AINDA SOBRE O ASSASSINATO DE
VALENTINA GUEBUZA (2)
Nini Satar
Há-de convir
boa gente que este assunto ainda merece destaque, não pelo facto de a vítima
ser filha do então Presidente da República, mas, sobretudo, por se
alegar tratar-se do zénite da violência doméstica. Já vos mostrei qual é
o meu posicionamento referente ao assunto (violência doméstica). Abomino-a com
todas as minhas forças!
Hoje,
trago-vos, em primeira mão, a acusação da defesa da vítima. De salientar
que quem abriu queixa contra Zófimo Muiuane não foi Armando Emílio Guebuza (pai
da vítima), mas sim o seu filho Mussumbuluko Guebuza. Para o efeito,
nomeou dois advogados São eles os doutores Alexandre Chivale e Isálcio Mahanjane.
Se há dias,
no meu post, escrevi que Zófimo Armando Muiuane era acusado pelo Ministério
Público (MP) pelo suposto assassinato da sua consorte, Valentina Guebuza, a
defesa acrescenta-lhe outras acusações de uso de documento falso e espionagem.
Juntando os argumentos
do Ministério Público e da defesa da vítima, entende-se que Zófimo Muiuane só
irá escapar a uma condenação certa por milagre. Há aqui argumentos
demolidores.
Por outro
lado, sem querer especular, Zófimo e Valentina eram casados em regime de separação
de bens. Em caso de divórcio, quem sairia a perder nesta relação era sem dúvida
Zófimo. Os bens que Valentina tinha são incontáveis. Terá sido esse o
motivo que o levou supostamente a assassiná-la? Caberá ao tribunal provar…
O que temos
em comum na acusação do MP e da defesa é que o casamento de Zófimo e
Valentina não era saudável. Dai que no referido encontro que o casal manteve
com os padrinhos, ela solicitou que o esposo abandonasse a casa que, afinal,
era propriedade dela. Zófimo não aceitou, alegadamente porque havia
arrendado a sua casa e não tinha onde morar.
Compulsando
a acusação, a dado passo diz que “depois do encontro com os padrinhos,
Valentina disse a Ajudante de Campo (ADC), de nome Raquel, que devia estar
preparada para a acompanhar de saída daquela casa, porque tinha
consciência do perigo que corria, preferindo, deste modo, afastar-se do
arguido, tendo, igualmente, por volta das 21H 10 do dia 14 de Dezembro de 2016,
enviado mensagens, SMS, para o seu irmão Mussumbuluko e para o sobrinho Osvaldo
Nhanala, com expresso pedido de se lhe reforçarem a segurança, para a
escoltarem no acto de saída da sua casa para a casa do seu pai, na
Friedrich Engels ”.
A defesa da
malograda refere que o encontro com os padrinhos não foi, de todo, pacífico.
Talvez, foi o que acendeu o rastilho. Daí que Valentina tenha avisado os demais
para a auxiliarem em caso de necessidade. Ademais, os autos referem que o
arguido “participou (em sua própria casa) do encontro, com a sua esposa e
padrinhos, armado e com uma bala na câmara o que agudiza as suspeitas sobre os
seus reais intentos naquela noite”.
A defesa
refere , por outro lado, que Valentina, nos últimos dias, até evitava o marido,
optando, “vezes sem conta, passar refeições separado deste, para além de ter
confidenciado ao seu sobrinho, Osvaldo Nhanala, que o casamento dela estava em
crise, que era vítima de violência doméstica, protagonizada pelo arguido, a
ponto de proferir, nalgumas ocasiões, ameaças, como sejam e citamos: ' não me
queiras como teu inimigo; vou-te enviar filmes versando sobre os crimes
passionais; tu levas a vida profissional como se ainda de solteira se
tratasse', à mistura com insinuações, pelo arguido, de que ela mantinha alguma
relação extraconjugal, sem nunca provar ”.
Portanto,
naquele fatídico dia, uma vez ambos no quarto, após a saída dos padrinhos,
provavelmente porque Valentina estava predisposta a sair de casa, “o arguido
desferiu um soco na parte superior esquerda da cabeça da esposa e com a coronha
da pistola que portava, atingiu, com uma certa violência, a face lateral
esquerda da cabeça de Valentina, o que afectou principalmente a sua
estabilidade e consciência ”.
Argumenta a
defesa que sem a possibilidade de Valentina se defender, Zófimo “com
recurso a uma arma de fogo de tipo pistola, marca Pietro Beretta, n° G58833W,
calibre 7,65, deferiu vários tiros, tendo dois deles atingido, mortalmente, sua
esposa, Valentina da Luz Guebuza!”.
Os autos
referem que foi a ADC Raquel e a ama da filha de Valentina que ao ouvirem os
gritos correram até ao quarto do casal. Na altura encontraram Valentina a
esvair-se em sangue e em agonia. A pistola estava próximo da vítima.
Estranhamente,
dizem os autos, foi a mesma Raquel e a ama que saíram em busca de socorro.
Zófimo permanecia ali, assistindo tudo.
Há ainda o
relatório da autópsia que é citado pela defesa. Ele nega que os disparos hajam
sido feitos numa disputa e “nem sequer à curta distância, e que consideradas as
zonas corpóreas atingidas, revela clara intenção do arguido de produzir o
efeito morte”.
Salientar
que o arguido foi treinado como fuzileiro.
Os autos
revelam que o arguido nada fez para socorrer a vítima, aliás, durante o
interrogatório, foram dele as palavras de que recolheu os projécteis e cápsulas
e jogou-os janela afora. Ademais, as viaturas, tanto da vítima assim como do
arguido, estavam parqueadas por perto, mas Zófimo não tentou sequer socorrer a
esposa e levá-la ao hospital próximo. Ficou a assistir tudo!
Acima referi
que ele é acusado, para além deste crime, de uso de identidade falsa. É que
durante as buscas feitas à sua residência, teriam encontrado um documento de
identidade sul-africano, com a fotografia de Zófimo, mas com o nome de
Washington Dube. O arguido não clarificou como é que adquiriu aquele documento.
É ainda acusado de ter criado uma empresa de espionagem junto com dois sócios
coreanos.
A procissão
ainda vai ao adro. E eu, Nini Satar, trarei novidades sobre este assunto,
sempre que os tiver.
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