PEDOFILIA
Reflexão
do que as redes sociais estão a fazer circular
Raúl
Mourinho Kuyeri
Estarão os empresários
do sector de turismo envolvidos com a pedofilia em Moçambique?
Triste é
assistir à força de muitas mulheres moçambicanas que lutam por uma posição avantajada
no cardápio da onda de prostituição de luxo na nossa capital - Maputo! Trata-se
mais de jovens estudantes, filhas de homens e mulheres socialmente bem
posicionados e poderoso. A tendência já envolve até criancinhas que se metem,
sem dó nem piedade, com os chamados “titios” da praça. Trocaram os brinquedos como
os barbies por vibradores, até por
pura vaidade de merecerem multifacetados comentários num "post" nas
mais famosas redes sociais, com destaque para o Facebook.
Os
consumidores, geralmente homens de negócios e de prestígio, titulares cargos
públicos e detentores de poderes, empresários, etc., semanalmente recebem um cardápio
especial actualizado das chamadas catorzinhas-modelo. Ao invés de camarões
grelhados nos mais conceituados restaurantes da luxuosa Av. Julius Nyerere,
trocam por brotinhos de meninas nos hotéis de luxo na cidade de Maputo, que
infestam oscondomínios na Matola e casarões nos bairros Dona Alice e Triunfo,
bem como em estâncias turísticas ao longo da extensa costa de Moçambique,
prenhe de bungalows de simbirre (pau-a-piques semelhantes a
estacas de pau-ferro) e makuti (folhagem de coqueiros).
Todos os
fins-de-semana são testemunhados por séries de celebrações de consumo assíduo
deste cardápio de catorzinhas-modelo em festas bem badaladas de que se destacam
as chamadas jovensNaomiNaidoo que
ocorremem casas de famosos entre os jovens da chamada classe DREAMKOTA, GazChirindza e companhia!
Mas afinal,
quem sãos os tais DreamsGaz’s? Quem
são estes indivíduos que são tão disputados como clientes entres as ilustres
catorzinhas damas-da-noite disfarçadas de socialites moçambicanas?
Na verdade,
os#DreamKotas são osempresários do
ramo de turismo e de imobiliário, como o famoso Augusto Alberto da Silva
Chirindza na praça, que nem sei efectivamente existe ou é apenas mais um
mistério de que muito se fala nas socialites moçambicanas.
Diz-se, por
exemplo, que este famigerado DreamKota
ou GazChirindza tem pouco mais de 45
anos de idade, com grandes empreendimentos nas variadas áreas de negócios na
capital moçambicana - Maputo e nas praias da região sul do país, nomeadamente: Zavala Resources, Xiluvo Resources, DaghataneLimitada,
Chigamame Lda, Tofinho Panton, Milando
Limitada, Grupo Mintholo, Eight Dragons Limitada, Revo Developments (PTY) Lda, African Tides Ivestments Property Limited,
Golden Pond Trade 263 (PTY), entre
outros empreendimentos de sociedadesentre moçambicanos e estrangeiros,
geralmente portugueses e sul-africanos, sem descurar alguns italianos.
No seio
destas jovens catorzinhas da classe de luxo são recorrentes menções de apelidos
como Chirindza, Dai, Chivulele, Vuma, Mutemba, que funcionam como palavras-chave
para descodificar os segredos dos seus ingénuos corpos, por vezes pouco maduros
e sem banho, mas cheios de maquilhagens e perfumes que disfarçam a sua real
natureza e imundície. Pois, por cada noite de promiscuidade, por vezes lhes
lucra o valor da renda das modestas casas onde vivem com os respectivos guarda-fatos
que albergam as suas minúsculas roupas e garagens onde durante o dia são
parqueados os "vitzs" enquanto dormem a espera da noite. Nas noites
da cidade de Maputo, por exemplo, os “vitzs” pululam como autênticos corvos da
Ilha da Inhaca, que lhes locomovem de casa-escola-discoteca-hotel-casa.
Mas a grande
fasquia dos equiparados Bento-Kangambas
moçambicanos, ou DreamKotas e Gaz’s, é de se ter empolgado demais com
tamanha oferta no cardápio das famigeradas e imundas catorzinhas de
meia-tigela, embrulhadas em papel de lustro. Os nossos Bento-Kangambas não só albergam umas“leitoas” e "vitelinhas",
senão mesmo manadas de vacas leiteirasnas suas mansões de quinta categoria; abrem
as suas portas para a celebração do acto de pedofilia que já vêm cometendo aos
olhos da ignóbil sociedade maputense... Os 18 ou mesmo 28 anos da Naomí Naidoo,
reduzidos a 14 pelas vestes e maquilhagens, emprestam uma virulenta tendência
de moda na classe feminina maputense – é a elite da chamada Mulher Moçambicana
da Era da Autoestima!
Pois é, uma
das semelhanças com o nossoirmão angolano Bento Kangamba, é que ambos são
testas-de-ferro de grandes homens ligados a nomenklatura
política e ao poder. O Bento Kangamba é testa-de-ferro do Presidente daquele
país e os nossos DreamKotas e Gaz’ssão testas-de-ferro do nosso ilustre
bem-sucedido Criador de Patos com a sua Fauna Acompanhante de ex-Primeiro-Ministros
& Co. O que lhes difere é o slogan
que lhes é atribuído:Dream Kota & Gaz
Chirindza: “Kangamba-Empresários da Pedofilia”.
Este slogan não lhes é atribuído por acaso. É
que já está a emergir uma grande classe de Naomí
Naidoo’s de idades compreendidas entre os 10 a 14 anos, disfarçadas de
roupas de gala que escondem as solas dos seus sapatos de salto muito alto para
aumentar a altura. Estas Naomí Naidoo’s
de idades muito tenras sãos as mais preferidas pelos Dream Kota & Gaz Chirindza’s, por apresentarem seios naturais
bem em riste e os seus órgãos genitais ainda não estão ovalizados. Os Dream Kota & Gaz Chirindza’s são
muito afeiçoados por seios em riste bem durinhos e não os famigerados seios de
silicone das Naomí Naidoo’s de idade
acimada dos 14 anos, porque já cansados de serem chupados e ficaram
desfigurados, mesmo com os arranjos de silicones ã moda brasileira.
Quando estas
informações a mim chegaram, decidi fazer uma pesquisa. Procurei os promotores
do cardápio, que nada tiveram a declarar, mas consegui uma pista nas redes
sociais que me levou a Matola 700, próximo
a Mesquita, onde pude ter o testemunho de uma avó de uma das vitelinhas dos Dream Kota & Gaz Chirindza’s, que
pediu anonimato. A minha pesquisa também foi enriquecida com um documentário de
cerca de 30 minutos, produzido pelo ProgramaGeração
Biz, intitulado: “Catorzinhas de Moçambique: Meu Presente Futuro”, postado no YouTube.
"Nós, a
família, fomos surpreendidos com a exposição da nossa filha na sua festa de
aniversário de 18 anos, no passado fim-de-semana. Ao que soubemos pelos convites,
parecia ser um jantar-surpresa oferecido pela mãe. Fomos surpreendidos todos
nós:tios, avós, primos e irmãos, com uma discoteca que se transformou em autêntico
bordel dos filmes italianos ou dos yankies
(filmes norte-americanos de Hollywood).
Como se não
bastasse,a festa teve lugar na casa de um senhor, o qual fomos apresentados
como sendo amigo da mãe Sandra Esculudes. Trata-se de um senhor com mais ou menos
a idade do falecido pai dela, que viemos saber depois que, afinal, é “namorado”
dela e é quem tinha bancado toda aquela pomposa festa de seu aniversário.
É muito triste para nós vermos a nossa Naninha nesta
vida... Até bem pouco tempo, o irmão foi obrigado a mandar-lhe de volta para
Moçambique, quando descobriu que ela sustentava os seus caprichos na Africa do
Sul com dinheiro enviado pelo filho do ex-Presidente!... Nós somos uma família
humilde e digna.Nos esforçamos para termos o pão que comemos... Preservamos o
nosso nome...
Os sacrifícios
que os pais fizeram para dar-lhe uma boa educação, não valeram de nada, mas nada
mesmo... Com 15 anos já andava a namorar com senhores três vezes mais velhos do
que ela e casados. É muito triste, mas muito triste mesmo... Eu gostaria de
apelar para quem de direito a expor estes senhores que aliciam e exploram sexualmente
as nossas filhas."
Em resumo,
no essencial foi este o teor da conversa com a avó da Naninha, toda ela regada
de lágrimas de mágoa,na idoneidade da sua inocência. Naninha é mais uma das Naomí Naidoo’s. Mas devem estar a
perguntar-se quem é a tal Naomi Naidoo? A que se deve tamanho enredo de
crónica?
Fiquei
curioso, com a repercussão da exposição de tantas Naninhas nos canais
televisivos nacionais e nas redes sociais, com fotos nuas, cópias de conversas
pelo WhatsApp e Facebook, fotos da tão falada festa semanais, regadas de orgias
cujo condimento principal é o álcool, droga pesada e sexo em grupo. Até me
preocupa saber que correm rumores de que a maior rede nacional de televisão
poderá passar tais imagens em horário nobre das famigeradas telenovelas
brasileiras e que uma das estações de televisão com maior audiência nacional
vai transmitir uma entrevista com um dos envolvidos no escândalo e muitos os jovens
aguardam ansiosos em ver isso no Programa Balanço
Geral.
Arranjei
tempo e fui sentar-me num dos "pubs"mais bem frequentados da Av. Julius
Nyerere e descobri que a aludida Naomí
Naidoo, agora já mulher, é muito bem conhecida na praça. A minha fonte assegurou
que divulgaria reportagens de imagens bem nítidas e pormenorizadas captadas
através de câmaras secretas nessas orgias, se os envolvidos não me pagarem os
valores que estou a exigir para guardar sigilo. Digo sigilo e não segredo
porque, se for para guardar segredo o valor é muito bem alto que nem desses que
exigem resgate depois dos sequestros.
A fonte confirmou que
realmente até bem pouco tempo jovem Naomí
Naidoofaz parte do “caché” de muitos cantores estrangeiros que vêm actuar
em Moçambique, como é o caso do angolano Big
Nelo; já foi prémio de consolação do apresentador de televisão Dygo Boy, para
além de ter pertencido ao cardápio de catorzinhas de luxo. Agora, digamos
reformada, Naomí Naidoose dedica ao recrutamento
de outras menores que são conhecidas na praça como protocolos de festas e de discotecas,
comoprofissão de disfarce. Portanto, Naomí
Naidoo é bem conhecida na praça, não só pelo facto de ter sido uma
catorzinha de luxo, mas também como ladra em festas na qual trabalha. Ela é
profissional em carregar a carteiras, tendo já tido alguns casos de Polícia por
burla, extorsão e falsa identidade.
O
recrutamento da Naomí Naidooé feito
da seguinte maneira, segundo a fonte: a Naomí
Naidoo convida para jantares jovens e crianças de corpos esbeltos e que podem
despertar certo prazer aos homens de acordo com a sua experiência de vida. As
vezes lhes propõe serviços de protocolo bem pagos, nos locais onde se reúnem e se
confraternizam homens negócios e ligados ao, entree empresários e executivos do
Governo. Enquanto as jovens e crianças se desempenham nas suas lides de
protocolos, os homens de negócios, empresários e executivos do Governo vão
apreciando as suas prováveis presas, pois sabem de antemão que são livres de
escolher quem melhor lhes agradar. Depois anuncia a sua escolha a Naomí Naidoo que se encarrega de abordar
a vítima com proposta muito aliciante.
Ultimamente
estes convívios acontecem nas casas dos chamadosDream Kotae GazChirindzano
Kings Villageem Witbank, na África do
Sul, ou numa mansão no Bairro Dona Alice e no Belo Horizonte. Outras vezes
estas festas são organizadas em estâncias turísticas na Ponta de Ouro na
Província de Maputo, Bilene e Zongoene na Província de Gaza e nas várias
estâncias turísticas das praias e ilhas de Inhambane.
Para limitar
o acesso de pessoas que não desta estirpe e não impor medidas restritivas
discriminatórias de forma administrativa, as acomodações, bebidas e comidas são
extremamente caras, cujos preços desencorajam quem quer que seja, mas aqueles
preços são os praticados para eles, funcionando como clubes de amigos. É assim
que, em círculos muito restritos, consomem as drogas, praticam a suas orgias sexuais,
fazem filmagens pornográficas, trocam de pares e de fotos... A ânsia de ganhar
dinheiro fácil para os seus caprichos é onde se resume a ambição destas jovens
crianças mulheres, ou mulheres-crianças... Enfim, tanto fazem que tanto se faz!
Portanto, Naomí Naidoo tem tamanho currículo que
inveja a todas as jovens crianças que a invejam e anseiam ser algum dia como
ela!Pensei do que será de uma rapariga que atingiu a maior idade há menos de
uma semana! Ainda não atingiu o patamar de Naomí
Naidoo e já não tão requisitada como o era antes. A sua função agora se
resumiu a simples protocolo.
O mais
espantoso ainda, é saber que um homem de tamanho calibre, com sociedades
sólidas,se expõe de tal forma e é vítima de tais vícios imundos... Ou será que esta
é uma das suas áreas dos seus investimentos? Ou seja, o seu investimento na
área do turismo engloba estas práticas de prostituição e orgias com menores?
Que tipo resorts são estes?... Serão
bordéisclandestinos ou será este um negócio alternativo à crise no sector e
agora se pretende investir e promover o turismo sexual à moda da Casa Blanca em Madrid, na Espanha? A pornografia
infantil e homossexual evoluiu tão rapidamente em Moçambique que se afirmou
como uma nova área de investimentos? Será que estes homens, conhecidos por Dream Kota & Gaz Chirindza’s,são os
nossos barões da droga? Serão estas crianças vítimas de tráfico humano e de drogas?
Haverá consentimento das famílias destas crianças?
Estas perguntas me
parecem ser justas! Existirá mesmo alguma conivência das famílias neste
esquema? No vídeo “Catorzinhas de Moçambique: Meu Presente Futuro” há quem diz que o rendimento destas crianças
ajuda para a sobrevivência das famílias. Será? Não estarão estas crianças
envolvidas num grande esquema de tráfico humano e de drogas?Não serão estes empresários
barões de drogas? Para onde o nosso país está a caminhar? Será esta a história
para futuras gerações de moçambicanos? Haverá alguém de direito para controlar
esta degradação de valores e da moral!
A Moçambique
Media Online (MMO), na sua edição de 14 de Dezembro de 2012, publicou uma
crónica de autoria de Evelina Muchanga, intitulada: A Dupla Tarefa das Trabalhadoras do Sexo em Maputo, na qual se retrata
a experiência de vida de Neila Mahumane (nome fictício), de 25 anos de idade,
trabalhadora de sexo a noite. O seu local de trabalho era a Avenida 24 de
Julho, na cidade de Maputo. Desempenhava a sua actividade todos os dias da
semana, das 18.00 às 23.00 horas, mas quando houvesse pouca clientela, só
abandona o local ao amanhecer. Na rua, Neila Mahumane tinha dupla tarefa:
conquistar clientes e ser activista pelos direitos das trabalhadoras de sexo.
Como
activista, Neila
Mahumane ensinava as
prostitutas a levar uma vida saudável, prevenindo-se de doenças de transmissão
sexual como o HIV/SIDA. Mostrava as suas colegas de trabalho como usar
correctamente o preservativo masculino e feminino e encorajava-as a fazer o
teste de HIV e de SIDA nos Centros de Saúde que faziam um atendimento especial
a este grupo de mulheres, a exemplo dos Centros de Saúde do Alto Maé e o do
Porto e Caminhos-de-Ferro de Maputo. Este último funciona também à noite e
localizava-se na famosa Rua de Araújo ou Bagamoyo, na baixa da cidade de
Maputo.
Segundo Neila Mahumane,“se um homem exigir manter relações
sexuais com uma trabalhadora de sexo sem preservativo, prometendo pagar muito
mais em relação ao preço normal que cobramos, mesmo sabendo que nos envolvemos
com mais de seis parceiros diferentes por dia, é porque alguma coisa esse homem
tem. Há que duvidar!” Esta é uma das mensagens que ela transmite às colegas e
não se sabe o mesmo acontece nas orgias dos Dream
Kota & Gaz Chirindza’s.
Na rua, Neila Mahumane despertava nas colegas sobre a
necessidade de se defenderem dos polícias-ladrões e dos clientes que não
aceitam pagar depois da realização do acto e explicava porquê: “sofremos muito
na rua. A Polícia tira-nos o dinheiro da receita do dia, alegando que a
actividade que desempenhamos é ilegal ou exige que lhes prestemos os nossos
serviços sem recompensa”.
Durante os
sete anos de serviço como trabalhadora de sexo, Neila Mahumane contou que vários foram os episódios
que assistiu de colegas que foram vítimas de tortura protagonizada pelos
agentes da lei e ordem e pelos clientes. Contou a estória de uma mulher que
ficou paraplégica porque se desentendeu com o cliente e este atirou-a do
primeiro andar para o rés-do-chão de um prédio.
“Estávamos numa pensão na “24 de
Julho”, quando ouvimos gritos de socorro da colega que estava a ser espancada
pelo cliente. Momentos depois, ouvimos barulho no rés-do-chão. Era a nossa
colega! Foi atirada da janela do primeiro andar para baixo. Sofreu na região da
bacia e não conseguia andar. Quando tentámos localizar o cliente dela já era
tarde,estava a abandonar o local e nos ameaçou com uma faca enorme. Pulou o
muro e desapareceu”.
Esta mulher,
segundo Neila Mahumane, não mais voltou à rua, mas a sua filha mais velha, que
aparenta ter 14 anos de idade, infelizmente, veio substituí-la e iniciou a
actividade de sexo comercial na mesma rua.“Sentimos muito quando vimos isto,
porque a mãe tem conhecimento do trabalho que a filha faz e dos perigos que se
corre na prostituição. Pior é que, com o grupo das adolescentes, é mais difícil
de lidar com ele. Elas drogam-se e são muito violentas. Tentamos chegar perto
delas para sensibilizá-las para abandonarem a rua ou a adoptarem métodos de
prevenção contra doenças, mas não estava a ser fácil”, observou Neila Mahumane.
Neila
Mahumane fazia parte de um conjunto de activistas que acabavam de receber
formação sobre prevenção positiva, na Associação Moçambicana para o
Desenvolvimento da Família (AMODEFA), cidade de Maputo.“Com esta capacitação
pretendemos que as meninas saibam que, mesmo sendo seropositivas, devem usar
sempre o preservativo nas relações sexuais para evitar a dupla infecção”, fez
notar Marcelo Kantu, assistente de direcção para área de monitoria e avaliação
e coordenador do projecto inclusão na AMODEFA.
Marcelo
Kantu explicou que difícil seria persuadi-las a abandonarem a actividade,
porque muitas delas conseguem sustentar as suas famílias com base no sexo
comercial. É que, segundo ele afirmou, esta actividade é praticada por mulheres
jovens, mais crescidas, adolescentes, incluindo alguns homens. Há mulheres que
desempenham a actividade nas suas casas, outras têm contactos e ficam à espera
da ligação do cliente e há ainda aquelas que vão à rua à busca de cliente.
Estão envolvidas mulheres de diferentes estratos sociais e níveis
académicos.“Esta actividade movimenta muito dinheiro. Há mulheres que têm
clientes que pagam em dólares, libras ou outras moedas e ganham muito com isso.
Algumas chegam a fazer 1.500 a 2 mil meticais por dia. Que alternativas de
trabalho podemos oferecer a estas mulheres para abandonarem a prostituição?”,
questionou Marcelo Kantu. Por isso, acrescenta: “achamos melhor educá-las a
desempenhar o sexo comercial de forma saudável e segura”.Há sensivelmente seis
anos, estudos feitos indicavam para uma média de 200 trabalhadoras de sexo que
desempenhavam a actividade, diariamente, na zona baixa da cidade de Maputo.
Este número não engloba as outras que ficam à espera de telefonemas ou que
realizam o trabalho nas suas casas.
Maria Amélia
(nome fictício), 34 anos de idade, era trabalhadora de sexo há sensivelmente 10
anos. Integrar-se na actividade não foi fácil para ela. No seu segundo dia de
trabalho, foi espancada por um cliente por inexperiência. “Ele queria sexo
oral, mas não aceitei. Não sabia que se negociava antes de se ir ao quarto. O
cliente ficou violento, bateu-me e abanou-me toda. Fiquei com medo e pedi
ajuda. As minhas amigas, que me convidaram a fazer parte do grupo, apareceram
de imediato e ajudaram-me a resolver o problema. Levaram o sujeito à esquadra”.
Apesar do susto, Maria não desistiu e explica porquê: “Estava desesperada em
conseguir dinheiro para sustentar o meu filho”.
Com 12ª
classe, Maria Amélia diz que o seu maior receio era infectar-se com o HIV/SIDA,
à semelhança de algumas colegas suas que na altura já estavam impossibilitadas
de trabalhar no sexo comercial, devido à doença ou outras que, mesmo sendo
seropositivas, continuavam a ir à rua. “Há vezes que o preservativo rompe e
isso preocupa-me”.
Um tema de fundo do jornal @verdade, na sua edição de 08 de
Novembro de 2012, cujo título é Inchope:
Um mundo feito de desenrascanços, refere que, no cruzamento de Inchope, na
Província de Manica, a pobreza cola-se à pele dos moradores. A falta de água
potável, a fome e o desemprego são os problemas que tiram o sono à população.
Apesar disso, centenas de pessoas procuram ganhar a vida socorrendo-se das mais
variadas tarefas, desde a preparação de alimentos, passando pelo arrendamento
de quartos para repouso, até a venda de ratazanas. Porém, a prostituição,
“impulsionada” pelos camionistas, é a actividade que mais ganha espaço. Em
suma, Inchope é, na verdade, um mundo à parte, criado pela necessidade de sobrevivência.
Inchope é o
principal cruzamento rodoviário da região Centro de Moçambique. Localizado no Posto
Administrativo com o mesmo nome, a 45 quilómetros da sede do Distrito de
Gondola, em Manica, e atravessado pela Estrada Nacional Número Um (EN1), tem
uma população estimada em 30 mil habitantes permanentes. Neste local, onde
diariamente centenas de moçambicanos se cruzam debaixo do sol ou da chuva, a
vida nunca foi fácil. Mas o que já era bastante difícil tem vindo a piorar nos
últimos anos.
Se no passado
o drama das famílias era viver sob a ameaça de não ter o que comer no dia
seguinte, presentemente, a população debate-se com problemas de diversa ordem e
sem solução à vista, nomeadamente a falta de água potável, acesso limitado aos
cuidados sanitários e o desemprego. Porém, diga-se em abono da verdade, a fome
é que está a colocar os residentes à beira do desespero, tornando Inchope num
lugar multifuncional, onde quase todos procuram meios de ganhar o sustento
diário.
Ana Gustavo
ainda é uma menor de idade: tem apenas 11 anos. Apesar disso, ela vê-se
obrigada a contribuir para o exíguo rendimento diário da casa, até porque a
situação financeira da família nunca foi das melhores. A sua mãe é camponesa e
o pai também, mas, nas horas vagas, sobretudo durante a noite, é caçador de
ratos.
A falta de
chuva tem comprometido sobremaneira a produção de algumas culturas, tais como
feijão, amendoim e milho, além de hortícolas, na machamba daquele agregado familiar
cujos próximos dias seriam bastante difíceis. A salvação tem sido a mandioca e
a batata-doce que, por razões de segurança alimentar, não são comercializadas.
Sentada à
beira da EN1 e com um olhar tímido, a rapariga de 11 anos de idade vende
porções de tomate e uma enorme ratazana. O fruto, conta, colheu na pequena
horta que existe a alguns metros do quintal da sua casa e o animal, que está a
ser comercializado ao preço de 200 meticais, foi capturado pelo seu progenitor.
Ela frequenta a quarta classe.
Já devia
estar na sala de aulas, porém, à semelhança de outras crianças residentes
naquele posto administrativo, teve de escolher entre a escola e a comida para a
família constituída por quatro pessoas. De referir que a fome tem vindo a
contribuir para o abandono escolar naquela região.
“Tenho aulas
no período de manhã, mas hoje não fui à escola, porque preciso de vender estes
produtos para termos o que comer em casa”, explicou a rapariga que, para chegar
até a escola, tem de percorrer seis quilómetros, e, no mínimo, 10 para se
instalar na EN1 e desenvolver a sua actividade. Entretanto, a distância parece
não ser argumento suficiente diante da falta de pão.
Ana Gustavo
contou que chegou cedo àquele local, por volta das 6:00 horas, com uma bacia
cheia de tomate, mas, até ao meio-dia, ainda não tinha comercializado nem
sequer metade. A sorte andou distante da petiza naquele dia. Os potenciais
clientes são os viajantes que passam por aquele Posto Administrativo,oriundos
e/ou com destino às regiões Norte, Centro e Sul do país.A fome não só preocupa
a família da pequena Ana Gustavo, mas também centenas de residentes de Inchope,
que todos os dias sentem a dor causada pela pobreza. Desde o ano anterior que
não chovia naquele ponto do país, facto que estava a colocar a população num
drama sem precedentes.
Matilde Jonas,
de 39 anos de idade, é uma mãe solteira há mais de quatro anos. Divide uma
pequena habitação, se é que se pode dar essa designação a um cubículo de
construção precária, com duas irmãs, uma sobrinha e dois filhos.As suas
condições de vida têm vindo a deteriorar-se com o andar do tempo. Ela afirma
que a situação começou a agravar-se a partir dos meados de 2011 quando, devido
à falta de chuva, perdeu quase toda a produção de feijão e milho, por sinal as
únicas fontes de rendimento daquela família.
“Fiquei sem
saber o que fazer, pois já havia perdido tudo”, conta. Mas, como havia
necessidade de sustentar a família, Matilde Jonas e a sua irmã mais nova
decidiram começar o negócio de venda de comida no mercado local ao longo da EN1.
“Graças a essa actividade, temos conseguido obter algo para comer”, garante.
Não é apenas
a fome que estava a deixar a população de Inchope à beira do desespero. Também
a falta de água para o consumo. O problema, que já tinha “barbas brancas” e do
conhecimento das autoridades locais, e não só, que pouco ou quase nada fazem
para mudar o cenário. Consequentemente, os moradores eram obrigados a caminhar
longas distâncias para obter o precioso líquido.
Ter um poço tradicional no quintal é um luxo do qual poucas pessoas podem
usufruir – que o diga Maltide Jonas que todos os dias tem de acordar às 4:00 horas
da manhã e percorrer pelo menos sete quilómetros para obter água no riacho mais
próximo.Às vezes, recorre aos poucos poços que existem naquele posto
administrativo onde tem de pagar um metical e 50 centavos por cada recipiente
de 20 litros.
A falta de
água potável tem, por assim dizer, martirizado mulheres e crianças. “Tem sido
uma vida de muito sofrimento. Já falámos com as autoridades do Posto de modo a
resolver esta situação, mas ainda não tivemos uma resposta satisfatória”, disse
Matilde Jonas. Imagens de mulheres, jovens e crianças com recipientes de água
na cabeça ao longo da estrada revelavam o drama por que passavam os residentes
de Inchope diariamente. Trata-se de um problema que persiste há anos. Apesar
disso, centenas de famílias desfavorecidas recorrem aos rios para obter água
para o consumo e lavar a roupa.
Em meados de
2012, durante um comício popular orientado pelo então Presidente da República,
no âmbito das Presidências Abertas, a população pediu água potável a Armando
Guebuza.Em Inchope, a profundidade do lençol freático impossibilita a abertura
de furos. Para instalar um sistema independente de distribuição de água, o Governo
Provincial de Manica precisava de pouco mais de seis milhões de euros.
A economia
de Inchope era impulsionada pelo comércio informal na EN1, onde diversas
actividades comerciais sobressaiam aos olhos de centenas de transeuntes. Além
da venda de produtos alimentares, a indústria “hoteleira” é a que mais crescia
naquele cruzamento. Ao longo da EN1 despontavam pousadas e pensões para
responder à demanda. O número de pessoas que procuravam locais para repousar
crescia todos os dias, devido à sua localização geográfica.O negócio de
arrendamento de quartos para repouso é o que mais crescia nos últimos tempos,
devido ao fluxo de pessoas que paravam naquele local de modo a fazerem-se
transportar em autocarros para outros pontos do país. Além disso, os “chapas”
que, por exemplo, faziam o percurso Nampula-Maputo, geralmente tinham Inchope a
paragem obrigatória para o descanso durante a noite, facto que contribuía para
a grande procura de acomodação.
Embora se
estivesse a registar um crescimento do sector de hotelaria, o desemprego
continuava a ser a principal dor de cabeça dos jovens. Na verdade, em Inchope
não havia oportunidades, ou seja, não havia emprego, tanto na Administração do Posto
como no comércio local. Esporadicamente, surgiam vagas para trabalhar em
algumas pousadas e pensões.
Abel Nagine,
de 21 anos de idade, conseguiu, havia há cinco meses, um emprego numa pensão.
Ele limpava e arrumava os quartos, auferindo um salário mensal de 1.500 meticais,
valor com o qual garantia o sustento diário da sua família constituída por três
pessoas. Mas nem sempre foi assim.Primeiramente, Abel Nagine vendia água e
bolachas na EN1 e, mais tarde, foi à procura de oportunidades na cidade da
Beira. Na capital provincial de Sofala a sua vida foi marcada por momentos
difíceis, tendo tomado a decisão de regressar à terra natal, Inchope. “O
dinheiro que ganhava como empregado doméstico era bastante pouco, por essa
razão optou por voltar para casa e recomeçar a vida”.
Ao contrário
de Abel Nagine, Jacinto Amade, de 28 anos de idade, nunca saiu da sua terra
natal, apesar do desemprego. Desde pequeno começou a ganhar a vida nos mercados
daquele Posto Administrativo, e não só. “Eu vendia sumo, refresco e água aos
passageiros, mas com o andar do tempo fui percebendo que o negócio não era
rentável”, conta. Hoje, Jacinto Amade compra laranjas na cidade de Chimoio e
revende-as no cruzamento de Inchope.
É assim que, durante o
dia, a azáfama nos mercados informais ao longo da EN1em Inchope mostrava um
mundo criado pela necessidade de sobrevivência. Ou seja, centenas de moçambicanos
procuravam o sustento diário, recorrendo às mais variadas actividades no
principal cruzamento rodoviário da região Centro do país. O intenso movimento
de viaturas, camiões de grande tonelagem e autocarros de passageiros faziam de
Inchope um lugar de inúmeras oportunidades, ainda que ilusórias.Diariamente, o
negócio de sexo começou igualmente a crescer a uma velocidade alarmante.
Inebriadas pelas aparentes oportunidades, mulheres de diversas idades, moçambicanas
e zimbabweanas, faziam-se à rua durante a noite para se prostituírem. A
actividade era impulsionada, por assim dizer, sobretudo por camionistas que são
os principais clientes. Quando escurecesse, era possível ver dezenas de camiões
com destino às cidades da Beira e de Maputo e ao vizinho Zimbabwe estacionados
à beira da estrada.
A tabela de
preços era definida por cada uma das trabalhadoras de sexo. Geralmente, variava
entre 200 e 500 meticais por cada acto. Uma noite inteira chegava a custar mil
meticais. Este valor não incluía o pagamento do quarto que custava 600 a 1.500
por noite numa pousada ou pensão. Mas, a reboque do mercado da prostituição,
crescia o negócio de arrendamento temporário de quartos, vulgarmente conhecidos
por “escondidinhos”, cujo custo mínimo era de 100 meticais. Estes espaços eram
os mais concorridos para a prática dessa actividade.
Paralelamente, em Inchope os problemas de saúde eram frequentes: malária,
diarreias e HIV lideravam a lista de casos mais reportados naquele Posto
Administrativo. Porém, a questão ligada à saúde materno-infantil preocupava a
população, apesar de terem aumentado, nos últimos anos, os partos
institucionais a nível do Distrito de Gondola.O facto se devia ao alargamento
da rede para 14 unidades para atender 310.424 habitantes. No ano anterior o Distrito
registou 9.121 partos em todas as unidades de saúde. Em 2010 realizaram-se
8.273. As autoridades sanitárias têm vindo a socializar os partos, aos quais o marido
ou qualquer parente podia assistir, mobilizando, assim, os familiares a
preferirem levar a cabo os partos nas maternidades.
Enquanto isso, a 30 de Junho
de 2011 a imprensa reportava que o Município de Tete, então sob gestão do Edil
César de carvalho, cobrava taxa às trabalhadoras de sexo na Cidade de Tete: Elas dizem-se vítimas de tortura pela polícia camarária e Polícia
municipal reage dizendo que está a fazer cumprir a Postura Camarária da Cidade.
Ficou assim sabido, como primeira experiência no país, que as trabalhadoras de
sexo, que praticavam o seu negócio na cidade de Tete, eram cobradas taxas
ilegais pelos agentes da Polícia Municipal local, para além de serem vítimas de
pancadaria, caso se recusem a pagar tais valores. Nem o negócio de sexo, assim
como as cobranças feitas pelos agentes da Polícia Municipal estavam legislados
em Moçambique, por isso aquelas cobranças eram dadas como ilegais.
Mesmo assim,
o negócio de sexo na cidade de Tete estava a expandir-se e havia aqui
prostitutas de diversas nacionalidades, com destaque para moçambicanas idas de
Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala e Manica, bem como as zimbabweanas, malawianas,
zambianas e locais. Alguns agentes da Polícia Camarária eram acusados de
recorrerem a este negócio não legalizado, para colectar algum dinheiro. As
principais vítimas eram as estrangeiras, como se reportou o caso da vítima zimbabweana, Monica Wengan, de
32 anos de idade, que conversou com um repórter e deixou o seu sentimento de
preocupação com relação às injustiças de que se queixou ter sido vítima,
protagonizadas pelos agentes da Polícia Camarária do Município de Tete.
Entretanto, o mesmo não passavam as vítimas de luxo que viajavam de avião aos
fins-de-semana de Maputo e Beira a Tete para atenderem aos chamados dos seus
clientes gestores de minas, da HCB e alguns Executivos do Governo central e provincial,
entre elas brancas sul-africanas, portuguesas e brasileiras.
Com a
dinâmica que o país estava a registar nos últimos tempos, devido à entrada de
muitos investidores, o mercado estava a ficar cada vez mais exigente e agressivo
que algumas trabalhadoras de sexo frequentavam cursos de inglês para a
prostituição de luxo em Tete. As trabalhadoras de sexo moçambicanas,
inconformadas de estarem relegadas ao estatuto de segunda categoria (as brancas
e jovens mulatas nacionais), de terceira categoria (as mulatas velhas e as
claras laurentinas de Maputo e Inhambane) e de quarta categoria (as relegadas
aos restaurantes), passaram a lutar por para ter alguma formação adequada de
modo a responderem aos desafios de mercado impostos ao país.
Em Tete as trabalhadoras
de sexo não ficaram alheias esta nova realidade de terem que lidar com
engenheiros brancos sul-africanos, zimbaweanos, australianos, britânicos, entre
outros, para não se cingirem apenas aos brasileiros e portugueses. Por causa
disso, floresceram em Tete empreendimentos hoteleiros, condomínios, casa de
pasto e de lazer, a ponto de um empresário local ter projectado em Matema,
Bairro Chingodzi, uma instância de pasto e lazer denominada Matako Panja
(Nádegas Fora, em língua local Chinyungwe), que não chegou a funcionar devido a
crise que se seguiu.
Enquanto
alguma parte de profissionais de sexo passaram a frequentar aulas de inglês na
Delegação do Instituto de Línguas na cidade de Tete, muitas preferiram a cidade
da Beira, onde muitos casos de prostitutas passaram a frequentar escolas que
leccionam a língua inglesa para poderem dar uma “resposta cabal” à concorrência
em Tete.
Um artigo do repórter Eduardo Sixpence, datado de 25 de Junho de 2012, refere a propósito que garotas que aparentavam ser “meninas de família”…se fez a um bar e fez-lhe uma provocação mandando o “barman” com um bilhetinho que dizia: “bonitão, estou a pedir um copo de cerveja”. Curto e grosso, o articulista destas respondeu verbalmente, afirmando que “não tenho dinheiro”. Em resposta, a moça mandou à mesa do articulista duas garrafas de água, de um litro e meio cada, pagas por ela. Era o início de uma longa conversa que veio a abrir espaço para que o repórter entrasse no enredo da vida daquela rapariga de família.
Já sentada
na mesa onde o repórter se encontrava, a moça quis saber se o mesmo era ou não
estrangeiro: “Tu és muito parecido com um filipino que conheci recentemente
neste local. Por acaso, tu és marinheiro? Ou trabalha numa destas ONGs que
andam por ai”- questionou a jovem que apenas se identificou pelo nome de Nina,
entre sorrisos e olhares provocadores, facto que já abria espaço para o repórter
perceber que estava diante de uma trabalhadora de sexo.
No
desenrolar da conversa, Nina falou da sua vida e/ou da sua história.
Transpareceu que cresceu num ambiente de uma família bastante religiosa, mas
cedo perdeu os pais num acidente de viação, facto que a forçou a buscar
alternativas para a sua sobrevivência.“Eu tinha apenas 10 anos, o meu irmão
Zezito tinha sete e Joaninha cinco. Os meus tios não quiseram nos ajudar.
Passei a vender amendoim na rua para sobreviver. A sorte é que os meus pais já
tinham uma casa, pelo menos tínhamos um lugar para dormir. Mas não parei de
estudar, fiz a 12.ª classe. Só que durante este percurso cai na má vida, tive
que me prostituir para garantir uma boa sustentabilidade, numa altura em que eu
tinha apenas 16 anos. Não é fácil ser mãe e pai ao mesmo tempo, enquanto ainda
menor”- reconheceu Nina.
Apesar de já
ter feito o nível médio, Nina, na alturacom 25 anos de idade, não conseguia se
livrar da prostituição. Ela confessou que tinha, na profissão mais antiga do
mundo, como um vício difícil de se livrar dele. Por isso, não via a
possibilidade de abandoná-la tão cedo, mesmo reconhecendo que incorria em muitos
riscos.“Prostituição é pior que soruma (canábis-sativa),
cocaína ou outra droga perigosa. Vicia duma forma bastante pesada. Mas é uma
profissão como qualquer outra, tem os seus ganhos e também prejuízos. É muito
arriscado ser trabalhadora de sexo, porque há muitos homens oportunistas”-
lamentou Nina.
Nina disse
ainda que o mercado estava sendo muito agressivo e o recurso a intérpretes já
não ajudava muito porque, no final do dia, tem que dividir a renda com eles, um
dinheiro conseguido a custa de muito sacrifício. Dai a necessidade de ter que aprender
outras línguas internacionais, com destaque para o Inglês.“Estou a estudar no
Instituto de Línguas - Delegação da Beira, para dominar o Inglês, porque já
levei muitas cabeçadas com os intérpretes. Além disso, quando você domina a
língua do cliente a negociação fica fácil. Agora, com estas novas empresas e a
entrada de muitos marinheiros, via Porto da Beira, não temos outra saída, temos
que aprender o Inglês. Eu já estou avançada. Estou no nível três e já falo sem
precisar da ajuda de terceiros. Ali no Instituto de Línguas não estou sozinha,
muitas colegas minhas também o fazem para melhorar a nossa relaçãoneste
trabalho. Até naquelas escolas pequenas há também trabalhadoras de sexo que
frequentam aulas de Inglês”- revelou Nina.
Nina
confessou igualmente ao repórter que o negócio em causa dava muito dinheiro,
mas exigia muita dinâmica. Apontou para os estrangeiros provenientes das
Filipinas, Nigéria, Brasil, Estados Unidos da América, Inglaterra e Alemanha
como sendo os que melhor pagam.“Chineses? Depende. Há uns que vem “da temba”
(da aldeia na língua Chisena) que são muito agarrados. Mas se tiver a sorte de
encontrar um urbano de verdade, ali vais ter sucesso. O nigeriano paga bem, mas
castiga muito as mulheres, ele é violento. Bom mesmo é o filipino, este não tem
preguiça, paga sem reclamar. Agora o brasileiro está cheio de papo, se fores
distraída, podes não ter sucesso, mas ele é muito humilde”- revelou Nina, entre
gargalhadas e carícias.
Mas afinal,
não são só as raparigas que vão aprendendo a língua inglesa para se
prostituírem. Há igualmente jovensdo sexo masculino que primam por esta saída,
havendo inclusive o registo de pelo menos um rapaz que fez parte do último
grupo de graduados da Universidade Pedagógica- Delegação da Beira, custeando os
seus estudo com rendimentos da prostituição masculina.Trata-se de um rapaz que
ficou famoso no “Chiveve” por causa do seu cabelo, sempre desfrisado e era conhecido
como um “gay” confesso. Frequentava muito em casas de pasto em que os
estrangeiros, de raça branca, são os principais clientes. O jovem acabou
conseguindo o seu diploma de licenciatura no ensino da língua inglesa, mas os
conhecimentos adquiridos na Universidade Pedagógica são mais válidos para lhe facilitar
o diálogo com os seus clientes que têm o inglês como a principal língua na sua
comunicação.
“Se você
pensa que só são as meninas que vão aprender o Inglês para prostituir, estás
completamente enganado. Aquele moço ai, o que está sentado naquela mesa com
aqueles brancos, também é trabalhador de sexo. Ele é licenciado em Inglês”-
referiu Nina, apontando para um jovem que, na verdade, o repórter já sabia que
o mesmo era “gay”.Vergonha! É o que se testemunha em muitas casas de pasto e
lanchonetes da cidade da Beira, com adolescentes do sexo feminino que têm a
prostituição “avulsa” como o seu dia-a-dia.
Um simples
hambúrguer e mais alguns trocados, menos de 100 meticais, são o suficiente para
que as visadas se “vendam” para qualquer homem que lhe aparecer em frente. Outra
isca usada para estas pobres raparigas são as viaturas. Parece que o cheiro de
combustível é um grande atractivo para elas, segundo dizia um cidadão anónimo
numa cavaqueira com o repórter, para o qual este facto deixa as raparigas numa
situação de vulnerabilidade. Em muitas casas de pasto e lanchonetes da cidade
da Beira nota-se “in loco” o facto, que já virou conversa de “café” ao nível
daquela urbe. Num desses sítios a reacção não tarda a chegar: raparigas
aparentando 15 a 17 anos de idade se aproximam e batem o vidro do carro para
posteriormente dizer: Querido, podes me dar boleia? O repórter consentiu:
Sim,podes subir. Durante o percurso, deu para perceber que a rapariga
não tinha destino certo, dai que perguntou e logo respondeu: Vou para onde
você me levar. Deus umas voltas pelas ruas do “Chiveve” e parou numa outra
casa de pasto, onde, logo à primeira, a moça pediu um hambúrguer e uma lata de
refresco, Coca-Cola, passe a publicidade.
O ambiente
no local era aparentemente calmo, mas o repórter depois que era o sítio
preferido das adolescentes e o hambúrguer era o alimento que mais era
solicitado, facto que causou curiosidade.“Chefe, aqui é assim, as meninas só
pedem hambúrguer, depois de comer isso já não há mais conversa, aceitam logo.
Umas até que pedem, depois, mais algum dinheiro, 50 e 80 meticais, em troca do
sexo. São poucas as que falam de 100 meticais ou mais. Outras nem pedem algo,
basta comer um hambúrguer”- disse A. António, servente do local.
Na verdade,
foi o que se confirmou diante daquela adolescente para medir o pulsar da
prostituição. Só queria hambúrguer e 50 meticais para poder satisfazer
sexualmente qualquer homem.“Adoro carro. Gosto de passear de carro, é bonito.
Não é?”- Questionou a referida adolescente.Questionada sobre as condições que
podia exigir para que abandonasse a prostituição, a entrevistada disse apenas: Se
fores a comprar um carro para mim, confesso que eu abandono esta vida e viro
sua namorada. Prometo fidelidade. Não estou a mentir. É sério. Ela explicou ainda que, antes, a
maior ambição das raparigas era ter um telemóvel com uma câmara fotográfica e
máquina de filmar. Mas hoje, segundo ela, uma viatura é o que as moças gostam
de ter, mesmo que seja apenas um carro pertencente a um namorado ou amante.“Se
quiser celular, certamente que a menina vai pedir um com Internet, porque quer entrar no Facebook.
Caso contrário, um carro porque as meninas gostam de passear de carro. Hoje, um
jovem com uma viatura tem quase qualquer mulher que ele quiser na praça, não
precisa ter muito dinheiro para gastar com ela”- revelou a moça.
Este facto
desperta a atenção e curiosamente e constatou-se que, numa barraca localizada à
berma de uma rodovia da cidade da Beira, com um tráfego intenso, contabilizou-se50
viaturas que por ali passaram durante cerca de uma hora, sendo que mais de 70%
eram conduzidas por jovens de sexo feminino. Concluiu-se que, na verdade, se
estava diante de um novo fenómeno social de focos de prostituição de luxo na
capital provincial de Sofala. Muitas destas prostitutas bebem de uma forma que
transparece frustração. Afinal, escolhem sufocar as suas mágoas na bebida, devido
à estigmatização que estas jovens são vítimas, algumas das quais frequentando uma
prestigiada universidade privada com representação na cidade da Beira. Mas têm a
prostituição como sua fonte de rendimentos para pagar as suas propinas e outras
despesas afins. Vivem em apartamentos de luxo no centro da cidade, além de serem
proprietárias de viaturas modernas muito cobiçadas por senhoritas.
Uma destas
jovens contou que conhecera um jovem que também era estudante universitário e
trabalhador de uma famosa empresa que opera no Porto da Beira, facto que
contribuiu para que ela abandonasse a prostituição e tinha o rapaz como futuro
marido.Concluída que foi a universidade, a jovem conseguiu um emprego que lhe
paga um ordenado relativamente bom e decidiu casar-se com o jovem em alusão. A
cerimónia até que chegou a acontecer, mas entre os familiares havia um primo do
jovem que sabia que a moça fora “prostituta de luxo” e decidiu contar toda a
verdade para a família, um facto que gerou muita polémica, mas o noivo insistiu
em continuar casado com a visada.
Porque a
pressão era cada vez maior, a “ex-prostituta de luxo” decidiu abandonar o
casamento, sob alegação de que queria salvar o seu então esposo da pressão
familiar e voltou relegada a prostituição, tendo os barescomo locais para
desabafar as suas mágoas ao lado de um copo de gin.“Prostituição não é
um crime meu amigo. Lutei para fazer a universidade e hoje decidi viver com
muita dignidade e a sociedade está a lançar pedras contra a minha pessoa.
Prefiro morrer porque nem o meu diploma está a conseguir devolver a minha
dignidade desejada. Uma vez prostituta, prostituta será por toda vida nos olhos
do povo”- desabafou a jovem.
Em todo o
caso, dias depois soube-se que a jovem “ex-prostituta de luxo” continuava a
trabalhar, mas a mágoa da separação prevaleceu e ela deixou um apelo a outras
jovens: Mesmo que a vida vos dê as costas, nunca recorrer à prostituição para
resolver os vossos problemas. Melhor ser uma analfabeta, vendedora de amendoim
do que ser uma licenciada que conseguiu pagar a sua faculdade com dinheiro
vindo da prostituição.
Agora
olhemos para o caso de Cabo Delgado, onde a riqueza, que parecia andar de mão
em mão, está a voltar a seguir os cordelinhos do sistema fiduciário existente
no país, onde o Estado aparece como o primeiro beneficiário, graças a medidas
de segurança que a empresa que explora a mina de
Namanhumbir impôs. A pouco e pouco, vão fechando as brechas por onde passavam
as pedras preciosas que depois iam inundar todo o mundo com a fama de terem
vindo de Montepuez, em Moçambique.
Quem
mais parece contrariado com o actual estágio das coisas, parecem ser as casas
de pasto, hospedagem, restaurantes e as chamadas trabalhadoras do sexo, grupos
aonde as opiniões divergem e são relutantes em relação ao controlo efectivo da
mina de Namanhumbir. Pois, em dois dias consecutivos, as discussões que no
“Litos” giravam à volta da razoabilidade da medida que travou a avalanche de garimpeiros
estrangeiros em Montepuez. Grupos de estudantes e trabalhadores sempre puseram
na mesa circunstancial de debate o assunto ligado àquilo que alguns pensavam
que aceleraria o desenvolvimento da região.
“Aqui
onde estamos tudo isto estaria apinhado de gente a comprar. Todos os dias
chorávamos por não termos conseguido satisfazer a clientela, mas hoje, é como
vê, ficámos entre nós e as pessoas que comem contam-se pelos dedos”, reclamava
um trabalhador de balcão. A mesma reclamação fora manifestada por caras
femininas bem conhecidas que já não se viam na capital provincial – Pemba,
porque se haviam deslocado para Montepuez, onde, como trabalhadoras do sexo,
desempenhavam a sua tarefa a modos que lhes parecia mais rentáveis, tendo ao
dispor os estrangeiros para quem o dinheiro não era dificuldade.
“Tio,
isto já morreu de novo. Havia aqui manda-chuvas, que falavam a linguagem de dólares,
euros, randes. Aqui bebíamos, comíamos e fazíamos tudo numa boa! Agora os
estrangeiros foram, não sei se expulsos por quem, mas a verdade é que Montepuez
está a voltar a ficar em baixo”, disse uma interlocutora que parecia ter ido para
àquela cidade para alguma faculdade. Porém, um jovem estudante presente na
conversa disse, dirigindo-se aos outros, que Montepuez estava a ficar enganado
com o desenvolvimento que considerou postiço, alegadamente porque todo o dinheiro
que era exibido só andava em bolsos individuais.
“Todo
aquele dinheiro era nosso, vinha de Namanhumbir e foi-se embora. Não deixou
escola, nem hospital, não abriu nenhuma faculdade e, como vêem, voltámos a ser
como éramos, porque o dinheiro apanhado sem sacrifício não é dinheiro. Com
aquele dinheiro de Obama, por exemplo, construíram-se coisas luxuosas para
algumas pessoas, mas como não estamos formados para usá-las correctamente,
daqui há pouco vamos destruir. Não ganhámos nada. Mesmo tu, minha irmã, dizes
que ganhaste muito dinheiro, nem com metade te lembraste em te matriculares na
UP”, rematou o estudante.
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