SOBRE O ASSASSINATO DE
VALENTINA GUEBUZA
Por Nini Satar

Considero
isto de má-fé.
Independentemente
das razões que devem estar por detrás do seu assassinato, a primeira coisa que
devemos fazer, como seres pensantes, é associarmo-nos à família enlutada.
Dói
perder um ente querido. Quaisquer que sejam os pecados do pai (Armando
Guebuza), não nos devemos esquecer de que ele é um ser humano como qualquer um
de nós. Estaríamos a crescer e a mostrar a nossa civilidade se mandássemos
mensagens reconfortadoras.
Valentina
Guebuza era filha, mãe, irmã, esposa, amiga e muitos mais. Existem várias
pessoas que a esta altura estão chorando a morte dela. Tem que haver um pouco
de urbanidade nos nossos comentários.

Como
consequência do seu acto, há-de amargar na cadeia. Não vai ver a filha a
crescer. A cadeia é pesada. Fala-vos a voz da experiência. E eu fiquei tantos
anos presos sem provas.
E ele? O
que lhe dirá a sua consciência? Pecado capital…
SOBRE A MORTE DE
VALENTINA GUEBUZA
Por Edgar Barroso

Temos
gente que desvia fundos e recursos do Estado, porque "têm direito de ser
ricos"; temos pessoas que atropelam a Constituição e que assumidamente
dizem que voltariam a fazê-lo, porque "libertaram este país"; temos
pessoas insensíveis às causas e consequências da vigente tensão
político-militar, porque os outros "são bandidos armados" ou porque o
conflito "é localizado"; temos pessoas a andar de carros topos de
gama e a viverem em mansões do primeiro mundo, bem ao lado da miséria
colectiva...; temos tudo, menos referências éticas e morais.
Não temos
um sistema nacional de educação que forma cidadãos que sabem ser e estar. As
nossas igrejas são autênticos viveiros de hipocrisia e de exibicionismo
materialista. Uma geração (ou mesmo duas) a crescer nesse contexto de
imoralidade e depravação, de consumismo e de competição, de gana e de privação,
de inveja e de intolerância...
Culpa de
quem?
Não se
plantam laranjeiras para se colher morangos. A reacção "bárbara" e
"desumana" das pessoas à notícia do assassinato da Valentina Guebuza,
não só nas redes sociais, é reflexo de algo mais conjuntural e macro. Há
responsáveis por isso. As pessoas não são más por si só... elas aprendem a ser
más. Aprendem a odiar.
Comecem
desde já a pensar sobre as causas que fazem com que tanta gente celebre tamanha
tragédia. É aí onde encontraremos o caminho para a sua solução.
Acusar
por acusar, denunciando, censurando ou lamentando consequências... não nos vai
levar a lado nenhum. Nem nos deveria surpreender. Estamos a colher o que se foi
plantando ao longo de décadas de políticas públicas falhadas na redistribuição
da riqueza nacional e na formação de cidadãos.
SENTIMENTALISMO
Por Carlos Nuno Castel-Branco

Num país
onde é mais fácil morrer que viver, onde se mata por ganância económica ou de
poder, onde se exclui sistematicamente e se expõe o excluído à vontade e poder
de vida ou morte do exclusor, onde as mortes e vidas de uns valem mais que as
dos outros, onde se mata com violência rápida a tiro ou com violência lenta de
fome ou de desespero social, onde a vida vale menos que qualquer mercadoria,
num país assim os corações e as mentes endureceram e tornaram-se insensíveis.
Como
disse alguém nas redes sociais, corremos o risco de ruwandizar as nossas almas,
de nos tornarmos em praticantes e pregadores de genocídio diário - uns pelo
poder que têm, outros pela zanga que a miséria, a exclusão e a humilhação
criaram.

É possível
sentir e empatizar com a dor do próximo sem esquecer quem ele/ela são nesta
cadeia de violência social sistemática. Não é preciso mentir. Não se pode ser
realmente humano sendo-se hipócrita ao mesmo tempo.
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