DÁ-SE MUITA PRIMAZIA AOS PRESOS
WAMPHULA FAX – 21.03.2016
Centelha por Viriato Caetano Dias
Os que bons
conselhos dão às vezes fazem-me rir por ver que eles mesmos, são incapazes de
os seguir. Poeta António Aleixo
Quero rapidamente
fazer uma advertência.
Há um
mal-entendido e algum oportunismo à mistura em relação as minhas reflexões.
Como é do
conhecimento da maioria das pessoas, escrevo estas centelhas assinando pelo
próprio nome, não sendo vinculativas à instituição a que pertenço. Aliás, as
instituições têm os seus porta-vozes ou adidos de imprensa e eu não sou nem uma
nem outra coisa.
Eu não posso
dizer senão aquilo que eu próprio penso, fecundado em factos e provas, algumas
das quais indefectíveis. Não escrevo por encomendas. Não escrevo por coação.
Não escrevo para granjear simpatias de quem quer que seja. Sou autêntico e
frontal, o que, neste mundo de abelhas humanas, recomendam prudência redobrada,
ter olhos nas costas e dormir como um crocodilo, sempre de olhos abertos. Por
isso, estou atento a qualquer tentativa de mordaça e lutarei de forma didáctica
e dentro dos preceitos legais contra os meus detractores.
Diz o
brocardo popular que o crime não compensa.
Em
Moçambique, nos dias de hoje, este ditado parece fazer pouco sentido. Os presos
têm regalias do que aqueles que são amigos do sossego e da boa ordem.
Anibalzinho passando a sua classe |
Os nossos
presos são transportados em carros de luxo com sirenes barulhentos para
afastar, coercivamente, da faixa de rodagem os automobilistas. São acompanhados
por um forte aparato de segurança. Não enfrentam congestionamentos nas vias
públicas. Comem sem produzir patavina (SÃO IGUAIS AOS PÁSSAROS: NÃO
SEMEIAM, MAS TAMBÉM NÃO MORREM DE FOME).
Dormem em
lugares seguros e em poltronas quase medicinais. Não pagam impostos. Têm acesso
médico e medicamentoso gratuito. Os serviços de água e de electricidade são “mahala”.
A única
coisa que os presos não podem ter é a liberdade. Essencialmente a liberdade de
deambular neste “Vale de Lágrimas” e com o risco de serem sequestrados ou
mortos por uma bala perdida.
Anibalzinho no conforto da sua cela |
Em
contrapartida, o pacato cidadão que não comete e nunca cometeu um único delito,
que seria incapaz até de matar uma mosca, é transportado em sucatas sem
estatuto de género humano, como se fossem animais irracionais. Estes também
merecem o primoroso respeito da sociedade.
Vulgarmente
conhecidos por “MY LOVE”, esses improvisados meios de transportes
semi-colectivos de passageiros não oferecem conforto nem condições de
segurança. Para os passageiros religiosos do “MY LOVE”, as orações durante o
seu trajecto não cessam até à chegada ao destino. Para alguns polícias de
trânsito, parasitas, o “MY LOVE” é uma mina de diamante.
Ou seja, é
uma fonte de extorsão.
Parasitas
que vivem às custas do sofrimento do nosso povo. O engarrafamento de trânsito, para
o pacato cidadão, é o “pão-nosso de cada dia.”
Para
conseguir uma razoável refeição, o pacato cidadão tem de trabalhar duro e às
vezes durante longas horas de actividade forçada, em jejum. É terrível a vida
de pobre. Dorme em ramadas permeáveis ao frio, calor e chuva.
Anibalzinho com direito a antena na TV |
Para o
pacato cidadão, os impostos e as coimas são uma obrigação para sustentar as
mordomias dos presos. Para conseguir pagar água e luz, o pacato cidadão tem de
fazer uma autêntica ginástica de vida.
Nestas
condições, pode-se afirmar, sem reserva alguma, que vive-se melhor estando
preso do que livre.
Tenho que
concordar, a esse propósito, com Gandhi quando diz “A prisão não são
as grades e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua
e livres na prisão; é uma questão de consciência”.
De facto, as
nossas cadeias são uma academia do crime organizado. São viveiros da
instabilidade. Não há correcção possível, porque falta políticas para o efeito.
Entra-se suspeito ou ladrão de “pilha-galinhas” e sai-se criminoso [convicto].
Em países,
não muito distante do nosso [como o Malawi], os presos produzem para comer. Não
comem para produzir o crime. Produzem para suster as suas próprias necessidades
básicas.
A vida faustuosa dos Satar |
Já agora,
pode-se questionar o seguinte:
O que impede
os nossos serviços penitenciários produzirem energia eléctrica através de
excrementos dos reclusos? O que impede os nossos serviços penitenciários de
abrir machambas e colocar os reclusos a produzir comida?
É uma realidade
irrefutável que, entre os presos, existem aqueles que possuem talento e arte,
então, porque não aproveitar essa mão-de-obra? Porque é que o país continua a
gastar rios de dinheiro com presos quando devia anestesiar as fomes das
crianças desamparadas?
Penso que
estamos a construir no país dois tipos de calabouços. O primeiro, físico, é
onde os prevaricadores cumprem penas ou aguardam julgamento. O segundo,
abstracto, não tem grades, não tem tribunais, não tem juízes, não há sentença.
É a prisão espiritual, “…o mais severo de todos os cárceres.”
Mas o país
não precisa de nenhum dos dois arcabouços. O país precisa de paz. Só com a paz
efectiva e o bem-estar comum pode-se construir um país sem prisões.
ZICOMO
(Obrigado e um abraço nhúngue).
NB: Noto haver insistência no uso indevido da palavra
ZIKOMO. Devo referir que:
ZIKOMO – significa “com licença” ou “com
vossa permissão” em Nyanja ou Chewa;
TATHOKOZA – significa “obrigado” em
Nyanja ou Chewa
TATENDA – Significa “obrigado” em
Chinyungwe
Assim se diz e se escreve nas nossas
línguas Bantu de Tete (Nyungwe).
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