DESAPARECERAM AS “EMINÊNCIAS PARDAS”?
Noé Nhantumbo, CANALMOZ –
03.09.2015
Ou, de facto, nunca existiram?
O que se pretendia um processo para
proteger um PR esgotado e sem simpatias mesmo no seio de seu partido acaba por
ser a repetição de processos judiciais e extrajudiciais que o passado recente
ou longínquo do país guarda na sua memória.
Julgar “camaradas” por “heresias” ou
crimes fabricados já foi feito no passado com ou sem mandato judicial.
Quando as circunstâncias aconselham ou
quando os políticos se excedem na sua busca de proeminência, muitos actos
acabam por se revelar apressados e contrários a uma agenda digna desse nome.
Recomendar e instruir que se coloquem
alguns cidadãos no banco dos réus por causa de opiniões emitidas no gozo dos
seus direitos é um ataque desesperado de quem não tem postura para defender-se.
É um acto desesperado de um grupo de cidadãos que se julgava dono e senhor de
um país chamado “Moçambique”.
Depois de esmagada a “resistência
interna” no Congresso de Pemba, alguém pensou que tinha mandato suficiente para
abocanhar os poderes democráticos do país.
Com base nos nomeados para ocuparem
cargos-chave em diferentes sistemas ou órgãos governamentais, iniciou-se uma
campanha de glorificação do “líder”, à boa maneira norte-coreana.
Esquadrões de escribas e
comentaristas, analistas e quejandos lançaram-se numa ofensiva de diabolização
dos “incómodos”.
De “imperativo nacional” a “apóstolos
da desgraça”, muitos foram os termos elaborados para lavar imagens e pintar um
quadro conveniente face a uma situação de conflitos com gravidade crescente.
Quando se substituem esquadrões de
escribas por “esquadrões da morte”, tudo muda de feição, e configura-se um
quadro típico de “sequestro do Estado”.
Um renomado membro da Frelimo terá
cunhado o termo “Estado capturado pelo crime organizado”, e os dias que correm
dão-lhe razão, pois acumulam-se evidências de incapacidade dos órgãos
competentes lidarem com assuntos do fórum da protecção e defesa civil.
O número de crimes atípicos
multiplicam-se e as investigações policiais poucos ou nenhuns resultados
trazem, pelo menos para o público.
Quando se esperava que o novo
Executivo de Filipe Jacinto Nyusi trouxesse celeridade, contundência e eficácia
no combate ao crime, o que nos é dado a ver é uma PRM desprovida de ideias e de
capacidades.
Armas de guerra transformam-se em
instrumentos para assaltos a bancos e a cidadãos. A sua proveniência jamais é
conhecida, e os seus autores também “desaparecem” sem deixar rastos, mesmo que
estes existam.
O que preocupa e supera qualquer
manifesto eleitoral é que a vida dos moçambicanos e os seus direitos são
violados de maneira grotesca e bárbara. Tornou-se expediente a “justiça pelas
próprias mãos” nas periferias urbanas do país. Engrossa o número de
desempregados e indigentes que, em desespero, recorrem a todo o tipo de
esquemas para roubar, mesmo que isso signifique ou passe por tirar a vida de
outrem.
O trabalho infantil e de jovens em
condições precárias e desumanas é visível e crescente por tudo o que é canto.
E, compatriotas, onde andam as nossas
eminências? Onde estão as nossas “reservas morais”?
Onde estão os nossos anciãos, aqueles
que fazem parte de grupos de renomados anciãos de África? Que dizem para o
país, num momento crítico como este?
Os tons eivados de racismo com que
alguns comentaristas apresentam os assuntos em discussão nos dias de hoje
demonstram que se está regredindo e recorrendo a discursos oportunistas para
defender correligionários e mentores.
Ninguém está contra a defesa da
soberania, dos seus órgãos e da segurança nacional ou do Estado. O que não se
pode é estar a favor de invenções, de golpes de conveniência a favor de
endeusados líderes políticos.
Uma autêntica estratégia de sufoco e
de repressão silenciosa da liberdade de expressão não conseguiu passar
despercebida por vozes de diversos quadrantes que se têm feito ouvir. Os
moçambicanos corajosamente assumem que a Independência duramente conquistada
por todo um povo não pode ser asfixiada por novos colonos, por uma nova Polícia
política.
Se alguém tinha dúvidas sobre a
heroicidade dos moçambicanos, agora tem a oportunidade de ver que estes são
cidadãos ciosos das suas liberdades e dos seus direitos constitucionais.
Assiste-se a uma mistura de vários
combates em frentes diferentes, mas convergentes.
O país reclama, e os seus cidadãos
reclamam por liberdade, não só de expressão e de manifestação, mas também de
direito de acesso aos seus direitos políticos e económicos.
Uma elite que se queria transformar em
proprietária do país vê a sua estratégia atrapalhada e desmistificada. Afinal
não passava de uma elite parasita e lesa-pátria, desnaturando o ideal
independentista.
Aliaram-se para delinquir e usurpar
prerrogativas. Aliaram-se para retalhar o país a seu bel-prazer, colocando
mordaças na boca dos seus concidadãos, em nome de uma disciplina alegadamente
partidária.
Face à reacção de intelectuais,
jornalistas e políticos, viram-se a descoberto e desnorteados.
Cegos por um poder que julgavam
perpétuo, criaram e infiltraram os seus agentes em tudo o que é órgão
governamental, judicial, policial, e daí passaram a desferir golpes contra tudo
o que era considerado adversário e “inimigo”.
A sua característica principal
evidenciada pelos seus discursos e proclamações é a intolerância, arrogância e
prepotência.
Em fim de regime que lhes apanhou de
surpresa, visto que estavam convencidos de que estava garantida a sua
permanência no poder, em vez de reconhecer o fim de estrada, continuam
manipulando os seus tentáculos em defesa de seu “status”. Quando isso choca com
os interesses nacionais, inventam legalismos e pretextos constitucionais para
atacar os opositores políticos.
Dos seus ataques não escapa qualquer
voz discordante, nem que a razão e os factos demonstrem que, mais uma vez,
estão errados.
A IV República agoniza paralisada
porque ainda não tem espaço de manobra para definir a sua agenda e implementar
as suas ideias ou programas.
A equipa governamental montada à custa
de cedências e de compromissos, não se consegue afirmar e agir com
homogeneidade. A presença dominante de figuras da III República em lugares de
relevo mina a possibilidade de normalização e moralização rápida da governação.
Enquanto um Comité Central da Frelimo
reestruturado não surge e uma nova Comissão Política seja eleita, o país
continuará aos solavancos e com uma ameaça real de retorno às confrontações
militares que já se anunciam em alguns teatros operacionais.
Já temos o nosso “César”, mas o Senado
de Roma não o deixa agir e não se sabe se será, de facto, o “César” unificador
do seu partido, ou quem irá dirigir o aprofundamento das clivagens.
Àqueles que simpaticamente são ou eram
chamados de nossas eminências ou reservas morais exige-se um posicionamento
inequívoco face à grave situação que o país vive.
Há que defender Moçambique daqueles
que querem ostensivamente o seu retrocesso e neo-colonização.
Moçambique jamais admitirá o regresso
da barbárie e que se “ponham algemas às palavras”.
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