CARTA ABERTA AO PRESIDENTE FILIPE NYUSI (8)
Por Nini Satar
In: MozMassoko, 07 de Julho de 2016

Esta é a oitava carta que dirijo à Vossa Excelência, porque estou consciente que, doa a quem doer, o senhor é o Presidente de todos os moçambicanos.

Esta minha intervenção é para manifestar a minha inquietação e, ao mesmo tempo, indignação pela forma como o país está abandalhado. Quer dizer, não há nenhum sector em que as coisas estejam melhores. A justiça está putrefacta, temos a economia em agonia, politicamente nem sei o que dizer porque está uma lástima.

Às vezes me pergunto se o senhor Presidente tem efectivamente assessores? É que os que lhe rodeiam parecem mais pessoas infiltradas, ou seja, de uma outra ala do seu partido que lhe querem ver a afundar o país. E digo isso com muita dor porque Moçambique é meu país também.

Naquele dia da sua tomada de posse, ali na Praça da Independência, o senhor Presidente disse que o povo era seu patrão. E estas palavras não caíram em saco roto. Milhares de moçambicanos viram a sua esperança reacender e passaram a acreditar que o país, desta feita, seria dirigido por uma pessoa que realmente se preocupa com o bem-estar do povo moçambicano. Era pura ilusão. Era o politicamente correcto. O tempo, e não foi preciso muito, provou que o senhor não estava a falar a verdade. Prova disso é o desespero que tomou conta do país.

O senhor Presidente pode não perceber, assim como as pessoas que as têm como assessores não lhe dizem nada: a sua imagem está chamuscada. Está bastante descredibilizada em virtude do rumo que o país está a tomar. Estamos em desgraça e só a cúpula do Governo é que não percebe isso.

Há dias estava em conversa com um dos administradores do Banco de Moçambique. Disse que nos seus cálculos, o dólar, a breve trecho, pode chegar aos 100 meticais. Falamos telefonicamente. Depois de desligar o telefone, pensei comigo em jeito de interrogação: como é que em um ano e meio teremos uma desvalorização da moeda nacional em 300 por cento? É muito senhor Presidente!

Porque sou curioso na área económica, liguei para um amigo administrador de um banco comercial. Ele, com toda a franqueza, disse que quase todos os bancos comerciais estão a ficar asfixiados com as novas taxas directoras e depósitos compulsórios, imposição do Banco Central.

Senhor Presidente

Está mais do que claro que estas medidas cirúrgicas do Banco Central vão levar os bancos comerciais à falência técnica.

Porque o assunto interessou-me muito, liguei para um outro amigo que é administrador na empresa de telefonia móvel, mCel. Ele disse que a empresa está de rastos e que a participação que o IGEPE tem na mCel poderia ir para a TDM para que seja esta a assumir o controlo total. A mCel praticamente está falida. E isso é estranho porque de 1997 até 2015 a mCel sempre estava nas cinco maiores empresas de Moçambique, na pesquisa da KPMG. O que aconteceu? Ninguém, de certeza, virá a público dar as explicações necessárias.

E a falência das empresas do Estado atinge também a LAM. E eu pergunto: como é que uma empresa que não tem concorrência nenhuma chega até a dever três milhões de dólares de combustíveis à BP? É muito senhor Presidente não acha?

PETROMOC é uma outra grande empresa que também está na beira da falência. Está com dívidas astronómicas com as transportadoras. É incrível senhor Presidente!

Será que o senhor Presidente e os seus assessores não percebem que o país está a afundar? Talvez porque o senhor vive lá na Ponta Vermelha, com todas as mordomias, não sente o mesmo que o povo moçambicano sente. Este povo sofrido, que todos os dias anda de My Love, como gado, é que votou no senhor, Presidente. Este povo acreditou que o senhor pudesse mudar o curso da história. E, ao que vejo, o senhor pode vir a ser considerado o pior Presidente que Moçambique teve até aqui. Está a custar-lhe muito capitanear este barco que é Moçambique. O senhor está a ter dificuldades em todas as esferas. Desse jeito, jamais irá descolar!

Por outro lado, temos a guerra que dizima os nossos irmãos no centro do país. Sei que o Governo considera tensão política, mas para os moçambicanos e muita gente de boa fé, aquilo é guerra, sim senhor! Esta coisa de dizerem que é tenção política e música de criança, todos sabem que aquilo e guerra, senhor Presidente.

Quantos estragos fez? Até que ponto retraiu o desenvolvimento de Moçambique? São perguntas que tiram o sono de qualquer moçambicano que ama a sua pátria e eu não fico indiferente.

Há muito tempo que o diálogo político não mostra resultados. A sua Comissão Mista, encarregue de preparar a dita reunião do mais alto nível, não nos revela que consensos tem alcançado. Por mim, e para muitos moçambicanos, o senhor Presidente devia quebrar o protocolo. Devia procurar o senhor Afonso Dhlakama lá na Serra da Gorongosa e falar com ele pessoalmente.

Não acredito que os mediadores irão acrescentar algo de concreto no nosso entendimento. O entendimento, ou seja, a vontade de alcançar consensos deve reinar nos dois dirigentes. Dhlakama, antes de o Presidente Nyusi imaginar que um dia iria chefiar os destinos deste país, já criava dores de cabeça ao Presidente Chissano. Foi por isso que a Frelimo teve que ceder em várias coisas, nos acordos de Roma.

E esse mesmo Dhlakama é o único interlocutor seu, Presidente, para a paz e estabilidade no país. Dhlakama é conhecido mundialmente como a pessoa que acabou com o ego da Frelimo e trouxe a democracia em Moçambique. É uma pessoa que deve ser ouvida por si, Presidente. Tem que conversar com ele. Espero que não conversem ao telefone porque isso já se mostrou infrutífero: as mortes continuam a existir na zona centro do país.

E, para que fique claro, eu não sou da Renamo. Muito pelo contrário. Sou da Frelimo e muitos nesse partido conhecem a minha militância. Escrevo-lhe esta carta, Presidente, porque estou preocupado com o meu país. Estou preocupado com as notícias internacionais que todos os dias descredibilizam o meu Moçambique.

Na arena internacional somos considerados como aldrabões. E é por isso que o FMI, Banco Mundial e os doadores de sempre nos cortaram o financiamento. É urgente recuperarmos o nosso bom nome.

Presidente,

É em momentos de crise, como este, que se atesta a capacidade de um dirigente. O Presidente precisa provar a todo o moçambicano que confiou em si, que é o seu digno representante.

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