O GOVERNO CENTRAL VERSUS AS MINERADORAS DE CARVÃO EM
TETE
1. Há proliferação de estudos e pronunciamentos divergentes sobre o
processo de escoamento do carvão mineral produzido em Tete para o mar. Algumas
empresas pretendem escoar o seu minério através do transporte fluvial (rio Zambeze),
outros pretendem escoar o carvão através da linha de sena. Outros ainda, por
falta de capacidade da linha de sena, pretendem financiar a construção de duas novas
linhas de caminho-de-ferro, uma que parte de Moatize para Nacala, passando pelo
territorio malawiano, ora em conclusão, e outra que parte de Chitima, atravessa
as províncias de Manica, Sofala, Zambézia e Nampula até ao porto de Nacala.
Outros ainda pretendem usar o transporte
terrestre (camiões) para o mar.
2. Devido a essa diversiddade de planos e intenções, o então Presidente da
Republica, Armando uebuza, manifestou, em reunião do Conselho de Ministros,
preocupação pelo facto de o Governo Central não estar a liderar este processo. Por conseguinte, mandatou o então Ministro
da Planificação e Desenvolvinento para levar a cabo um estudo e apresentar um
documento ao Conselho de Ministro para discussão e tomada de decisão.
3. O Ministro da Planificação e Desenvolvimento (MPD) organizou e dirigiu um
encontro com os técnicos do GAZEDA, do CPI, da Agência de Desenvolvimento do
Vale do Zambeze, do Ministério dos Transportes e Comunicações.
4. Aos técnicos presentes o MPD apresentou o ponto fundamental do
encontro: O Conselho de Ministros queria um documento que apresentasse ideias
claras sobre a logística de transporte do carvão mineral das zonas de produção
até aos portos da Beira, Nacala e outros já existentes, por reabilitar e
ampliar ou ainda por construir. Esse documento seria apresentado, depois da
aprovação pelo Governo, às empresas mineradoras para discussão.
5. Os técnicos estudaram o assunto e avançaram com as seguintes propostas:
a. Escoamento do carvão mineral de Tete para o mar:
·
Para além da Linha de Sena e do Porto
da Beira, avançar com o projecto de construção da linha férrea para Nacala. Porém,
esta linha não deve passar pelo território malawiano. Em território moçambicano
a linha férrea começaria no Distrito de Mutarara e passaria por Morrumbala,
Nicoadala e Mocuba. Da Zambézia entraria em Nampula e ligar-se-ia ao Corridor de
Nacala através de Malema. Seria o primeiro passo para viabilizar a ligação ferroviária
Norte-Centro-Sul com uma linha de caminhos-de-ferro.
·
Tomaram exemplo do gasoducto da Rússia para a
Europa na exportação do gás Russo para o mercado da Europa Ocidental. O gasoducto
Russo passa pela Ucrânia para chegar ao mercado da União Europeia. Tempos houve
em que, por motivos político-económicos, a Ucrânia teve que fechar as torneiras
deste gasoducto no seu território exigindo o aumento das taxas de trânsito. A
Russia teve que ceder porque estava a ser pressionada pela União Europeia, dado
que havia necessidade de gás nos vários países europeus para o aquecimento das
casas. No nosso caso, o relacionameto
político-diplomático e económico com os malawianos não é salutar, havendo muitos
assuntos pendentes e muitas zonas de penumbra nas relações de vizinhança entre
Moçambique e Malawi.
·
Concluída a construção da linha,
os comboios a transportar carvão e outras mercadorias nos dois sentidos, o
Governo do Malawi poderá, no ponto de pico da exportação do carvão, server-se
dela como uma arma de pressão político-diplomática e económica contra o Governo
Moçambicano, fechando a fronteira para a passagem dos comboios. Com a fronteira
fechada, as mineradoras estarão em cima do Governo de Mocambique a exigir que este
negocie, o mais urgente possível, a reabertura das fronteiras nas condições
exigidas pelo Malawi, significando isto a alienação de parte da soberania do
Estado moçambicano a favor do Malawi. Pois o Governo malawiano poderá fazer
jogos duros de cintura com Moçambique para conseguir quase tudo o que até hoje
não consegue sem esta arma: linha férrea e as mineradoras. O Governo poderá ser
forçado a negociar e ceder mais do que devia.
·
Estamos a falar, por exemplo, da navegação
dos rios Chire e Zambeze, das taxas de pagamento da energia da HCB, apesar da
linha ainda não estar concluída; do acesso aos recursos hídricos e piscícolas
no Lago Niassa e outros Dossiers do
interesse do Malawi.
b. Construção de um Instituto de Investigação de Doenças Pulmonares em
Tete.
·
Os técnicos propuseram que o
Governo discuta com as mineradoras a construção deste Instituto. Ė sabido que as minas a céu aberto deixam escapar, para a atmosfera,
muita poeira com resíduos nocivos aos pulmões e outros órgãos humanos. Paralelamente
a construção de tal Instituto, há necessidades de se desenvolver projectos pecuários
orientados para a produção de leite e plantio de árvores para minimizar os
efeitos das poeiras resultantes da extração do carvão e da actividade das
pedreiras.
c. Criação de uma cintura de protecção à Cidade de Tete.
·
Os técnicos avançaram a proposta
de que o Estado deve ter zonas de reserva de carvão para as futuras gerações. Neste
sentido, a exploração do carvão descoberto na área de Chingodzi, onde se situa
o Aeroporto de Chingodzi, não devia ser autorizada pelo Governo. Este carvão
deve ser uma reserva do Estado.
·
A Cidade de Joanesburgo na África do Sul está
construída em cima duma mina de ouro.
Nunca e em nenhum momento o Governo Sul-africano pronunciou-se favorável à
retirada da Cidade de Joanesburgo para a exploração daquele recurso estratégico.
A África do Sul importa carvão, mas tem suas reservas internas, os EUA idem em
relação ao petróleo.
·
A China tem suas reservas de carvão,
mas é uma economia emergente e potencial consumidor do carvão de Moatize, tal
como a Índia e o Brasil (BRICs).
·
A Austrália, que estava a investir
na Rio Tinto para a exploração do carvão de Benga e de Chingodzi, tem suas
reservas de carvão.
·
Em Angola deve haver exemplos semelhantes
em relação aos diamantes e petróleo.
Portanto a cidade de Tete deve ser protegida das intenções das
mineradoras. Se se autoriza a retirada do aeroporto, seguramente, o pessoal
circunvizinho será forçado a sair devido a intensidade de poeiras resultantes
das escavações.
Esta visão dos técnicos e dos membros
do Governo devia ser protegida. Está certa. Devíamos reforçar a nossa soberania,
decidindo correctamente os locais para a construção de infra-estruturas de peso
para a economia de Moçambique.
A construção de uma linha férrea cria
polos de desenvolvimento. No quadro do combate a pobreza, o Governo deve
acolher a proposta da construção da linha férrea dentro do território nacional.
Nesta linha de ideias, o Governo devia convencer as mineradoras que esta opção
reflecte os interesses dos moçambicanos. As estações a serem criadas nesta
linha farão nascer novas vilas e outros tipo de zonas urbanas no solo pátrio.
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