TEMPORADA PARA SE SER REALISTA E SABER SOBRE A TENSÃO ENTRE A COREIA DO NORTE E OS EUA
Por: RM Kuyeri, 05 de Dezembro de 2017

De acordo com Joanna Eva, uma analista e renomada consultora de riscos no mundo, colaboradora da GLOBAL RISK INSIGHTS: Know Your World, com sede em Londres, Reino Unido, na sua edição de 04 de Dezembro de 2017, aborda aspectos interessantes relativos à tensão nuclear entre a Coreia do Norte e os EUA na era de Donald Trump.

Antes referir que Joanna Eva é especializada em análises políticas e económicas no continente asiático, tendo vivido e viajado extensivamente na região, por quase uma década. Possui Mestrado em Direito pela Universidade de Nova Gales do Sul e teve o seu Bacharelato em Estudos Internacionais pela Universidade de Sydney. Ela é proficiente em inglês e mandarim, língua mais falada na China, o que a torna mais comunicativa com a realidade actual daquela região asiática junto ao Mar da China, com destaque para a China, Japão, Coreia do Norte e a Coreia do Sul.

O último teste de mísseis da Coreia do Norte foi mais significativo na correlação de forças naquela região, colocando os EUA firmemente à vista e alcance de Kim Jong-Un, o Fate Boy, quando a conversa é inevitavelmente em torno da política. Tido como tolo, Fate Boy fez, e bem, o seu trabalho de casa, não obstantes as famigeradas sanções económicas. A Coreia do Norte está agora mais preparada para o último brinde e melhor festejar a quadra festiva de Natal e Fim do Ano. Mas ninguém sabe ainda que surpresas os dois tolos (Fate Boy e Donald Trump) vão trazer ao mundo no limiar e ao longo do próximo ano de 2018, já que poucos dias restam de 2017, se é que ainda se pode esperar por alguma novidade dos dois malucos que brincam com armas nucleares.

Ficou momentaneamente de fora a cogitação de ameaça de Fate Boy a Donald Trump. Mas, quando a 29 de Novembro de 2017, a Coreia do Norte testou um míssil balístico intercontinental (ICBM) que superou qualquer outro lançamento anterior, a situação tomou novos contornos. O míssil voou durante 53 minutos, tendo alcançado uma distância de 600 milhas no Mar do Japão. Deste modo, a Coreia do Norte reafirmou que o recém-desenvolvido míssil Hwasong-15 é agora capaz de alcançar qualquer lugar no solo norte-americano, colocando os EUA ao alcance directo de Fate Boy.

As tensões são agora tão altas como no início da década de 1990, quando o então Presidente dos EUA, Bill Clinton, considerou a possibilidade de bombardear a instalação nuclear de Yongbyon no norte da Coreia do Norte. Os EUA e a Coreia do Norte estão assim em extremos opostos de um espectro nuclear impossível para alguns, mas possível para outros. Acusa-se a Coreia do Norte de ser obstinada na busca do desenvolvimento das suas capacidades defensiva anti-mísseis e ofensivas, com a probabilidade de levar a cabo ataques com mísseis nucleares de longo alcance. Contudo, os EUA estão determinados a impedir que isso aconteça, para manter o monopólio deste tipo de armas estratégicas. Trata-se de um jogo de soma zero que, aparentemente, ninguém pode sair vencer. Mas, tratando-se de dois loucos, tudo se pode esperar para ver.

O próximo passo para o líder norte-coreano Kim Jong-Un, o Fate Boy, é realizar um teste de ainda longo alcance que o Hwasong-15, para se colocar numa posição de uma guerra nuclear real, com todas as consequências daí esperadas. Os especialistas prevêem que a Coreia do Norte pode conseguir isso dentro de um ano, se é que ainda não o conseguiu. A retórica dos EUA parece sugerir que as sanções económicas e todas as respostas diplomáticas foram esgotadas, restando apenas as opções da última etapa sobre a mesa: ataques militares limitados, sanções secundárias contra a China ou um embargo completo contra a Coreia do Norte. Mas estas coisas de embargos ficaram historicamente provadas que não funcionam. O regime de Apartheid na África do Sul resistiu ao embargo, Cuba, Irão e Zimbabwe, idem, para citar apenas alguns exemplos.

As quatro anteriores administrações dos EUA buscaram uma série de estratégias e todas falharam de maneiras diferentes. A política de Donald Trump, de aplicar a “pressão máxima”, é uma extensão da abordagem da Administração Barack Obama, durante o seu segundo mandato, que se concentrou na colaboração com os tidos aliados para impor custos financeiros à Coreia do Norte. Até agora, parece estar aparentemente funcionando, pelo menos até certo ponto, mas este último teste de míssil Hwasong-15, no passado dia 29 de Novembro de 2017, parece demonstrar o contrário.

A principal diferença é o rosto público da política dos EUA em relação a Coreia do Norte, enquanto as anteriores administrações enfatizaram a necessidade de restrições económicas e financeiras. Donald Trump abordou a relação EUA -Coreia do Norte com o seu tom bombástico, que já se tornou agora familiar e todas as relações diplomáticas foram cortadas. Já não há conversações oficiais directas ou indirectas entre Washington e Pyongyang. Na semana passada, Donald Trump incluiu a Coreia do Norte na lista negra de terrorismo nos EUA, rotulando o país de Fate Boy como um patrocinador estadual do terrorismo internacional.

Mesmo que Donald Trump tomasse um tom afável, a desestruturação das complexas relações de hostilidades parece improvável, porque a crispação das relações entre os dois países é histórica e baseada na falta de confiança de parte a parte. Os outros governos que abandonaram as suas armas de destruição em massa, como são os casos da Ucrânia, Líbia e Iraque, não têm nenhuma, nem que seja mínima, imagem atraente para com os regimes norte-americano e norte-coreano, devido aos seus programas nucleares, tidos como a única garantia de segurança. É seguro assumir que ambos não têm intenção de enveredar pela desnuclearização mundial.

Felizmente, dependendo de quanta fé se pode ter de Donald Trump, os EUA não são o único país que tenta conter a Coreia do Norte no seu programa nuclear. O Japão e a Coreia do Sul, alvos muito próximos da Coreia do Norte, apoiam a pressão máxima sobre o regime de Fate Boy, impedindo o acesso de Pyongyang à moeda estrangeira, tão necessária, através de uma série de sanções cada vez maiores. O Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In, parece ser o mais dedicado a prosseguir o diálogo e a continuar a prestar assistência humanitária às sofridas populações da Coreia do Norte, embora isso ainda não tenha causado muita simpatia para a coalizão entre os regimes políticos de Seul e Pyongyang.

De acordo com a Coreia do Sul, a China talvez seja o país mais a ser prejudicado em caso de desestabilização completa naquela península, por compartilhar uma longa fronteira comum com a Coreia do Norte. Beijing receia ser um incómodo o provável colapso do regime de Fate Boy, porque isso poderá incitar a uma inundação de refugiados e activos nucleares no seu país, e, consequentemente, vir a ser um processo muito lento para se adequar às medidas do Conselho de Segurança da ONU. Mesmo assim, a China tem assumido cada vez mais um papel proactivo nas sanções a empresas que estão sendo vistas como estarem a cooperar com o regime da Coreia Norte. Este último lançamento de mísseis ocorre poucos dias depois de uma visita do enviado especial da China a Pyongyang e após a suspensão de voos comerciais entre os dois países.

Advogando a necessidade de se reduzir as tensões na região, a China pediu o fim dos exercícios militares conjuntos da Coreia do Sul e dos EUA, em troca de um compromisso da Coreia do Norte para impedir o desenvolvimento de mísseis e retornar à mesa de negociações. Mas os EUA estão determinados a manter a prontidão militar. Este é um curso de acções improváveis para 2018. Pois, com ambos os lados não querendo conversar, o impasse diplomático continua.

Após o recente lançamento do míssil Hwasong-15 pela Coreia do Norte, Pyongyang está agora afirmando que atingiu a posição de um estado nuclear. Embora seja um exagero, relativamente às suas capacidades actuais, 2018 poderá significar uma história inteiramente diferente. Com Donald Trump no comando da política externa dos EUA, associado às relações regionais mais tensas do que nunca, uma maior escalada da tensão pode ser inevitável. Mas ainda não é assim para tanto se preocupar, nem deixar de nos preocuparmos. De qualquer modo, há muito pouco do que pode ser feito.


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