O
VALOR DE UM GRUPO
(Ode
ao Dia da Família)
RM
Kuyeri, 15 de Maio de 2019
Chandenkha,
comparecia assiduamente às reuniões de um grupo de amigos lá na
remota aldeia de Katatcha e, sem comunicar a ninguém, deixou de
participar das suas actividades, mesmo nas chamadas ndomba,
onde as pessoas se solidarizavam em trabalhos colectivos de lavoura
para no fim deliciarem bwadwa,
pombe
ou cerveja em língua local.
Depois
de algumas semanas, seu amigo M’pheledjunje, integrante do grupo,
decidiu visitar Chandenkha. Era uma noite de muito frio de Junho.
Ele encontrou o amigo na sua casa, sozinho, sentado diante de uma
lareira que localmente chamam chiwala,
onde o fogo de troncos de mulangani
estava a brilhar e acolhedor, pela sua especial característica de
não exalar fumaça.
Adivinhando
o motivo da visita de M’pheledjunje, o amigo Chandenkha lhe deu as
boas vindas e, aproximando-se da lareira, lhe ofereceu um banco
grande junto a lareira e ficou quieto. Chandenkha esperou que
M’pheledjunje, com a sua característica petulância, lhe dissesse
algo, talvez espectacular.
Estranhamente,
nos minutos seguintes houve um grande silêncio. Os dois amigos
apenas admiravam a dança das chamas que os troncos de lenha de
mulangani
expeliam à medida que eram consumidos pelo fogo e ambos iam
ajuntando-os para avivar as chamas.
Depois
de alguns minutos, o amigo visitante M’pheledjunje examinou as
brasas que se formaram e, cuidadosamente, levantou-se. Escolheu uma
das brasas que estava no centro com um pauzinho. Era a mais
incandescente de todas e brilhava cintilante que nem uma estrela lá
do alto. Empurrou-a para fora da labareda do fogo. Sentando-se
novamente, permaneceu silencioso e imóvel enquanto ambos
contemplavam aquela brasa isolada.
O
anfitrião Chandenkha prestava muita atenção a tudo. Sentiu-se
fascinado, mas também manteve-se quieto. Dentro de pouco tempo, ele
notou que a chama da brasa solitária ia diminuindo, até que, após
um brilho discreto e momentâneo, o seu fogo se apagou num instante
tão mínimo que o tempo que esperava.
Em
tão pouco tempo, o que antes era uma brasa cheia de calor e luz,
agora não passava de um simples carvão frio e morto. Cobriu-se de
uma espessa camada de cinza bem branca e finíssima, daquela
qualidade para preparar o prato de usika
ou tamarino. Tanto Chandenkha como M’pheledjunje engoliram
involuntariamente a saliva que se fez na boca ao recordar do prato de
usika.
Mas nenhuma palavra tinha sido pronunciada desde a protocolar
saudação inicial entre os dois amigos.
Antes
de preparar-se para se ir embora, o amigo visitante M’pheledjunje
movimentou novamente o pedaço de carvão já apagado, frio e inútil,
colocando-o novamente no meio do fogo. Quase que instantaneamente,
aquele carvão voltou a desprender-se numa nova chama cintilante e
bem brilhante, alimentado pelo calor das labaredas das outras brasas
ao seu redor.
Quando
o amigo visitante M’pheledjunje se levantou para ir-se embora, seu
anfitrião Chandenkha também se levantou e disse, colocando a sua
mão direita no ombro de M’pheledjunje:
-
Obrigado pela sua visita e pelo belíssimo sermão, meu caro amigo
M’pheledjunje. Prometo-te que retornarei ao nosso grupo de amigos
que sempre me faz muito bem.
MORAL:
O membro de um grupo de amigos é sempre como uma brasa em chama no
meio de outras brasas numa lareira. Quando fora grupo, perdemos todo
o brilho como o apagar da brasa fora da labareda. Cada membro de um
grupo de amigos é uma chama responsável pelo brilho de todos os
integrantes do grupo e deve promover a união de todos para que a
lareira se mantenha viva. O grupo, tal como uma família, se mantém
com a chama acesa quando os seus membros não esquecem que todos são
importantes na vida. Nenhum de nós é melhor que todos nós juntos.
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