PEDOFILIA
Reflexão do que as redes sociais estão a fazer circular
Raúl Mourinho Kuyeri



Estarão os empresários do sector de turismo envolvidos com a pedofilia em Moçambique?

Triste é assistir à força de muitas mulheres moçambicanas que lutam por uma posição avantajada no cardápio da onda de prostituição de luxo na nossa capital - Maputo! Trata-se mais de jovens estudantes, filhas de homens e mulheres socialmente bem posicionados e poderoso. A tendência já envolve até criancinhas que se metem, sem dó nem piedade, com os chamados “titios” da praça. Trocaram os brinquedos como os barbies por vibradores, até por pura vaidade de merecerem multifacetados comentários num "post" nas mais famosas redes sociais, com destaque para o Facebook.



Os consumidores, geralmente homens de negócios e de prestígio, titulares cargos públicos e detentores de poderes, empresários, etc., semanalmente recebem um cardápio especial actualizado das chamadas catorzinhas-modelo. Ao invés de camarões grelhados nos mais conceituados restaurantes da luxuosa Av. Julius Nyerere, trocam por brotinhos de meninas nos hotéis de luxo na cidade de Maputo, que infestam oscondomínios na Matola e casarões nos bairros Dona Alice e Triunfo, bem como em estâncias turísticas ao longo da extensa costa de Moçambique, prenhe de bungalows de simbirre (pau-a-piques semelhantes a estacas de pau-ferro) e makuti (folhagem de coqueiros).

Todos os fins-de-semana são testemunhados por séries de celebrações de consumo assíduo deste cardápio de catorzinhas-modelo em festas bem badaladas de que se destacam as chamadas jovensNaomiNaidoo que ocorremem casas de famosos entre os jovens da chamada classe DREAMKOTA, GazChirindza e companhia!

Mas afinal, quem sãos os tais DreamsGaz’s? Quem são estes indivíduos que são tão disputados como clientes entres as ilustres catorzinhas damas-da-noite disfarçadas de socialites moçambicanas?

Na verdade, os#DreamKotas são osempresários do ramo de turismo e de imobiliário, como o famoso Augusto Alberto da Silva Chirindza na praça, que nem sei efectivamente existe ou é apenas mais um mistério de que muito se fala nas socialites moçambicanas.

Diz-se, por exemplo, que este famigerado DreamKota ou GazChirindza tem pouco mais de 45 anos de idade, com grandes empreendimentos nas variadas áreas de negócios na capital moçambicana - Maputo e nas praias da região sul do país, nomeadamente: Zavala Resources, Xiluvo Resources, DaghataneLimitada, Chigamame Lda, Tofinho Panton, Milando Limitada, Grupo Mintholo, Eight Dragons Limitada, Revo Developments (PTY) Lda, African Tides Ivestments Property Limited, Golden Pond Trade 263 (PTY), entre outros empreendimentos de sociedadesentre moçambicanos e estrangeiros, geralmente portugueses e sul-africanos, sem descurar alguns italianos. 

No seio destas jovens catorzinhas da classe de luxo são recorrentes menções de apelidos como Chirindza, Dai, Chivulele, Vuma, Mutemba, que funcionam como palavras-chave para descodificar os segredos dos seus ingénuos corpos, por vezes pouco maduros e sem banho, mas cheios de maquilhagens e perfumes que disfarçam a sua real natureza e imundície. Pois, por cada noite de promiscuidade, por vezes lhes lucra o valor da renda das modestas casas onde vivem com os respectivos guarda-fatos que albergam as suas minúsculas roupas e garagens onde durante o dia são parqueados os "vitzs" enquanto dormem a espera da noite. Nas noites da cidade de Maputo, por exemplo, os “vitzs” pululam como autênticos corvos da Ilha da Inhaca, que lhes locomovem de casa-escola-discoteca-hotel-casa.

Mas a grande fasquia dos equiparados Bento-Kangambas moçambicanos, ou DreamKotas e Gaz’s, é de se ter empolgado demais com tamanha oferta no cardápio das famigeradas e imundas catorzinhas de meia-tigela, embrulhadas em papel de lustro. Os nossos Bento-Kangambas não só albergam umas“leitoas” e "vitelinhas", senão mesmo manadas de vacas leiteirasnas suas mansões de quinta categoria; abrem as suas portas para a celebração do acto de pedofilia que já vêm cometendo aos olhos da ignóbil sociedade maputense... Os 18 ou mesmo 28 anos da Naomí Naidoo, reduzidos a 14 pelas vestes e maquilhagens, emprestam uma virulenta tendência de moda na classe feminina maputense – é a elite da chamada Mulher Moçambicana da Era da Autoestima!

Pois é, uma das semelhanças com o nossoirmão angolano Bento Kangamba, é que ambos são testas-de-ferro de grandes homens ligados a nomenklatura política e ao poder. O Bento Kangamba é testa-de-ferro do Presidente daquele país e os nossos DreamKotas e Gaz’ssão testas-de-ferro do nosso ilustre bem-sucedido Criador de Patos com a sua Fauna Acompanhante de ex-Primeiro-Ministros & Co. O que lhes difere é o slogan que lhes é atribuído:Dream Kota & Gaz Chirindza: “Kangamba-Empresários da Pedofilia”.

Este slogan não lhes é atribuído por acaso. É que já está a emergir uma grande classe de Naomí Naidoo’s de idades compreendidas entre os 10 a 14 anos, disfarçadas de roupas de gala que escondem as solas dos seus sapatos de salto muito alto para aumentar a altura. Estas Naomí Naidoo’s de idades muito tenras sãos as mais preferidas pelos Dream Kota & Gaz Chirindza’s, por apresentarem seios naturais bem em riste e os seus órgãos genitais ainda não estão ovalizados. Os Dream Kota & Gaz Chirindza’s são muito afeiçoados por seios em riste bem durinhos e não os famigerados seios de silicone das Naomí Naidoo’s de idade acimada dos 14 anos, porque já cansados de serem chupados e ficaram desfigurados, mesmo com os arranjos de silicones ã moda brasileira.

Quando estas informações a mim chegaram, decidi fazer uma pesquisa. Procurei os promotores do cardápio, que nada tiveram a declarar, mas consegui uma pista nas redes sociais que me levou a Matola 700, próximo a Mesquita, onde pude ter o testemunho de uma avó de uma das vitelinhas dos Dream Kota & Gaz Chirindza’s, que pediu anonimato. A minha pesquisa também foi enriquecida com um documentário de cerca de 30 minutos, produzido pelo ProgramaGeração Biz, intitulado: “Catorzinhas de Moçambique: Meu Presente Futuro”, postado no YouTube.

"Nós, a família, fomos surpreendidos com a exposição da nossa filha na sua festa de aniversário de 18 anos, no passado fim-de-semana. Ao que soubemos pelos convites, parecia ser um jantar-surpresa oferecido pela mãe. Fomos surpreendidos todos nós:tios, avós, primos e irmãos, com uma discoteca que se transformou em autêntico bordel dos filmes italianos ou dos yankies (filmes norte-americanos de Hollywood).

Como se não bastasse,a festa teve lugar na casa de um senhor, o qual fomos apresentados como sendo amigo da mãe Sandra Esculudes. Trata-se de um senhor com mais ou menos a idade do falecido pai dela, que viemos saber depois que, afinal, é “namorado” dela e é quem tinha bancado toda aquela pomposa festa de seu aniversário.

http://www.mmo.co.mz/wp-content/uploads/2012/12/prostituta-maputo1.jpgÉ muito triste para nós vermos a nossa Naninha nesta vida... Até bem pouco tempo, o irmão foi obrigado a mandar-lhe de volta para Moçambique, quando descobriu que ela sustentava os seus caprichos na Africa do Sul com dinheiro enviado pelo filho do ex-Presidente!... Nós somos uma família humilde e digna.Nos esforçamos para termos o pão que comemos... Preservamos o nosso nome...

Os sacrifícios que os pais fizeram para dar-lhe uma boa educação, não valeram de nada, mas nada mesmo... Com 15 anos já andava a namorar com senhores três vezes mais velhos do que ela e casados. É muito triste, mas muito triste mesmo... Eu gostaria de apelar para quem de direito a expor estes senhores que aliciam e exploram sexualmente as nossas filhas."

Em resumo, no essencial foi este o teor da conversa com a avó da Naninha, toda ela regada de lágrimas de mágoa,na idoneidade da sua inocência. Naninha é mais uma das Naomí Naidoo’s. Mas devem estar a perguntar-se quem é a tal Naomi Naidoo? A que se deve tamanho enredo de crónica?

Fiquei curioso, com a repercussão da exposição de tantas Naninhas nos canais televisivos nacionais e nas redes sociais, com fotos nuas, cópias de conversas pelo WhatsApp e Facebook, fotos da tão falada festa semanais, regadas de orgias cujo condimento principal é o álcool, droga pesada e sexo em grupo. Até me preocupa saber que correm rumores de que a maior rede nacional de televisão poderá passar tais imagens em horário nobre das famigeradas telenovelas brasileiras e que uma das estações de televisão com maior audiência nacional vai transmitir uma entrevista com um dos envolvidos no escândalo e muitos os jovens aguardam ansiosos em ver isso no Programa Balanço Geral.

Arranjei tempo e fui sentar-me num dos "pubs"mais bem frequentados da Av. Julius Nyerere e descobri que a aludida Naomí Naidoo, agora já mulher, é muito bem conhecida na praça. A minha fonte assegurou que divulgaria reportagens de imagens bem nítidas e pormenorizadas captadas através de câmaras secretas nessas orgias, se os envolvidos não me pagarem os valores que estou a exigir para guardar sigilo. Digo sigilo e não segredo porque, se for para guardar segredo o valor é muito bem alto que nem desses que exigem resgate depois dos sequestros.

A dupla tarefa das trabalhadoras de sexoA fonte confirmou que realmente até bem pouco tempo jovem Naomí Naidoofaz parte do “caché” de muitos cantores estrangeiros que vêm actuar em Moçambique, como é o caso do angolano Big Nelo; já foi prémio de consolação do apresentador de televisão Dygo Boy, para além de ter pertencido ao cardápio de catorzinhas de luxo. Agora, digamos reformada, Naomí Naidoose dedica ao recrutamento de outras menores que são conhecidas na praça como protocolos de festas e de discotecas, comoprofissão de disfarce. Portanto, Naomí Naidoo é bem conhecida na praça, não só pelo facto de ter sido uma catorzinha de luxo, mas também como ladra em festas na qual trabalha. Ela é profissional em carregar a carteiras, tendo já tido alguns casos de Polícia por burla, extorsão e falsa identidade.

O recrutamento da Naomí Naidooé feito da seguinte maneira, segundo a fonte: a Naomí Naidoo convida para jantares jovens e crianças de corpos esbeltos e que podem despertar certo prazer aos homens de acordo com a sua experiência de vida. As vezes lhes propõe serviços de protocolo bem pagos, nos locais onde se reúnem e se confraternizam homens negócios e ligados ao, entree empresários e executivos do Governo. Enquanto as jovens e crianças se desempenham nas suas lides de protocolos, os homens de negócios, empresários e executivos do Governo vão apreciando as suas prováveis presas, pois sabem de antemão que são livres de escolher quem melhor lhes agradar. Depois anuncia a sua escolha a Naomí Naidoo que se encarrega de abordar a vítima com proposta muito aliciante.

Ultimamente estes convívios acontecem nas casas dos chamadosDream Kotae GazChirindzano Kings Villageem Witbank, na África do Sul, ou numa mansão no Bairro Dona Alice e no Belo Horizonte. Outras vezes estas festas são organizadas em estâncias turísticas na Ponta de Ouro na Província de Maputo, Bilene e Zongoene na Província de Gaza e nas várias estâncias turísticas das praias e ilhas de Inhambane.

Para limitar o acesso de pessoas que não desta estirpe e não impor medidas restritivas discriminatórias de forma administrativa, as acomodações, bebidas e comidas são extremamente caras, cujos preços desencorajam quem quer que seja, mas aqueles preços são os praticados para eles, funcionando como clubes de amigos. É assim que, em círculos muito restritos, consomem as drogas, praticam a suas orgias sexuais, fazem filmagens pornográficas, trocam de pares e de fotos... A ânsia de ganhar dinheiro fácil para os seus caprichos é onde se resume a ambição destas jovens crianças mulheres, ou mulheres-crianças... Enfim, tanto fazem que tanto se faz!

Portanto, Naomí Naidoo tem tamanho currículo que inveja a todas as jovens crianças que a invejam e anseiam ser algum dia como ela!Pensei do que será de uma rapariga que atingiu a maior idade há menos de uma semana! Ainda não atingiu o patamar de Naomí Naidoo e já não tão requisitada como o era antes. A sua função agora se resumiu a simples protocolo.

O mais espantoso ainda, é saber que um homem de tamanho calibre, com sociedades sólidas,se expõe de tal forma e é vítima de tais vícios imundos... Ou será que esta é uma das suas áreas dos seus investimentos? Ou seja, o seu investimento na área do turismo engloba estas práticas de prostituição e orgias com menores? Que tipo resorts são estes?... Serão bordéisclandestinos ou será este um negócio alternativo à crise no sector e agora se pretende investir e promover o turismo sexual à moda da Casa Blanca em Madrid, na Espanha? A pornografia infantil e homossexual evoluiu tão rapidamente em Moçambique que se afirmou como uma nova área de investimentos? Será que estes homens, conhecidos por Dream Kota & Gaz Chirindza’s,são os nossos barões da droga? Serão estas crianças vítimas de tráfico humano e de drogas? Haverá consentimento das famílias destas crianças?
Espancada no 2º dia de trabalho  Estas perguntas me parecem ser justas! Existirá mesmo alguma conivência das famílias neste esquema? No vídeo “Catorzinhas de Moçambique: Meu Presente Futuro” há quem diz que o rendimento destas crianças ajuda para a sobrevivência das famílias. Será? Não estarão estas crianças envolvidas num grande esquema de tráfico humano e de drogas?Não serão estes empresários barões de drogas? Para onde o nosso país está a caminhar? Será esta a história para futuras gerações de moçambicanos? Haverá alguém de direito para controlar esta degradação de valores e da moral!

A Moçambique Media Online (MMO), na sua edição de 14 de Dezembro de 2012, publicou uma crónica de autoria de Evelina Muchanga, intitulada: A Dupla Tarefa das Trabalhadoras do Sexo em Maputo, na qual se retrata a experiência de vida de Neila Mahumane (nome fictício), de 25 anos de idade, trabalhadora de sexo a noite. O seu local de trabalho era a Avenida 24 de Julho, na cidade de Maputo. Desempenhava a sua actividade todos os dias da semana, das 18.00 às 23.00 horas, mas quando houvesse pouca clientela, só abandona o local ao amanhecer. Na rua, Neila Mahumane tinha dupla tarefa: conquistar clientes e ser activista pelos direitos das trabalhadoras de sexo.

Como activista, Neila Mahumane ensinava as prostitutas a levar uma vida saudável, prevenindo-se de doenças de transmissão sexual como o HIV/SIDA. Mostrava as suas colegas de trabalho como usar correctamente o preservativo masculino e feminino e encorajava-as a fazer o teste de HIV e de SIDA nos Centros de Saúde que faziam um atendimento especial a este grupo de mulheres, a exemplo dos Centros de Saúde do Alto Maé e o do Porto e Caminhos-de-Ferro de Maputo. Este último funciona também à noite e localizava-se na famosa Rua de Araújo ou Bagamoyo, na baixa da cidade de Maputo.

Segundo Neila Mahumane,“se um homem exigir manter relações sexuais com uma trabalhadora de sexo sem preservativo, prometendo pagar muito mais em relação ao preço normal que cobramos, mesmo sabendo que nos envolvemos com mais de seis parceiros diferentes por dia, é porque alguma coisa esse homem tem. Há que duvidar!” Esta é uma das mensagens que ela transmite às colegas e não se sabe o mesmo acontece nas orgias dos Dream Kota & Gaz Chirindza’s.

Na rua, Neila Mahumane despertava nas colegas sobre a necessidade de se defenderem dos polícias-ladrões e dos clientes que não aceitam pagar depois da realização do acto e explicava porquê: “sofremos muito na rua. A Polícia tira-nos o dinheiro da receita do dia, alegando que a actividade que desempenhamos é ilegal ou exige que lhes prestemos os nossos serviços sem recompensa”.

Durante os sete anos de serviço como trabalhadora de sexo, Neila Mahumane contou que vários foram os episódios que assistiu de colegas que foram vítimas de tortura protagonizada pelos agentes da lei e ordem e pelos clientes. Contou a estória de uma mulher que ficou paraplégica porque se desentendeu com o cliente e este atirou-a do primeiro andar para o rés-do-chão de um prédio.

Encarceradas por uma semana  “Estávamos numa pensão na “24 de Julho”, quando ouvimos gritos de socorro da colega que estava a ser espancada pelo cliente. Momentos depois, ouvimos barulho no rés-do-chão. Era a nossa colega! Foi atirada da janela do primeiro andar para baixo. Sofreu na região da bacia e não conseguia andar. Quando tentámos localizar o cliente dela já era tarde,estava a abandonar o local e nos ameaçou com uma faca enorme. Pulou o muro e desapareceu”.

Esta mulher, segundo Neila Mahumane, não mais voltou à rua, mas a sua filha mais velha, que aparenta ter 14 anos de idade, infelizmente, veio substituí-la e iniciou a actividade de sexo comercial na mesma rua.“Sentimos muito quando vimos isto, porque a mãe tem conhecimento do trabalho que a filha faz e dos perigos que se corre na prostituição. Pior é que, com o grupo das adolescentes, é mais difícil de lidar com ele. Elas drogam-se e são muito violentas. Tentamos chegar perto delas para sensibilizá-las para abandonarem a rua ou a adoptarem métodos de prevenção contra doenças, mas não estava a ser fácil”, observou Neila Mahumane.

Neila Mahumane fazia parte de um conjunto de activistas que acabavam de receber formação sobre prevenção positiva, na Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família (AMODEFA), cidade de Maputo.“Com esta capacitação pretendemos que as meninas saibam que, mesmo sendo seropositivas, devem usar sempre o preservativo nas relações sexuais para evitar a dupla infecção”, fez notar Marcelo Kantu, assistente de direcção para área de monitoria e avaliação e coordenador do projecto inclusão na AMODEFA.

Marcelo Kantu explicou que difícil seria persuadi-las a abandonarem a actividade, porque muitas delas conseguem sustentar as suas famílias com base no sexo comercial. É que, segundo ele afirmou, esta actividade é praticada por mulheres jovens, mais crescidas, adolescentes, incluindo alguns homens. Há mulheres que desempenham a actividade nas suas casas, outras têm contactos e ficam à espera da ligação do cliente e há ainda aquelas que vão à rua à busca de cliente. Estão envolvidas mulheres de diferentes estratos sociais e níveis académicos.“Esta actividade movimenta muito dinheiro. Há mulheres que têm clientes que pagam em dólares, libras ou outras moedas e ganham muito com isso. Algumas chegam a fazer 1.500 a 2 mil meticais por dia. Que alternativas de trabalho podemos oferecer a estas mulheres para abandonarem a prostituição?”, questionou Marcelo Kantu. Por isso, acrescenta: “achamos melhor educá-las a desempenhar o sexo comercial de forma saudável e segura”.Há sensivelmente seis anos, estudos feitos indicavam para uma média de 200 trabalhadoras de sexo que desempenhavam a actividade, diariamente, na zona baixa da cidade de Maputo. Este número não engloba as outras que ficam à espera de telefonemas ou que realizam o trabalho nas suas casas.

Maria Amélia (nome fictício), 34 anos de idade, era trabalhadora de sexo há sensivelmente 10 anos. Integrar-se na actividade não foi fácil para ela. No seu segundo dia de trabalho, foi espancada por um cliente por inexperiência. “Ele queria sexo oral, mas não aceitei. Não sabia que se negociava antes de se ir ao quarto. O cliente ficou violento, bateu-me e abanou-me toda. Fiquei com medo e pedi ajuda. As minhas amigas, que me convidaram a fazer parte do grupo, apareceram de imediato e ajudaram-me a resolver o problema. Levaram o sujeito à esquadra”. Apesar do susto, Maria não desistiu e explica porquê: “Estava desesperada em conseguir dinheiro para sustentar o meu filho”.

Com 12ª classe, Maria Amélia diz que o seu maior receio era infectar-se com o HIV/SIDA, à semelhança de algumas colegas suas que na altura já estavam impossibilitadas de trabalhar no sexo comercial, devido à doença ou outras que, mesmo sendo seropositivas, continuavam a ir à rua. “Há vezes que o preservativo rompe e isso preocupa-me”.

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Um tema de fundo do jornal @verdade, na sua edição de 08 de Novembro de 2012, cujo título é Inchope: Um mundo feito de desenrascanços, refere que, no cruzamento de Inchope, na Província de Manica, a pobreza cola-se à pele dos moradores. A falta de água potável, a fome e o desemprego são os problemas que tiram o sono à população. Apesar disso, centenas de pessoas procuram ganhar a vida socorrendo-se das mais variadas tarefas, desde a preparação de alimentos, passando pelo arrendamento de quartos para repouso, até a venda de ratazanas. Porém, a prostituição, “impulsionada” pelos camionistas, é a actividade que mais ganha espaço. Em suma, Inchope é, na verdade, um mundo à parte, criado pela necessidade de sobrevivência.

Inchope é o principal cruzamento rodoviário da região Centro de Moçambique. Localizado no Posto Administrativo com o mesmo nome, a 45 quilómetros da sede do Distrito de Gondola, em Manica, e atravessado pela Estrada Nacional Número Um (EN1), tem uma população estimada em 30 mil habitantes permanentes. Neste local, onde diariamente centenas de moçambicanos se cruzam debaixo do sol ou da chuva, a vida nunca foi fácil. Mas o que já era bastante difícil tem vindo a piorar nos últimos anos.

Se no passado o drama das famílias era viver sob a ameaça de não ter o que comer no dia seguinte, presentemente, a população debate-se com problemas de diversa ordem e sem solução à vista, nomeadamente a falta de água potável, acesso limitado aos cuidados sanitários e o desemprego. Porém, diga-se em abono da verdade, a fome é que está a colocar os residentes à beira do desespero, tornando Inchope num lugar multifuncional, onde quase todos procuram meios de ganhar o sustento diário.

Ana Gustavo ainda é uma menor de idade: tem apenas 11 anos. Apesar disso, ela vê-se obrigada a contribuir para o exíguo rendimento diário da casa, até porque a situação financeira da família nunca foi das melhores. A sua mãe é camponesa e o pai também, mas, nas horas vagas, sobretudo durante a noite, é caçador de ratos.

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A falta de chuva tem comprometido sobremaneira a produção de algumas culturas, tais como feijão, amendoim e milho, além de hortícolas, na machamba daquele agregado familiar cujos próximos dias seriam bastante difíceis. A salvação tem sido a mandioca e a batata-doce que, por razões de segurança alimentar, não são comercializadas.

Sentada à beira da EN1 e com um olhar tímido, a rapariga de 11 anos de idade vende porções de tomate e uma enorme ratazana. O fruto, conta, colheu na pequena horta que existe a alguns metros do quintal da sua casa e o animal, que está a ser comercializado ao preço de 200 meticais, foi capturado pelo seu progenitor. Ela frequenta a quarta classe.

Já devia estar na sala de aulas, porém, à semelhança de outras crianças residentes naquele posto administrativo, teve de escolher entre a escola e a comida para a família constituída por quatro pessoas. De referir que a fome tem vindo a contribuir para o abandono escolar naquela região.

“Tenho aulas no período de manhã, mas hoje não fui à escola, porque preciso de vender estes produtos para termos o que comer em casa”, explicou a rapariga que, para chegar até a escola, tem de percorrer seis quilómetros, e, no mínimo, 10 para se instalar na EN1 e desenvolver a sua actividade. Entretanto, a distância parece não ser argumento suficiente diante da falta de pão.

Ana Gustavo contou que chegou cedo àquele local, por volta das 6:00 horas, com uma bacia cheia de tomate, mas, até ao meio-dia, ainda não tinha comercializado nem sequer metade. A sorte andou distante da petiza naquele dia. Os potenciais clientes são os viajantes que passam por aquele Posto Administrativo,oriundos e/ou com destino às regiões Norte, Centro e Sul do país.A fome não só preocupa a família da pequena Ana Gustavo, mas também centenas de residentes de Inchope, que todos os dias sentem a dor causada pela pobreza. Desde o ano anterior que não chovia naquele ponto do país, facto que estava a colocar a população num drama sem precedentes.

Matilde Jonas, de 39 anos de idade, é uma mãe solteira há mais de quatro anos. Divide uma pequena habitação, se é que se pode dar essa designação a um cubículo de construção precária, com duas irmãs, uma sobrinha e dois filhos.As suas condições de vida têm vindo a deteriorar-se com o andar do tempo. Ela afirma que a situação começou a agravar-se a partir dos meados de 2011 quando, devido à falta de chuva, perdeu quase toda a produção de feijão e milho, por sinal as únicas fontes de rendimento daquela família.

“Fiquei sem saber o que fazer, pois já havia perdido tudo”, conta. Mas, como havia necessidade de sustentar a família, Matilde Jonas e a sua irmã mais nova decidiram começar o negócio de venda de comida no mercado local ao longo da EN1. “Graças a essa actividade, temos conseguido obter algo para comer”, garante.

Não é apenas a fome que estava a deixar a população de Inchope à beira do desespero. Também a falta de água para o consumo. O problema, que já tinha “barbas brancas” e do conhecimento das autoridades locais, e não só, que pouco ou quase nada fazem para mudar o cenário. Consequentemente, os moradores eram obrigados a caminhar longas distâncias para obter o precioso líquido.

http://www.verdade.co.mz/images/stories/02012/manica/Inchope%20falta%20agua.jpgTer um poço tradicional no quintal é um luxo do qual poucas pessoas podem usufruir – que o diga Maltide Jonas que todos os dias tem de acordar às 4:00 horas da manhã e percorrer pelo menos sete quilómetros para obter água no riacho mais próximo.Às vezes, recorre aos poucos poços que existem naquele posto administrativo onde tem de pagar um metical e 50 centavos por cada recipiente de 20 litros.

A falta de água potável tem, por assim dizer, martirizado mulheres e crianças. “Tem sido uma vida de muito sofrimento. Já falámos com as autoridades do Posto de modo a resolver esta situação, mas ainda não tivemos uma resposta satisfatória”, disse Matilde Jonas. Imagens de mulheres, jovens e crianças com recipientes de água na cabeça ao longo da estrada revelavam o drama por que passavam os residentes de Inchope diariamente. Trata-se de um problema que persiste há anos. Apesar disso, centenas de famílias desfavorecidas recorrem aos rios para obter água para o consumo e lavar a roupa.

Em meados de 2012, durante um comício popular orientado pelo então Presidente da República, no âmbito das Presidências Abertas, a população pediu água potável a Armando Guebuza.Em Inchope, a profundidade do lençol freático impossibilita a abertura de furos. Para instalar um sistema independente de distribuição de água, o Governo Provincial de Manica precisava de pouco mais de seis milhões de euros.

A economia de Inchope era impulsionada pelo comércio informal na EN1, onde diversas actividades comerciais sobressaiam aos olhos de centenas de transeuntes. Além da venda de produtos alimentares, a indústria “hoteleira” é a que mais crescia naquele cruzamento. Ao longo da EN1 despontavam pousadas e pensões para responder à demanda. O número de pessoas que procuravam locais para repousar crescia todos os dias, devido à sua localização geográfica.O negócio de arrendamento de quartos para repouso é o que mais crescia nos últimos tempos, devido ao fluxo de pessoas que paravam naquele local de modo a fazerem-se transportar em autocarros para outros pontos do país. Além disso, os “chapas” que, por exemplo, faziam o percurso Nampula-Maputo, geralmente tinham Inchope a paragem obrigatória para o descanso durante a noite, facto que contribuía para a grande procura de acomodação.

Embora se estivesse a registar um crescimento do sector de hotelaria, o desemprego continuava a ser a principal dor de cabeça dos jovens. Na verdade, em Inchope não havia oportunidades, ou seja, não havia emprego, tanto na Administração do Posto como no comércio local. Esporadicamente, surgiam vagas para trabalhar em algumas pousadas e pensões.

Abel Nagine, de 21 anos de idade, conseguiu, havia há cinco meses, um emprego numa pensão. Ele limpava e arrumava os quartos, auferindo um salário mensal de 1.500 meticais, valor com o qual garantia o sustento diário da sua família constituída por três pessoas. Mas nem sempre foi assim.Primeiramente, Abel Nagine vendia água e bolachas na EN1 e, mais tarde, foi à procura de oportunidades na cidade da Beira. Na capital provincial de Sofala a sua vida foi marcada por momentos difíceis, tendo tomado a decisão de regressar à terra natal, Inchope. “O dinheiro que ganhava como empregado doméstico era bastante pouco, por essa razão optou por voltar para casa e recomeçar a vida”.

Ao contrário de Abel Nagine, Jacinto Amade, de 28 anos de idade, nunca saiu da sua terra natal, apesar do desemprego. Desde pequeno começou a ganhar a vida nos mercados daquele Posto Administrativo, e não só. “Eu vendia sumo, refresco e água aos passageiros, mas com o andar do tempo fui percebendo que o negócio não era rentável”, conta. Hoje, Jacinto Amade compra laranjas na cidade de Chimoio e revende-as no cruzamento de Inchope.

É assim que, durante o dia, a azáfama nos mercados informais ao longo da EN1em Inchope mostrava um mundo criado pela necessidade de sobrevivência. Ou seja, centenas de moçambicanos procuravam o sustento diário, recorrendo às mais variadas actividades no principal cruzamento rodoviário da região Centro do país. O intenso movimento de viaturas, camiões de grande tonelagem e autocarros de passageiros faziam de Inchope um lugar de inúmeras oportunidades, ainda que ilusórias.Diariamente, o negócio de sexo começou igualmente a crescer a uma velocidade alarmante. Inebriadas pelas aparentes oportunidades, mulheres de diversas idades, moçambicanas e zimbabweanas, faziam-se à rua durante a noite para se prostituírem. A actividade era impulsionada, por assim dizer, sobretudo por camionistas que são os principais clientes. Quando escurecesse, era possível ver dezenas de camiões com destino às cidades da Beira e de Maputo e ao vizinho Zimbabwe estacionados à beira da estrada.

A tabela de preços era definida por cada uma das trabalhadoras de sexo. Geralmente, variava entre 200 e 500 meticais por cada acto. Uma noite inteira chegava a custar mil meticais. Este valor não incluía o pagamento do quarto que custava 600 a 1.500 por noite numa pousada ou pensão. Mas, a reboque do mercado da prostituição, crescia o negócio de arrendamento temporário de quartos, vulgarmente conhecidos por “escondidinhos”, cujo custo mínimo era de 100 meticais. Estes espaços eram os mais concorridos para a prática dessa actividade.

http://www.verdade.co.mz/images/stories/02012/manica/Inchope%20camioes.jpgParalelamente, em Inchope os problemas de saúde eram frequentes: malária, diarreias e HIV lideravam a lista de casos mais reportados naquele Posto Administrativo. Porém, a questão ligada à saúde materno-infantil preocupava a população, apesar de terem aumentado, nos últimos anos, os partos institucionais a nível do Distrito de Gondola.O facto se devia ao alargamento da rede para 14 unidades para atender 310.424 habitantes. No ano anterior o Distrito registou 9.121 partos em todas as unidades de saúde. Em 2010 realizaram-se 8.273. As autoridades sanitárias têm vindo a socializar os partos, aos quais o marido ou qualquer parente podia assistir, mobilizando, assim, os familiares a preferirem levar a cabo os partos nas maternidades.

Enquanto isso, a 30 de Junho de 2011 a imprensa reportava que o Município de Tete, então sob gestão do Edil César de carvalho, cobrava taxa às trabalhadoras de sexo na Cidade de Tete: Elas dizem-se vítimas de tortura pela polícia camarária e Polícia municipal reage dizendo que está a fazer cumprir a Postura Camarária da Cidade. Ficou assim sabido, como primeira experiência no país, que as trabalhadoras de sexo, que praticavam o seu negócio na cidade de Tete, eram cobradas taxas ilegais pelos agentes da Polícia Municipal local, para além de serem vítimas de pancadaria, caso se recusem a pagar tais valores. Nem o negócio de sexo, assim como as cobranças feitas pelos agentes da Polícia Municipal estavam legislados em Moçambique, por isso aquelas cobranças eram dadas como ilegais.

Mesmo assim, o negócio de sexo na cidade de Tete estava a expandir-se e havia aqui prostitutas de diversas nacionalidades, com destaque para moçambicanas idas de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala e Manica, bem como as zimbabweanas, malawianas, zambianas e locais. Alguns agentes da Polícia Camarária eram acusados de recorrerem a este negócio não legalizado, para colectar algum dinheiro. As principais vítimas eram as estrangeiras, como se reportou o caso da vítima zimbabweana, Monica Wengan, de 32 anos de idade, que conversou com um repórter e deixou o seu sentimento de preocupação com relação às injustiças de que se queixou ter sido vítima, protagonizadas pelos agentes da Polícia Camarária do Município de Tete. Entretanto, o mesmo não passavam as vítimas de luxo que viajavam de avião aos fins-de-semana de Maputo e Beira a Tete para atenderem aos chamados dos seus clientes gestores de minas, da HCB e alguns Executivos do Governo central e provincial, entre elas brancas sul-africanas, portuguesas e brasileiras.

Com a dinâmica que o país estava a registar nos últimos tempos, devido à entrada de muitos investidores, o mercado estava a ficar cada vez mais exigente e agressivo que algumas trabalhadoras de sexo frequentavam cursos de inglês para a prostituição de luxo em Tete. As trabalhadoras de sexo moçambicanas, inconformadas de estarem relegadas ao estatuto de segunda categoria (as brancas e jovens mulatas nacionais), de terceira categoria (as mulatas velhas e as claras laurentinas de Maputo e Inhambane) e de quarta categoria (as relegadas aos restaurantes), passaram a lutar por para ter alguma formação adequada de modo a responderem aos desafios de mercado impostos ao país.

Em Tete as trabalhadoras de sexo não ficaram alheias esta nova realidade de terem que lidar com engenheiros brancos sul-africanos, zimbaweanos, australianos, britânicos, entre outros, para não se cingirem apenas aos brasileiros e portugueses. Por causa disso, floresceram em Tete empreendimentos hoteleiros, condomínios, casa de pasto e de lazer, a ponto de um empresário local ter projectado em Matema, Bairro Chingodzi, uma instância de pasto e lazer denominada Matako Panja (Nádegas Fora, em língua local Chinyungwe), que não chegou a funcionar devido a crise que se seguiu.

Enquanto alguma parte de profissionais de sexo passaram a frequentar aulas de inglês na Delegação do Instituto de Línguas na cidade de Tete, muitas preferiram a cidade da Beira, onde muitos casos de prostitutas passaram a frequentar escolas que leccionam a língua inglesa para poderem dar uma “resposta cabal” à concorrência em Tete.

Um artigo do repórter Eduardo Sixpence, datado de 25 de Junho de 2012, refere a propósito que garotas que aparentavam ser “meninas de família”…se fez a um bar e fez-lhe uma provocação mandando o “barman” com um bilhetinho que dizia: “bonitão, estou a pedir um copo de cerveja”. Curto e grosso, o articulista destas respondeu verbalmente, afirmando que “não tenho dinheiro”. Em resposta, a moça mandou à mesa do articulista duas garrafas de água, de um litro e meio cada, pagas por ela. Era o início de uma longa conversa que veio a abrir espaço para que o repórter entrasse no enredo da vida daquela rapariga de família.

 

Já sentada na mesa onde o repórter se encontrava, a moça quis saber se o mesmo era ou não estrangeiro: “Tu és muito parecido com um filipino que conheci recentemente neste local. Por acaso, tu és marinheiro? Ou trabalha numa destas ONGs que andam por ai”- questionou a jovem que apenas se identificou pelo nome de Nina, entre sorrisos e olhares provocadores, facto que já abria espaço para o repórter perceber que estava diante de uma trabalhadora de sexo.

No desenrolar da conversa, Nina falou da sua vida e/ou da sua história. Transpareceu que cresceu num ambiente de uma família bastante religiosa, mas cedo perdeu os pais num acidente de viação, facto que a forçou a buscar alternativas para a sua sobrevivência.“Eu tinha apenas 10 anos, o meu irmão Zezito tinha sete e Joaninha cinco. Os meus tios não quiseram nos ajudar. Passei a vender amendoim na rua para sobreviver. A sorte é que os meus pais já tinham uma casa, pelo menos tínhamos um lugar para dormir. Mas não parei de estudar, fiz a 12.ª classe. Só que durante este percurso cai na má vida, tive que me prostituir para garantir uma boa sustentabilidade, numa altura em que eu tinha apenas 16 anos. Não é fácil ser mãe e pai ao mesmo tempo, enquanto ainda menor”- reconheceu Nina.

Apesar de já ter feito o nível médio, Nina, na alturacom 25 anos de idade, não conseguia se livrar da prostituição. Ela confessou que tinha, na profissão mais antiga do mundo, como um vício difícil de se livrar dele. Por isso, não via a possibilidade de abandoná-la tão cedo, mesmo reconhecendo que incorria em muitos riscos.“Prostituição é pior que soruma (canábis-sativa), cocaína ou outra droga perigosa. Vicia duma forma bastante pesada. Mas é uma profissão como qualquer outra, tem os seus ganhos e também prejuízos. É muito arriscado ser trabalhadora de sexo, porque há muitos homens oportunistas”- lamentou Nina.

Nina disse ainda que o mercado estava sendo muito agressivo e o recurso a intérpretes já não ajudava muito porque, no final do dia, tem que dividir a renda com eles, um dinheiro conseguido a custa de muito sacrifício. Dai a necessidade de ter que aprender outras línguas internacionais, com destaque para o Inglês.“Estou a estudar no Instituto de Línguas - Delegação da Beira, para dominar o Inglês, porque já levei muitas cabeçadas com os intérpretes. Além disso, quando você domina a língua do cliente a negociação fica fácil. Agora, com estas novas empresas e a entrada de muitos marinheiros, via Porto da Beira, não temos outra saída, temos que aprender o Inglês. Eu já estou avançada. Estou no nível três e já falo sem precisar da ajuda de terceiros. Ali no Instituto de Línguas não estou sozinha, muitas colegas minhas também o fazem para melhorar a nossa relaçãoneste trabalho. Até naquelas escolas pequenas há também trabalhadoras de sexo que frequentam aulas de Inglês”- revelou Nina.

Nina confessou igualmente ao repórter que o negócio em causa dava muito dinheiro, mas exigia muita dinâmica. Apontou para os estrangeiros provenientes das Filipinas, Nigéria, Brasil, Estados Unidos da América, Inglaterra e Alemanha como sendo os que melhor pagam.“Chineses? Depende. Há uns que vem “da temba” (da aldeia na língua Chisena) que são muito agarrados. Mas se tiver a sorte de encontrar um urbano de verdade, ali vais ter sucesso. O nigeriano paga bem, mas castiga muito as mulheres, ele é violento. Bom mesmo é o filipino, este não tem preguiça, paga sem reclamar. Agora o brasileiro está cheio de papo, se fores distraída, podes não ter sucesso, mas ele é muito humilde”- revelou Nina, entre gargalhadas e carícias. 

Mas afinal, não são só as raparigas que vão aprendendo a língua inglesa para se prostituírem. Há igualmente jovensdo sexo masculino que primam por esta saída, havendo inclusive o registo de pelo menos um rapaz que fez parte do último grupo de graduados da Universidade Pedagógica- Delegação da Beira, custeando os seus estudo com rendimentos da prostituição masculina.Trata-se de um rapaz que ficou famoso no “Chiveve” por causa do seu cabelo, sempre desfrisado e era conhecido como um “gay” confesso. Frequentava muito em casas de pasto em que os estrangeiros, de raça branca, são os principais clientes. O jovem acabou conseguindo o seu diploma de licenciatura no ensino da língua inglesa, mas os conhecimentos adquiridos na Universidade Pedagógica são mais válidos para lhe facilitar o diálogo com os seus clientes que têm o inglês como a principal língua na sua comunicação.

“Se você pensa que só são as meninas que vão aprender o Inglês para prostituir, estás completamente enganado. Aquele moço ai, o que está sentado naquela mesa com aqueles brancos, também é trabalhador de sexo. Ele é licenciado em Inglês”- referiu Nina, apontando para um jovem que, na verdade, o repórter já sabia que o mesmo era “gay”.Vergonha! É o que se testemunha em muitas casas de pasto e lanchonetes da cidade da Beira, com adolescentes do sexo feminino que têm a prostituição “avulsa” como o seu dia-a-dia.

Um simples hambúrguer e mais alguns trocados, menos de 100 meticais, são o suficiente para que as visadas se “vendam” para qualquer homem que lhe aparecer em frente. Outra isca usada para estas pobres raparigas são as viaturas. Parece que o cheiro de combustível é um grande atractivo para elas, segundo dizia um cidadão anónimo numa cavaqueira com o repórter, para o qual este facto deixa as raparigas numa situação de vulnerabilidade. Em muitas casas de pasto e lanchonetes da cidade da Beira nota-se “in loco” o facto, que já virou conversa de “café” ao nível daquela urbe. Num desses sítios a reacção não tarda a chegar: raparigas aparentando 15 a 17 anos de idade se aproximam e batem o vidro do carro para posteriormente dizer: Querido, podes me dar boleia? O repórter consentiu: Sim,podes subir. Durante o percurso, deu para perceber que a rapariga não tinha destino certo, dai que perguntou e logo respondeu: Vou para onde você me levar. Deus umas voltas pelas ruas do “Chiveve” e parou numa outra casa de pasto, onde, logo à primeira, a moça pediu um hambúrguer e uma lata de refresco, Coca-Cola, passe a publicidade.

O ambiente no local era aparentemente calmo, mas o repórter depois que era o sítio preferido das adolescentes e o hambúrguer era o alimento que mais era solicitado, facto que causou curiosidade.“Chefe, aqui é assim, as meninas só pedem hambúrguer, depois de comer isso já não há mais conversa, aceitam logo. Umas até que pedem, depois, mais algum dinheiro, 50 e 80 meticais, em troca do sexo. São poucas as que falam de 100 meticais ou mais. Outras nem pedem algo, basta comer um hambúrguer”- disse A. António, servente do local.

Na verdade, foi o que se confirmou diante daquela adolescente para medir o pulsar da prostituição. Só queria hambúrguer e 50 meticais para poder satisfazer sexualmente qualquer homem.“Adoro carro. Gosto de passear de carro, é bonito. Não é?”- Questionou a referida adolescente.Questionada sobre as condições que podia exigir para que abandonasse a prostituição, a entrevistada disse apenas: Se fores a comprar um carro para mim, confesso que eu abandono esta vida e viro sua namorada. Prometo fidelidade. Não estou a mentir. É sério. Ela explicou ainda que, antes, a maior ambição das raparigas era ter um telemóvel com uma câmara fotográfica e máquina de filmar. Mas hoje, segundo ela, uma viatura é o que as moças gostam de ter, mesmo que seja apenas um carro pertencente a um namorado ou amante.“Se quiser celular, certamente que a menina vai pedir um com Internet, porque quer entrar no Facebook. Caso contrário, um carro porque as meninas gostam de passear de carro. Hoje, um jovem com uma viatura tem quase qualquer mulher que ele quiser na praça, não precisa ter muito dinheiro para gastar com ela”- revelou a moça.

Este facto desperta a atenção e curiosamente e constatou-se que, numa barraca localizada à berma de uma rodovia da cidade da Beira, com um tráfego intenso, contabilizou-se50 viaturas que por ali passaram durante cerca de uma hora, sendo que mais de 70% eram conduzidas por jovens de sexo feminino. Concluiu-se que, na verdade, se estava diante de um novo fenómeno social de focos de prostituição de luxo na capital provincial de Sofala. Muitas destas prostitutas bebem de uma forma que transparece frustração. Afinal, escolhem sufocar as suas mágoas na bebida, devido à estigmatização que estas jovens são vítimas, algumas das quais frequentando uma prestigiada universidade privada com representação na cidade da Beira. Mas têm a prostituição como sua fonte de rendimentos para pagar as suas propinas e outras despesas afins. Vivem em apartamentos de luxo no centro da cidade, além de serem proprietárias de viaturas modernas muito cobiçadas por senhoritas.

Uma destas jovens contou que conhecera um jovem que também era estudante universitário e trabalhador de uma famosa empresa que opera no Porto da Beira, facto que contribuiu para que ela abandonasse a prostituição e tinha o rapaz como futuro marido.Concluída que foi a universidade, a jovem conseguiu um emprego que lhe paga um ordenado relativamente bom e decidiu casar-se com o jovem em alusão. A cerimónia até que chegou a acontecer, mas entre os familiares havia um primo do jovem que sabia que a moça fora “prostituta de luxo” e decidiu contar toda a verdade para a família, um facto que gerou muita polémica, mas o noivo insistiu em continuar casado com a visada.

Porque a pressão era cada vez maior, a “ex-prostituta de luxo” decidiu abandonar o casamento, sob alegação de que queria salvar o seu então esposo da pressão familiar e voltou relegada a prostituição, tendo os barescomo locais para desabafar as suas mágoas ao lado de um copo de gin.“Prostituição não é um crime meu amigo. Lutei para fazer a universidade e hoje decidi viver com muita dignidade e a sociedade está a lançar pedras contra a minha pessoa. Prefiro morrer porque nem o meu diploma está a conseguir devolver a minha dignidade desejada. Uma vez prostituta, prostituta será por toda vida nos olhos do povo”- desabafou a jovem.

Em todo o caso, dias depois soube-se que a jovem “ex-prostituta de luxo” continuava a trabalhar, mas a mágoa da separação prevaleceu e ela deixou um apelo a outras jovens: Mesmo que a vida vos dê as costas, nunca recorrer à prostituição para resolver os vossos problemas. Melhor ser uma analfabeta, vendedora de amendoim do que ser uma licenciada que conseguiu pagar a sua faculdade com dinheiro vindo da prostituição.

Agora olhemos para o caso de Cabo Delgado, onde a riqueza, que parecia andar de mão em mão, está a voltar a seguir os cordelinhos do sistema fiduciário existente no país, onde o Estado aparece como o primeiro beneficiário, graças a medidas de segurança que a empresa que explora a mina de Namanhumbir impôs. A pouco e pouco, vão fechando as brechas por onde passavam as pedras preciosas que depois iam inundar todo o mundo com a fama de terem vindo de Montepuez, em Moçambique.

Quem mais parece contrariado com o actual estágio das coisas, parecem ser as casas de pasto, hospedagem, restaurantes e as chamadas trabalhadoras do sexo, grupos aonde as opiniões divergem e são relutantes em relação ao controlo efectivo da mina de Namanhumbir. Pois, em dois dias consecutivos, as discussões que no “Litos” giravam à volta da razoabilidade da medida que travou a avalanche de garimpeiros estrangeiros em Montepuez. Grupos de estudantes e trabalhadores sempre puseram na mesa circunstancial de debate o assunto ligado àquilo que alguns pensavam que aceleraria o desenvolvimento da região.

“Aqui onde estamos tudo isto estaria apinhado de gente a comprar. Todos os dias chorávamos por não termos conseguido satisfazer a clientela, mas hoje, é como vê, ficámos entre nós e as pessoas que comem contam-se pelos dedos”, reclamava um trabalhador de balcão. A mesma reclamação fora manifestada por caras femininas bem conhecidas que já não se viam na capital provincial – Pemba, porque se haviam deslocado para Montepuez, onde, como trabalhadoras do sexo, desempenhavam a sua tarefa a modos que lhes parecia mais rentáveis, tendo ao dispor os estrangeiros para quem o dinheiro não era dificuldade.

“Tio, isto já morreu de novo. Havia aqui manda-chuvas, que falavam a linguagem de dólares, euros, randes. Aqui bebíamos, comíamos e fazíamos tudo numa boa! Agora os estrangeiros foram, não sei se expulsos por quem, mas a verdade é que Montepuez está a voltar a ficar em baixo”, disse uma interlocutora que parecia ter ido para àquela cidade para alguma faculdade. Porém, um jovem estudante presente na conversa disse, dirigindo-se aos outros, que Montepuez estava a ficar enganado com o desenvolvimento que considerou postiço, alegadamente porque todo o dinheiro que era exibido só andava em bolsos individuais.

“Todo aquele dinheiro era nosso, vinha de Namanhumbir e foi-se embora. Não deixou escola, nem hospital, não abriu nenhuma faculdade e, como vêem, voltámos a ser como éramos, porque o dinheiro apanhado sem sacrifício não é dinheiro. Com aquele dinheiro de Obama, por exemplo, construíram-se coisas luxuosas para algumas pessoas, mas como não estamos formados para usá-las correctamente, daqui há pouco vamos destruir. Não ganhámos nada. Mesmo tu, minha irmã, dizes que ganhaste muito dinheiro, nem com metade te lembraste em te matriculares na UP”, rematou o estudante.

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