AS ASAS DA VIRGINDADE”!
(Mia Couto)
RM Kuyeri, 23 de Maio de 2019

Rebusquei este texto na lixeira digital das minhas leituras de lazer. O motivo foi que, quando esta manhã conduzia para o serviço, afrouxei-me na esquina entre as avenidas Josina Machel e Mohamed Siad Bare para proceder a uma manobra segura. Pois, trata-se da hora de ponta em que todos estão às correrias da cidade de Maputo para os seus postos de trabalho.

Eram já 07:10 horas, quando os alunos da Escola Secundária Francisco Mayanga, onde estuda o meu filho caçula (de Kasule, em língua Kimbundu de Angola), deviam estar nas respectivas salas de aulas.

Estava eu bem enganado. Avistei um casalinho de estudantes, bem uniformizado. Estava encostadinho entre o muro da escola e uma acácia. A menina de costas para o muro da escola, fazendo da sua mochila escolar de almofada, e o rapaz de costas para a acácia, também com a sua mochila às costas. O casalinho estava ali aos beijos e roços da madrugada, com as suas pernas bem entrelaçadas. Aquele casalinho pouco se lixava dos transeuntes em viaturas e peões, àquela hora de muita lufa-lufa.

Veio à minha mente a ideia de que, de facto, há muito que a virgindade crescera asas e tinha voado para os tempos memoriais da nossa juventude, quando o pudor ainda nos governava, mesmo na imensidão da escuridão, e quando até meninas e meninos daquela idade partilhavam a mesma esteira e cobertor sem nenhum problema. No dia seguinte se discutia quem teria feito xi-xí na esteira durante a noite.

Estas lembranças lúgubres me motivaram a recordar do texto do nosso ilustre escritor Mia Couto que escreveu o seguinte:

Já lá se foram os tempos em que ser virgem era sinónimo de orgulho, pois hoje, com 15 anos, até se faz sexo anal e oral. Orgulha-se das coisas vergonhosas e tem-se vergonha das coisas das quais devíamos todos nos orgulhar.

Enquanto certos pais olham para as filhas como crianças, elas olham para os titios como homens e vêm neles os tais ‘gatos’: que miam nos seus órgãos genitais em troca de Mb's, luxos, sorvetes e pizzas. Tão novas, mas por dentro estão destruídas, porque adiaram o adiamento do sexo e tão cedo deram asas à virgindade e deixaram de ser crianças, passando para mulheres sem antes terem vivido a fase de pura adolescência! Fornicam em todo o lugar, até no WC da igreja, quando vão à catequese.

É só espreitares o perfil da tal menina de 17, que saberás o quanto ela é, xocolatinha, chata, linda e gostosa! Mal sabe lavar o ânus, mas sabe dizer que os homens não prestam, e a pergunta que não se cala é: ‘Quando é que viveram a tal experiência, que lhes levou a constatar que os homens não prestam, afinal só são crianças?’

É triste olhares para uma menina e ver uma criança, uma irmã, filha, sobrinha ou vizinha, que devia dizer ‘bom dia tio ou mano’!. E por sua vez ela ver em ti ‘um gato’ digno da sua ratinha, e te mandar um ‘oi’ com cara de charme condimentado pelo ranho da adolescência.

Muitas envelhecem precocemente devido aos abusos, até porque, para além de abraçar cedo a vida sexual, são chamas da unidade e passam de mão em mão. Namoram com o João, porque é lindo, com o Sérgio, porque tem corpo de atleta, com o Abdul, porque é mulato ou branco, com o Victor, porque a casa dele é a mais linda da sua rua, com o vovô, porque dá mesada, tem carro e oferece presentinhos de luxo.

Quando se dão conta, já contraíram doenças, interromperam os estudos para cuidar dos filhos. O seu futuro ganhou asas e voou para ir fazer companhia à virgindade no abismo.

Quando está diante dos pais, ela é uma santinha, e eles nem desconfiam que a filha até é membro de um grupo de WhatsApp, cujo fulcro é o sexo. Só Deus para dar a luz à essas meninas que o diabo as manipula, fazendo delas seus objectos de prazer, arrastando-as à prostituição, às drogas e às baladas.

Oremos por elas, porque precisam de se reconciliar com Deus!”

Comentários

Mensagens populares deste blogue