CAHORA BASSA: 40 BILIÕES DE DÓLARES
DESPERDIÇADOS
ou como Moçambique subsidia a África do Sul
Por André
Thomashausen,
Professor
Catedrático do Direito Internacional e Comparado
University
of South Africa (Unisa)
In: Savana,
Maputo 30 de Outubro de 2015

Medupi é um monumento
gigantesco à alta corrupção do reino de Zuma. Com mais de cinco anos de atraso
na obra e um excedente de já 50% sobre a verba orçamentada, serviu para encher
as caixas do partido ANC, por intermédio do seu braço empresarial “Chancellor House”, imposto como parceiro
do BEE (Emponderamento Económico Negro) na obra.

A visita a Medupi
serviu para confrontar a delegação moçambicana com a brutalidade das opções
energéticas do ANC. A estratégia energética do ANC, baseada no carvão e no recurso
nuclear, fundamenta-se nos interesses da indústria do carvão na África do Sul e
nos favores sem limites que os lobbies
da energia nuclear estão a prometer. Estas opções na realidade rejeitam a opção
regional da produção de energia limpa e económica a partir dos jazigos do gás
natural do Rovuma, quinta ou sexta maior reserva de gás natural no mundo.
Na melhor das
hipóteses, o custo da ESKOM para a geração de energia a partir de Medupi será
de 1,22 Randes por KWh, mas é provável que atinja 1,60 Randes por KWh.
Um cálculo recente
dum eventual custo da energia que poderia ser produzida na África do Sul a
partir do gás fornecido através dum gasoduto Norte-sul (com um período de
implementação de apenas dois anos), conclui num preço máximo de 1,10 Randes por
KW/h, incluída a amortização do investimento (totalizando uns 10 mil milhões de
Dólares).

A visita a Medupi
manifestou o tradicional papel da África sul de valentão regional. Mas
exactamente por isso, levanta a importante questão sobre a partilha dos
benefícios resultantes do fornecimento de energia a partir de Cahora Bassa.
Cahora Bassa

A energia a partir da
Central Térmica de Ressano Garcia está a ser vendida na base de 1,49 Randes por
KW/h. A enorme diferença entre os 0,1256 cêntimos do Rand vencidos pela energia
de Cahora Bassa e os 1,49 Randes cobrados pela energia de Ressano Garcia
reflecte o verdadeiro valor da energia no mercado.
O preço da energia de
Cahora Bassa anterior a 2007 era inicialmente de 0,036 Randes por KWh, um montante
na realidade simbólico.
O preço de 0,036
Randes tinha sido imposto pela África do Sul na base da guerra de
destabilização que promovia em Moçambique, tendo a África do Sul a partir de 1982
arruinado e paralisado por completo a economia de Moçambique.
Em 1982 a quantia de
0,036 Randes era equivalente a 3 cêntimos no dólar americano, estando o Rand quase
a 1:1, ou seja a par com o Dólar. O preço a partir de 2007, de 0,1256 Randes,
era na altura equivalente a 0,017 USD. Hoje, em 2015, é equivalente a 0.009
USD.

Para se ter a noção
da dimensão da pilhagem da energia de Cahora Bassa, é preciso lembrar que o
preço real e valor de mercado da energia eléctrica, mesmo no contexto regional
da SADC, é 15 vezes superior ao que está a vencer na venda dessa energia à
África do Sul através da longa linha de transmissão a partir da Cahora Bassa.

Isto quer dizer que a
África do Sul continua confortavelmente e sem risco de competitividade a
receber 1.3 GW (o que representa uns 5% do seu consumo nacional de energia) a
partir de Cahora Bassa. Ao preço actual, equivale a um valor anual de
1.430.332.800 Randes, ou seja, 106 milhões de Dólares.
Ao preço real de
mercado deveria somar em 1.576.413 milhões ou 1.576 biliões de dólares.
Se Moçambique
estivesse a receber o preço real e de mercado pela energia, em vez de receber
só uns 7,5% desse valor, Moçambique hoje seria um país em boas vias de desenvolvimento.
A diferença é de aproximadamente 1.300 milhões de dólares em vencimentos do
Estado por ano.
Assim, Moçambique, o
quarto dos países menos desenvolvidos no mundo, continua a subsidiar a economia
da África do Sul, um país com um nível de desenvolvimento médio e um PIB per capita 20 vezes superior ao PIB per capita de Moçambique. Ao longo das
décadas, o prejuízo de Moçambique facilmente soma em 40 biliões (em Brasileiro
40 triliões) de dólares, ou seja 4012. Este montante significa que
aproximadamente a receita do Estado durante as últimas duas décadas poderia ter
sido em cada ano o dobro de que na realidade foi.
A triste conclusão é
que o irmão gigante de Moçambique, a África do Sul, em grande parte goza do seu
desenvolvimento e da sua relativa riqueza à custa de ao menos duas gerações de
moçambicanos que não tiveram acesso à educação, saúde e geralmente à
oportunidade ao desenvolvimento.

PS: Há quem diga que a energia eléctrica produzida na Central
Térmica GigaWat a partir de gás
natural de Pande na Vila Fronteiriça de Ressano Garcia, na Província de Maputo,
é vendia a R1,49 por KW/h contra os R0,1256 cêntimos por KW/h da energia
eléctrica da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) na Província de Tete, pelo
simples facto de a GigaWat se situar
no Sul do país e a HCB se situar no Centro do país, um mecanismo para perpetuar
o desenvolvimento desequilibrado do país entre o Sul e as regiões Centro e
Norte. Politiquice ou não, mas a tese está a ganhar sustentabilidade quando as
pessoas comparam o tipo de infra-estruturas que estão sendo desenvolvidas no
Sul do país em relação as do Centro e Norte do país, o custo de combustíveis
nas regiões Centro e Norte, comparativamente ao Sul. Mas porque a energia
produzida na HCB parte do Centro, o Governo padronizou o preço de consumo
doméstico para beneficiar o Sul. Pessoas atentas há que estão fazendo
comparações neste sentido.
Diga-se de igual modo que a travessa das
fronteiras da região Sul com os países vizinhos tem zero custos, mas as
travessias das fronteiras das regiões Centro e Norte custam avultadas somas em
taxas de seguros, taxas rodoviárias, custos de reflectores, etc., para além de
complexos sistemas de burocracia que inibem a livre circulação de pessoas e bens.
Por isso só no Sul se faz o Mukhero e
nas regiões Centro e Norte isso é praticamente impossível. O mesmo se refere a
outros negócios do sector informal, nas participações financeiras, nas
nomeações aos cargos, nas bolsas de estudo…
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