IMPÉRIO EMPRESARIAL DE GUEBUZA EXPANDE-SE PARA AVIAÇÃO
CIVIL
@VERDADE, 31 de Outubro de 2016
A INTELEC Holdings, uma empresa que tem à testa Salimo Abdula e criada por
Armando Emílio Guebuza (AEG) em 1998, constituiu, em Setembro último, a
companhia Linhas Aéreas do Zambeze
(LAZ). A mesma é detida pela KSA
Moçambique e pela INTELEC e
pretende entrar na concorrência do mercado de transporte de passageiros e
mercadorias, bem como a fotografia aérea e voos de helicóptero.
Os membros
do Conselho de Administração da KSA
são Salimo Abdula, Vincent Christoforos e Russell Ashley-Cooper, estes dois
últimos executivos da “Legend Aviation”.
Relativamente
ao objecto social, a sociedade destina-se à prestação de serviços de transporte
aéreo de passageiros e de carga por intermedio de afretamento especial ou de
serviço regular, exploração de quaisquer operações por aeronaves incluindo
helicópteros dentro e fora do território da República de Moçambique e prestação
de serviços de vigilância aérea, levantamentos cartográficos, apoio ás
actividades agrícolas e florestais.
Destina-se
ainda ao comércio de importação e venda de aviões e respectivas componentes
integrantes ou acessórias. A sociedade, desde que devidamente autorizada pelas
entidades competentes, pode também exercer quaisquer outras actividades
subsidiárias ou conexas com o objecto principal. A sociedade pode participar no
capital social de outras sociedades, e delas adquirir participações.
Da criação
do império
Armando
Emílio Guebuza (AEG) fundou um império empresarial e parcerias em quase todos
os sectores de actividade económica, no período de 1990/2003. Vai desde as
pescas, hotelaria e turismo, indústria gráfica, imobiliária, em institutos de
beleza, assessoria, engenharia, correios e passando por muitas outras até
desaguar na imprensa. Só faltava mesmo o sector da aviação.
No dia 5 de
Junho de 1992, a AEG juntamente com Benjamim Faduco (ex-Director do Jornal Notícias), Bernardo Mavanga (outro
ex-Director do Jornal Notícias e ex- Presidente
do Conselho de Administração - PCA e actual Director da Agência de Informação
de Moçambique - AIM) e a Rádio e Televisão Klint, Limitada (RTK)
chancelaram a sociedade Nova Tribuna,
Limitada, que tem como objecto social, entre outros, a “indústria gráfica e
de publicidade, edicção de jornais...”. O capital social da Nova Tribuna foi de 3.000.000,00MT
(actuais 3.000,00MTn).
No mesmo
ano, a AEG, com Miguel Nhaca Guebuza (um sobrinho seu), Augusto Lucas e
Henrique Joaquim Macuácua, constituíram a Venturim
Limitada, uma empresa que tem como objecto social o ramo imobiliário bem
como “importação e exportação, hotelaria e turismo e institutos de beleza”. O
capital social da Venturim foi de
25.000.000,00MT (25.000,00MTn).
No mesmo ano
junta-se a Juma Comércio Internacional,
Limitada e a José Luís Sederico da Costa Virott, e constituem a Mavimbe, Limitada, empresa vocacionada à
“pesca de crustáceos, peixe e transformação industrial de pescado e mariscos”.
O capital social da Mavimbe foi a módica
quantia de 300.000.000,00MT (300.000,00MTn).
A Mavimbe alterou o pacto social, sócios e
quotas por duas vezes. A primeira foi em 1996, onde a AEG aparece apenas com a Juma Comércio Internacional, Limitada.
Já em 1998, (continua com a Juma Comércio
Internacional, Limitada) e entram para a sociedade Mavimbe, Moisés Rafael Massinga e Jesus Joaquim Cuambe Gomes. (NR:
As alterações de pactos sociais, sócios e quotas, ocorrem geralmente quando há
aumento de capital, ou cedência de acções por um ou mais sócios).
Em 1995 – a
AEG na época era chefe de Bancada da Frelimo na Assembleia da República – com
Jesus Joaquim Camba Gomez e Augusto Caetano Ferreira de Carvalho oficializam a Focus 21, Gestão e Desenvolvimento, Limitada.
Com um capital social de 10 milhões de meticais da velha Família (10.000,00MTn).
O objecto social desta empresa é, entre outros, “...captação de investimentos,
desencadeamento de oportunidades de negócios, importação, exportação, criação
de banco de dados...”.
Em 1996, a
AEG faz parte do grupo que pariu a MOVA-
Montagem de Veículos Automóveis, SARL. Com um capital social de
200.000.000,00MT (actuais 200.000,00MTn). AEG está nesta sociedade com a Scanmo de Moçambique, Limitada, a Scan Marine, Limitada, mais oito
cidadãos onde se destaca Mariano de Araújo Matsinhe (Ex-ministro da Segurança)
seu “camarada” do partido.
Juntamente
com a Electro Sul, Limitada e a MI- Empreendimento e Participações
Financeiras, Limitada, AEG e estes formam a INTELEC, Industria de Material Eléctrico, Limitada, empresa que tem
como objecto social a “Produção de material eléctrico...”. A modesta quantia de
1.200.000,00MT, actuais 1.200,00MTn, foi o capital social.
Em 1997, a
AEG associa-se a Electrosul, Limitada,
a Motec, Limitada e novamente com a MI-Empreendimento e Participações
Financeiras, Limitada e formam a Electrotec,
Limitada com um capital social de 345.000.000,00MT, ou actuais 345.000,00MTn.
Esta empresa tem com objecto social a prestação de serviços no “ramo da indústria
ligada a electricidade geral...” entre outros.
No ano a seguir
com José Solomone Cossa (Ex-PCA dos Aeroportos
de Moçambique) e Ângelo Azarias Chichava (antigo Secretário de Estado da
Aeronáutica Civil, já falecido) constituem a INSPETEC-Sociedade da Inspecção de Engenhos Motorizados, Limitada
com um capital social de 10.000.000,00MT, actuais 10.000,00MTn. O objecto
social da INSPETEC é dentre outros a
“inspecção técnica, certificação e vistoria de veículos automóveis e de
embarcações...”.
Já em 1999,
Armando Emílio Guebuza, constitui com António Correia Fernandes Sumbane
(ex-Secretário-Geral da Presidência da República), Matias Zefanias Boa, Cadmiel
Filial Mutemba (ex-ministro das Pescas) e Moisés Rafael Massinga, a Águia-Empreendimentos e participações,
Limitada.
O capital
social da Águia foi de 10.000.000,00MT
(actuais 10.000,00MTn) e o objecto social desta sociedade é, entre outros a “...prestação
de serviços nas áreas industriais, comerciais, agrícolas e turísticas”. A outra
empresa dos ramos das pescas a que AEG está associado é a Maluandle, Limitada. Foi constituída em 1999.
Aqui está,
pela terceira vez, associado com Moisés Rafael Massinga e pela segunda vez com
Jesus Joaquim Camba Gomes. A simbólica quantia de 1.000.000.000,00MT (actuais
1.000.000,00MTn) foi quanto bastou para o capital social desta empresa que tem
como objecto social, tal como a Mavimbi
a “pesca de crustáceos, peixe e transformação industrial de pescado e mariscos...”.
No ano
seguinte junta-se a Daúde Idrisse Gabriel Nhaca Guebuza (um outro sobrinho seu)
e a Félix Júlio Massingue e constituem a New
Express, Limitada, que tem como capital social 20.000.000,00MT (ou seja,
20.000,00MTn). O objecto social desta empresa é a “prestação de serviços na
área de correspondência ao nível de todo o país...”.
A
consagração via presidencial
Quando
Guebuza ascendeu ao poder, uma das primeiras medidas foi a sua entrada na
estrutura accionista da Vodacom,
através da INTELEC Holding que
realizou os cinco porcento das acções da Vodacom
Moçambique.
Ao longo da
década que dirigiu o país, Guebuza chamou a si a decisão sobre os principais
negócios do Estado e onde houve oportunidade, tratou de capitalizar a Focus 21,
a Holding da sua família. Numa clara imitação do modelo angolano, Guebuza
entregou a liderança dos negócios da família à sua filha Valentina.
Depois do
anúncio da entrega do projecto de digitalização da rádio e televisão em
Moçambique ao grupo Startimes, este
foi parar na Focus 21 e Valentina se
tornou a PCA da empresa. A operação foi avaliada em 220 milhões de euros.
Sem concurso
público, a entrega deste projecto à empresa liderada por Valentina Guebuza, foi
amplamente criticada por vários actores das forças vivas da sociedade. Astuto,
afastou antigos parceiros e capitalizou parcerias com multinacionais, fazendo
da Focus 21 o centro onde gravitava
todo o investimento estrangeiro em infraestruturas de logística.
Para tal o
seu nome não podia aparecer e hoje, com muita frequência, o registo de
propriedade é feito usando-se a figura das Sociedade Anónimas, que omite a
identidade dos accionistas, e privilegiando-se paraísos fiscais.
Era
interessante ver-se a declaração patrimonial de Armando Guebuza...
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