DEBATENDO MOÇAMBIQUE
Por Elvino Dias, In: Macua Blog, 12/01/2017

Marcelo Mosse suscitou um debate muito interessante na sua página envolvendo duas grandes personalidades, o Economista Roberto Tibana e o sociólogo Joseph Hanlon.

Num dos seus eus comentários, respondendo uma pergunta de Raul Novinte que questionava como os nossos dirigentes enriqueceram da noite para o dia e porquê que estes, uma vez ricos, se esquecem das suas origens, Roberto Tibana respondeu o seguinte:

"Caro Raul Novinte, compartilho a tua indignação, e penso que a razão por que quando “se tornam ricos” esquecem as suas origens está ligada à maneira como “se tornam”: fazem-no de maneira ilícita, e até criminosa. Por isso quando “se tornam ricos” (veja que não produzem riqueza, simplesmente “se tornam ricos”) já não podem ter cara para olharem para as suas origens.

É o caso do Manuel Chang (e muitos como ele).Eu conheci o Manuel Chang. Estudei com ele na Faculdade de Economia da UEM. Ele morava no Alto-Maé. Quando os Transportes Públicos de Maputo pararam de fazer a rota do alto-Maé para o Campus da UEM e para a Costa Do Sol, caminhamos juntos quase todos os dias durante um ou dois anos para a Faculdade.

A pé, debaixo de chuva ou sol, ida e volta! Ase bem me recordo ele tinha uma bicicleta que usava de vez em quando. E já era funcionário de nível médio no Estado, no Ministério das Finanças. Isso no período da manhã. No período da tarde, religiosamente, ele descia do Alto-Maé para a baixa da cidade, e de lá para cima. Outra vez muitas vezes a pé. Nessa caminhada, minha ex-esposa era a companheira de caminhada.

Estou a falar dos princípios dos anos oitenta.

O Manuel Chang começou a andar de carro “próprio” quando o Governo importou e distribuiu Ladas a vários funcionários do Governo, creio que a partir do nível de Chefe de Departamento ou coisa assim. E Chang foi qualificado.
 
Foi aí que deixei de partilhar as minhas caminhadas, e só nos passamos a ver no campus, até acabar o Bacharelato. Desde essa altura até agora, fazendo a soma dos valores que o Chang auferiu como Chefe de Departamento, Diretor Nacional, Vice-Ministro, até Ministro, não vejo como o ele pode ter a riqueza que uma vez publicamente declarou, sem falar daquela que não declarou. É por isso que quando chegou o momento do teste final, em que ele tinha que escolher entre ir pela traição total aos interesses nacionais, ou se afastava dos jogos sujos, ele optou por ir com o sistema corrupto.

Ele estava comprometido pela corrupção anterior em que se engajou para alimentar a sua ganância, e com toda a corrução anterior que facilitou ou conheceu e não parou nem denunciou ao longo da sua carreira como quadro superior no Ministério das Finanças."

Num outro comentário Roberto Tibana escreveu:

O Manuel Chang foi usado. E aceitou ser usado porque já estava comprometido com o sistema corrupto. Na altura de assinar as garantias ele pode ter chorado e ter tido a mão trémula (ou fingir isso tudo), mas se ele não podia bater com o pé no chão é porque sabia que o passado das suas relações com o sistema corrupto não lhe permitia.

Dados os prejuízos que causou ao país, o Manuel Chang deve pagar. Com os bens que ele ilicitamente amassou durante esse tempo todo, pois honra ele já nem tem para compensar a desonra ao país em resultado dos atos em que ele participou conscientemente e para defender os seus interesses em prejuízo dos interesses da nação.

Quando muito com ele os investigadores judiciais podem negociar o volume de informação que ele pode voluntariar para facilitar o arresto de bens (dele e dos outros comparsas, incluindo do chefão deles na altura). Isso pode ajudar a reduzir as penas dele sobre as culpas dele no cartório. Mas não para fechar o dossier todo e deixar os outros também irem livres. Isso não. Foram tantos os prejuízos que que tal procedimento seria imoral.

A corrução é tão endémica em Moçambique, com semelhança a um cancro que é necessário arrancar o mal pela raiz. Já temos promessa que se voltaria a fazer o mesmo. É por isso que é muito perigosa a proposta do Joe Hanlon, que acrífica o executor para deixar os mandantes livres, esses mesmos que dizem que voltariam a fazer o mesmo. É que podem nem sequer serem eles mesmos, mas podem colocar seus peões no poder.

É por isso que não se trata só de recuperar o dinheiro. Trata-se de garantir que o mesmo não volte a acontecer, pois existem riscos reais de que o mesmo ou coisa pior pode voltar a acontecer. Sobretudo se com eles se deixar ficar a riqueza que amassaram com essas negociatas. Vão usá-lo pra corromper ainda mais o sistema político.

Vão usar esse dinheiro para comprar votos, corromper funcionários dos sistema eleitorais, pagar publicidade maliciosa contra os seus oponentes, e comprometer mais funcionários do Estado Pra lhes facilitarem os negócios ilícitos. A situação está muito perigosa!"

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