CIVILIZAÇÃO FALHADA
EM ÁFRICA
RM Kuyeri, 05 de Fevereiro de 2018
Há
mais de cinco séculos que, na história e na historiografia do Ocidente, a
invasão europeia ao continente africano foi justificada pela divina necessidade
de civilizar o continente. Para tal, até a escravatura teve o seu mérito de
propagação de valores civilizacionais ocidentais cristãos.
Porém,
os mesmos ocidentais que reclamam ter civilizado os africanos, por via da escravatura
e exploração do homem pelo homem nas plantações, minas, construção de
caminhos-de-ferro, etc., hoje, passados quase seis séculos, insistem na
necessidade de que os africanos precisam ser civilizados.
Não
sou eu quem está a dizer isso. O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse
recentemente: “Com uma família que tem sete, oito crianças em África, investir
biliões, nada vai mudar. (...) O desafio de África é civilizacional”.
Mas
o jovem Presidente francês não pára por ai e disse um monte de barbaridades na
tentativa de se explicar, ao estilo bizarro do seu contemporâneo Presidente dos
EUA, Donald Trump, que obrigaram o sociólogo guineense, Amadou Douno, Professor
da Universidade Ahmadou-Dieng de Conacri, na Guiné, a responder-lhe nos
seguintes termos:
“Os
africanos não precisam da sua civilização de devastação. Porque, com a sua
civilização, um homem pode dormir com outro homem e fazê-lo de sua esposa; uma
mulher pode dormir com outra mulher e tornar-se o seu marido; um único
presidente pode partilhar a cama com duas ou mais amantes de cada vez,
defendendo a sua fidelidade monogâmica em nome da fé cristã; uma mulher pode
dormir com o cachorro dela, porque é seu animal de estimação; uma criança pode
insultar o seu pai e sua mãe sem problemas, em nome dos direitos da criança ou
dos direitos humanos; uma criança pode aprisionar os seus próprios pais”.
O
conceituado Professor Amadou Douno prosseguiu dando aulas de sociologia ao
estadista francês: “Com a sua civilização, quando os pais estão envelhecendo,
eles são levados para a casa de aposentadoria ou reformatório e, finalmente,
com a sua civilização, um jovem pode viver com uma mulher que é da idade da sua
mãe ou da sua avó, em nome da liberdade de amar. O filho pode se casar com a mãe
sem problemas, no quadro dos valores civilizacionais cristãos. O seu caso,
senhor Emmanuel Macron, é uma ilustração perfeita do que é a civilização
ocidental! [Emmanuel Macron é casado com sua ex-professora primária que é mais
velha que a sua própria mãe] Os africanos não têm nenhuma lição de civilização
por receber de pessoas como você! A África é, de longe, o continente mais rico
do mundo com as suas enormes riquezas minerais. O que está atrasando este
continente é a pilhagem em larga escala dos seus recursos pelas grandes
potências, com a França na liderança da lista!”
Na
verdade, eu não sei em que é que o Professor Amadou Douno se inspirou. Mas ele
estava no seu bom humor e sapiência. Mas é importante continuar a ouvir as suas
aulas de sociologia que deu ao seu pupilo Emmanuel Macron:
“Toda
a miséria da África vem deste país que realiza as suas ambições nas costas dos
africanos, com a cumplicidade desses traidores líderes africanos que não
hesitam em sacrificar gerações inteiras, ao entregar os seus países ao antigo
poder colonial. Neles, os corrompidos líderes africanos confiam todos os
sectores-chave das suas economias e, no nosso caso, a Guiné Conacri, à França.
Na realidade, os antigos colonizadores lideram a estratégia política ou a visão
míope dos nossos líderes africanos por eles desejada, desde os primórdios da
colonização europeia. Hoje, a corrupção dos líderes africanos é a fórmula
encontrada para a neocolonização do continente africano. Isso contribui para
levar as suas populações à miséria e extrema pobreza. Esta é a causa das sucessivas
guerras e golpes de Estado sob os auspícios das metrópoles coloniais na forma
de guerras civis, genocídios, fome, etc., de mãos dadas com os déspotas à
frente desses países que são mantidos no poder pela França e outros países
ocidentais, porque cumprem todos os seus requisitos!”
O Professor Amadou Douno prossegue com a sua aula a Emmanuel Macron: “A França não é nada sem a África! No dia em que os países africanos virarem as costas para a França, este país vai mergulhar no caos! Enquanto os países africanos não abandonarem essa dominação do antigo poder colonial, tomando conta do seu próprio destino como os países asiáticos fizeram, será muito difícil para eles saírem do abismo”. Por isso, conclui aquele académico africano Amadou Douno: “O desafio para a África é se livrar da França e de todas as outras metrópoles coloniais. Porque elas não são a solução para o seu subdesenvolvimento, senão que são o cerne do problema.”
Mas
esta aula de sapiência do Professor Amadou Douno deve ser extensiva ao
Presidente dos EUA, Donald Trump, que acaba de dar mais uma cotovelada aos dirigentes
africanos. Ele falou directamente aos líderes africanos nos seguintes termos: “Não
preciso de vos poupar como os presidentes franceses o fazem, dizendo-vos que a
França-África acabou, no entanto continuam a enviar-vos os falsos turistas que
vos espiam e voltam a dizer-vos como é preciso vos colonizar de novo. Se após
50 anos de independência vocês não construíram as infra-estruturas necessárias
para os vossos povos, são humanos?”, questiona Donald Trump aos líderes africanos.
Não sei se é porque os EUA não colonizaram o continente africanos que Donald Trump diz isso, mas ele deve saber que o seu país é que mais se beneficiou da escravatura contra os povos africanos, para hoje questionar ironicamente: “Vocês sentam sobre o ouro, diamante, petróleo, urânio... e as vossas populações não têm comida! Sois humanos?”
Donald Trump prossegue: “Se, para permanecer no poder, não hesitam em comprar armas aos estrangeiros para matar os seus próprios cidadãos, são humanos? Se o vosso único projecto social é manter-se no poder para toda a vida, vocês são humanos? Se vocês desprezam e matam os vossos próprios cidadãos como animais, quem vai respeitá-los?”
Devo até
confessar que me parecem razoáveis estes questionamentos de Donald Trump, mas
pecam por ele não reconhecer que os EUA são parte do sistema internacional
desumano e injusto que está a subjugar os africanos.
Comentários
Enviar um comentário