A ÚNICA PESSOA QUE CONHEÇO QUE É CAPAZ DE SE COMBATER A SI PRÓPRIO É AFONSO DHLAKAMA
Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com ) 16/06/2015

 “O guerrilheiro não choca. Ataca e foge, por isso dificilmente se ganhauma guerrilha ou guerra assimétrica.” Extraído de uma conversa com o General angolano Higino de Sousa (Zé Grande)


Gostaria de saber quem é o “chicoesperto” que anda a assessorar o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, pois está prestes a transformá-lo em terrorista, caso decida materializar a ideia de incendiar o país. Não pode ser democrático, nem “pai da democracia moçambicana”, quem abandona o diálogo político e ignora as instituições nacionais e internacionais de justiça para dirimir a liça que o seu partido trava, há décadas, com a Frelimo. Quem tem razão não se exaspera nem fermenta discursos que põem em perigo a vida dos moçambicanos, antes comportasse como um ser humano capaz de saber ouvir e que busca o diálogo para construir pontes de consenso. O professor Maoza (que Deus o tenha) dizia, no exercício da pedagogia na Escola Secundária de Tete, que as brincadeiras são colectivas, mas as responsabilidades (dor) são sempre individuais. O Conselho Nacional da Renamo decidiu enveredar pelos caminhos da perdição – que parecem promissores no início – que é o da guerra de desestabilização do país, mas será Afonso Dhlakama o réu da História. Este é o meu grande receio e tomo isso muito a sério, pois não gostaria de ver o líder da Renamo perder o seu estatuto social de herói nacional para ostentar o título de vilão. Em conversa com os botões da minha camisa, tenho dito que os acontecimentos de “Santungira I” não trouxeram proveitos para a Renamo. Eu não sou bruxo, mas posso afirmar sem qualquer medo de errar que os resultados do Santungira II serão ainda piores. Ademais, muito dificilmente haverá uma nova lei de amnistia. Destarte, pode estar para breve o fim do ciclo da Renamo como partido político. Dizia uma investigadora que todos nós estamos sujeitos a ditadura do nosso corpo: fome, sede, sono, sexo, etc. Provavelmente, a ditadura das lideranças da Renamo seja os apetites pelo poder, através da criação de “Regiões Autónomas”. A Renamo já deixou bem claro que não é com rezas que pretende dividir o país, fá-lo-á recorrendo ao seu especializado departamento militar. Dizem eles que já até existem homens armados em prontidão combativa, além de pretender criar uma polícia e uma espécie ressuscitação da “Renamo União-Eleitoral”. Não consigo imaginar, dentro de um quadro mental saudável, que estas ideias venham de pessoas que realmente amam o seu próprio povo, porque a sua materialização implicaria a chacina de milhões de moçambicanos. O Santungira II não vai combater o seu inimigo figadal (Frelimo), pelo contrário, seria contra o desenvolvimento de Moçambique. É contra Moçambique que a Renamo vai lutar. É daí que insisto: quem é o assessor que arma a mente de Dhlakama? Será que ele não consegue enxergar este facto? É preciso ter a paciência de um relojoeiro para perceber e compreender a complexidade racional da Renamo. Aqui me curvo a um dos versos poéticos de Jorge Rebelo “Do Povo Buscamos a Força”: “Não basta que seja pura e justa a nossa causa É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós. Face ao exposto, surge duas perguntas: existe alguma pureza e justiça na causa da Renamo quando esta, reunida em Conselho Nacional, dá carta-branca aos seus guerrilheiros para desencadear uma guerra sangrenta contra Moçambique? Será que ainda existe alguma pureza e justiça no coração de Dhlakama que abandona o diálogo político para assumir uma liderança castrense contra Moçambique? As crises políticas jamais se resolvem com canhões, gerem-se com o diálogo. Quem realmente ama o seu povo sacrifica-se por ele, não manda matar. Martin Luther King Jr., Mahatma Gandhi, Alberto Luthuli, Nelson Mandela, Dalai Lama, Morgan Tsvangirai, tinham e ainda têm poderes para impor a guerra contra os seus opressores, mas fizeram o contrário, optaram pela via pacífica do diálogo. O exemplo de Lula da Silva, no Brasil, é uma escola. Como líder do partido dos Trabalhadores desencorajou actos de violência dos membros do seu partido e fez-se à luta democrática até que, em 2003, ele e o seu partido chegaram ao poder. Doa a quem doer: quer a Frelimo quer a Renamo são incapazes de ganhar uma guerrilha, por essa razão advogo o diálogo como a única ferramenta para a consolidação da paz em Moçambique. O presidente da República já deu provas de querer fumar o cachimbo da paz com Afonso Dhlakama, mas o líder da Renamo insiste na “exumação” da arte da guerra para a resolução de conflitos. E se incendiar o país, como vem propalando, como será que ele vai governar Moçambique? Vai governar uma terra queimada? As vendas nos olhos da perdiz impedem de observar o futuro. A actual conjuntura política internacional é contra a tomada do poder pela via da força. Ademais, existem interesses económicos estrangeiros implantados no país que devem germinar seus frutos (ninguém semeia no betão). Sendo assim, os investidores que lançaram suas sementes no país irão ripostar qualquer acção da Renamo que coloque em causa os seus investimentos. A esse propósito, o meu amigo Nkulu afirmou que parece não ser receitável para servir dalguma terapia, os apetites castrenses da Renamo, especialmente para quem quer ver a sua estrada de progressão aberta. Os eleitores não perdoam. A Renano está a perder muito tempo em desenhar estratégia de guerra, e está, igualmente, a perder o pouco orçamento que dispõe para alimentar o projecto de divisão do país quando devia de relançar às suas bases. Tenho observado que, quando a Renamo peregrina de lés-a-lés, pacificamente, pelo país, comunicando-se pedagogicamente com o seu eleitorado, de terra a terra, os resultados eleitorais têm sido animadores. São as pequenas oportunidades que fazem a diferença e mudam, de facto, o curso da História. Mas não é isso que acontece com a Renamo, o pouco que consegue alcançar desperdiça. É assim que perde as oportunidades em acusações infundadas, aguçando rivalidade e propalando ódios. Os partidos da oposição que conseguiram chegar ao poder na Nigéria, Malawi, Senegal, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe, Cabo-Verde, etc., tiveram que abandonar os discursos de fraude eleitoral e fortificaram às suas bases. Reorganizaram-se, como aquela manada de búfalos feridos que se unem, para afugentar o leão. Algumas medidas foram tomadas: (i) os líderes desses partidos abandonaram o estatuto de deuses, (ii) a figura de líderes carismáticos deixou de fazer sentido, construindo-se, destarte, um partido de todos e para todos, (iii) eliminou-se as representações de cargos políticos por via de quotas étnicas, (iv) criou-se uma política de prestação de contas, (v) e, talvez o mais importante, apostou-se na formação de quadros. Na Renamo o poder pertence a uma única pessoa, o comandante Afonso. E o el comandante Afonso não está disposto a aposentar-se porque considera o cargo uma predestinação divina. Se o investimento de Santungira fosse destinado à construção de uma escola, uma academia ou uma oficina de formação de quadros da Renamo, penso que o nível da democracia no nosso país estaria a respirar outros ares. A própria Renamo não estaria como hoje está (moribunda). Tenho ouvido muita gente dizer que Dhlakama tem uma multidão de pessoas para com ele fazer a guerra. Pois tem. Mas essa multidão o muito que pode fazer é transformar o país numa “nova Somália”, cujos efeitos não seriam diferentes nem os prejuízos estariam distantes do genocídio de Ruanda.

Zicomo (Obrigado)
 WAMPHULAFAX – 16.06.2015

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