Francisco
Muianga, Segunda-feira, 20 de Julho de 2015
I
Duvido se é
de alguma utilidade, hoje, a Renamo se justificar ou escrever uma nova história
sobre as suas origens, causas de surgimento e objectivos prosseguidos: se o que
está escrito pode ser reescrito, isso não significaria eliminação da verdade
histórica.
[A
verdade histórica é um limite que não se deve violar (…) ”. É assim como
pensa o romancista cubano, Leandro Padura. Esta declaração fê-la em
entrevista à Folha de São Paulo, numa das edições deste jornal
brasileiro].
Mas, em
contrapartida, reputaria de grande préstimo, por concorrer para a estabilidade
do país e tranquilidade dos moçambicanos amantes da paz, procurar fortalecer-se
como uma organização política desarmada.
As armas
amordaçam as ideias, as provavelmente boas em ambiente democrático e da razão,
esta como apanágio do homem, incluindo o discurso recorrente do seu líder sobre
como surgiu a organização MNR, prevalecendo a Renamo que a Afonso
Dhlakama dela tenta se distanciar (?) ao procurar oferecer a história fast
food.
[“A
guerra civil foi justificada pela causa de traição da independência por parte
da Frelimo” – diz hoje Dhlakama].
Mantendo-se
armada e com vontade de permanecer armada, a organização “político militar”
liderada por Afonso Dhlakama, a cada dia vai revelando aos moçambicanos as suas
bases em Tete, Inhambane e Gaza. Era de supor terem sido desmanteladas, com a
assinatura do Acordo Geral de Paz, a 4 de Outubro de 1992.
Creio que,
por este andar, Dhlakama revelará novos nomes das suas bases e dos ataques que
tem ordenado – assumiu o de Tete este ano.
Desde 1992,
o que se apregoou, com coro de personalidades cujo discurso se assumia como
inquestionável na interpretação do AGP, foi: o presidente da Renamo tem [uns
150] homens da sua segurança pessoal como líder e isso está previsto no acordo
de Roma.
Li várias
vezes o Acordo Geral de Paz. Não achei nenhuma linha, frase, período ou
parágrafo estabelecendo: Afonso Dhlakama deverá manter ou instalar bases em
Sadjunjura, Nampevo, Muxúnguè, Guijá ou outro ponto qualquer de Moçambique quer
para a sua segurança pessoal quer para outros fins, tais como os ataques ocorridos
de 2013 a 2014.
Como me
tenho dedicado à leitura e análise de vários acontecimentos, entre os quais os
que envolvem a Renamo e o seu líder, para entender a não cessação definitiva da
violência e não desarmamento, gorando-se desde 1992 as expectativas, não
escondo [parafraseio Dhlakama nisso de “não escondo”]: a possível existência de
homens desde então escondidos pela Renamo, não me espanta.
O homem do
“dito verdadeiramente dito” desinteressadamente até conseguiu do Zimbabwe [Rodésia
de Ian Smith, certeza absoluta] três armas, AKM, emprestadas. Curioso!
Mas, em
história, quando se aborda a fundação de uma organização política como seria o
caso da Renamo, torna-se insuficiente declarar em entrevistas ou comícios que
fulano, sicrano e beltrano se reuniram, secretamente, para fundar um movimento
armado ou político.
Não sei se
existe uma organização do género cuja história se resuma a encontros não
documentados. As conversas entre Afonso Dhlakama, André Matsangaíce ou
provavelmente outros, a terem ocorrido, seriam a fase preparatória para a
criação da organização MNR.
A fundação
de um clube de futebol, empresa, igreja, etecetra, tem uma etapa formal. A sua
existência, em situação normal, tem como testemunho uma acta ou outras
referências relevantes e irrefutáveis: um lugar concreto, presidente da
assembleia, órgãos eleitos constitutivamente, sufragados ou nomeados – e em
caso de nomeação, o nome de quem nomeia – participantes e convidados ao evento.
Penso ser
isso o que a nova Renamo, existindo para negar a velha ou contestar o que
considera ser mentira da Frelimo [a ser mentir, de facto, haveria muitos
historiadores ou intelectuais mentirosos e, mais do que isso, tão maus que são
devem detestar a Renamo, e, por isso, em tudo o que se pode ler, escrito por
eles, associam a existência da MNR ao serviço de inteligência rodesiana],
querendo, pode desvendar.
De
contrário, perde tempo com fast food, que daí pode não passar. Parece
não ser relevante, hoje, discutir como a MNR, mais tarde Renamo, nasceu, sua
visão e missão em Moçambique. Seria de grande interesse, acredito eu, provar
que não existe para guerras contínuas, desarmando-se e não se mantendo como
pode ter ocorrido há 37 anos.
O partido de
Afonso Dhlakama tem história diferente, contrária da convergente na sua ligação
com a Rodésia de Ian Smtih? O que se sabe sobre MNR/Renamo não foi escrito tudo
por pessoas ligadas à Frelimo. Vale a pena, aí, insistir no que diz Leonardo
Padura: “A verdade histórica é um limite que não se pode violar”.
II
Domingo passado, a Renamo novamente pode ter escrito
mais uma história fast food: celebração dos 35 anos do seu destacamento
feminino. Foi a 5 de Junho de 1980, diz-se, que ocorreu a incorporação das
primeiras mulheres, juntando-se aos homens da organização MNR, na luta “pela
democracia”.
O que é problemático? Parece [escrevo parece porque
pode ter escapado uma notícia sobre isso] que a Renamo, numa situação normal,
estaria a exaltar esse feito há bastante tempo. Por exemplo, em 1995, um ano
após as eleições, poderia ter celebrado15 anos dessa incorporação.
Mas em 1995, Afonso Dhlakama entretinha-se a ameaçar
dividir Moçambique.
Ele exigia que Joaquim Chissano nomeasse governadores
indicados pela Renamo para Sofala, Manica, Tete e Zambézia, assim como parte
das receitas dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Manuel Pereira falava de
colocar cancelas no Save.
Sem surpresa, leio na edição de A Bola, do
passado domingo [dia 5 de Julho de 2015, para que não haja equívocos]: “Líder
da Renamo ameaça cortar principal estrada do país”. Que azar persegue os
moçambicanos?
Por quê? Simples: em nenhuma das notícias inseridas no
topo das colunas do diário desportivo português referentes aos cinco Países de
Língua Oficial Portuguesa, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e
Príncipe, tirando Moçambique, se estimula violência.
A notícia do topo para a coluna de Moçambique é mais
uma a “ameaça” de Afonso Dhlakama!
Sem que fosse celebrado com periodicidade tal marco,
que se quer histórico para a Renamo, 35 anos depois, faz-se uma
cerimónia, mas até ao momento em que escrevo estas linhas ninguém revela os
nomes das combatentes homenageadas. Estão vivas? Porque desde 1992 não
apareceram em público, contrariamente ao que fazem as de outras organizações em
Moçambique?
Sei que é possível, por exemplo, provar quem esteve no
II Congresso da Frente de Libertação de Moçambique, de 20 a 25 de Julho de
1968, em Matchedje, mesmo daqueles que um político desatento [não seria
boateiro?] declarou, em entrevista à televisão, que seus nomes não tinham sido
gravados em mármore no monumento já erguido.
Até os moçambicanos mais novos conhecem mulheres do
Destacamento Feminino da Frelimo, não interessando se todas ou não.
A Renamo não tem documentos sobre a sua história, além
de entrevistas concedidas pelo seu líder? Por quê? Foram destruídos durante a
guerra dos 16 anos? Espero que as mulheres que se filiaram no MNR no dia 5 de
Junho de 1980 contem a sua história irrefutável aos moçambicanos. Desde lá,
passam cerca de 35 anos.
Seja como for, é preferível Afonso Dhlakama no fast
food 5 de Julho de 1980, a ouvi-lo a confirmar ordens dadas aos seus homens
para atacarem agentes do Estado em Tete.
Mas na cerimónia de algures em Dombe, tendo em conta a
notícia do jornal A Bola, repetiu os caldos entornados. Dhlakama fez
como no passado: em vez de celebração dos feitos, ameaça.
A última grande celebração do aniversário da morte de
André Matsangaíce, em Outubro de 1912, acabou com um ensaio militar ou
reagrupamento dos homens armados, que em 2013 semearam dor e luto, sobretudo no
troço Muxúnguè-Save.
Uma coisa semelhante entre Sadjunjira e Dombe: um
local é preparado para reunir homens e mulheres, mas praticamente ninguém disso
se apercebe. Dhlakama usou ambos os eventos para fazer ameaças aos
moçambicanos.
“Vou esticar a corda e acabar com a paciência”,
declarou o líder da Renamo, segundo o jornal A Bola.
O que fará pelas combatentes que há 35 anos foram
recrutadas para as fileiras da sua organização?
Não se sabe, senão, de acordo com a mesma fonte, que
“o número um da Renamo ameaçou não só cortar a N1 como evacuar edifícios
públicos e expulsar administradores locais nomeados pelo governo”.
A Renamo e Afonso Dhlakama têm uma forma sui
generis de valorização dos seus combatentes: renovação de actos de
instabilidade! São os homens armados amordaçando o que seria uma organização
política em ambiente em que a razão é o apanágio do homem.
PS: Escrito o artigo, fui achar uma
entrevista interessante de Dhlakama, a revelar que quando estiver no cargo de
Presidente da República de Moçambique vai escrever a história da Renamo. Espero
que alguma longevidade da família me dê esse prazer.
Anseio
também que não cair em nenhuma daquelas emboscadas “tipo” Muxúnguè, Save e por
aí fora do passado, porque aí as coisas tornar-se-iam mais complicadas. É
quando se tem de falar de sorte!
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