A QUEM INTERESSAVA A MORTE DE AFONSO DHLAKAMA?
RM Kuyeri, 08 de Maio de 2018
Segundo a Bíblia,
os pais de Sansão tinham conhecimento do segredo da força do seu filho Sansão
desde o seu nascimento, mas não disseram a ninguém (Juízes 13:5). No dia em que
Dalila soube disso, ela disse aos inimigos de Sansão e trouxe-o para o vulgar
(Juízes 16:17 e 18). Daqui ressalta a percepção de que todos se qualificam para
o amor, mas nem todas as pessoas que amam se qualificam para conhecer os
segredos da vida. Isto porque nem todos estão preparados para lidar com os
segredos da vida. Muitos são os que podem esperar pacientemente para trocar os
segredos da vida para obter ganhos pessoais.
Na vida há tantos
inimigos que nos podem destruir. Mas nem sempre os nossos inimigos virão com a
espada na mão, mas sim com um sorriso. Por isso, aprender a guardar os segredos
das nossas vidas dos nossos amigos não é apenas uma questão de confiança, mas sim
de destinos em jogo. Nada pode ser mais perigoso e doloroso do que compartilhar
os nossos segredos com os nossos inimigos ou mesmo amigos, achando que eles são
verdadeiramente nossos amigos.
Os nossos amigos
podem ser nossos confidentes, porque estamos na companhia deles, não importa o
quão difícil tal companhia seja. Precisamos sempre ser gratos a eles, nem que
seja apenas um. Isto porque nos associamos a eles ou a ele e juntos podemos alcançar
um determinado objectivo comum. Na maioria das vezes os nossos amigos competem entre
eles e connosco pelo mesmo benefício ou pelas mesmas metas que nós próprios
almejamos. Por isso tenhamos muito cuidado com os nossos amigos, porque eles
podem empurrar-nos para baixo, que nem os caranguejos dentro do balde, para alcançarem
os benefícios ou as metas que nós próprios almejamos.
Os nossos amigos
também podem ser nossos camaradas. Eles se juntam a nós apenas para lutar contra
um inimigo comum. Mas não esqueçamos que estes poderão ir embora quando o
inimigo comum for derrotado. Por isso, não nos devemos preocupar tanto com os
nossos camaradas de hoje, porque podem ser inimigos do amanhã. Eles são nossos
camaradas e estão connosco por uma temporada.
É assim que, na primeira
reacção à morte de Afonso Dhlakama o Chefe de Estado moçambicano disse, muito
emocionado, estar a viver “um momento muito mau, principalmente para mim.
Estávamos a resolver os problemas deste país. E o momento torna-se muito mau,
sobretudo porque eu desde ontem (quarta-feira, 02 de Maio de 2018) estive a
fazer esforço para ver se eu transferia o meu irmão para fora do país, mas não
consegui e o peso para mim é maior do que para qualquer pessoa. Estou muito
deprimido, porque eu devia ter conseguido transferir a ele. Não me deram tempo,
até para dizer que ele já estava há uma semana mal, só me disseram há um dia”,
afirmou o Presidente Filipe Nyusi a TVM via telefone, na noite do dia 03 de
Maio de 2018.
A 05 de Maio de
2018, em entrevista a TVM na cidade da Beira, o porta-voz do falecido líder da
Renamo, José Manteigas, considerou o pronunciamento do Presidente da República “um
tanto a quanto inadequado neste momento porque o Senhor Presidente Afonso
Dhlakama, se ficou até a sua morte nas matas da Gorongosa, é porque o
Presidente da República mostrou-se relutante na retirada das Forças de Defesa e
Segurança (FDS) que neste momento continuam a cercar a Serra da Gorongosa.
Portanto, devido às circunstâncias, por ele estar cercado, é a razão pela qual
o Presidente Dhlkama acabou perecendo nas matas. Não vejo que o Senhor
Presidente da República diga que foi informado tarde, mas ele teve oportunidade
de se encontrar várias vezes com o Senhor Presidente (Dhlkama). Há assuntos das
negociações que já deviam ter tido o seu desfecho. O partido sempre assistiu o
seu Presidente, sempre teve assistência médica e medicamentosa como qualquer
militar, como qualquer quadro do partido”.
Se eu não tivesse
conhecimento da história bíblica de Sansão, aplaudiria efusivamente estes
argumentos de José Manteigas, como tantos outros o fizeram. Mas fiquei
incrédulo, dialogando com os botões da minha camisa sobre o mérito e demérito
daqueles pronunciamentos. Principalmente porque, nas palavras do Presidente
Filipe Nyusi não ouvi tratar a Afonso Dhlakama como amigo ou camarada, mas sim,
o tratou por “meu irmão”. Depois me questionei: Quem é este irmão de Filipe
Nyusi e quem estaria mais interessado na sua morte no derradeiro momento do desfecho
das negociações da paz!
Que eu saiba,
Afonso Dhlakama é filho de um Chefe Tradicional e Comandante de uma guerrilha
que, ao longo da história, manteve um controlo pessoal muito cerrado sobre a
Renamo. No nível mais baixo, quando viajava de carro, ele até pagava pessoalmente
as despesas de combustível em cada posto de abastecimento. Antes de se refugiar
na sua base na Serra da Gorongosa, às vezes assistia as Sessões da Assembleia
da República pela televisão e dava directamente instruções ao Chefe da Bancada
Parlamentar da Renamo em plena sessão. Os membros da Renamo na Comissão Nacional
de Eleições (CNE) mantinham-se em contacto telefónico para receberem instruções,
mesmo durante as reuniões. Ultimamente, Afonso Dhlakama conduzia pessoalmente as
negociações por telefone com o Presidente Filipe Nyusi. A pergunta que fica é:
Será que todos estes seus camaradas e amigos se conformavam com este modo de estar,
ser e de comportamento de lísder supremo!
Note-se que
Afonso Dhlakama foi muito cuidadoso em remover e marginalizar qualquer um que
pudesse desafiar a sua liderança e nem queria ouvir de qualquer insinuação
sobre possível sucessor na liderança da Renamo. Daí que a Renamo se resumia na
sua pessoa. O boicote das Eleições Municipais de 2013 foi, em parte, para
impedir a eleição de edis da Renamo que poderiam construir uma base independente
de poder à sua revelia e a exemplo de Daviz Simango na Beira, o único que o fez
com sucesso, desafiando a autoridade de Afonso Dhlakama e foi expulso da Renamo,
à semelhança de Raúl Domingos.
A guerra dos 16
anos (1976-92) terminou tecnicamente num impasse, mas com a Renamo claramente
na posição mais fraca que se viu forçada a assinar o Acordo Geral de Paz (AGP),
reconhecendo a legitimidade do Governo da Frelimo e da Constituição da
República de Moçambique, tornando-se a Renamo no principal partido político da
oposição no Parlamento, mas também manteve uma parte significativa da sua guerrilha
sob comando de Afonso Dhlakama. Isto ditou que Afonso Dhlakama se sentisse numa
posição muito fraca, o que lhe levou a usar duas tácticas para pressionar a
Frelimo e o Governo, ora boicotando com regularidade as cerimónias oficiais e a
concretização efectiva dos protocolos do AGP no período de transição (1992-1994),
bem como condicionando o envolvimento dos seus deputados nas subsequentes
cerimónias de tomada de posse no Parlamento e nas Assembleias Provinciais, num
esforço para obter concessões, a ponto de até boicotar as eleições locais em
1998 e 2013. A segunda e mais derradeira foi o retorno à guerra (2014-2016),
mantendo a presença da Renamo no Parlamento.
Nas suas proezas políticas,
Afonso Dhlakama foi candidato presidencial em todas as cinco eleições
multipartidárias (1994, 1999, 2004, 2009 e 2014) e apenas numa única esteve
próximo de ter vantagem em 1999, quando conseguiu 48% dos votos, mas manteve a convicção
de ter ganhado nas cinco eleições como era seu desejo. Por isso nunca aceitou que
tenha sido derrotado, alegando fraude. Mas estudos independentes na London School of Economics do Reino
Unido mostram que, embora houvesse irregularidades que denotassem fraude, isso
nunca foi suficiente para explicar a perda de Afonso Dhlakama nos cinco pleitos
eleitorais. A sua campanha tornou-se cada vez mais negativa, dizendo que ele
nunca seria deixado ser Presidente da República, transmitindo aos seus partidários
a mensagem de que não havia sentido em votar nele. A sua participação nas
eleições foi caindo até os níveis de 16% em 2009.
A vergonha das
sucessivas derrotas junto dos seus camaradas levou-o a mudar-se da capital para
Nampula em 2010, como forma de manter distância dos seus críticos no seio da
Renamo com sede em Maputo. O Governo manteve a pressão e houve confrontos entre
as FDS e guerrilheiros da Renamo na sua casa alugada na Rua dos Sem Medo na
cidade de Nampula, onde 22 pessoas foram mortas. De lá mudou-se transitoriamente
para a cidade de Quelimane, de onde rumou para as matas da Serra da Gorongosa
em Outubro de 2012. Depois reapareceu em público e fez campanha nas eleições de
2014, mas em Setembro de 2015, depois de dois incidentes com a sua caravana na
Província de Manica, onde morreram 12 pessoas, e do incidente na sua residência
na cidade da Beira, que foi invadida pela Polícia para a recolha de armas, Afonso
Dhlakama retornou à Serra de Gorongosa onde encontrou a morte.
Convencido de que
ele estava sempre sendo enganado, Afonso Dhlakama aprendeu a lição e, depois de
2009, se tornou num palestrante muito eficaz e a solo, em defesa da democracia.
Passou a acolher cada vez mais os conselhos internos e externos e as suas acções
e declarações foram-se tornando mais positivas e voltadas para o futuro. É
assim que, no início de 2017, ele apelou para o cessar-fogo e anunciou que a
Renamo participaria nas eleições municipais de 2018. As negociações com o
Presidente Nyusi tornaram-se mais activas e um documento sobre a
descentralização administrativa foi depositado no Parlamento.
Afonso Dhlakama
foi dando mais conferências de imprensa por telefone e discursos que fizeram
bom uso da fraqueza da posição da Frelimo devido às chamadas dívidas ocultas. A
Renamo esperava claramente que fosse bem-sucedida nas próximas eleições
municipais de Outubro, com Dhlakama a liderar a campanha, fazendo
aproveitamento da actual fraqueza da Frelimo de modo a montar um trampolim para
ter oportunidade de ganhar as eleições presidenciais de Outubro de 2019.
O controlo
pessoal de Afonso Dhlakama sobre o partido e a marginalização de possíveis
adversários fez com que a sua morte não deixasse sucessor à vista, deitando em
águas turvas as negociações que mantinha com o Presidente Filipe Nyusi e o calendário
eleitoral da Renamo. Pois urge a tomada de decisões sobre o desfecho do Dossier Paz e sobre as eleições
municipais, indicando os candidatos a futuros edis dentro de algumas semanas. O
acordo completo com o Governo para a paz definitiva no país requer detalhes
sobre a integração dos guerrilheiros da Renamo em posições de chefia no Exército,
na Polícia e nos Serviços de Segurança do Estado num momento que não está claro
o que o Presidente Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama concordaram até agora.
Neste contexto, surgem a questão-chave
sobre quem vai liderar a Renamo, estando em vista três figuras que estão a ser
cogitadas na opinião pública até agora: o Tenente-General Ossufo Momade, o até
a morte de Afonso Dhlakama Chefe do Departamento de Defesa da Renamo e
Presidente Interino até a próxima reunião do Conselho Nacional do Partido.
Nasceu na Ilha de Moçambique (1961) na Província de Nampula e ingressou nas
Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) em 1974 de onde fugiu para
ingressar nas hostes da Renamo em 1978, tornando-se Comandante e quem abriu a
frente de Nampula em 1983. Foi eleito deputado em 1999 e já foi Secretário-Geral
da Renamo (2007-2012).
Imediatamente a seguir está o
deputado Manuel Bissopo, actual Secretário-Geral do partido em substituição de
Ossufo Momade. Nasceu na Zambézia em 1967 e foi guerrilheiro da Renamo (1982-1992).
É licenciado em economia pela Universidade Católica da Beira e foi gravemente
ferido numa tentativa de assassinato em 20 de Janeiro de 2016, quando um carro
estacionou ao lado da sua viatura e abriu fogo contra ele, numa altura em que
outros membros da Renamo vinham sendo atacados.
Na terceira posição está a sobrinha de Afonso Dhlakama, Ivone Soares, a Chefe da Bancada Parlamentar da Renamo desde 2015. Nasceu em Maputo em 1979 e ingressou na Renamo em 1993, tendo sido eleita para a Comissão Política da Renamo em 2009. É licenciada e tem mestrado pela Universidade Politécnica de Maputo. Tornou-se numa dos principais elos de Afonso Dhlakama após a sua retirada para o mato e parece ter influenciado muito no desenvolvimento de novas atitudes ao seu tio que ultimamente estava voltado para o futuro. Também já sofreu uma tentativa frustrada de assassinato a 08 de Setembro de 2016, em Quelimane, quando se especulava que Afonso Dhlakama tinha ela como seu sucessor.
As divisões no seio da Renamo para a
escolha de sucessor do seu líder serão muito adversas em função da idade,
região, ligações com os militares e laços familiares. Os guerrileiros da Renamo
continuam sendo uma peça muito importante e o próprio Afonso Dhlakama já dizia que
tinha sido forçado pelos seus próprios generais a regressar à guerra em 2014. É
provável que estes apoiem um veterano de guerra mais antigo, mas haverá pressão
de dentro para apoiar um líder mais jovem e dinâmico que possa mobilizar e
modernizar o partido e ganhar as eleições de 2018 e 2019. Essa figura é cogitada
como sendo Ivone Soares, que tem a vantagem de vir da família do ex-líder, mas
com o pendor de ser mulher e sem histórico na Renamo. Por isso, é expectável
que haja discussões sobre a possibilidade de retorno de alguns quadros marginalizados
por Afonso Dhlakama como Raúl Domingos e Daviz Simango.
Mas também há quem aventa o retorno
de Manuel de Araújo, cunhado de Ivone Soares e, portanto, sobrinho de Afonso
Dhlakama, um académico com muito boa reputação internacional e muita influência
na Europa, em especial na Alemanha e Portugal. Ele sempre manteve boas relações
com Afonso Dhlakama, uma vez casado com a irmã de Ivone Soares. Nasceu em
Quelimane em 1970, é doutorado pela Universidade de East Anglia, no Reino
Unido, e tem sido um dinâmico Edil de Quelimane desde 2011. Se Manuel de Araújo
retornar à Renamo, ele não seria candidato à presidência, mas se tornaria numa
grande força na geração do pós-guerra e na organização das campanhas eleitorais
da Renamo.
Portando, confrontada com a morte
inesperada do seu líder de longa data, o problema para a Renamo será o de
resolver a questão de liderança e indicação do seu futuro candidato para as
eleições presidenciais de 2019, capaz de enfrentar com inteligência as urgentes
pressões para concluir as negociações com o Presidente Filipe Nyusi sobre a descentralização
e a integração dos guerrilheiros da Renamo nas FDS, bem como para a indicação
urgente dos candidatos a edis nas próximas eleições em Outubro.
Voltando à questão inicial, referir
que isto é o que acontece quando morre um indivíduo, seja ele pouco, muito ou
simplesmente humilde. É de praxe questionar-se quem se beneficia ou colhe
proveitos com a sua morte ou ainda, quem facilitou ou esteve por detrás
da sua morte. E, tratando-se da morte de um Presidente e líder como Afonso
Dhlakama, a questão toma uma dimensão ainda mais complexa.
Em primeiro lugar, vale a pena cojecturar
que os primeiros culpados são todos aqueles que, sendo patrocinadores interno
e/ou externos, tidos amigos da Renamo, saem a beneficiar-se. Os atrevidos até
avançam nas redes sociais nomes como de Dean Pittman (Embaixador dos EUA),
Detler Walter (Embaixador da Alemanha), Mirko Manzoni (Embaixador da Suíça),
figuras estas alegadamente tidas como que sempre estiveram a interagir
directamente com Afonso Dhlakama, fornecendo-lhe todo o apoio material e
financeiro necessários para a sua causa, mas que, entretanto, nunca se
preocuparam com os seus problemas pessoais em torno da família e da sua saúde.
Portanto, estes seriam daqueles amigos que o usaram até à morte. Afonso
Dhlakama voltou para o mato e lá ficou até à sua morte, porque alegadamente
era pago por estes senhores seus amigos que fizeram-no acreditar que aquele era
o caminho certo e que venceria para se tornar Presidente da República.
Segundo o que tenho vindo a ler nas
redes sociais, o Embaixador da Alemanha, muito recentemente, ofereceu a Afonso Dhlakama
€15 milhões, destinados ao fortalecimento da capacidade militar da Renamo
e o incentivou a manter-se no mato, contrariamente a muitos outros
guerrilehiros que gostariam de ver integrados nas FDS e progredirem nas suas
vidas. A ser verdade, são estes os autores morais directos da morte de Afonso
Dhlakama. Mas parece que a lista é grande, porque existem aqueles que, em cada
ronda negocial com o Presidente Filipe Nyusi, instigavam a Afonso Dlhakama para
inventar outro leque de reivindicações que só atrasavam continuamente as
esperanças dos seus guerrilheiros. A estes se juntam aquelas pessoas que geriam
os seus negócios como interessadas na morte de Afonso Dhlakama, que também são muito
e espalhados um pouco por todo o país.
Nas mensagens que circulam nas redes
sociais fala-se de minas de ouro e de turmalina nas Províncias de Sofala e
Manica, registadas e geridas por Fernando Mazanga e que grande parte do
património empresarial de Afonso Dlhakama, agora que ele morreu, vai ficar nas
mãos de “duas aves de rapina na Renamo: Fernando Mazanga e Rahil Khan”. Infelizmente,
o líder da Renamo não tinha o hábito de registar as suas propriedades em seu
nome. Aconteceu isso, em relação às suas pedreiras no Distrito de Boane e o
lote de terrenos também no mesmo distrito. Esta é uma das partes de indivíduos indiciados
nas redes sociais como sendo os que contribuiram moralmente para que Afonso Dhlakama
perdesse a vida em Gorongosa, vítima de uma doença que muitos moçambicanos têm
e com ela vivem, porque têm a devida assistência médica.
A opinião pública nas redes sociais
refere que mataram Afonso Dhlakama, porque uns viam nele como sendo um
instrumento para atingir a Frelimo e outros, porque queriam que
continuasse no mato, para continuarem a viver bem dentro da Renamo, com
ele distante. Será isso Tenente-General Ossufo Momade? A ser verdade, a sua
confirmação para a liderança da Renamo é sombria.
Entretanto, circulam igualmente nas
redes sociais informações que dão conta de que o Comando Militar da Renamo em
Gorongosa já foi tomado por André Matsangaisa Júnior que está a aguardar pela deliberação
final dos restantes generais para a confirmação do Tenente-General Issufo Momade
para liderar o partido. Isto aconteceu três dias após o anúncio da morte de
Afonso Dhlakama. André Matsangaisa Jr, o filho mais velho do fundador da Renamo,
é tido com um político e estratega militar treinado no Quénia e já vinha
trabalhando lado-a-lado com o líder da Renamo nos últimos anos na Serra da
Gorongosa, mas que agora se encontra em parte incerta com um perigoso grupo de
homens fortemente armados. Ele comandava os vulgos rangers da Renamo e anunciou estar frustrado com a morte de Afonso
Dhlakama, mesmo que seja natural, e promete vingança com o retorno imediato de
ataques militares contra alvos já identificados, logo depois do funeral de
Afonso Dhlakama. Dizem as mesmas informações que ele, “filho da perdiz”, diz
não ter tempo a perder e está atento a tudo o que está a acontecer no país.
A ser verdade, a situação fica muito
complicada para a Renamo e para o país. Porém, há quem acredita que seja verdade
e já se apela para que a Frelimo tenha a coragem de mandar para a cadeia todos
aqueles que puseram Moçambique na miséria com as dívidas ocultas que levaram o
país ao cenário em que se encontra, devido a existência de pessoas que são verdadeiros
assassinos, ladrões que enriqueceram a custa do povo adiando a paz definitiva.
Para além deste novo expectro de guerra, faltam medicamentos nos hospitais e de
tudo. Pois há coisas que estão acontecer que não dão para fingir que não estão
acontecendo.
Entretanto, reagindo ao artigo de
Francisco Watche, um anónimo refere nas redes sociais que se recorda dos 200
trabalhadores da CETA barbaramente assassinados em M’kondedzi, como também se
lembra dos 1.500 homens e mulheres barbaramente assassinados em Homoine numa
manhã; do Dr. Ganaux, do Hospital Rural de Xinavane, assassinado na EN1 em
Taninga; de Zeca Inácio de Souza, assassinado em Pateque EN1, na Maluana;
do jornalista morto na Esperança, na EN1; dos proprietários de 256 viaturas
queimadas em Maluana e dos seus donos mortos e raptados na EN1; das 125
viaturas queimadas e seus donos mortos esventrados em Tavira na EN1; das 170
viaturas queimadas e seus donos mortos em Taninga, na EN1; das 90 pessoas
mortas a esmagamento de suas cabeças com o pau de pilar em Maciene e
Shongweni em Xai-Xai, na EN1; de Micas Nhantumbo, morto dentro da sua casa, em
frente da sua esposa e filhos, no Bairro da Maragra, na Manhiça; do Ernesto
Mondlane, morto no mercado na Maragra a baionetada.
Estas são as imagens do expectro da
guerra protagonizada pela Renamo sob liderança de Afonso Dhlakama que ninguém
gostaria de recordar. Foram muitos os mortos a mando do ora defunto líder da
Renamo. Por isso, alguns cidadãos não se coibem em afirmar nas redes sociais
que querem que Afonso Dhlakama vá para a cova e nunca tenha paz. Que as almas e
os gritos dos que muito sangue jorraram encontre na sua morte a vingança para
que descanse no inferno e que não haja nada de emoções irreflectidas. A propósito, nas redes
sociais um tal Julião João Cumbane refere o seguinte:
Exéquias suportadas pelo Estado sim, mas luto nacional não. Nada de
arbitrariedades. O falecido combateu contra o Estado que agora vai suportar as
suas exéquias. O falecido foi um subserviente dos inimigos da independência,
soberania e integridade de Moçambique. Por conta disso, ele também foi inimigo
do progresso de Moçambique. O falecido passou toda a sua vida adulta a lutar
contra a paz, acreditando que estava a lutar pela democracia. Na verdade, o
falecido nunca soube o que é democracia, nunca teve causa política própria; ele
era usado como instrumento muito barato de desestabilização.
A obra do falecido são escombros, destroços, ruinas; a obra do falecido foi
a destruição da propriedade do Estado e de concidadãos inocentes. A obra do
falecido foram mortes prematuras de muitos concidadãos nossos e de cidadãos
estrangeiros, atingidos por balas disparadas irresponsavelmente por homens que
ele mantinha sob seu comando com recurso ao terror… Não há boas memórias sobre
o falecido. Pelo menos eu não as tenho. E duvido muito que alguém sensato tenha
boas memórias do falecido. Leva a insensatez a ter boas memórias sobre o
falecido…
Seria, pois, incoerência o Governo de Moçambique anuir à insensatez e
decretar luto nacional em memória de alguém cuja luta era contra a prosperidade
dos moçambicanos. Bem que a Frelimo, o partido político que suporta o Governo
de Moçambique, até poderia ter deliberado instruir o Governo para decretar luto
nacional em memória do falecido, mas não o fez para não parecer incoerente.
Aliás, tal gesto seria interpretado como aproveitamento político mal
reflectido. Pois, em vida, o falecido era inimigo declarado da Frelimo. Ele
lutava pela aniquilação total e completa da Frelimo. Uma luta inglória, diga-se
de passagem!
Politicamente madura que é, a Frelimo entende que não precisa fazer
aproveitamento político da morte do seu inimigo declarado para se reconciliar
com quem quer que seja que, erradamente, via no falecido o líder de massas. Não
é preciso estar-se reconciliado com os equivocados; aos equivocados se deve
mostrar morada da razão, a morada da sensatez.
Experiente que é, a Frelimo não se emociona; ensina aos moçambicanos a
discernirem os momentos que fazem a sua História colectiva como povo e como
Nação. A Frelimo não é arbitrária. A Frelimo pondera e decide, e o Governo que
ela suporta e dirige faz acontecer. Melhor que a Frelimo não existe partido
político melhor organizado, melhor iluminado, melhor comprometido com a
preservação e consolidação da independência nacional, melhor defensor da
soberania de Moçambique e do seu povo, melhor defensor da democracia e da República,
enfim, melhor defensor do Estado de Direito Democrático.
Em Moçambique, a Frelimo é que fez, a Frelimo é que faz e a Frelimo é que
vai fazer este país progredir irreversivelmente para a prosperidade. O falecido
só atrapalhava a firme marcha de Moçambique e do seu povo para a prosperidade;
era um empecilho ao progresso sustentável de Moçambique. Os moçambicanos só têm
que agradecer a Deus por finalmente lhes ter tirado a pedra no sapato que
dificultava a sua firme marcha para a prosperidade. Enfim, nada de emoções
irreflectidas! Honestamente, o falecido não fará falta à democracia
moçambicana. De facto, ele era um empecilho para o desenvolvimento harmonioso e
integrado de Moçambique. Não há lugar para luto nacional em memória de um líder
da confusão.
O próximo líder da Renamo deve ter esta lição bem estudada e deve tudo
fazer para transformar esta organização, com génese terrorista, num partido
político decente e conformado com a lei. Moçambique, quando governado pela Frelimo,
tem espaço para todos os moçambicanos sem qualquer tipo de discriminação. Na
realidade, quem promovia a discriminação com base na região de origem, grupo
étnico, cor partidária, etc., era o falecido líder da Renamo. Sem ele os
moçambicanos têm uma oportunidade para se reconciliarem e juntos trabalharem em
prol do seu progresso como povo e como Nação. Enterre-se o morto com os seus
pecados, sem emoções irreflectidas, e se continue com a luta pelo progresso
sustentável de Moçambique!
Eu disse. Palavra d'onra!
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