DÍVIDA EM
MOÇAMBIQUE
É preciso
aprender com os erros
Deutche Welle, 14.06.16
Analistas
dizem que o Governo moçambicano deve ter uma conversa urgente com o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e os cidadãos, pautada pela transparência. Mas é
também preciso um mediador entre o Estado e os credores.
Há mais de uma década, a comunidade
internacional aliviou a dívida de Moçambique. O país já não conseguia suportar
o fardo financeiro de 16 anos de guerra. Por isso, o Banco Mundial, o FMI e
outros credores integraram Moçambique numa iniciativa
de assistência a Países Pobres Altamente Endividados (HIPC, na sigla em
inglês). Foi um alívio de 3 mil milhões de dólares norte-americanos.
"Ao fazer-se esta redução tão
significativa da dívida, pensou-se que nunca mais aconteceria algo do
género", diz Jürgen Kaiser, da www.erlassjahr.de,
uma coligação alemã de organizações não-governamentais que lutou na altura pelo
perdão da dívida a Moçambique. Mas não foi isso o que aconteceu.
Moçambique enfrenta uma nova crise da
dívida. Foram divulgados empréstimos superiores a mil milhões de dólares norte-americanos
concedidos a empresas moçambicanas e garantidos pelo Governo, que não constavam
das contas públicas, e os doadores congelaram a ajuda ao país, exigindo
explicações. O embaixador da União Europeia em Moçambique, Sven von Burgsdorff,
disse esta segunda-feira (13.06.16) que o Executivo moçambicano deve proceder
com o "máximo grau de transparência" para reconquistar a confiança
dos parceiros internacionais.
Aumento abrupto da dívida
As "dívidas escondidas"
desregularam as contas moçambicanas. Segundo dados oficiais, em 2012, a dívida
situava-se nos 42% do Produto Interno Bruto (PIB). Tem crescido, porém, a um
ritmo muito superior ao dos anos anteriores. O Executivo diz que, actualmente,
a dívida é superior a 70%, e as agências de notação financeira estimam que
possa ultrapassar os 100% até ao final do ano.
O analista Markus Weimer considera que
um dos grandes problemas foi contar demasiado com as receitas do sector do gás,
depois da descoberta de grandes reservas no norte de Moçambique.
"As empresas envolvidas queriam
entrar no mercado da segurança marítima - um serviço que iam vender para as
empresas de gás offshore",
afirma o consultor da Horizon Client
Access. Além disso, "a esperança era que os pagamentos fossem numa
altura em que já havia receitas da venda do gás. Mas vários projectos
atrasaram-se".
A crise é grave, avalia Weimer, e o
interesse inicial começa agora a transformar-se em apreensão. "O Governo
não conseguirá pagar esta dívida sem fazer cortes, e isso tem um impacto muito
grave", diz o analista. "Muitas pessoas estão a perguntar se
Moçambique poderá pagar essa dívida, ou se não teremos uma situação de default,
talvez em breve ou no próximo ano."
Transparência e mediação
É premente que o Governo moçambicano
explique em detalhe os negócios que levaram ao aumento da dívida - não só à
missão do FMI, aguardada este mês em Maputo, mas também aos cidadãos
moçambicanos, lembra Jürgen Kaiser.
Além disso, "não se pode cometer
o mesmo erro do passado": Será também preciso um mediador entre o Estado
moçambicano e os credores. "No passado, as negociações da dívida foram
muito ineficientes, porque os credores são juízes em causa própria. Por
exemplo, no Clube de Paris, onde Moçambique também negociou. São os credores
que decidem se há, ou não, um alívio da dívida. Isso é injusto", diz o
responsável da www.erlassjahr.de. "Sugerimos
que as Nações Unidas, por exemplo, possam intervir, para accionar uma instância
independente de mediação ou mesmo de arbítrio."
Kaiser vai na próxima semana a
Moçambique, onde discutirá a ideia com várias organizações da sociedade civil.
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