RISCO POLÍTICO AO NÍVEL DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL EM 2017
Joana Rebelo Morais - Dinheiro Vivo - Tuesday, January 3, 2017

A consultora Eurasia prevê que a entrada no novo ano corresponda ao início de um período de "recessão geopolítica".

O ano de 2017 será o “mais volátil” em termos de risco político desde a Segunda Guerra Mundial. O alerta é da consultora Eurasia, que explica a crescente instabilidade com o unilateralismo dos Estados Unidos sob a liderança do Presidente eleito dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, a crescente assertividade chinesa e o enfraquecimento do poder da Chanceler alemã, Angela Merkel, avança a agência financeira norte-americana, Bloomberg.

O relatório anual da Eurasia prevê que a entrada no novo ano corresponda ao início de um período de “recessão geopolítica”, em que o risco de um conflito internacional ou do “colapso das grandes instituições governamentais” é descrito, não como inevitável, mas como “concebível”.

A vitória de Donald Trump

Há vários cenários associados à vitória de Donald Trump que podem pôr em risco a estabilidade da economia global: o aprofundamento das relações com a Rússia, o ceticismo em relação à NATO e o alinhamento com partidos políticos de ideologia antissistema, como o francês Frente Nacional, de Marine Le Pen.

A consultora ressalva, contudo, que embora esteja em causa a ordem global, não está fora de questão um reforço da posição dos EUA: “Podemos assistir em 2017 a um ambiente que, em termos geopolíticos, é de longe o pior das últimas décadas, mas em que o investimento nos mercados norte-americanos e a força do dólar norte-americano aumentam”, explicou Ian Bremmer, o Presidente da Eurasia.

Liderança: China fortalecida, Alemanha enfraquecida

A realização do 19.º Congresso do Partido Comunista Chinês, que se realiza em 2017, pode também ser fonte de instabilidade global. Com todas as atenções sobre si, o chefe de Estado chinês, Xi Jinping, pode reagir com maior agressividade a “desafios de política externa” que, consequentemente, podem criar ou agravar tensões entre a China e os EUA.

Em território alemão, são vários os desafios para a Chanceler Angela Merkel: as eleições que se realizam no outono, as disputas decorrentes do Brexit, a crise da dívida grega e o crescente autoritarismo do regime turco, liderado pelo Presidente Recep Erdogan, que ameaça o acordo entre a Turquia e a Europa para o acolhimento de refugiados.
 
A Eurasia prevê a vitória de Angela Merkel, mas garante que a necessidade de apaziguar as críticas internas vai afetar negativamente a sua liderança.

Desafios internacionais, efeitos globais

A Eurasia destaca ainda outros factores que poderão conduzir ao incremento do risco político. Destacam-se a falta de reformas económicas em países como a Itália, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia e o Reino Unido, e a culpabilização, por parte do poder político, dos bancos centrais pelo agravamento das condições económicas.

A consultora refere ainda o caso turco, marcado pelo crescente controlo de Recep Erdogan sobre o governo e os meios de comunicação e pela crescente pressão sobre o banco central turco para a manutenção de taxas baixas e para a aposta no estímulo fiscal para compensar o reduzido crescimento económico.

Destacam-se também, como factores de risco, o programa nuclear da Coreia do Norte, que contempla os meios técnicos necessários para ataques aos EUA e o posicionamento de Marine Le Pen para a vitória nas presidenciais francesas que, a concretizar-se, contribui para o agravamento do “processo de desintegração gradual e em câmara lenta” que afecta a Zona Euro.

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