A GUERRA ENTRE A RÚSSIA E A UCRÂNIA

RM Kuyeri, 17 de Março de 2022

 A 24 de Fevereiro de 2022, o mundo surpreendeu-se com notícias, segundo as quais a Rússia havia invadido militarmente a Ucrânia. Na verdade, não havia razões para tal surpresa. Pois, com o fim da Guerra Fria, iniciava-se uma nova guerra, na forma de guerras por procuração, conhecidas por proxy wars  que assumiram a actual forma de terrorismo.

Uma guerra por procuração ocorre quando uma grande potência instiga ou desempenha um papel importante no apoio e direccionamento de uma parte para um conflito, mas faz apenas uma pequena parte da luta propriamente dita.

Os estados usam proxies por muitas razões, como escreve Dan Byman. Para os Estados Unidos da América (EUA), a questão geralmente é o custo da guerra, principalmente em homens, depois do que aconteceu na guerra do Vietname onde muitos norte-americanos morreram e perderam a guerra. Não há melhor soluçã do que os naturais lutarem e matarem-se entre si. No entanto, há outros factores além do custo e do poder de combate que são planificados.

A guerra por procuração contrasta, não apenas com uma guerra tradicional, quando um Estado carrega o fardo da sua própria defesa ou suporta ataque de forças externas por conta de interesses de determinada potência, que no caso da Ucrânia e de todos os estados que fizeram parte da Comunidade de Estados Independentes após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) são os EUA e a União Europeia (UE).

Mas também o Estado como a Ucrânia carrega o fardo da sua própria defesa ou está a suportar o ataque da Rússia por conta de interesses de uma aliança económica como é a UE ou uma aliança militar como é a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). No caso em apresso, a Ucrânia está hoje a suportar a sua própria defesa do ataque da Rússia no entre tanto da aliança económica (UE) como da aliança militar (NATO).

Quando potências maiores e menores trabalham juntas, no caso EUA e os países da UE, cada uma das potências faz contribuições significativas de acordo com os seus meios. Portanto, os EUA trabalhando com o Governo afegão contra o que restou do Al-Qaeda e dos Talibãs é mais uma aliança tradicional por causa do grande papel dos EUA, com milhares de tropas norte-americanas e centenas de ataques aéreos, enquanto o Irão trabalha com os rebeldes Houthi no Iémen, uma outra guerra por procuração, porque o Irão fornece principalmente armas e financiamento e não usa as suas próprias tropas.

Nesta perspectiva, a Ucrânia está numa guerra por procuração porque instigada pelos EUA e pela EU como testa-de-ferro da NATO frente à Rússia, por isso, por mais que os ucranianos peçam apoio ao Ocidente, este ou os EUA e a UE só lhe vai fornecer armamento e nunca homens para morrerem em solo ucraniano.

Quanto o apoio militar direto é demais para contar como uma guerra por procuração, como é o caso da Ucrânia, fica claro ao olhos do observador atento, mas no geral a ideia na extremidade inferior do espectro de envolvimento é difusa, por isso muita gente não entende a razão por detrás da invasão russa à Ucrânia no passado dia 24 de Fevereiro de 2022.

Na verdade, significa isto que a Guerra Fria não foi bem resolvida, porque o Ocidente entendeu que a queda do Muro de Berlim, a 09 de Novembro de 1989, que deu pelo desaparecimento da República Democrática da Alemanha (RDA) e a reunificação da Alemanha, foi um grande marco para EUA e a sua parceira UE entenderem que já eram donos do mundo.

Desde então, os EUA e a UE passaram a ditar as regras de uma nova ordem mundial aos seus desejos apenas e de mais ninguém. O seu calculismo geo-estratégico internacional falhou, porque logo foi desafiado com a destruição das torres gémeas em Washington, a famosa e imponente estrutura de dois arranha-céus conhecida por Trade World Center.

Recordar que a queda do Muro de Berlim (em alemão: Mauerfall), dia 09 de Novembro de 1989, foi um evento crucial na história mundial que marcou a queda da chamada Cortina de Ferro e o início da queda do propalado comunismo na Europa Oriental e Central. Esta queda da fronteira interna da Alemanha marcou o epicentro do fim da Guerra Fria declarado na Cimeira de Malta, três semanas depois da queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha ocorreu em Outubro de 1990.

 

A Cimeira de Malta consistiu num encontro entre o Presidente dos EUA, George H.W. Bush, e o líder da então URSS, Mikhail Gorbachev, realizada nos dias 02 e 03 de Dezembro de 1989, três semanas depois da queda do Muro de Berlim, com vista a discutir os destinos da Europa que agora se iria reunificar.

 

Foi a sua segunda reunião após uma reunião que incluiu o então Presidente Ronald Reagan, em Nova Iorque, em Dezembro de 1988. Informações da imprensa na época se referiram à Cimeira de Malta como a mais importante desde 1945, quando o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill, o líder soviético, Josef Stalin, e o Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, concordaram com um plano pós-guerra para a Europa em Ialta.

 

Foi um encontro entre George Bush e Gorbatchev numa última vez em que as duas super-potências tentaram determinar o destino da Europa. Segundo Gorbatchev, foi uma tentativa de criar uma relação mais intimista entre norte-americanos e soviéticos de modo a deixar para trás todos os confrontos da Guerra Fria.

 

No entender dos russos, a tal relação intimista entre norte-americanos e soviéticos centrava-se principalmente na construção de uma política conjunta para a Europa que até então estava separada. O seu resultado consistiu numa Europa unificada com a presença mínima das duas super-potências de modo a continuarem envolvidas para que as instituições europeias se desenvolvessem sem distinções entre Ocidente Oriente, mas sem interferências na soberania de cada Estado, incluindo naqueles estados que se constituíram em Comunidade de Estados Independentes (CEI) após a desagregação da URSS.

 

A CEI era integrada por 11 países, nomeadamente: Armênia, Belarus, Cazaquistão, Federação Russa, Moldávia, Quirguistão, Tadjiquistão, Ucrânia, Uzbequistão, Azerbaidjão e Turquemenistão, criada em 1991, após a desagregação da URSS. Hoje a CEI praticamente não existe, decorrente do isolamento da Federação Russa após aliciamento dos restantes 10 países pela UE, sob os auspícios dos EUA. A primeira reacção de desconforto da Rússia foi a sua intervenção na Crimeia para obrigar os EUA e a UE a sentarem à mesa de negociações que resultaram nos acordos de Minsk.

 

Isto porque, o Pacto de Varsóvia, com sede na Polónia, então bloco militar dissuasor durante a Guerra Fria para contra-balançar as investidas militares da NATO, foi dissolvido na base de boa fé, mas NATO é mantida pelo Ocidente como bloco militar que é, a CEI foi absorvida na UE e a Polónia que era a sede do Pacto de Varsóvia acabou sendo membro da NATO, numa altura em que os EUA e a UE declararam a Rússia como inimigo a combater.

 

Portanto, contrariamente ao entendimento da era pós Guerra Fria de constituir uma Europa unificada sem distinções de Ocidente e Oriente, os EUA e a UE procuraram ganhar vantagens para impor a sua ambição geo-estratégica de dominar o mundo.

 

A primeira etapa foi aliciar exactamente cada um dos Estados membro da CEI depois da desagregação da URSS e usá-los para construir um cerco político-militar estratégico contra a Rússia, após o seu envolvimento com a NATO, ameaçando a soberania russa por via da violação dos acordos de Minsk, conhecidos como Protocolo de Minsk.

 

O Protocolo de Minsk ou Tratado de Minsk data de 05 de Setembro de 2014 e é um acordo assinado por representantes da Ucrânia, da Rússia, da República Popular de Donetsk (DNR), e da República Popular de Lugansk (LNR) para pôr fim à guerra no leste da Ucrânia, que foi assinado depois de prolongadas conversações em Minsk, a capital da Bielorrús, sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). O acordo, que se seguiu a várias tentativas anteriores no sentido de parar os combates em Donbass, no leste da Ucrânia, implementou um cessar-fogo imediato. No entanto, o acordo fracassou no seu objectivo de cessar grande parte dos combates na Ucrânia oriental devido a ingerências dos EUA e da UE.


Durante duas semanas seguintes à assinatura do Protocolo de Minsk, houve violações frequentes do cessar-fogo. As conversações continuaram em Minsk. Um seguimento a este protocolo foi acordado no dia 19 de Setembro de 2014. O memorando resultante clarificou a aplicação do protocolo. Entre as medidas de pacificação acordadas, foram incluídas as seguintes:

 

·        Remoção de todo o armamento pesado, 15 km para trás de la linha da frente de combate, por parte de ambos os lados implicados no conflito, de modo a criar uma zona desmilitarizada de 30 km;

·        Proibição das operações ofensivas;

·        Proibição dos voos de aviões de combate sobre a zona de segurança;

·        Retirada de todos os mercenários estrangeiros da zona de conflito; e

·        Configuração de uma missão da OSCE para supervisionar a aplicação do Protocolo de Minsk.

O Protocolo de Minsk não teve resultados efectivos por conta de interferências dos EUA, UE e NATO. No dia 26 de Setembro de 2014, os membros do Grupo de Contacto Trilateral sobre a Ucrânia reuniram-se novamente para discutir a delimitação da zona-tampão, equivalente às "linhas verdes" existentes entre o Israel e a Palestina ou no Chipre, onde o armamento pesado seria eliminado pelas partes implicadas no conflito.

No entanto, aos EUA, através da NATO, investiram em armamento pesado e sofisticado na Ucrânia, treinando os seus efectivos militares, desenvolvendo laboratórios militares, entre outras acções preparativas para a Ucrânia poder reprimir os seus contendores para poder ser aceite a filiar-se na NATO.

Nisto, a linha de demarcação entre a República Popular de Donetsk (DNR) e a Ucrânia foi acordada entre os representantes da DNR e os negociadores ucranianos, de acordo com o Vice-Primeiro-Ministro da Ucrânia, Vitalí Yarema. No dia 02 de Dezembro de 2014, o Parlamento ucraniano modificou unilateralmente a “Lei sobre o estatuto especial” proposto no Protocolo de Minsk, ainda que o mesmo parlamento tenha aprovado certos aspetos da lei que foram acordados em Minsk, como parte do acordo de cessar-fogo, o que tecnicamente torna o Protocolo de Minsk nulo.

 

Durante oito anos, a Rússia foi pacientemente procurando um entendimento de boa-vizinhança com a Ucrânia, advertindo para o perigo que representava, não só a violação do Protocolo de Minsk, como os seus preparativos militares e intenções de aderir à NATO. Por isso, segundo o ditado que diz “a paciência tem limites”, a 24 de Fevereiro de 2022 a Rússia decidiu invadir militarmente a Ucrânia.

É na sequência disso que, a 05 de Março de 2022,  Manuel Domingos Neto, um historiador, professor, pesquisador, escritor e político brasileiro que já foi deputado federal, respondeu nos seguintes termos as treze perguntas sobre a guerra na Ucrânia:

 1. O que está por detrás da invasão da Ucrânia?

Há muitas motivações, mas em essência, trata-se de um lance-chave no processo de redefinição da ordem mundial. Está se decidindo quem vai mandar no mundo e como o mando será exercido.

Depois da queda do muro, Washington imaginou-se comandando tudo. A postura vassala da União Europeia ajudou-lhe a pensar que isso seria possível; a desorientação da maioria da esquerda, também, na medida em que, fazendo concessões ao neoliberalismo, contribuiu para a sensação fugaz de que o Estado e a política eram malditos. 

A mudança no exercício da hegemonia no mundo entrou em pauta e Washington quis eliminar o número dois em capacidade militar. Moscovo age para não desaparecer. A invasão da Ucrânia é um gesto vigoroso de auto-defesa.

 2. A mudança poderia ser pacífica? 

Ninguém cede poder por boa vontade. Olhando para a história, mudança na ordem mundial é um processo multi-facetado, alongado, com lances imprevisíveis e necessariamente sangrentos. A mudança não será pacífica. Hegemonia internacional rima com hecatombe.  O sangue correrá em proporções inimagináveis. 

Assim foi nas duas grandes guerras do século passado. A humanidade não perdeu a sua essência: persiste praticando malvadeza e bondade; sonha com a paz enquanto prepara porretes.


3. Quem desafia a ordem mundial?

A Rússia e a China são os desafiantes mais destacados. Mas a América Latina animou a contestação da ordem quando buscou a cooperação regional e as reformas sociais. Alimentou a audaciosa vontade de deixar de ser quintal do grande irmão do Norte. 

As demandas de reforma na estrutura de decisão na ONU são desafios à ordem. Potências intermediárias, como a Índia, o Irão e o Paquistão, buscaram reduzir a dependência externa em defesa. Incomodaram as estruturas existentes.

A dramaticidade da violência na África e no Médio Oriente revelam que o mundo tem que mudar. O mundo cobra as ofensivas guerreiras de Washington e da Europa.

 4. A Rússia desrespeitou a lei internacional?

 Desrespeitou. Foi forçada, agiu por instinto de sobrevivência. Conversou, conversou e foi ludibriada. Advertiu, advertiu e não foi ouvida. Viu-se cercada. Mísseis na fronteira próxima a Moscovo estorvariam a sua capacidade de reacção. A sua potência militar, em termos práticos, seria desmontada.  

Lei internacional é abstração: constrange os fracos e não alcança quem detém a força. Os crimes em Hiroshima e Nagasaki no Japão jamais foram punidos. Os Estados Unidos e a Europa têm muitos crimes nas costas e nunca perderam a pose de civilizados, belos e justos.

A guerra é o direito da força; suspende veleidades morais que embasam a lei.

 5. Como explicar a divisão da esquerda diante do crise? 

A guerra desperta paixões; desnorteia. Não há espetáculo mais macabro e atraente. Os seriados sobre os vikings, mongóis e romanos deslumbram pelo tanto de sangue exibido.

A esquerda, amarrada pelo jogo institucional, faz opções oportunistas. Muitos se dobram à guerra de narrativas vitoriosamente conduzidas por Washington.

A fragilidade da esquerda se revela quando militantes dizem ser contra a guerra. Ora, só psicopatas diriam o contrário. Outros alegam preferir não tomar partido. 

Essas são formas de não ver o processo histórico real. É um jeito de vestir a batina do abade Saint Pierre. Há militantes de esquerda que se reclamam humanitaristas, como se os que fazem a guerra também não reclamassem a mesma condição! Os que se enfrentam em campos de batalha são feras portando sentimentos sublimes, tanto que se acreditam abençoados por deuses. 

6. O Brasil deve se posicionar?

É cinismo ou parvoíce dizer que o Brasil não deve se posicionar por que não tem nada a ver com isso. Não há isenção possível quando humanos são destroçados em qualquer ponto do planeta. No mais, dos efeitos do conflito, ninguém escapa.

Dizer que não se deve entrar no jogo de potências imperialistas é insustentável. Seguindo esse princípio, teríamos lavado as mãos na Segunda Guerra Mundial. 

Dizer que não se pode tomar partido por ser a Rússia uma autocracia conservadora é tergiversação enganadora cujo resultado seria endossar “democracias” que açambarcam a riqueza e o poder em detrimento da humanidade. 

7. O Exército russo está sendo bem sucedido?

Sim, revela preparação, eficiência, competência, disciplina e planeamento sofisticado em terra, mar e ar, além de eficácia no espaço cibernético. Oficiais do Estado-Maior de todos os países analisam embasbacados a fabulosa máquina de guerra, talvez a mais poderosa do mundo. É orientado por objectivos políticos claros: não destruir o país invadido, mas garantir que não sirva de base de ataque. 

Ao pedir ingresso numa aliança militar impiedosa; ao desejar a instalação de artefactos de destruição em massa no seu território, o comediante-presidente da Ucrânia agiu como marionete de Washington. 

Chamar jovens para resistir com cocktail molotov e espingardas é mandá-los à morte. É pura crueldade. Os russos querem preservar a Ucrânia. Não fazem como Washington e a Europa costumam fazer: destruir tudo e matar todos. Do contrário, Kiev estaria destroçada e o comediante, morto.

Os “ocidentais” que incentivam a resistência ucraniana ou agem com instinto assassino ou não entendem nada. A primeira opção é a correcta.

8.  Como se explica a posição da Europa, directamente afetada?

A Europa não é unida nem tem voz altiva. Obedece as ordens de Washington. 

Além disso, não superou velhas rivalidades e preconceitos em relação aos russos. A Europa nunca admitiu a vizinhança com um país forte. A Rússia sempre humilhou os europeus quando invadiu o seu território. O ressentimento faz parte da cultura europeia e resume a barbárie moderna. Nada mais impiedoso do que o seu xenofobismo. 

Não é à toa que a direita está em ascensão na Europa há pelo menos três décadas. O Primeiro-Ministro do Reino Unido, o Presidente da França e o Chanceler da Alemanha retratam a degradação política e moral da Europa.  

9. As sanções surtirão efeito?

Surtirão, mas são imprevisíveis e podem gerar efeitos catastróficos para a Europa e os EUA. O mundo todo sofrerá porque está muito interligado. Alguns ficarão mais ricos, a maioria amargará penúria sem conta. Talvez haja mais sofrimento fora do que dentro do campo de batalha. 

A Rússia se preparou. Sabe pensar estrategicamente, assim como a China. Washington arrota poder e mostra primitivismo. Como falar em diplomacia e dar as costas ao chanceler russo no plenário da ONU? Isso serviu para passar na Globo. Não revelou força, mas fraqueza e estupidez.

10. A China estará firme no apoio à Rússia?

Sim. Sem a Rússia, a China estaria militarmente enfraquecida e teria os seus planos de expansão conturbados. Moscovo sabe disso. Não agiria contrariando a China, que mostra ponderação e evita exibição gratuita da força de que dispõe. Aliás, as potências vivem exibindo e escondendo a força de que dispõem. 

É bobagem dizer que a Rússia está isolada quando tem a China ao seu lado, assim como outras potências médias. 

11. Há chances reais de negociação?

Teoricamente, sim. Na prática, não. 

Teoricamente, basta delimitar a área da NATO e parar de sacrificar a população ucraniana. Na prática, isso seria capitulação. Implicaria em admitir a justeza da reivindicação russa e aceitar a multipolaridade, o que não está no escopo de Washington. 

A capitulação seria imaginável com um movimento popular mundial que não se pode conter, com incidência particular nos Estados Unidos. De outra forma Washington seguirá acompanhando os dictames do capital especulativo que domina as grandes empresas, em particular o complexo industrial-militar, doido para vender armas.

12. O que mudará nas relações internacionais?

Tudo. Algumas mudanças serão súbitas. Outras, podem se definir em tempo indeterminado. O rol de traições será um capítulo especial. Amigos de infância se esfaquearão pelas costas.

A guerra tem o condão de alterar padrões de comportamento, valores, esteios morais e até predileções estéticas. Stravinski anunciou a hecatombe de 1914-1918 revelando estruturas sinfônicas inovadoras, usando timbres, dissonâncias e assimetrias nunca antes experimentadas. 

A governação global mudará forçosamente. Imaginar o mundo quando está em curso o reordenamento da hegemonia é um exercício inglório, mas inevitável. Hoje, todos se perguntam: o que será, que será...

13. Há risco de guerra nuclear?

Sim. A Rússia não pode perder. Tem bala pra resistir até o fim. Aceitar perder é aceitar a autodestruição. Isso é impensável. A doutrina militar russa prevê o uso de armas atómicas tácticas e estratégicas. É difícil predizer que o fogo se limitará às fronteiras da Rússia. 

Moscovo está advertindo, advertindo, advertindo... Não é razoável ignorar a voz de quem tem botões fatais ao seu alcance. Enfim, a Rússia não pode perder a guerra.

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