Heróis de Janeiro
Sérgio Vieira In: O PAÍS –
02.02.2016
CARTA A MUITOS AMIGOS
Na história de Janeiro encontramos
muitos nomes de heróis, combatentes das causas patrióticas, da luta contra o
racismo, fascismo e colonialismo, pela democracia.
A 15 de Janeiro de 1929, em Atlanta nasceu MARTIN LUTHER KING, assassinado com 49 anos de idade, a 4 de Março 1968, na sacada de um hotel em Memphis, onde se encontrava de passagem, por um tal James Earl Ray, que se suspeita estar então ao serviço da fobia Edgar Hoover eterno patrão do FBI.
Luther King, pastor protestante, desencadeou a sua luta pelos direitos cívicos dos negros americanos (hoje dizem afro-americanos) em 1955 em Montgomery um dos bastiões do racismo no Alabama.
Uma miúda de
15 anos Claudette Colvin sentara-se num lugar para brancos, num machimbombo,
porque recusou sair, embora houvesse assentos brancos vazios, foi presa,
julgada e condenada.
Pouco depois uma senhora que
regressava exausta do trabalho, Rosa Parks, sentada num assento reservado para
pessoas de cor, recusou ceder o seu lugar porque alegava-se que havia brancos
em pé. Presa, julgada e condenada.
Este momento
desencadeou o grande início da luta generalizada pelos Direitos Cívicos nos EUA
liderado por Luther King. Em 1964 recebeu o Prémio Nobel da Paz.
Se há hoje um não branco como Presidente dos EUA muito se deve ao combate então desencadeado e aos seus mártires. Não se trata de discutir se Obama bem ou mal agiu, mas sim salientar que a cor da sua pele não impediu que ascendesse à Casa Branca. Isso deve-se a uma luta e a uma vitória nessa luta.
Com 36 anos
de idade no Catanga, a 17 de Janeiro de 1961 por ordem da Bélgica e da sua
família real, na presença de Tchombé, tropas belgas assassinaram PATRICE ÉMERY
LUMUMBA com 36 anos de idade.
Lumumba culpado por haver-se batido pela libertação da pátria, opor-se à pilhagem dos gigantes mineiros e de querer substituir as tropas belgas por congolesas.
Lumumba tornou-se um farol para toda a minha geração e para os combatentes da libertação nacional em África. Sabe-se que a CIA havia emitido uma ordem executiva para liquidar Lumumba.
Curiosamente
ou coincidência, nunca se sabe, o patrão local da CIA era Frank Carlucci, que
parece haver desempenhado, anos depois, um papel essencial para dividir e
derrubar a esquerda portuguesa no post
25 de Abril. A 23 de Janeiro de 1973 Spínola e a PIDE lograram assassinar
AMÍLCAR CABRAL.
Antes haviam fracassado num ataque a Conacri nome de código Mar Verde, comandada por Alpoim Calvão para liquidar ou capturar Amílcar e outros colegas do PAIGC. Face ao desastre optou-se por outros métodos, quiçá mais subtis e menos susceptíveis de condenações internacionais. Decidiram-se pois por outros métodos. Lavagem ao cérebro e doutrinamento racista, anti cabo-verdiano e regionalista dos presos políticos pertencentes ao PAIGC.
Na sequência e conscientes do sucesso da lavagem os presos foram progressivamente libertados ou deixaram-nos fugir quer para as zonas libertadas, quer para a Guiné (C).
Algumas
delegações nossas visitaram as áreas libertadas da Guiné (B), lembro-me entre
outros do Óscar Monteiro, Armando Panguene, do falecido Anselmo Anaíva, todas
as delegações mostravam-se algo ou muito chocadas com o facto de o PAIGC nada
fazer para liquidar o tribalismo, regionalismo e o sentimento contra os
cabo-verdianos.
A PIDE
explorou estes factores, Amílcar, Luís Cabral e outros dirigentes possuíam
raízes em Cabo-Verde. Havia também conflitos entre os guineenses sem origem
Cabo-verdiana.
Em 1972
através das suas redes externas Chissano obteve indícios de que se preparava o
assassinato de Amílcar.
Através da
contra-inteligência detectamos que um dito desertor colonial, originário da
Zambézia, preparava um atentado contra o armazém de armas e munições em
Nachingweia. Detivemo-lo. Coube-me a tarefa de apurar dados. Confessou que
trabalhara para a PIDE em Bissau e a natureza da sua tarefa. Todas as
informações Samora com Chissano e comigo as transmitimos a Amílcar.
As amarras
do tribalismo e regionalismo impediram o aborto do atentado e Amílcar foi assassinado
por Inocêncio Camy, comandante da marinha do PAIGC que sequestrou e levava
Aristides Pereira para o entregar a Spínola.
Sekou Touré
impediu o sucesso do rapto ordenando que a aviação e marinha o forçassem a
regressar ou afundassem. Camy rendeu-se e salvou-se Aristides.
As
contradições inter-regionais também se manifestavam entre os ditos puros
guineenses. Mataram-se durante a própria luta de libertação nacional.
Desde então a Guiné-Bissau vive uma história de instabilidade e atentados e assassinatos permanentes, tornou-se um ponto de passagem dos narcotraficantes, uma arena de disputas tribais e regionais.
Carlos
Correia do PAIGC, veterano da luta de libertação e já com cerca de 85 anos foi
chamado a dirigir o Governo, sob a contestação quase permanente do Chefe do
Estado e diversos grupelhos.
Algo similar
com as lutas Intra-familiares no pequeno arquipélago são-tomense. Duas ou três
famílias disputam o poder. Que fazer? O cheiro do petróleo aguça os apetites!
A 21 de
Janeiro de 1924, em consequência de um atentado que lhe deixara uma bala no
pescoço, morre em Gorky, Vladimir Ilitch Lenine. Muitos analistas e
historiadores o consideram como o pensador e dirigente mais influente de todo o
século XX.
Lenine
inspirou a luta contra o colonialismo e criou a Internacional Socialista para o
Oriente para apoiar as lutas que se desencadeavam na China (Sun Iat Tsen), na
Índia, no Médio Oriente, na África do Sul onde já se criara em 1912 o ANC e
pouco depois o Partido Comunista Sul-Africano, na África do Norte. Já soava o
toque de clarim que chegou até nós em Moçambique, Angola e demais colónias
africanas.
Com 90 anos partiu de entre os vivos
em Portugal António Almeida Santos. Apaixonou-se por Moçambique quando
estudante veio cá com a Tuna Académica. Desde 1953 aqui viveu. Advogado
defendeu os presos políticos, de Craveirinha a Malangatana, Luís Bernardo, etc.
Sempre combateu o fascismo, o colonialismo e a guerra colonial. Após o 25 de
Abril no Governo e fora dele opôs-se às acções neo-imperialistas de Spínola.
P.S. Em Tete deixou-nos o Dr. Francisco
Xavier, médico que salvou muitas vidas como combatente de vanguarda da saúde.
Saudade!
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