coisas não
surge no vazio ou sem conexões reais com o resto da sociedade.
Práticas e procedimentos
aparentemente válidos ou existentes nas universidades e centros de pensamento
permeiam para a sociedade e reflectem-se no dia-a-dia de milhões de pessoas.
O cidadão comum acredita que, se a
Rádio Moçambique diz alguma coisa, logo, isso é verdade.
Então, os políticos e os seus
assessores provenientes da academia inundam a RM de declarações como que
oficiosas, defendendo as suas posições. Viu-se, assim como tem sido visto nos
pleitos eleitorais já realizados, que a “academia” e comunicação social juntam
mãos e forças para “pintar” de cores vibrantes supostas vitórias retumbantes.
Assim, longe de defender processos
democráticos, a “academia” converte-se numa retranca contra a democracia.
As consequências da postura da
academia moçambicana tem consequências reais e concretas no panorama político e
económico.
Na política, tornam-se guardiões da
fraude político-eleitoral, e, na economia, servem agendas de enriquecimento
ilícito rápido, por via da vista grossa que fazem quanto à política económica eleita
pelo Governo do dia.
Quem não contribui para a emergência
de capacidade nacional de qualidade na análise e definição de políticas
económicas sectoriais que assegurem o desenvolvimento endógeno sustentável, é
aquela academia que não se dedica aos “dossiers” que têm o potencial de ser
estruturantes.
Toda a série de atropelos e decisões
económicas e fiscais caricatas tem como ponto de partida a inexistência de
técnicos nacionais, mas, ao mesmo tempo, uma postura governamental de
enriquecimento privado dos titulares do Governo e seus apaniguados partidários,
à custa dos recursos naturais do país.
E, quando são poucas as vozes da
academia que se lançam na denúncia e crítica de grotescos comportamentos na
esfera governamental, só se pode falar com propriedade de uma certa
cumplicidade activa.
Agora, encostados à parece pelos
acontecimentos e reacções da oposição política, criou-se uma falange de
franco-atiradores popularmente conhecidos como G-40 que incansavelmente dispara
barragens de artilharia visando distorcer os factos.
Moçambique vai descartar a
pseudo-academia, em prol daquela nobre academia que paulatinamente se coloca ao
serviço do desenvolvimento do país em todas as suas vertentes.
É interessante verificar como evolui
o pensamento e posicionamento político dos moçambicanos face aos desafios
actuais.
Com tenacidade, uma oposição
suprapartidária manifesta-se convicta de que o país pode ser e deve ser melhor.
É afinal uma questão de
sobrevivência com dignidade de todo um povo.
Passo a passo, e de espaço a espaço
conquistado, delineia-se um edifício diferente, com bases fortes e
democráticas.
Os moçambicanos estão aprendendo
todos os dias a dizer “NÃO” ao que os prejudica.
NOTA: “A
nível nacional, não há recursos humanos nem laboratórios para aferirem o que
temos e a qualidade do que temos em termos de recursos minerais. Dependemos do
comprador para nos dizer quanto temos e o que temos.”
E quando chega a hora de produzir e exportar, quem controla?
E quem sabe como o fazer? E haverá interesse em o fazer?
Fernando Gil
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