HÁ TANTA MEDIOCRIDADE NA MÚSICA MOÇAMBICANA
Por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
wamphulafax - 15.02.2016
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“O Presidente Samora, várias vezes, empregava o seguinte ditado popular: 'Matar o jacaré enquanto pequenino', para explicar a necessidade de 'eliminar o mal quando estiver ainda no ovo'. Isto significa que aqueles males, cuja manifestação se repercutirá no futuro, devem ser eliminados antecipadamente” Extraído de uma narrativa do amigo Nkulu
Por cumplicidade ou ignorância, a sociedade moçambicana está a deixar morrer, literalmente falando, músicos de referência internacional cujas letras são uma didáctica para a formação e valorização de mentalidades, para aplaudir e venerar mediocridade que pululam nas televisões. Todos os dias, em diferentes momentos, assisto a um desfile incessante de escangalhamento dos valores nobres da nossa cultura, um autêntico genocídio cultural.
Dificilmente desato-me em lágrimas, mas a mediocridade avassaladora que impera no país fazem encher os meus olhos de lágrimas de tristeza e consternação. Dizem eles, o bando de medíocres, que são artistas musicais. O honroso título de artistas musicais que ostentam (por autoproclamarão e culpa de mão leve das autoridades competentes), sem nunca ter feito algo digno para o merecer, não se harmoniza com o que são: marginais ao soldo do mercantilismo.

Arrogantes sem o mínimo de caturrice, que se intitulam de reis, rainhas, deusas, divas, pai e mãe de um determinado estilo musical, patrão, artista de 'Moz' (Moçambique), Dr., etc., como se tivessem sido galardoados por alguma academia de música ou, politicamente, pelo governo moçambicano. Já ouvi dizer por aí que os gostos não se discutem, pois não. O problema central é o tipo de gosto que escolhemos. Há gostos que deixam a desejar. Por exemplo, quando uma sociedade elege um salafrário ao poder deve aceitar conviver com as escolhas que fez. Gostar de mediocridades é uma prova inequívoca de que a nossa sociedade está doente e precisa da rápida intervenção dos anciões que velam pela nossa sobrevivência.

Existe dois tipos de músicos. Os que nascem com dom, e os que aprendem com esse dom. Entretanto, há uma proliferação de cogumelos musicais que não têm nem uma nem outra qualidade, são aquilo que a sociedade lhes transformara: medíocres. Agora os artistas nascem do pudor, dos serviços de secretaria (parafraseando o saudoso e meu querido amigo Prof. Dr. José Hermano Saraiva), das cunhas dos apresentadores de televisão (também esses com défices de profissão), do suborno e da mediocridade. Alguém que há pouco tempo expunha o corpo na televisão e promovia o escândalo, demonstrando ódio figadal contra a gramática portuguesa, é agora uma estrela cintilante. Estrela, sim, mas de um mundo de aselhas. Atingiu o pódio da fama por causa da mediocridade que faz. Dizem que no país a mediocridade premeia-se e o exemplo disso, a par da política, é classe dos músicos. Não é artista de círculo, não é palhaço, não é cómico, não é humorista, não é divertida, mas faz furor na música e na dança por ser medíocre. Não é caso único, basta um olhar mais acurado para a classe musical e perceber que o assunto é preocupante, talvez pior do que o conflito político-militar que faz desandar o país.
 
O mais agravante é que os promotores musicais e os pseudo – “senhores da televisão” deliciam-se com essas mediocridades. Das duas, uma: ou pautam pelo sensacionalismo para facturar alguns vinténs ou, então, são como eles: medíocres. Promotores que promovem o mal, televisões que não educam. O país assim, com o esbanjar da mediocridade, não pode ir para frente. Prazerosos tempos em que os meios de comunicação social complementavam a educação dos pais, dos encarregados de educação e das escolas. Eu não consigo estar sentado por mais de um minuto diante de uma televisão, nos espaços de entretenimento, sem arrepiar-me e enjoar-me. A única vantagem que tenho sobre os medíocres musicais é que o televisor é meu e eu não os deixo brilhar em minha casa e entre os meus. Mas eles, os medíocres, chamam a música que fazem de bit ou hit. De quê, meu Deus! Haja santa paciência.

Permita-me o leitor fazer um paralelismo. A Zaida Chongo, já falecida, sabia ser e estar. As músicas que cantava eram uma terapia que curavam. As acrobacias corporais eram pura arte. As pessoas de diferentes idades e classes sociais choravam de emoção ao vê-la cantar e dançar. Até os mais reservados, como os clérigos, pessoas com problemas nas juntas, etc., não resistiam, aplaudiam e vibravam. Treinava para fazer talento e sabia ser diferente num contexto em que o país necessitava de alegria para anestesiar as picadelas da guerra. A Zaida Chongo lucubrava musicalmente.

Arrone Fijamo, um escritor e poeta zambeziano a quem o meu amigo Manuel de Araújo insiste em adiar a atribuição do nome na toponímia da cidade, escreveu o seguinte: “Quem imita exagera. E quem exagera, infelizmente, estraga!” Algumas dessas estrelas cintilantes da mediocridade estão a tentar imitar o talento natural da Zaida Chongo.


Em contrapartida, gurus da música como Wazimbo, Gabar Mabote, Chandu Lacá, José Bernardo Chongo, Jorge Mamade, Tomás Guilhermino, Guilhermina Pascoal, Célio Figueiredo, Gil Pinto, Mingas, Ildo Ferreira, os irmãos Kaliza, os Garimpeiros, Ali Faque, Zena Bacar, Camal Givá, Magid Mussa, os Djakas, António Marcos, Carlos Figueira, Xidiminguana, João Chithima, Helena Nhantumbo, etc., Constâncio, são preteridos pelas televisões e promotores musicais. Estas sumidades e outras que já não estão entre nós fazem falta para o país. Só posso rir, para não chorar. ZICOMO (OBRIGADO).

P.S.: Não sou especialista em matéria de desporto, mas também não será bom especialista só quem entende de coisas do desporto. O seleccionador nacional dos Mambas, Abel Xavier, fala com tanta convicção e de entrevista em entrevista promete mundos e fundos, faz-nos sonhar com “Mambas” diferente, venenoso e invencível. Até promete tirar leite de uma pedra. Esquece-se, porém, que a boa vontade e lições de moral que traz de compêndios europeus é insuficiente para salvar o colectivo de jogadores sem mística e que enfrenta duros golpes de pobreza extrema. Por isso, senhor Xavier, muita cautela em “correr com o sal nas mãos”, porque os “Mambas” nem a minúscula formiga do mundo de futebol consegue imobiliza.

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