AINDA SOBRE O CÚMULO DA PROMISCUIDADE:
Nyusi e Liloca
Por Aurélio Furdela, Savana, 24/07/2015


Ao pensar em emitir a minha opinião sobre o artigo “O Cúmulo da promiscuidade: Nyusi e Liloca”, publicado na edição do dia 22 de Julho em curso, o receio de vir a ser chamado lambe-botas ou algo semelhante me inibiu, pelo menos, até ao momento em que deitei vista a página 4 da mesma edição do jornal, onde se destacava uma “Mensagem de Fernando Veloso aos leitores, pela edição 1500 do Canalmoz”, onde o próprio Director Editorial do Canal de Moçambique parecia encorajar-me para tecer os meus comentários sobre o artigo já citado anteriormente.

A mensagem do respeitável editor, Fernando Veloso, encoraja-me na medida em que defendia que a edição 1500 do Canalmoz justificava “uma palavra aos assinantes e leitores (...) para lhes dizermos o quanto os apreciamos e para agradecermos as críticas que nos dirigiram e nos foram permitindo detectar os nossos erros ou imprecisões, de modo a afinarmos o nosso desempenho editorial.”

Esta demonstração de humildade por parte do Director Editorial do Canal do Moçambique me encorajou, pois sendo ele receptível à crítica dos leitores, nada mais me coibia intelectualmente de tecer comentários sobre a “odisseia Nyusi e Liloca”, embora ciente do risco de outro alguém vir a atirar-me à cara a fácil adjectivação de lambe-botas.

Primeiro, devo referir que a condição de alguém ser artista é algo que merece a mesma dignificação que qualquer outro profissional merece no exercício da sua actividade laboral, seja este médico, músico, jornalista, desportista ou mesmo artista de caberet, fora falsos moralismos de que já andamos habituados.

Em termos factuais, até prova em contrário, Liloca deslocou-se a Lisboa na sua qualidade de profissional da música, tendo evoluído na sua própria esfera, à semelhança dos jornalistas convidados que, como sempre se esmeraram para dar cada um o melhor de si, de modo a manter o público informado.

E Liloca, condignamente vestida, como que para apagar a “despudorada” imagem da sua actuação no dia 1 de Junho, que por sinal a própria não se impediu de vir a público se retratar, não sendo de bom-tom estarmos hoje a insistir em penalizar alguém que até publicamente se desculpou e merece toda a nova oportunidade, sob risco de sermos confundidos nesta questão de Lisboa com alguém que procura usá-la para alcançar o verdadeiro saco-de-pancada, a classe política, que não poucas vezes bem o merece.

Mas, porque não somos monges para nos guiarmos pelo hábito, e não certo de se “para camuflar o convite pessoal de Nyusi”, como refere o Canal de Moçambique, no mesmo grupo de fazedores das artes mais dois elementos foram incluídos (não dois cantores como o jornal entende, Bang não canta, é empresário da área musical), Bang e Mr. Bow.

Insinuação por insinuação, se Liloca se torna suspeita por ter actuado durante a campanha de Nyusi, e agora fazer parte da delegação presidencial a Lisboa, então impõe-se também que se exija o esclarecimento da relação entre o Presidente da República e Mr. Bow, à luz da promiscuidade levantada pelo Canal? Pois, Mr. Bow também fez actuações durante a campanha eleitoral.

Na trilha da necessidade de sermos mais agressivos, com vista ao fomento das indústrias culturais e internacionalização das nossas artes, sem deixar de lado o fortalecimento do meio musical interno, não vejo nenhum mal em Bang, como empresário musical, ter feito esta deslocação, pois é sabido que a indústria musical lusitana, fora as afinidades culturais entre Moçambique e Portugal, constitui um bom ambiente para prospecção e aquisição de experiências apropriadas para o alavancar das nossas artes e a nossa música em particular.

O Canal de Moçambique também hasteia a questão de critérios para a integração destes homens das artes, procurando chamar a terreiro a Associação dos Músicos, citando o seu Secretário-geral, Domingos Macamo, como tendo dito que a agremiação não foi contactada.

Na minha modesta opinião, não é de carácter obrigatório consultar a AMMO, pois hoje já não vivemos sob a umbrella da experiência socialista, não precisando assim os artistas de guias de marcha para exercerem a sua actividade, quer a nível interno ou internacional. Por acaso os jornalistas que se deslocaram a Lisboa fizeram-no com a anuência do Sindicato Nacional de Jornalistas?

Recordar que faz muito tempo que os artistas se batem pela oportunidade de verem as suas obras divulgadas além-fronteiras, quer através por integração nas comitivas governamentais para concertos no estrangeiro, quer pela acreditação de adidos culturais nas embaixadas, capazes de representar os interesses culturais do país no estrangeiro, não descurando-se assim de políticas capazes de instalar um ambiente favorável à digressão autónoma de artistas nacionais ao estrangeiro.

Agora a questão de quem integra ou integrou a delegação, isso é do velho problema de “porque ele e não eu a ser chamado”, todo o critério é subjectivo e isto mais se acentua nas artes, que por toda a sua natureza são subjectivas.

Para evitar especulações, inquiri a um amigo e ex-colega das lides jornalísticas, e este garantiu-me que a Liloca esteve bem aplicada cantando ao lado do conceituado saxofonista Otis, nada escandalosa e dignificadora do seu papel enquanto artística.

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