PARADISE PAPERS
Dias antes
do acordo de Moçambique, a Videocon
se recusou a registar empréstimos
RM Kuyeri, 09 de
Novembro de 2017
Quando uma das maiores empresas mineiras do
mundo aparece numa pequena cidade de África, os moradores locais e as
autoridades esperam dela a promoção de uma vida melhor. Aconteceu isso com a Vale Moçambique, a Riversdale, a Rio Tinto,
a JINDAL em Tete, na exploração de
carvão mineral em Moatize e em Cassoca, no Distrito de Cahora Bassa, bem como
em Palma, na Província de Cabo Delgado, onde empresas multinacionais como a ENI da Itália e a ANADARKO dos EUA têm concessões de exploração de gás natural e
petróleo, entre outras multinacionais que exploram rubi em Montepuez naquela
Província.
A história das multinacionais mineiras em
Moçambique não difere da história de Burquina Faso, onde a Glencore tem uma concessão mineira que mostra imagem muito
diferente. Enquanto a Appleby ajuda a
Glencore a reduzir as suas taxas de imposto,
esta, por sua vez, estava a cobrar 950 vezes mais do que cobraria um engenheiro
como seu vencimento trabalhando na mina.
Em seguida, entra em cena o que resta da “selva
indonésia”. O repórter do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ),
Scilla Alecci, visitou a ilha indonésia de Padang e relatou com os moradores da
área concessionada a uma empresa de papel em expansão está devastando o seu
meio ambiente, tal como acontece em Moçambique com as empresas mineiras de
carvão em Tete, que estão a poluir o meio ambiente, havendo já a confirmação
de, pelo menos, a nuvem de poeira de carvão ter vitimado 15 pessoas em Cassoca,
para além de animais domésticos perecidos.
Enquanto isso, nos EUA, a história de Wilbur
Ross continua a constar de matéria de alguns tablóides, em África nada acontece
com estas multinacionais. O próspero ex-Senador Presidencial, Bernie Sanders, já
requereu uma investigação sobre a evasão fiscal no exterior. Os nossos
deputados em África, em particular em Moçambique, nada reagem e estão ocupados
por melhorar a sua dignidade adquirindo os últimos modelos de viaturas Mercedes Benz a custa do sacrifício do
sempre e secularmente martirizado povo, que se diz ser Patrão.
Segundo Jay Mazoomdaar, repórter do The Indian Express, a 28 de Dezembro de
2012, a VHHL vendeu as acções da VMRL com um “lucro não realizado” de
USD2.141.15 milhões para a sua subsidiária integral VMEL e celebrou
contrato-promessa para a aquisição das acções da VMEL pela SCB.
Após a finalização de um acordo para a venda
dos seus activos petrolíferos em Moçambique, a favor da ONGC Videsh Ltd e Oil India
Ltd em 2013, o Grupo Videocon
procurou minimizar a exposição da dívida em documentos e não registou os empréstimos
acordados entre os grupos envolvidos, fornecidos pela sua empresa emblemática Videocon Industries Ltd à sua
subsidiária Videocon Moçambique Rovuma 1
Ltd (VMRL), apesar dos aviso sobre as consequências do não cumprimento dos
prazos regulamentares avançados pela empresa de advogado offshore Appleby.
Os registos da Appleby mostram que a Videocon
estava “hesitante em referir-se ao valor garantido de USD880 milhões ou USD856
milhões”, enquanto aumentava o empréstimo do Standard Chartered Bank (SCB) em Junho de 2013 e as “partes
concordaram, em princípio, que se referirão ao actual pendente de USD306
milhões e mais juros, custos, etc.”.
Os dados mostram que o grupo insistiu em que
os empréstimos concedidos pela subsidiária Videocon
Mauritius Energy Ltd, subsidiária da Videocon
Industries Ltd, à sua subsidiária VMRL “seriam evidenciados apenas por
inscrições contabilísticas do empréstimo essencialmente transferido de um único
provedor de empréstimos entre as empresas para a Videocon Mauritius Energy Ltd e os livros de escritura iriam
reflectir isso e que nenhum documento de empréstimo formal estaria disponível”.
No entanto, a Appleby advertiu que “a prática acima mencionada por parte de uma
determinada entidade das Maurícias não é uma boa e pode dar origem a transacções”
que carecem de substância “numa perspectiva corporativa, fiscal e contabilística
nas Maurícias, o que pode criar problemas para a empresa em relação aos
reguladores e outras autoridades locais, caso a consulta seja necessária”.
Consequentemente, a Appleby informou que a Videocon deveria documentar qualquer
empréstimo dos accionistas, “não só como prática recomendada, mas, mais
importante ainda, para garantir que seja compatível com as leis aplicáveis”.
Em resposta, a Baker & McKenzie.Wong & Leow, de Singapura, uma empresa
membro da Baker & McKenzie
International, escreveu, em nome do banco, que iria garantir o empréstimo:
“Estamos discutindo a documentação relativa ao empréstimo da VMRL com a Videocon - como no mínimo nos estão a
solicitar para que o VMRL forneça uma nota promissória que evidencie a dívida”.
De acordo com um acordo base de 2010
entre a Venus Corporation Limited,
uma empresa subsidiária da Videocon
incorporada nas Ilhas Cayman e a SCB como banco facilitador da transacção, a
outra subsidiária da Cayman, a Videocon
Hydrocarbon Holdings Limited (VHHL), assinou um contrato de facilidades de
USD800 milhões em Março de 2011, entregando títulos de acções da VMRL, como
revelam os registos da Appleby.
A 28 de Dezembro de 2012, a VHHL
vendeu as acções da VMRL por um “lucro não realizado” de USD2.141.15 milhões
para a sua subsidiária integral VMEL e prometeu acções da VMEL para a SCB.
Entre Março de 2011 e Maio de 2013, o acordo de facilidades da VHHL foi
alterado e aumentado pelo menos oito vezes. Posteriormente, a Videocon procurou alterar os encargos
fixos e flutuantes sobre as acções garantidas da VMRL para abonar os
empréstimos de accionistas concedidos pela VMEL à VMRL.
A 17 de Junho de 2013, a Baker & McKenzie.Wong & Leow
informou a Appleby, através de um e-mail, que a SCB estava a discutir uma
proposta para “potencialmente” estender a data do termo das facilidades
concedidas a SCB-VHHL de 28 de Junho para 30 de Setembro daquele ano. “Pode
haver um aumento das facilidades de avisos de cobrança dos valores para
Moçambique, como foi o caso do aumento anterior de USD56 milhões, o que ainda
não foi confirmado e a SCB voltará a isso”, referia-se o e-mail.
A 25 de Junho de 2013, a Videocon assinou o acordo para a venda
de toda a participação realizada na Videocon
Mozambique Rovuma 1 Ltd pela VHHL através da sua subsidiária integral VMEL
da ONGC Videsh Ltd e da Oil India Ltd.
Em Dezembro de 2008, a Videocon adquiriu 10% da participação no
Rovuma Offshore Area 1 Block em
Moçambique da Anadarko Petroleum
Corporation dos EUA, através da VMRL, incorporada à BVI, anteriormente denominada
Videocon Energy Resources Ltd.
O Conselho de Administração da Videocon aprovou a divisão e a venda dos
seus activos de petróleo e gás em Agosto de 2012. O Standard Chartered Plc foi designado assessor da venda que foi
encerrada com o pagamento de USD2.475 mil milhões em Janeiro de 2014.
Incorporado nas Ilhas Cayman em 2005, a Venus Corporation Ltd (VCL) era uma subsidiária integral da Videocon Industries Ltd (VIL) até Novembro de 2009, após o que a VIL manteve participação de 19% na VCL.
A Videocon Oil Ventures Ltd é a única accionista da VHHL, uma empresa Cayman criada em 2009. De acordo com o seu site, a VHHL, através das suas diversas subsidiárias e afiliais, detém interesses em várias concessões internacionais de petróleo e gás no Brasil, Indonésia e Timor-Leste.
Em resposta, o Presidente do Grupo Videocon, Venugopal N Dhoot, e o Director
Anirudh V Dhoot não responderam aos e-mails,
mensagens e telefonemas do The Indian
Express procurando os seus comentários sobre o assunto.
Comentários
Enviar um comentário