SAMORA
MACHEL JÚNIOR, UM REACCIONÁRIO
Vénia
a Domus Oikos
Por Ph.D. Alberto
Ferreira
(Domus Oikos)
18 de Agosto de 2018
Com os factos é simples explicar a realidade. Samora Machel Jr., ou Samito, é reaccionário.
Se vivesse na época
de Samora Machel, Presidente, Samito estaria neste exacto momento em Niassa,
nos Campos de Reeducação. Tal como Joana Simeão, Urias Simango, padres Gwengere
e Cavandane, etc. Não só estaria preso como também teria um destino que não me
ocorre aqui mencionar.
Sim, Samito é um reaccionário,
aquele que não se conformou e não se alinhou com a vontade da liderança máxima
do seu partido.
Desde Samora Machel,
passando por Joaquim Chissano e depois Armando Guebuza, a democracia interna do
partido sempre foi lacunosa. O líder, o Presidente da República, impõe a sua
exclusiva vontade e todos obedecem. As bases estão simplesmente para legitimar
a escolha do chefe. Filipe Nyusi não podia ser excepção.
É sabido que,
tradicionalmente, a qualidade da democracia nos partidos permanece indesejada.
Primeiro se escolhe a dedo e depois segue-se um longo teatro pra distrair os
incautos. Mas que a escolha já foi feita. Tal como vimos nas últimas eleições
internas, de onde saiu o Presidente Filipe Nyusi, ficou evidente ainda mais. O
critério de indicação não clara, com evidentes imposições da vontade da
liderança máxima, transbordou a insatisfação de todos.
O Secretário-Geral, Filipe
Paunde, um pouco como Mestre de Cerimonia, com orientações claras dos grandes
chefes ao nível da Comissão Política (CP), apresentou os 3 candidatos que o Comité
Central (CC) devia legitimar apenas, porque a CP já teria decidido quais seriam
os candidatos. Pressionado, Filipe Paunde chegou a revelar que tal já teria
sido devido e, para enfatizar o teatro, disse que dos 3 candidatos não se
acrescentaria uma única vírgula.
Tal como com Samito
hoje, ninguém na altura se conformou. A pressão foi a tal ponto que tiveram que
abrir espaço para outros. Deste modo entraram para a concorrida a Luísa Diogo,
Aires Ali e José Pacheco. Mas já se sabia que não iam longe. Houve perda de
tempo de uma espécie de second round entre
Filipe Nyusi e Luísa Diogo, mas que os resultados já estavam parentes nas
mentes e corredores. [Note-se que antes, para as eleições de 2004, foi a cena
em que concorreram Armando Guebuza, Eduardo Mulembwe e Hélder Muteia. Mulembwe,
muito astuto, retirou preliminarmente a sua candidatura. O ingénuo Muteia, Mwanan´chuwabo nkankala burutu, preferiu
disputar até ao fim e acabou ficando irradiado das hostes da Frelimo]
A carta de um certo senhor
veio demonstrar as lacunas das democracias internas como tradição. Nesta carta
tal senhor disse, com clareza, que: “Eu aprendi a obedecer as orientações”. A
tal carta vem mostrar que a qualidade de democracia é espelho da qualidade de
democracia dos partidos políticos. Não se pode pretender outra democracia.
Desde a antiga Grécia
até hoje, a democracia se nutre de duas palavras essenciais: a “Igualdade” e “liberdade”.
Com a igualdade se estabelece o princípio de respeitabilidade dos membros. Todos
os membros de um partido, independentemente do cargo ou função que desempenham,
são iguais aos outros na votação ou eleição num escrutínio. Com a liberdade é bem
patente o respeito pela pessoa humana. Entende-se que não se trata de objectos
ou seres acéfalos, mas seres humanos com vontades próprias e capazes de
contribuir com igualdade de direitos e liberdade para a própria organização.
Nunca é democracia
toda dinâmica de imposição. O sistema Up to down, contrariamente ao Down to up, cria
problemas reais, por ser um processo onde o chefe impõe a sua vontade.
Com o Presidente Armando
Guebuza atingiu-se o ridículo, colocando como slogan: “Decisão tomada, decisão cumprida”, a tal ponto que houve
problemas à volta do tal slogan que
teve que ser removido. Mas a remoção foi simplesmente do léxico e não do
conteúdo.
As decisões provinham
de um chefe ao nível da CP, devendo cumprir-se com as orientações, ou seja, “discute”
as orientações, mas são cumpridas. O mesmo processo transita para o CC e este órgão,
por sua vez, faz o mesmo e vai nas “discussões” ao nível da base, mas prevalece
a decisão tomada no topo. Os outros membros que não são Up, cumprem como fazendo parte do down.
A carta do senhor
veio a clarear como foi ensinado: “Aprendi a seguir as orientações”. Esta é a
qualidade da democracia onde os membros não são iguais e funcionam como
instrumento de massas, mas sem a necessária expressão. Aqui levanta-se um outro
problema dos poderes do Presidente da República que não estão delimitados.
Importa falar deste
pequeno grande reaccionário, que se chama Samora Machel Jr. ou Samito. A
democracia cresce com este tipo de reaccionários. Faz quase 30 anos que leio
livros sobre a democracia. A historiografia demonstrou que só os reaccionários
mudam o curso da história: os inconformados, os que não se alinham com o status quo. São reaccionários que vêem o
que os outros não vêem. São seres superiores, porque mudam a história e
desprezam a estagnação tradicional de “sempre fizemos assim”.
A dialéctica, a lei
suprema de movimento e do desenvolvimento descoberto por Hegel e Marx,
preconiza que da afirmação ou tese só se pode dar um passo a frente, diante da
negação- Portanto, a antítese. Samito torna-se antítese, uma vez inconformado
com o status quo tradicional.
Infelizmente todos os
reaccionários, os inconformados com o status
quo, tiveram sortes desastrosas. É um acto que exige coragem e, por isso,
os reaccionários são super-humanos: Jesus, Marx, Che Guevara, Dlhakama, etc.,
são exemplos.
Se Samora Machel vivesse
mandaria Samito, o seu próprio filho, para a guilhotina tal como aprendemos que
um certo guerrilheiro, bem afamado nos meandros políticos moçambicanos, mandou
o seu próprio pai para o além. Por isso, Samora Júnior representa a nova
geração de reaccionários que a própria Frelimo deve enfrentar para crescer.
Aliás a democracia
moçambicana deve crescer, não com gerações de Nachingueya, mas com as actuais gerações.
O atrás ou o passado já foi. Ora é momento de um olhar de visão para o futuro:
a Weltenschauung dos jovens.
Viva a democracia!
Viva a igualdade e
liberdade de voto!
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