@verdade, 23 de Julho de 2017

As apurações do caso Lava Jato nos 12 países da América Latina e África, nos quais a Odebrecht confessou ter pago subornos, variam de investigações vigorosas a uma total omissão de alguns governos. Veja como está a situação em cada um desses países em reportagens elaboradas por integrantes do grupo internacional de jornalismo colaborativo "Investiga Lava Jato", do qual participam 21 repórteres de 11 países.

ARGENTINA
Por Emilia Delfino (Diário Perfil)

A Odebrecht confessou ter pago, pelo menos 35 milhões de dólares norte-americanos ao país, mas ainda não há confirmação oficial dos beneficiários dos pagamentos.

Três obras da empresa estão na mira por suposto super-facturamento, cartelização e subornos: uma estação de tratamento de água, um caminho-de- ferro e a ampliação de gasodutos.

O caso envolve directamente ex-funcionários do casal Kirchner e o primo do Presidente Maurício Macri, Ângelo Calcaterra, um ex-sócio da Odebrecht. A principal dificuldade no país é o facto de a legislação argentina não permitir um acordo nos mesmos termos em que foi feito no Brasil. Também são investigadas as empresas Camargo Correia, Techint e Contreras Hermanos.

BRASIL
Por Flávio Ferreira (Folha de São Paulo)

A condenação do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro é a principal decisão judicial da Operação Lava Jato no Brasil até agora. O caso também levou à apresentação de denúncia criminal contra o Presidente da República Michel Temer, acusado sob a suspeita de corrupção passiva.

A Procuradoria-Geral da República alega que Michel Temer actuou para favorecer os negócios do empresário Joesley Batista, da empresa JBS. Agora estão em curso negociações de delação premiada na Procuradoria com duas grandes construtoras brasileiras, a OAS e a Queiroz Galvão.

COLÔMBIA
Por Colombiacheck

O escândalo na Colômbia deixou até agora oito pessoas na prisão ou as submeteu a medidas de segurança, enquanto outras 13 são acusadas de vários delitos. O funcionário de nível mais alto que está na prisão e confessou sua culpa é Gabriel García Morales, ex-Vice-Ministro dos Transportes na Presidência de Álvaro Uribe.

O ex-senador Otto Bula Bula também está preso, embora tenha se declarado inocente. A Procuradoria colombiana também pediu à Corte Suprema de Justiça do país que investigue o deputado Bernardo Miguel Eliás Vidal e o ex-deputado Plinio Olano.
 
As ex-ministras colombianas Gina Parody e Cecilia Álvarez, por sua vez, foram submetidas a um processo disciplinar.

EQUADOR
Por Christian Zurita (Mil Hojas)

A Odebrecht foi expulsa do Equador em 2008, porque a construtora se negou a executar reparos numa central hidroeléctrica. Mas em 2011 a empresa voltou e conseguiu fechar contratos no valor de 4 biliões de dólares norte-americanos.
 
É sabido hoje que as obras foram super-facturadas em não menos do que 553 milhões de dólares norte-americanos e que o principal envolvido até o momento é Ricardo Rivera Arauz, tio materno e homem de confiança do Vice-Presidente do Equador, Jorge Glas Espinel.

O Ministério Público acusou Rivera de ter recebido 1% do valor de cada contrato e adendos. Foram abertas sete investigações. Sete pessoas estão detidas e uma está foragida: o Inspector-Geral do Estado, a maior autoridade responsável pela auditoria de recursos.
 
GUATEMALA
Por Daniel Villatoro (Plaza Pública)

Na Guatemala ainda não foram revelados os nomes dos beneficiários de pagamentos de subornos da Odebrecht. A investigação está sob responsabilidade da Comissão contra a Impunidade na Guatemala, ente financiado pela ONU.

As autoridades dizem que a apuração está sob sigilo e só revelam que o país tem um convénio com as autoridades brasileiras para compartilhar informações.

Em Dezembro de 2014, no Gabinente do presidente da empreiteira OAS foi encontrado um papel com o nome do então Ministro de Obras Públicas e futuro candidato à Presidência: Alejandro Sinibaldi, que já foi acusado de aceitar subornos dos fornecedores de sua gestão.
 
MÉXICO
Por Raúl Olmos (Mexicanos Contra la Corrupción y la Impunidad)

As autoridades mexicanas decidiram impor uma estratégia de silêncio no caso Lava Jato, para evitar que o escândalo de corrupção internacional ecoe na opinião pública do país. Além disso, a investigação avança muito lentamente.

O pouco que se conseguiu saber sobre o caso foi descoberto por investigações jornalísticas, principalmente da revista "Proceso" e da organização Mexicanos contra a Corrupção e a Impunidade (MCCI). Graças a essas investigações, sabe-se hoje que a Odebrecht recebeu privilégios no Governo do Presidente Felipe Calderón (do Partido da Acção Nacional), que tolerou o não cumprimento de contratos e autorizou ampliações de contratos e pagamentos ilegais.
 
PANAMÁ
Por Investiga Lava Jato

No Panamá, o Ministério Público criou a Procuradoria Especializada Anti-Corrupção para investigar o caso. No dia 24 de Janeiro, a Procuradoria formalizou acusações contra 17 pessoas por lavagem de dinheiro, entre elas empresários e ex-funcionários.

Embora as identidades dos acusados não tenham sido reveladas, a lista inclui dois filhos do ex-Presidente Ricardo Martinelli, Ricardo e Luis Enrique Martinelli Linares, além dos sócios da firma Mossack Fonseca, especializada em criar offshores, Ramón Fonseca Mora e Jürgen Mossack. Foram abertos 24 processos, e 36 pessoas estão sendo processadas. O Ministério Público ainda não fechou um acordo com as autoridades do Brasil.

PERU
Por Óscar Libón (Convoca)

Os promotores da força-tarefa da Lava Jato no Peru têm 40 investigações nacionais abertas ligadas à suposta corrupção de empresas brasileiras no país durante os últimos três mandatos presidenciais. Entre os investigados figuram os ex-Presidentes Alejandro Toledo, Alan García e Ollanta Humala, além de ex-ministros, um vice-ministro, altos funcionários do Ministério dos Transportes e Comunicações e outros órgãos, bem como autoridades municipais e regionais, empresários e advogados.

Humala foi preso e Alejandro Toledo está foragido nos Estados Unidos da América. O caso também está sendo investigado pelo Congresso há seis meses, e a apuração foi prorrogada até 2018.

REPÚBLICA DOMINICANA
Por Investiga Lava Jato

A República Dominicana é um dos países cujas autoridades fecharam acordo de delação premiada com a empreiteira Odebrecht desde Dezembro do ano passado, quando a empresa assinou os termos de colaboração com o Brasil, a Suíça e os Estados Unidos da América, nos quais admitiu o pagamento de subornos em 12 países.

A medida resultou na prisão, em Maio último, do Ministro da Indústria e Comércio, Juan Temístocles Montás, e outras sete pessoas sob acusação de receber suborno da empreiteira.

No último domingo, 16 de Julho de 2017, milhares de dominicanos protestaram contra a corrupção e exigiram que o Presidente Danilo Medina seja processado por obstrução da Justiça.

VENEZUELA
Por Lisseth Boon y Jesús Alberto Yajure (Runrunes y El Pitazo)

Ainda existe a expectativa de serem conhecidos os "nomes da Odebrecht" na Venezuela.

Delações Premiadas no Brasil revelaram, em Maio último, que o Presidente Nicolás Maduro teria repassado, em 2012, quando ocupava o cargo de Chanceler, pelo menos US$11 milhões em espécie das empresas Odebrecht e Andrade Gutiérrez a Mônica Moura, mulher do publicitário João Santana, estrategista e assessor da campanha presidencial de Hugo Chávez em 2012.

Ainda não houve reacções oficiais na Venezuela às revelações do projecto "Investiga LavaJato" que comprovaram que a Odebrecht pagou, via caixa 2, pelo menos US$13 milhões de um total de 98 milhões de dólares norte-americanos em subornos.

ANGOLA
Por Rafael Marques (Maka Angola)

As revelações de que a Odebrecht pagou 50 milhões de dólares-norte americanos em 2012, para a campanha de reeleição do Presidente José Eduardo dos Santos e do seu partido MPLA, foram recebidas com indiferença institucional.

A reportagem questionou o Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, e o Procurador-Geral da República, General João Maria de Sousa, sobre o caso, mas não obteve resposta.

A maior indignação causada pela empreiteira em Angola foram as declarações de Emílio Odebrecht, durante a delação premiada, de que praticamente foi a sua empresa que ensinou os angolanos a usar vasos sanitários. Aí, tanto membros do regime como da sociedade informada se manifestaram profundamente indignados.

MOÇAMBIQUE
Por Adérito Caldeira (Jornal @Verdade)

A Justiça de Moçambique ignorou a revelação da Odebrecht de que subornou altos funcionários do Governo para obter termos favoráveis na construção, iniciada em 2010, de um aeroporto em Nacala.

Em Fevereiro, o Gabinete Central de Combate a Corrupção (GCCC) afirmou que investigava o caso, mas aguardava o prazo de sigilo de seis meses previsto na delação premiada, que terminou no dia 1 de Junho. Desde então, o Gabinete e a Procuradoria-Geral moçambicana não respondem questões da reportagem, que apurou que lideraram as negociações os então Ministros Paulo Zucula (Transportes e Comunicações), Manuel Chang (Finanças) e Manuel Veterano, da Empresa Aeroportos de Moçambique.

Comentários

Mensagens populares deste blogue