PONTE
DONA ANA
RM Kuyeri, 29 de Maio
de 2017

A Ponte Dona Ana atravessa o rio Zambeze
entre as aldeias de Nhamayabwe, na Província de Tete, e Caia, na Província de
Sofala, está a receber obras que consistirão em substituir o pavimento de lajes
e na reposição de chapas metálicas, substituição de perfis em vários pontos,
raspagem e pintura das estruturas metálicas, bem como a substituição de mais de
100 candeeiros de iluminação ao longo da ponte.
A Ponte Dona Ana foi construída num troço da
Linha Ferroviária de Sena que liga o Porto na Cidade da Beira, Província de
Sofala, à Vila de Moatize, na Província de Tete, e tem cerca de 3.700 metros de
comprimento, dos quais 565 metros de tabuleiro de acesso sul suportado pelo
viaduto de Sena, 2.990 metros de tabuleiro que constitui a plataforma central
da ponte e 265 metros de tabuleiro de acesso norte suportado pelo viaduto de Mutarara.
As
obras de reabilitação da Ponte Dona Ana estão a ser executadas em regime de empreitada
por uma pequena empresa de construção civil sedeada na Cidade da Beira,
denominada EGEC Lda., cujos trabalhos
serão fiscalizados pelos CFM, a marcando a concretização do desejo das
comunidades ribeirinhas do Rio Zambeze de ver aquela infra-estrutura ferra
reabilitada. O pedido da população foi feito no ano passado ao Chefe do Estado,
Filipe Jacinto Nyusi, aquando da sua primeira visita de trabalho ao
empreendimento.
A
preocupação da população em relação à degradação da Ponte decorreu de relatos de
alguns utentes daquela infra-estrutura, segundo os quais, pelo menos cinco pessoas
morreram e outras seis contraíram ferimentos graves ao longo do ano, depois de
terem sofrido quedas durante a travessia do Rio pela Ponte, devido ao seu
acentuado nível de degradação.
Dados
estatísticos indicam para um tráfego diário estimado em mais de três mil
pessoas que atravessam a Ponte Dona Ana nos dois sentidos Sul-Norte e
vice-versa, constituindo uma grande atracção turística que está a impulsionar
as trocas comerciais entre as comunidades vizinhas das Províncias de Sofala,
Tete e Zambézia, incluindo o Distrito de Nsanje, no vizinho Malawi. Espera-se
que a conclusão das obras dinamize o movimento de pessoas e bens pela Ponte e
permita uma maior segurança, sobretudo no período nocturno.
As
autoridades ferro-portuárias e político-administrativas de Sofala advertem aos
utentes da Ponte no sentido de observarem a carga máxima estabelecida a ser
transitada pela Ponte, por questões de segurança daquela infra-estrutura, bem
como promoverem acções regulares de limpeza para evitar a corrosão das peças metálicas
da Ponte.
A
Ponte Dona Ana e Fortaleza de Sena constituem uma importante atracção turística
na região, principalmente para a observação da planície do Rio Zambeze e a
cadeia montanhosa de Morrumbala, ao longo da fronteira comum entre Moçambique e
Malawi, emprestando fundo de uma vista panorâmica singular.
Valor histórico da Ponte
Dona Ana
Já se referiu que a Ponte Dona Ana tem
3,67 quilómetros de comprimento e a sua construção foi concluída em 1934, sendo
tida como a 5ª ponte mais longa de África, a seguir a 4ª mais longa ponte que
liga Nampula a Ilha de Moçambique que tem 3,7 quilómetros, construída em 1969. A
primeira ponte mais longa de África é a 6 de Outubro no Cairo, Egipto, com 20,5
quilómetros de comprimento, construída em 1996. A grande ponte de
Danyang-Kunshan na China é considerada a mais longa do mundo, com 164,8 quilómetros
de comprimento.
A British
South Africa Company teve uma concessão do Governo colonial português para
construir a linha férrea de Dondo, na Província de Sofala em Moçambique até
Blantyre na então Niassalândia, actual Malawi, ligando à principal linha de
caminhos-de-ferro da Beira em Moçambique à então Rodésia do Sul, actual
Zimbabwe, construída em 1912, para servir os propósitos comerciais de
Niassalândia.
O Governo da Niassalândia concordou em
dar assistência financeira à British
South Africa Company para construir a Central
African Railway (CAR), a partir de
Nsanje, o ramal sul da linha férrea 61 milhas, denominado Shire Highlands Railway, na margem norte do Rio Zambeze em Chindio. Esta linha foi
terminada em 1914, dando fim à navegação fluvial de Chindio até Chine, no
Oceano Índico.

Em 1922, a empresa Trans-Zambezia Railway Company concluiu
a linha férrea que partia da Beira até Murraça, no Distrito de Caia, Província
de Sofala, ao longo da margem norte do Rio Zambeze, em frente a Chindio, completando
uma ligação ferroviária que partia de Blantyre até ao Porto da Beira. As linhas
férreas Central African
Railway e Shire Highlands Railway ligavam-se
por via fluvial através de uma curta travessia do Rio Zambeze através de um ferryboat. Verificou-se que o ferryboat era inconveniente para o
transporte de mercadorias, devido à sua diminuta capacidade de transporte por
causa da profundidade do leito do Rio Zambeze e demoradas operações de
transbordo de mercadorias das carruagens para o ferryboat e deste para as carruagens na outra margem do rio.
Entretanto, durante a estação seca o Rio
Zambeze ficava dois meses com o nível do seu leito muito baixo e, na estação de
chuvas, havia inundações em vastas áreas, cobrindo distâncias muito longas, o
que impedia a interligação das duas linhas férreas através do ferryboat. Devido a tais
constrangimentos, em 1927 o Governo britânico encomendou um estudo sobre a possibilidade
de construção de uma ponte sobre o Rio Zambeze.
Após o estudo, foi produzido um
relatório conhecido por Hammond
Report. O Relatório Hammond propôs a
construção de uma ponte sobre o Rio Zambeze em Mutarara, a 25 milhas acima de
Chindio. O custo da Ponte sobre o Rio Zambeze foi estimado em £1.06 milhões,
que veio a eliminar o uso de balsas, tendo aumentado o tráfego e rendimento de
mercadorias, dando assim viabilidade para o retorno do capital investido na
construção da ponte. Os rendimentos anuais pelo uso da ponte possibilitaram a
criação de um fundo de para pagar os empréstimos contraídos para a construção
da ponte. Refira-se que o custo final para a construção da Ponte Dona Ana sobre
o Rio Zambeze foi de £ 1.74 milhões, muito acima do estimado e nunca chegou a gerar
tráfego suficiente para pagar as taxas de juros, muito menos reembolsar os empréstimos
levantados para a sua construção.
A ponte de 3,67 quilómetros de
extensão sobre o Rio Zambeze, que mais tarde veio a chamar-se Dona Ana, era
naquela época a maior ponte ferroviária de África, compreendendo 33 vãos de 80m
e 7 vãos de 50m. A ponte foi construída pelos portugueses em 1934, durante o Governo
de António de Oliveira Salazar (1932 - 1968), em pleno regime colonial português
em Moçambique e durante a Segunda República em Portugal, instituído após o golpe
de estado de 28 de Maio de 1926.
Referir que o Estado Novo foi o nome dado ao regime político autoritário, autocrata
e corporativista de Estado instituído por António de Oliveira Salazar que
vigorou em Portugal durante 41 anos, sem interrupção, desde a aprovação da Constituição
de 1933 até ao seu derrube pela Revolução de 25 de Abril de 1974. A Ponte Dona
Ana veio a ficar inoperacional na década de 1980, durante dos 16 anos que opôs o
Governo moçambicano e a RENAMO.

Embora a ponte não esteja localizada numa
rodovia principal, constituiu uma rota alternativa de travessia do Rio Zambeze.
As outras duas opções foram a Ponte Samora Machel na Cidade de Tete e a travessia
por ferryboat na Estrada Nacional Número 1 (EN1) entre Caia na Província de Sofala
e Chimwara na Província da Zambézia, que nem sempre foi fiável, onde veio a ser
construída a Ponte Armando Emílio Guebuza em 2009. Até então, a Ponte Dona Ana era
a maior e última ponte a jusante do Rio Zambeze, e foi completamente fechada ao
tráfego de veículos em Outubro de 2006 para a sua reabilitação e reconversão
para de novo voltar a ser uma ponte ferroviária, tendo sido reaberta ao tráfego
ferroviário em 2009.
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