A RETALIAÇÃO DESTRÓI E A TOLERÂNCIA CONSTRÓI
(Adaptado de uma história real)
R.M. Kuyeri, 09 de Abril de 2019

Se o malogrado Presidente sul-africano, Nelson Mandela, é um dos legendários da história africana muito impressionante, ele não deixa de ser o ídolo mundial de referências morais e éticas muito pessoais que caracterizaram o seu único mandato como estadista, após a derrocada do regime do Aparheid que o manteve como prisioneiro político durante 27 anos em Robben Island.

Durante os pouco mais de dois anos que estive em Pretória, a capital da África do Sul, ao serviço do Alto Comissariado de Moçambique na África do Sul, como Primeiro-Secretário, muito ouvi falar de Nelson Mandela de cidadãos dos vários extractos e raças. Mas todos eles o referiam com certa reverência, respeito e estima. Principalmente após a sua morte, a 05 de Dezembro de 2013, quando testemunhei a dor e nostalgia em cada semblante de cada cidadão sul-africano.

Diga-se que Nelson Rolihlahla Mandela, de seu nome completo, nascido a 18 de Julho de 1918, em Mvezo, na África do Sul, foi um revolucionário, um líder político e um filantropo sul-africano que foi o Primeiro Presidente da África do Sul logo após o regime de Apartheid, entre 1994 e 1999. Ele foi o Primeiro Chefe de Estado negro daquele país africano de maioria negra e o primeiro eleito em pleito genuinamente democrático totalmente representativo.

Um dos factos mais importantes que admiro do seu magnânimo carácter de personalidade universal é o grande sentido de perdão aos seus inimigos históricos, sem recalcamentos, como ilustra a pequena estória que se segue, contada em primeira pessoa:

Depois que me tornei Presidente, um dia pedi a alguns dos membros da minha segurança pessoal para passearem comigo na cidade e almoçar num dos restaurantes. Estava tão desejoso de me sentir realmente um cidadão livre como tantos outros meus compatriotas anónimos. Aliás, esta foi uma das razões que me levou a declinar concorrer para um segundo mandato. Sempre quis ser um cidadão comum após a minha prisão em Robben Island.

Nós nos sentamos num dos restaurantes comuns do centro da cidade e todos nós pedimos algum tipo de comida do seu gosto.

Depois de um tempo, o servente nos trouxe os nossos pedidos. Então notei que havia alguém sentado a só numa mesa à frente da nossa mesa e à espera do seu prato. Eu instruí a um dos meus agentes de segurança para ir e solicitar aquela pessoa para se juntar a nós e comer connosco.

O agente foi e instou ao homem para fazer exactamente o que eu lhe tinha instruído. O homem trouxe o seu prato de comida e sentou-se na cadeira que lhe tinha reservado ao meu lado e começou a comer em silêncio. As suas mãos tremiam constantemente e ele estava suando profusamente. Mesmo assim conseguiu, de alguma forma, terminar a sua comida e saiu.

Um dos agentes de segurança então comentou dizendo que o homem parecia estar bastante doente. Pois, as suas mãos tremiam enquanto comia, embora não aparentasse ser muito velho.

Eu expliquei-lhe dizendo que o homem não estava doente, nem era assim tão velho. Disse-lhe que aquele homem que acabava de comer, justamente ao meu lado, era um dos guardas na prisão onde passei os 27 anos de cadeia como prisioneiro político do regime de Apartheid.

Além disso, contei ao meu pessoal de segurança que muitas vezes, após sofrer as torturas na prisão, dos seus colegas, eu costumava gritar e pedir-lhe um pouco de água. Este mesmo homem se aproximava junto de mim e, em vez de me dar água, urinava na minha cabeça. É por isso que ele estava a tremer por saber que, aquele prisioneiro político que andou a maltratar na cadeia de máxima segurança em Robben Island, agora é o Presidente dele.

O homem esperava que eu o retaliasse, já que agora sou o Presidente da África do Sul. Mas isso não é o meu carácter nem parte da minha ética. Isto porque, a mentalidade de retaliação destrói os Estados, enquanto a mentalidade de tolerância constrói as Nações. Eu sempre quis construir uma África do Sul como nação do futuro, sobre os escombros do Apartheid”.

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