PÁTRIA PENHORADA
Por Benedito Machipane
Vozes - @Hora da Verdade
In: @verdade, 09.06.2016
Suas Excelências
Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, dignos dirigentes dos partidos Frelimo e
Renamo, eu, Benedito Estêvão Machipane, cidadão moçambicano, estou angustiado
com a guerra.
Excelências,
Agradecemos,
eternamente, pela INDEPENDÊNCIA NACIONAL e pela DEMOCRACIA MULTIPARTIDÁRIA.
Obrigado Frelimo e obrigado Renamo.
Percebemos a
pertinência da guerra de libertação e pela democracia, pois, hoje, vivemos
estas conquistas que, aliás, corremos o risco de perdê-las. Estas lutas
derramaram sangue de heróis, na altura chefes de guerrilha, soldados e civis.
Os milhares de litros de sangue que Moçambique já bebeu são muitas e, por isso,
chega de revoluções armadas, chega de ausência de fraternidade.
Perguntem-se, Suas
Excelências! Quem guerreia? Porquê guerreiam? Para quê guerreiam? Qual é o nome
desta guerra?
Senhores Nyusi e Dhlakama,
não sabemos porquê e para quê desta guerra, mas nós os moçambicanos e outros
sabemos quem é que está a lutar: São as forças do Governo da Frelimo e do
partido Renamo. Não é a sociedade moçambicana. Isto é, não é o povo, do qual
vós fazeis parte, que está em conflito.
Vós arrastais o povo
para o caos e a desgraça. Esta tensão não faz parte dos nossos interesses
sociais, ou seja, não são as nossas diferenças etnico-religiosas e raciais que
nos inquietam, porque em Moçambique temos uma congregação Católica ao lado duma
Protestante, ou duma Mesquita, ou ainda duma Evangélica, ou mais ainda duma
Pentecostal ou Zione.
Uma criança muçulmana
estuda numa creche cristã e vice-versa. As congregações religiosas quando
entendem oram em conjunto pela PAZ, que os senhores nos tiram. Mesmo o ateu e o
pagão comungam a paz e harmonia.
Aqui no país e em
qualquer outro canto do mundo, um curandeiro é vizinho dum médico e um machope
é amigo de um makonde. Um massena casa-se com um machangana, um nhungwe vive
com um mandau e um matswa vive com um nyanja.
Um bitonga une-se com
um mashuabo e tudo com tudo mesmo... Um branco convive com um preto, um mestiço
vive com um chinês e um preto, branco e indiano também juntam-se. Muçulmano
casa-se com um cristão... Logo, não somos nós, o povo ou a sociedade quem luta.
Nesta história nós ficamos de luto.
Nós, os cidadãos
comuns, não temos armas e nem grupos armados. São as ideologias políticas que
nos trazem este luto. Governem-nos do jeito que nós somos e queremos, e não do
vosso jeito, nem de modelos importados, afinal, somos o vosso patrão.
Perguntem-nos o que é
que nós queremos. Vejam quem nós somos e não façam coisas alheias a nós em
nosso humilde e cobiçado nome, “MOÇAMBICANO”, sem no mínimo realizarem um
referendo para captarem a nossa opinião de modo que não alinhemos todos numas
asneiras.
Excelências,
Se nós os
moçambicanos fôssemos como os outros povos, tais como os quenianos, ou mesmo os
sul-africanos, cujas veias deixam correr o ânimo pela violência - e envolvem-se
directamente em conflitos eleitorais ou questões políticas - se calhar teríamos
um país dividido em facções armadas ou estaríamos totalmente “gangsterizados”.
O povo não tem cores
partidárias e religiosas, nem raciais e étnicas, e tão-pouco nada a ver com as
vossas intrigas. O povo só está angustiado com a vossa guerra que só vós mesmos
sabeis porquê. Não nos arrastem para a miséria. Desarmem-se, senhores, porque o
povo está desarmado e quer produzir para sair das "multi-crises".
Deixem-nos produzir, senhores beligerantes.
Lembro-me de um dos
ex-mediadores (não me vem à memória quem foi entre os doutores Couto e Rosário,
ou o Dom Sengulane) terá dito que "a Frelimo sem o Estado é igual à Renamo
sem as armas". Será que isto é jogo de “Tom & Jerry”? Curiosamente, o
senhor general Dhlakama é actor nas três guerras: a primeira na Frelimo e as
outras duas na Renamo.
Conversem, porque nós,
o vosso patrão, já dissemos CHEGA. Não matem os nossos irmãos, fazeis vós
mesmos grandes duelos como nos tempos dos “cowboys” ou atirem os socos e
sapatos na Assembleia da República como fazem os ucranianos. Ou citando o
"Gungu", vão ao estádio da Machava num ring para vermos as vossas
reais capacidades musculares. Mas aconselho, usem os CÉREBROS porque é
conveniente, barato e pacífico, e aí nós vamos aplaudir Vossas Excelências com
excelência!
Organizemo-nos e não
depenemos Moçambique e os moçambicanos!
Por Benedito
Machipane
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