PROCURADORA DE TETE FORJA ATESTADO
MÉDICO, PROMISCUE-SE COM POLÍTICA E JUNTA-SE AO CONGRESSO DA FRELIMO
Por Emildo Sambo, @verdade, 02 de Outubro de 2017
A Procuradora
distrital de Tete, Ivánia Taibo Mussagy, forjou um atestado médico para poder
se deslocar à cidade da Matola, Província de Maputo, onde participou no 11º
Congresso da Frelimo, pontapeando, desta forma, o Estatuto dos Magistrados
Judiciais, o qual, entre outros impedimentos, veda aos magistrados judiciais a
militância activa em partidos políticos. Todavia, mesmo ciente de que a sua
presença no referido evento – que decorreu de 26 de Setembro último a 01 de
Outubro corrente – era inadmitida, a magistrada mandou aquela norma às favas e
andou de lés a lés no recito da Escola Central da Frelimo, fez poses e
deixou-se fotografar.
O resultado
dessa vaidade, em jeito de show off,
não tardou: alguns retratos de Ivánia Mussagy, trajando capulanas de farda e
camisetas com timbres do 11º Congresso, que os camaradas escolheram para o
histórico evento do partido/Estado [o Presidente Filipe Nyusi tenta tapar o sol
com a peneira alegando isso não existe, mas a prática o desmente], foram parar
nas redes sociais, de onde correram o país.
“O partido
não dirige o Estado (...). O partido age para influenciar a actividade do
Estado e das autarquias locais”, disse Nyusi, no seu discurso de abertura do
congresso em alusão.
O Estatuto
dos Magistrados Judiciais, aprovado pela Lei nº 7/2009, de 11 de Março, impõe,
no seu artigo 37, sobre a “actividade política”, que “é vedado aos magistrados
judiciais o exercício de cargos partidários e de militância activa em partidos
políticos, bem como a proferição pública de declarações de carácter político”.
Ademais, o
artigo 36 da mesma norma, sobre “incompatibilidade”, determina que “os
magistrados judiciais em exercício não podem desempenhar quaisquer outras
funções públicas ou privadas, excepto a actividade de docente ou de
investigação jurídica, ou outra de divulgação e publicação científica,
literária, artística, técnica mediante prévia autorização do Conselho Superior
da Magistratura Judicial”.
Reagindo à
presença da sua correligionária no 11º Congresso – um evento claramente
político e partidário – António Niquice, porta-voz da Frelimo, alegou, em
conferência de imprensa, no sábado (30), que nenhuma pessoa é proibida de se
filiar a um partido político, independentemente do cargo ou função que desempenha
no Aparelho do Estado.
De acordo
com aquele porte-parole, a liberdade
de filiação e associação a um partido político “é um direito constitucional
(...) que assiste a qualquer indivíduo enquanto cidadão”.
Na óptica de
Niquice, as pessoas que participarem no 11º Congresso o fizeram “na qualidade
de cidadãos moçambicanos” e não estavam lá “necessariamente associadas a
qualquer função que exercem [na Administração Pública], porque a Lei Mãe
[Constituição da República] está acima de qualquer outro ordenamento jurídico
infra-constitucional”.
Atestado
médico falso (?)
Circulou
igualmente nas redes sociais um atestado médico, supostamente falso, no qual se
indica que Ivánia Mussagy foi “observada numa consulta de Cirurgia I” e
constatou-se que ela estaria “provavelmente impossibilitada de comparecer ao
serviço até ao dia 30 de Setembro de 2017 [curiosamente sábado e penúltimo dia
do 11º Congresso]”.
O documento
a que o @Verdade se refere foi escrito a 21 de Setembro do ano em curso
[quinta-feira] e assinado pelo médio cirurgião Ra Yong Il, afecto ao Hospital
provincial de Tete (HPT), e ostenta o carimbo desta mesma unidade sanitária.
Neste contexto, a interpretação que se pode fazer, relativamente aos factos
acima expostos, é de que a Procuradora Ivánia Mussagy forjou um atestado médico
para satisfazer os seus desígnios de estar presente no congresso do seu
partido.
Descuidada,
a magistrada fez, deliberadamente, coincidir o dia em que cessa a sua alegada
impossibilidade de comparecer ao serviço com um sábado, dia da semana em que
ela não trabalha e que precedeu imediatamente o último dia do 11º Congresso.
Mas que
bandalheira é esta protagonizada por uma guardiã da legalidade, da qual se
esperava decoro na sua conduta? Portanto, em nenhuma parte do atestado médico
em questão é indicado que a visada foi transferida para Maputo, para efeitos de
tratamento, uma vez estando pretensamente doente.
Ivánia Mussagy já mandou prender um
camarada
A 26 de
Setembro de 2013, Ivánia Mussagy mandou prender o candidato do partido Frelimo
à Presidência do Município de Moatize, em Tete, Carlos Portimão, acusando-o de
tentar suborná-la pelo valor de cinco mil meticais, em notas.
O facto
aconteceu por volta das 11h00, no gabinete da magistrada, para onde o seu
correligionário fora para tentar negociar a soltura do seu sobrinho que se
encontrava detido na cadeia distrital de Moatize.
Chegado ao
gabinete de Ivánia, Carlos Portimão tentou convencer a magistrada a soltar o
seu parente e, na circunstância, desembolsou cinco mil meticais para aliciar a procuradora.
Esta recebeu o dinheiro e, acto contínuo, chamou os agentes da Polícia da
República de Moçambique (PRM) a quem instruiu que prendessem o infractor, pois tratava-se
de flagrante delito.
Aliás,
Portimão é também membro da PRM e à data dos factos estava afecto na Polícia de
Trânsito (PT) em Moatize. Ele deixou a corporação para poder candidatar-se pelo
partido Frelimo, pouco tempo depois de ter sido promovido a sargento.
A prisão de
Carlos Portimão deveu-se, no entender de Ivánia, à falta de ética e rectidão,
qualidades de que aparentemente ela própria está despida.
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