PERGUNTAS AOS LEITORES
Centelha por Viriato Caetano Dias
WAMPHULA FAX - 01.03.2016
UMA REFLEXÃO SOBRE O CONFLITO POLÍTICO-MILITAR EM
MOÇAMBIQUE
“Estou cansado e enjoado da guerra.
A glória não é mais que a luz do luar. Somente aqueles que nunca deram um tiro,
nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue,
vingança e mais desolação. A guerra é o inferno.” William Tecumseh Sherman
(1820 -1891) escritor norte-americano
Um breve intróito:
Tenho sido
duramente criticado nas análises que faço sobre o actual conflito político-militar
entre o governo e a Renamo.
Devo dizer
que a efervescência da crítica é algo que nunca me incomodou, mas devem primar
pelo espírito de imparcialidade e justiça. A crítica deve ser honesta e
sincera, sem alcunha afrontosa e picardia.
O que
deveras me incomoda é a estupidez, quando de forma deliberada alguém desvia-se
do debate de ideias para espingardear o seu próximo com o qual ele não
perfilha, nem no carácter nem em pensamento.
Aprendi e
ainda aprendo com pessoas de uma grandíssima personalidade moral que na
catequese da vida a verdade e a autenticidade geram ódio, mormente nas almas
descompadecidas.
Não sou o
tipo de homem que, para agradar uma maioria de frustrados, hipoteca o seu
carácter. Quem tem uma formação sólida e profunda, dizia o saudoso Professor
José Hermano Saraiva, não pode negar ser quem é para passar a ser outra coisa.
Pode-se não gostar de mim: Viriato Caetano Dias, mas respeitem as minha
reflexões.
A Renamo, recorrendo ao seu braço armado está a ferir, a matar e a despojar os bens da população civil, enquanto a sua ala política, engravatada, leva uma vida faustosa: bebe e come à tripa-forra. Sobre esse paradoxo, tenho algumas questões a fazer ao leitor: se esses “engravatados” da Renamo nutrem um amor figadal por Afonso Dhlakama, porque é que eles não abandonam as suas mansões e vão viver em companhia do seu líder nas gélidas grutas da Gorongosa?
Porque é que
esses dirigentes da perdiz não trocam os colchões medicinais e as poltronas de
lã que acomodam suas urnas carnais por improvisos de bambe existentes nas bases
da Renamo?
Falam mal
das Forças de Defesa e Segurança (FDS). Esquecem-se que quando se deslocam em
passeatas com suas famílias são acompanhados em viaturas protocolares de luxos,
fortemente protegidos pelas FDS. Ademais, como funcionários públicos, em mais
do que uma sinecura, quem os protege são as FDS.
A esses
defeitos, acrescentam-se outros agravantes: não consolam as vítimas civis dos
ataques perpetrados pelo seu braço armado. Não repudiam a violência. Não
marcham pela paz.
Eu ia jurar
que mais da metade desses “engravatados”, incluindo alguns leitores que me
insultam pelas posições que tomo em defesa da razão, não conhecem e nunca
sequer leram a epístola estatutária da Renamo.
Dizem ser
democratas. A pergunta que coloco é esta: ser democrata é pautar pelos
discursos de paz ao mesmo tempo que se preparam acções belicistas para que a
nação moçambicana se parta entre duas metades inimigas?
A Renamo
pouco se interessa pelo poder político. Onde foi governo, em algumas
autarquias, pouco fez para permanecer no poder.
Um partido
que se recusa a concorrer em pleitos eleitorais, como pode ser governo? Um
partido que se recusa a entregar as armas, como pode ser amante da paz? Um
partido que aglutina homens armados para desencadear acções de guerrilha contra
o “zé-povinho”, não pode desejar o bem do povo.
Portanto,
não é a partilha de poder que está em causa. A Renamo quer ter acesso aos
recursos naturais para poder nutrir financeira e militarmente os seus
guerrilheiros.
Os seis
governadores poderiam ser nomeados, mas isso não iria resolver o problema da
Renamo. Que diferença faria para a Renamo o empossamento de 6 ou 60 dirigentes
se o partido está fragmentado?
Porém, a
diferença seria maior e eficaz se o governo, por um golpe de misericórdia,
decidisse doar à Renamo 8 ou 80 megap-rojectos existentes em Moçambique. A
probabilidade disso acontecer é nula. Seria o mesmo que, pode ser este o
entendimento da Frelimo, entregar a chave do galinheiro ao lobo ou a chave do
celeiro da maçaroca à perdiz.
Já escrevi
uma dezena de vezes que o sucesso da Renamo não está no número de vítimas que
os seus ataques provocam, mas sim – e fundamentalmente – na capacidade de
dialogar e de interagir com o seu eleitorado.
As
lideranças da Renamo já não fazem o trabalho de campo (conquista ao
eleitorado). Fazem exactamente o contrário: o trabalho de guerrilha. Para o
efeito, usam as televisões e os jornais para promoverem suas acções belicistas.
Isto fragiliza a própria Renamo, daí os desaires nos pleitos eleitorais.
Em face do
acima exposto, termino citando John F. Kennedy “As televisões podem mostrar quem deu o primeiro tiro, mas a história
dirá quem ganhou a guerra.” ZICOMO (Obrigado).
P.S.: Em
Moçambique existe a Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Mas há
muitos moçambicanos que se interrogam qual é o papel dessa instituição, numa
altura em que o país está a ser dilacerado pelo conflito militar.
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