ESTARÁ O PRESIDENTE NYUSI A SER “POLITICAMENTE CORRECTO”?
Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
WAMPHULA FAX – 21.07.2015
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“O poder não é como o corpo que falece connosco: dão-nos. É um corpo estranho a nós, não é uma aquisição genética. Quando exercemos o poder entramos também em processo de erosão.” Extraído de uma conversa com o amigo e poeta Nkulu.

Quando Barack Obama tomou o poder nos EUA, acreditava-se que a sua eleição seria panaceia para todos os males que o mundo carrega. Houve quem o comparasse a Jesus Cristo, primeiro, pelo facto de um cidadão negro atingir o poder nos EUA, segundo, as suas palavras carregadas de simbolismo humanista ecoavam os ensinamentos de Cristo quando veio anunciar ao mundo que somos todos irmãos e não há lugares para escravos e senhores. E mais: que a generosidade, a misericórdia, a paz e a liberdade são o próximo passo para a mudança positiva do mundo em decadência moral e espiritual. Ainda não tinha completado um ano da sua magistratura, Obama já ganhava um dos mais importantes galardões da política mundial que é o Prémio Nobel da Paz de 2009. Muitos se esqueceram, talvez por causa da euforia libertadora do passado, que Obama é um simples ponteiro de um relógio cuja funcionalidade depende de um motor oculto. O “motor” é o partido democrático que dita as regras do jogo. Destarte, Obama passou de bestial à besta e corre risco de acabar o mandato sem ter cumprido as promessas ao povo americano, defraudando, outrossim, as expectativas de milhares de cidadãos do mundo oprimido.

Porque este intróito? Porque existe um paralelismo entre Obama e Nyusi. A despeito deste último ainda não ganhou o prémio Nobel da Paz, graças a sua simpatia, abertura democrática e profunda humildade está a povoar corações dos moçambicanos com enormes doses de esperança que se estende além-fronteira. Estes adjectivos não saciam nem calam os problemas dos moçambicanos que continuam a fazer estatística, pelas piores razões. O país está a desenvolver em termos numéricos, mas o paradoxo da pobreza carcoma o bem-estar da maioria da população.

Na tomada do poder, o presidente Nyusi prometeu inverter o estado clínico do país, tendo, inclusivamente, avançado com algumas medidas paliativas de carácter administrativo, com enfoque para a agregação e redução dos ministérios, contenção de custos e capitalização do sector da educação.

Mas o grande problema de Moçambique, se calhar o único que entrava o desenvolvimento do país, é o elevado nível da corrupção e a falta de patriotismo dos nossos dirigentes.

Em quase todos diagnósticos (relatórios) a corrupção está no pódio (em alta) e pouco tem sido feito para travar esse mal. Em cada investimento estrangeiro que entra no país, existe algum interesse pessoal dos nossos dirigentes. É uma espécie de indigenalização económica, ou seja, a economia está tomada de “assalto” por alguns dirigentes desonestos, gananciosos e ambiciosos.

É a corrupção que o presidente Nyusi devia atacar e deve fazê-lo já. Porque, o adiamento dessa liça implicaria a captura do Estado pelos dirigentes nefastos à pátria.

Não sou bruxo, mas os meus espíritos dizem-me que dificilmente o presidente Nyusi conseguirá estacar essa “hemorragia” da corrupção.

É um jovem no seio do partido e por sê-lo receio que consiga travar os adamastores lá instalados. Se a situação prevalecer, a Frelimo transformará o presidente Nyusi em besta, porquanto é suportado por este partido.

Como “puxar orelhas” a gente que viu “nascer” e “crescer” o presidente? Como endireitar o torto, sem causar um clima de crispação entre os camaradas? Tenho notado, com alguma preocupação, que o presidente deixa passar estes factos. Quer conhecer a casa. Quer estar ou ser politicamente correcto? Nas palavras do padre Manuel Maria Madureira da Silva “politicamente correcto” “é uma expressão muito em uso, que consiste em amaciar a linguagem, tornando-a neutra, de modo que nela não haja referências preconceituosas nem discriminatórias, a fim de se evitar que possa ser ofensiva para certas pessoas ou grupos sociais (…). É uma maneira eufemística de calar o que se devia dizer e de dizer o que se devia ocultar
Imaginemos que um corrupto que é presidente de administração de uma empresa pública não é substituído do cargo porque ainda não terminou o seu mandato ou, então, por força partidária, é um chefão” intocável que o sistema o amnistia. Não deixará de ser corrupto. Não deixará de delapidar o Estado.

Porque é que não se toma medidas sobre essa pessoa? Um dirigente com sérios problemas de saúde, em estado de invalidez, é deixado no cargo porque não se quer ferir sensibilidade? Será medo de errar? Pois, é um erro grave de que podem derivar muitos males. Como dizia um anónimo, não podemos optar pelo facilitismo, porque o mundo não é composto de facilitismos, é duro, cheio de desafios e de lutas. Estes erros podem afectar a atmosfera política nacional. Há necessidade de “quebrar o gelo”. No entender de um leitor, a mudança nem sempre é bem aceite, por mexer com sectores cristalizados. Não vá depois tornar-se inútil a sua acção, senhor presidente!

A crescente falta de patriotismo coloca a nu a ideia de unidade nacional. A auto-estima não significa, apenas, decorar a letra do hino nacional, conhecer os artigos da Constituição, é muito mais do que isso. É verdade que não existe uma pauta em que se encontre os critérios para se ser patriota ou possuir auto-estima, mas, na minha opinião, um patriota deve também viver e sentir Moçambique.

Muitos que vestem símbolos nacionais, não conhecem nossas praias, nunca foram aos nossos hospitais, ignoram nossas escolas, investem o capital no estrangeiro, roubam e matam o povo, etc., etc., etc. Zicomo (obrigado).

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