A RENAMO JÁ NÃO TEM ESTRATÉGIA DE
GOVERNAÇÃO
Centelha por Viriato Caetano Dias
WAMPHULA FAX – 13.07.2015
“Na realidade nenhuma guerra que se
conheça na história, no presente ou no futuro que se possa prever, foi justa”. Thomas Morus (1478-1535), escritor inglês
Para tudo
que fazemos na vida há sempre uma factura. A da Renamo parece ter chegado. Este
partido caminha rapidamente para o fim do ciclo. Só lhe resta duas já
anunciadas hipóteses: mudança tempestiva de liderança ou manter-se,
eternamente, na oposição.
A primeira
probabilidade parece remota, se esmiuçarmos o comportamento político de Afonso
Dhlakama, o qual denuncia uma quase irrevogável certeza: a implementação da
monarquização ditatorial da Renamo. É um pouco à semelhança do que aconteceu em
Cuba quando Fidel Castro cedeu o “trono” ao seu irmão e actual presidente do
país Raul Castro, só mesmo uma fatalidade biológica (que o Diabo seja surdo e
mudo) pode obrigar Dhlakama a abandonar a liderança da perdiz. Nem com recurso
a um guindaste, do melhor e mais forte que houver, se poderá remover Dhlakama
da chefia do seu partido. A segunda, a mais provável de todas conjecturas, é a
Renamo manter-se por muitos anos como partido líder da oposição. Para isso há uma
outra certeza, é que a Renamo já não tem uma única estratégia democrática para
a governação do país.
O
repositório da perdiz possui forças para fazer a guerra, já que pela via
democrática tem ignorado as lições da história. Nos últimos anos Dhlakama transformou
um partido de esperança, uma organização aglutinadora de revolucionários e uma
força de mudança em uma monarquia pessoal e os seus súbitos em piegas. A
ausência da crença de vitória e da pauta democrática deram lugar à preguiça e
ao espírito de ociosidade.
Se alguém
perguntar a Dhlakama o que espera que seja a Renamo daqui a 10 ou 20 anos, a
resposta há-de ser um vazio sepulcral. Porquê? Porque a Renamo perdeu a bússola
e está a marchar para um caminho do alçapão, que nem uma grua conseguirá ver o
fundo do “túnel”. Está a amarrar-se ao passado, isto é, nas eleições de 2014.
Entretanto, o relógio do tempo não pára. Perde-se muito tempo a choramingar do
que a conquistar a simpatia das crianças e jovens de hoje que serão os
eleitores do amanhã. Há partidos que perdem eleições e que, por vezes, até caem
no descrédito popular, mas nunca perdem o seu eleitorado. Isto acontece quando
existe uma hegemonia democrática e não revoluções sangrentas.
Quero
insistir num ponto que acho fundamental.
A Renamo não
pode confundir a multidão que povoa os seus comícios e o eleitorado. São coisas
totalmente diferentes.
Num país
onde o analfabetismo e a fome grassam, pequenas doses de promessas sejam elas
materiais ou espirituais, garantem uma extraordinária audiência num campo ou
estádio de futebol.
E Dhlakama
possui essas qualidades de autor político. Sabe tirar partido da estiagem
estomacal das populações, quer quando jura pela alma da mãe, quer quando faz
ultimatos à Frelimo, acusando-a da desgraça do país, acto que deixa a multidão
em delírio emocional. Ao contrário do eleitorado, pode até não saber ler e
escrever, sabe separar o acessório do fundamental e dificilmente deixa-se
enganar pela leveza da emoção.
Um renamista
convicto dizia nas suas lucubrações que basta um pingo de mel para apanhar
tantas “moscas” do que um barril de fel (bílis). Estas lições históricas têm
sido ignoradas pela direcção da Renamo. Partido nenhum goza do monopólio da
mente humana, quantas vezes a nossa própria mente nos atraiçoa, mesmo nos locais
de maior tendência de voto (popularidade), os factos mostram que a ausência de
carinho (resultados plausíveis de governação), dão lugar ao divórcio. Perde-se
o eleitorado que outrora foi seu. Um olhar acurado aos resultados das últimas
eleições gerais e legislativas percebe-se que, por exemplo, a Renamo já não
goza da mesma popularidade em Gorongosa.
Na mesma
toada, a Frelimo não se pode dizer dona de Gaza ou Inhambane.
A
demonstração de forças que a Renamo faz – e fê-lo recentemente em Manica no
âmbito das comemorações dos 35 anos do destacamento feminino – só
descredibiliza o partido e os discursos de paz. Para comemorar esses
aniversário, escusava-se de armar mentes e derramar “lágrimas de crocodilo”,
pois ficou registado o desejo da Renamo em cortar a transitabilidade da estrada
nacional número um (EN 1). Já no “conflito de Santungira” a Renamo teve a mesma
atitude quando desacamou os antigos guerrilheiros para atacar forças de defesa
e segurança e populações indefesas.
E como dizia
o outro que a História quando não se repete, rima, foi então que as senhoras
deixaram de combater a pobreza no país para marchar, enfrentando fome e frio
por uma causa que tem um nome: destruição de Moçambique.
Um grande
político dinamarquês disse um dia que “Ninguém pode vencer a batalha
contra o seu próprio povo”. E mais uma vez a Renamo parece enveredar pelos
caminhos da perdição. Não compreendo que se tenha gasto tanto dinheiro em
organizar um desfile e não consiga abrir uma escola de formação da Renamo.
Apresenta
queixumes para relançar-se, mas gasta rios de dinheiro em deambularem pelo país
a semear terror. Sobre esta caturrice, o meu amigo Nkulu repetiu-me há dias a
sua destilação poética segundo a qual “Os caminhos da perdição são
bonitos e promissores, apenas no início. Mas a colheita é tão infrutífera
como amarga.” Termino estas linhas com um grande Zicomo (obrigado) a
todos.
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