A USURA ESTÁ A MATAR A ÁFRICA
Por RM Kuyeri, 02 de Janeiro de 2018

Em 1993, a riqueza da ex-Primeira-Ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, foi avaliada em £9.5 milhões, ou seja, cerca de USD6 milhões. Na mesma altura, a riqueza do então Presidente Vitalício do Malawi, Hastings Kamuzu Banda, foi estimada em USD320 milhões, ou seja, 53 vezes a riqueza de Margaret Thatcher. Por outras palavras, Kamuzu Banda, Presidente do mais pobre país de África, o Malavi, acumulava uma riqueza 5.300% mais do que Margaret Thatcher, a Primeira-Ministra de um país do primeiro mundo - o Reino Unido. Como se explica isso? Como se pode explicar tamanha grosseria? E lembre-se que se se comparar a riqueza de Kamuzu Banda com a de Sani Abacha, o ex-Presidente da Nigéria, Kamuzu Banda é um mero paupérrimo em comparação com a riqueza acumulada por Sani Abacha, que foi estimada em biliões de dólares norte-americanos.

Quando Frederick Chiluba, ex-Presidente da Zâmbia, deixou o cargo, ele foi julgado por actos de corrupção e abuso de poder e do cargo. Durante o julgamento, foi revelado que, numa viagem ao exterior, Frederick Chiluba fez uma série de compras e regressou a casa com 11 camiões repletos de artigos pessoais compostos por 64 pares de sapatos, 206 ternos de um designer especial, 185 camisas, 74 gravatas de um designer especial, 36 jaquetas e 157 calças. O custo total destes artigos foi estimado em USD1.1 milhões. Se pode dizer, com firmeza que nenhum líder, em qualquer país do primeiro mundo, pode gastar tanto dinheiro do erário publico em vestuário numa única viagem. Mas Frederick Chiluba, apenas um líder de um país pobre de África, foi capaz desta proeza. Como se explica isso? E, recentemente, um Presidente de um Parlamento de um país africano coleccionou 24 viaturas de luxo à sua disposição e, no entanto, ele encomendou outros mais oito carros de luxo, avaliados USD290 mil, para uso pessoal.

Portanto, um simples Presidente de um Parlamento africano, tinha um parque automóvel pessoal compostos por 32 viaturas de luxo para uso de um único homem. Este é apenas o Presidente de um Parlamento. Isso deixa qualquer pessoa perplexa para questionar quantos carros o Presidente do Parlamento deste país tinha à sua disposição. Qual Presidente do Parlamento de qualquer um dos países desenvolvidos pode pagar metade desta frota de viaturas de luxo!

Em Bruxelas eu vi eurodeputados a se dirigirem ao Parlamento Europeu de simples bicicletas com as suas sacolas a tiracolo, onde transportam os seus documentos. Mas os nossos deputados precisam de um Mercedes Benz Top de Gama para se dirigirem ao Parlamento. No entanto, qualquer eurodeputado, quando visita qualquer país de África, é recebido pelo Chefe de Estado com todo o protocolo e, os nossos deputados, quando de visita a Europa, nem sequer são recebidos por um ministro. Então, que estatuto digno lhes conferem os Mercedes Benz Top de Gama?

A próxima vez que alguém disser que a África é pobre, se deve esclarecer à tal pessoa que ela não sabe do que está a falar. A África não é pobre e, no entanto, as nossas infraestruturas estão todas arruinadas, a nossa gente vive na pobreza extrema, as nossas escolas não passam de meros galinheiros em escombros e os nossos hospitais estão obsoletos e sem equipamento hospitalar adequado.

A razão para esta tamanha pobreza dos estados de África não é que o continente seja pobre, mas que há muita ganância por parte dos nossos líderes em África. Quando os políticos africanos começam a delapidar a riqueza dos seus estados, eles não sabem quando parar. Exemplo disso em Moçambique são as famigeradas dívidas escondidas da EMATUM, MAM e Proindicus, entre outros males, como os da aquisição de Mercedes Benz protocolares Top de Gama para os deputados e governantes, em plena situação de crise económica e financeira que o país atravessa nos últimos dois anos.

O saque de Sani Abacha, que passou pelos bancos de Londres, foi estimado em USD1.3 biliões. Se pode imaginar o quanto mais passou pelos bancos suíços naquela época. É interessante que o Governo da Nigéria tenha feito um acordo com a família de Sani Abacha para devolver parte do dinheiro em troca da imunidade. A família de Sani Abacha retornou apenas USD750 milhões. Logo depois disso, o Governo nigeriano não pude saber explicar qual foi o destino dos USD750 milhões recuperados. Em outras palavras, assim que a família Abacha devolveu este montante, alguém o roubou logo também. O mesmo esquema está a ser seguido por Emmerson Mnangagwa, actual Presidente Interino do Zimbabwe, após o golpe militar que derrubou o Presidente Robert Mugabe em Novembro do ano passado.

Entretanto, nós africanos procuramos sempre culpar o nosso passado colonial e as acções dos imperialistas pela nossa pobreza, quando, na verdade, a ganância da nossa elite política em África é que tem custado a miséria dos nossos países em África, muito mais em pouco tempo do que os colonialistas nos dias de hoje.

De acordo com o argumento avançado por David Blair, da London Telegraph, os governantes do passado de um país africano roubaram ou usaram USD220 biliões, ou mesmo USD412 biliões em caprichos. Numa conferência de imprensa, em Abril de 2000 em Londres, o então Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, lamentou o facto de “biliões de dólares norte-americanos de fundos públicos continuarem a ser escondidos por alguns líderes africanos em bancos europeus, mesmo quando as estradas se desintegram e as pontes colapsam, os sistemas de saúde falham, as escolares não ficam livros, nem carteiras e os professores ficam meses sem salários”. Mas não são apenas os líderes africanos que estão matando os africanos com a sua ganância. A ganância tornou-se muito difundida na nossa sociedade a todos os níveis, a exemplo do Gana, sem descurar Moçambique, onde as taxas dos imóveis é exorbitante comparada com os rendimentos médios dos cidadãos.

No Gana é óbvio constatar a partir dos arrendamentos dos imóveis, onde os proprietários estão exigindo que as suas propriedades sejam reservadas aos chineses e outros estrangeiros, porque os ganenses não podem pagar a renda exigida. Então, por causa da ganância, num futuro breve, se prevê que os imóveis no Gana, em especial nas áreas de Kokomlemle, Osu, Asylum Down, Labone e outros lugares semelhantes, serão ocupados quase que exclusivamente por estrangeiros.

Enquanto isso, no sector da educação, os gestores privados estão a tirar partido da crise no ensino público, organizando programas extracurriculares obrigatórios, para justificar as altas taxas de propinas que são cobradas mensalmente em moeda externa, desde o ensino pré-escolar, aos dois anos de idade, até ao ensino universitário, porque as escolas precisam encontrar formas de espremer ainda mais o dinheiro dos pais e encarregados de educação. No caso de Moçambique, foram criados sindicatos de autores e editores de livros escolares que fazem lobbies junto do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano para anualmente se adoptar determinados livros de autores e editores por classe e disciplina. Mas os tais livros nunca estão a venda nas livrarias, senão no mercado informal.

A África lutou contra o domínio colonial e conseguiu sacudir as amarras coloniais. Mas está o continente africano preparado para fazer uma guerra contra a usura ou ganância? E quem liderará essa luta? Até a igreja, suposta depositária de valores morais e éticos, está mergulhada na usura ou ganância.

Podemos apregoar que tudo o que precisamos são os sistemas certos em África e mataremos a corrupção e ganância ou usura. Confiamos sim e temos sistemas apropriados em África, mas, por causa da ganância ou usura que tornou a nossa forma de ser, ninguém quer ver esses sistemas a funcionarem. Os funcionários que deveriam garantir o funcionamento de tais sistema, não veem isso como do seu interesse, não querem que tais sistemas funcionarem.

O ponto é que a usura ou ganância está matando a África, mas não podemos contar com ninguém para vir lutar por nós contra este mal que é o fundamento da corrupção em todos os seus sentidos. Todos nós, colectivamente e individualmente, temos de resolver desistir da nossa tendência e mentalidade de sermos gananciosos, porque isso não nos levará a lugar nenhum. O que se ganha com a usura ou ganância? Porque aquilo o se tira de outra pessoa, outra pessoa virá tirar também de si e a sua ganância se torna de outrem. A ganância leva a pessoa a saquear a sua nação para montar uma mansão e comprar o último carro executivo. Mas uma outra pessoa gananciosa vai emboscar-te em plena estrada para te matar e te tirar o carro. Dependendo da circunstância, podes morrer sozinho, como com o seu cônjuge e filho, etc. Então, o que você terá conseguido com a sua ganância? De um jeito ou de outro, precisamos acordar e perceber que a ganância está a matar-nos e não nos levará a lugar nenhum. Até que possamos fazer isso, a África rica continuará a ser reduzida a um continente mendigo e todos os africanos terão desprezo em todo lugar em que se encontrem. Mais ninguém, senão nós próprios, poderá libertar as nossas mentes para o progresso.

A diferença entre as nações pobres e ricas não está na idade da nação. Isto pode ser demonstrado por países como a Índia e o Egipto, que têm mais de 2000 anos e são países pobres ainda. Em contrapartida, países como o Canadá, Austrália e a Nova Zelândia, que há 150 anos atrás eram insignificantes, hoje são países desenvolvidos e ricos. Para tal algo fizeram e não esperaram que outros o fizessem por eles. Pois, a diferença entre uma nação pobre e uma rica, nem sequer depende também dos recursos naturais de que dispõe. O Japão, por exemplo, tem um território muito limitado, 80% do qual constituído por montanhas. Trata-se de um território inadequado para a agricultura ou agropecuária, mas é a segunda economia do mundo. Pois aquele país é como uma imensa fábrica flutuante que importa matéria-prima de todo o mundo e exporta produtos manufaturados para todo o mundo.

Outro exemplo é o da Suíça, onde não cresce cacau, mas produz os melhores chocolates do mundo. No seu diminuto território, a Suíça cuida das suas vacas e cultiva a terra apenas por quatro meses durante o ano. Não obstante, fabrica os melhores produtos de leite. Trata-se de um pequeno país que é uma imagem de segurança que se tornou no banco mais forte do mundo. No entanto, executivos de países ricos que interagem com os seus homólogos dos países pobres africanos não mostram nenhuma diferença intelectual significativa.

Os factores raciais ou de cor da pele também não têm importância: imigrantes altamente preguiçosos nos seus países de origem, são altamente produtivos nos países ricos da Europa. Então, qual é a diferença? A diferença é a atitude das pessoas, moldada durante muitos anos pela educação e pela cultura.

Quando analisamos o comportamento das pessoas dos países ricos e desenvolvidos, observa-se que a maioria respeita os seguintes princípios de vida:

1.    Ética, como princípio básico;
2.    Integridade;
3.    Responsabilidade;
4.    O respeito pela legislação e regulamentação;
5.    O respeito da maioria dos cidadãos pelo direito;
6.    O amor ao trabalho;
7.    O esforço para poupar e investir;
8.    A vontade de ser produtivo;
9.    A pontualidade.

Nos países pobres, uma minoria insignificante segue estes princípios básicos na sua vida diária. Por isso, não somos pobres porque nos falta recursos naturais ou porque a natureza foi cruel para connosco. Somos pobres porque nos falta a atitude certa. Falta-nos vontade de seguir e ensinar estes princípios de funcionamento das sociedades ricas e desenvolvidas. Por isso, estamos neste estado, porque queremos levar vantagem sobre tudo e todos.

Estamos neste estado, porque vemos algo feito de forma errada e dizemos: "Não é o meu problema", quando deveríamos ler mais  e agir mais, melhor e de forma acertada. Só então seremos capazes de mudar o nosso estado presente.

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