O
FOCO NÃO DEVE SER A RENAMO, MAS A LUTA CONTRA A POBREZA
WAMPHULA
FAX – 29.06.2015
“A pobreza, as desigualdades, a fome e a
doença são tratadas de forma paliativa, com medidas pontuais e descoordenadas e
com poucos recursos; em contrapartida, existe muita literatura cinzenta,
permanentes reuniões internacionais, viagens presidenciais e declarações de
intenções que propagam supostas prioridades no combate à pobreza. A corrupção é
timidamente criticada porque, na realidade, é considerada um mal menor, ou
mesmo uma necessidade para a criação acelerada de um empresariado nacional e de
uma elite política dependente e submissa.” João Mosca (2005) in
Economia de Moçambique Século XX, Instituto Piaget, Lisboa, p. 417.
O tempo de conhecer e “arrumar” a
casa já passou, mas o foco do governo do Presidente Filipe Jacinto Nyusi é a
Renamo, relegando os problemas da pobreza absoluta para o segundo plano.
Compreendo o perigo que a Renamo
militarizada representa para o país, tira sono a qualquer líder. Por muito que
isto me custe dizer, não vejo uma saída pacífica para esse problema, pois a
Renamo está obcecada pelo poder e já até percebeu que, democraticamente, não
chega lá, devido a extraordinária capacidade de desorganização da sua
liderança, e só pode consumar o seu desejo por via de uma insurreição armada.
O povo está ciente das suas
dificuldades e do calvário que enfrenta (diariamente) para resistir à hecatombe
da fome, mas nem por isso chancela a Renamo o direito de destruir à nação. As
reivindicações da Renamo não são mais importantes que a liberdade, igualdade e
a segurança do povo. Entretanto, mantenho alguma esperança numa nova liderança
da Renamo, que compreenderá a necessidade de desarmar a perdiz, contribuindo
deste modo no desenvolvimento do país. Portanto, esta é uma situação que o
presidente Nyusi deve saber gerir com doses de cautelas, evitando desaguar os
esforços da paz no falso populismo, mas também sem comprometer o
desenvolvimento de Moçambique.
O Governo não deve abdicar dos
programas de crescimento e desenvolvimento económico do país, para produzir
mais películas da “novela” Renamo, que se arrasta penosamente há vários anos
sem qualquer fim à vista. Ao que tudo indica, gasta-se recursos em encher os
biberões com leite para fazer calar as lamúrias da perdiz, no lugar de resolver
a bolsa de fome que ameaça dizimar dezenas de pessoas espalhadas um pouco por
todo o país. O executivo de Filipe Nyusi não se pode furtar das
responsabilidades de alimentar o seu povo em nome de uma paz precária. Fazem
escolas as palavras do cientista político e jornalista norte-americano Mike
Whitney“ Um país não pode matar-se de fome para prosperar nem tão
pouco recuar para crescer. A austeridade é boa para monges, mas
má para a economia.”
O governo está brando e atónico. Não
está a dar mostras de promover o desenvolvimento do país. Está amarrado aos
discursos poéticos. O povo não come discursos, embora alimente a alma. Tenho
visto alguns ministros estagnados nas suas funções: não atam nem desatam.
Mantém-se como múmias. Não se conhece nenhuma mudança governativa. O silêncio é
ainda um factor dominante. A preocupação parece ser a Renamo. A Renamo é
milagrosa, pois esconde incompetentes e incompetências no seio do governo.
Ajuda a escamotear algumas verdades. Estão todos à espera que a Renamo seja
desarmada para desacelerar a corrupção, construir infraestruturas, etc. Alguns
municípios nada fazem senão politiquices. Não trabalham, não fecham buracos e
covas, não limpam estradas, não constroem casas sociais, não resolvem os
problemas dos “mylove”, não atendem as preocupações dos idosos, etc.,
porque a Renamo está militarizada. Tudo agora é culpa da Renamo. É o fantasma
da Renamo que impede os nossos governantes de trabalhar.
Um governador que não conhece a
província que governa. Que não sente os problemas do povo. Que não dinamiza a
economia local. Que não é criativo. Que nada faz. É o senhor director que passa
a vida a acusar a Renamo. É o secretário permanente que se mantém “permanente”
na sua função e acção governativa. Quando são perguntados sobre as causas dessa
letargia a resposta é sempre a mesma: Renamo!!!
Fazem coro, do Rovuma a Maputo: a
culpa é da Renamo. A sombra da Renamo está em tudo. Pensam todos na Renamo e
pouco no país.
É urgente o Presidente da República
alterar este quadro mental no seio dos camaradas e do governo. Em algum
momento, a Renamo está a ser subterfúgio da inércia de determinados governantes
que há muito já deveriam ter sido premiados com uma certidão de incompetência. Demita-os, senhor Presidente.
Zicomo
(obrigado)
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