ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE
Mia Couto

Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco desempenho académico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem referências morais.

Estamos empenhados em assuntos como o empreendedorismo, como se todos os nossos filhos estivessem destinados a serem empresários.

Ocupamo-nos em cursos de liderança, como se a próxima geração de moçambicanos fosse toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em preparar os nossos filhos para serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do seu país, bons cidadãos do mundo.

Escrevi uma vez que a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui promovido…). Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas.

Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos videoclips que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres, porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem.
 
É preciso remar contra toda essa corrente.

É preciso mostrar que vale a pena ser honesto.

É preciso criar histórias, em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi escolhido não foi o mais arrogante mas o mais tolerante, aquele que mais escuta os outros.

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