AFINAL QUEM PATROCINA O BELICISMO DE DHLAKAMA?
Por: Gustavo Mavie, AIM, 11/08/2016

Desde que Afonso Dhlakama enveredou, a partir de 2012, pela tentativa de reactivar a guerra, tenho estado a tentar descobrir quem afinal, desta vez, o apoia, já que na guerra dos 16 anos teve o suporte camuflado de alguns países ocidentais e, abertamente, da então Rodésia do Sul, de Ian Smith, e do regime racista do apartheid, da África do Sul.

Das investigações que tenho feito, como jornalista, amante fervoroso da bela Pátria Amada, tenho tido evidências irrefutáveis de que há certos países, e principalmente alguns dos seus cidadãos com cargos na hierarquia dos respectivos Estados, como embaixadores e altos-comissários, por detrás do apoio a Dhlakama, incentivando-o à desestabilização.

Entre as fontes orais que me têm asseverado que há de facto alguns estrangeiros que apoiam Dhlakama contam-se muitas de dentro da própria Renamo e que estão contra o belicismo do líder. Algumas dessas fontes reputo-as fidedignas e, acima de tudo, patriotas.

Aliás, algumas dessas fontes são mandatárias do povo, representando as bancadas, quer da própria Renamo, quer do MDM e assumem piamente que agora, mais do que nunca, estão reunidas todas as condições para que Afonso Dhlakama faça política pacificamente, tal como elas o fazem na AR.

Dhlakama viveu 20 anos pacificamente em Maputo, após a assinatura do AGP e nada lhe aconteceu de mal. Teve ao longo desse período muitos encontros com os então Presidentes Joaquim Chissano e Armando Guebuza e outros dois com o actual estadista Filipe Nyusi, sem necessitar de mediadores. Presentemente, tem falado regularmente com o Presidente Nyusi, via telefónica, segundo desmistificou uma das minhas fontes censurando a exigência de mediadores internacionais para Dhlakama se reunir com Nyusi. Tudo isto me foi segredado há dias, à margem de um seminário de partidos políticos em que eu também participei, no Hotel Cardoso, aqui em Maputo.

Uma das últimas revelações que as minhas fontes me fizeram nas vésperas deste último fim-de-semana, e que me custa acreditar, é a de que o actual embaixador norte-americano em Maputo, Dean Pitman, seria um dos que apoia este belicismo de Dhlakama. Essas minhas fontes fazem jus que Pitman tem encorajado Dhlakama a manter-se firme nesta sua tentativa de reactivar a guerra para destronar o Governo de Nyusi e colocar a Frelimo na oposição.

Já agora, e como está provado que perguntar não ofende, pergunto pois, por esta via, se é verdade que V. Excia. Senhor Embaixador Pitman recebeu, no dia 4 deste mês, na sua Embaixada, os membros dirigentes da Renamo, nomeadamente José Manteigas, Eduardo Namburete, e Maria Joaquim, e se durante esse meeting terá expressado a sua grande satisfação pelo facto de a Renamo estar a intensificar e expandir os ataques armados, melhor, as matanças para outras províncias do país?

Para quem não sabe, Maria Joaquim é esposa do membro sénior da Renamo, Manuel Pereira, e está assente que ela goza de extrema confiança de Dhlakama.
 
As minhas fontes revelaram também, sempre na condição de anonimato, que Pitman esteve reunido com aqueles dirigentes, entre as 13 e 14 horas do dia 04 de Agosto corrente. Disseram-me mais: que os terá encorajado a não cederem nunca e jamais nas exigência da Renamo de governar nas seis províncias em que Dhlakama alega ter ganho as eleições de Outubro de 2014.

Contaram-me ainda que lhes terá dito que o que a Renamo está a fazer ele também o faria caso lhe fosse dada essa oportunidade, tudo para acelerar a queda da Frelimo do poder. Se de facto V. Excia. apoia o belicismo da “Perdiz” e baseando-me no que assimilei quando era estudante de Relações Internacionais e Diplomacia, está a violar as convenções diplomáticas que norteiam as suas funções e a isso considera-se ingerência imperdoável nos assuntos do meu país. Por isso, peço que não me condene por fazer estas perguntas. Fazem parte da minha profissão e não têm nada contra si, como pessoa.

No dia 7 de Fevereiro deste ano escrevi um artigo em que catalogava Afonso Dhlakama de inimigo dos moçambicanos, e na altura houve quem me acusasse de ter feito um juízo errado ou exagerado.

Volvidos agora seis meses após essa minha catalogação, tenho mais do que uma razão, ou matéria suficientemente bastante e irrefutável, para manter este juízo sobre Dhlakama.

Sinto-me até no direito e dever de acusá-lo de estar a cometer, uma vez mais, crimes hediondos de guerra e de violar, deliberadamente, e sem justa causa, os direitos humanos, ao mandar matar civis, doentes e inocentes nos hospitais onde se encontram a receber tratamento médico. Acuso-o também de mandar matar muitos outros cidadãos inocentes nas suas casas, nas viaturas e nos comboios que conduzem ou pilotam, ou que viajam na sua luta diária pela sobrevivência.

Sinto-me ainda mais legitimado pelos actos bárbaros que os seus homens armados têm perpetrado de acusá-lo de estar a ordenar a destruição de unidades sanitárias, o que resulta no sofrimento e até na morte dos que nelas deviam ser tratados, porque os priva do acesso aos cuidados médicos e a um parto assistido por pessoal médico competente, para o caso de mulheres grávidas.

Neste último, ele causa muitas vezes a morte dos bebés já quase na hora em que deviam ver também a luz do Sol, tal como o próprio Dhlakama a viu há mais de 60 anos.

Para sustentar esta minha catalogação a Dhlakama de que é um inimigo dos moçambicanos, inspirei-me, em Fevereiro último, na história do antigo Império Romano, em que havia no tempo em que Cícero reinava romanos que eram inimigos da própria Roma e, obviamente, dos próprios romanos como um povo.
Vincava, então, que Cícero teve de lhes mover uma guerra sem quartel, e que, tal como entre nós, há os que agora inocentam inexplicavelmente Dhlakama e apoiam abertamente esse seu belicismo, também Cícero foi acusado de estar a cometer excessos de poder. Contudo, o verdadeiro povo, aquele que era vítima das atrocidades, vendo-se salvo dessa desumanidade dos então inimigos de Roma, o aplaudia. Reza a mesma história romana que entre os que condenavam Cícero havia muitos que se haviam tornado inimigos de Roma e dos seus próprios compatriotas.

Por incrível que pareça, esse apoio ao belicismo de Dhlakama, e esta sua sistemática violação dos direitos humanos, têm sido defendidos e apoiado à luz do dia e da noite pelos seus deputados na Assembleia da República, e por alguns jornalistas moçambicanos em serviço nos jornais ditos independentes, cujos proprietários ou editores são parte das tais minas retardadas de que falava Samora Machel.

Há cada vez mais fontes que têm espelhado evidências que deixam mais do que claro que há de facto um apoio velado a Dhlakama de alguns embaixadores acreditados no nosso país e a prova disso é o seu mutismo perante estas atitudes da Renamo que têm semeado a morte e o luto no país.

De facto, não há como explicar que estes mesmos embaixadores e alto-comissários estejam em pé de guerra contra os moçambicanos a quem acusam de terem endividado o país às escondidas, mas já não estejam em pé de guerra contra Dhlakama e todos os que com ele matam com armas os seus próprios compatriotas.
 
Com que lógica se baseiam senhores embaixadores? Serão as dívidas mais assassinas que os assassinatos ordenados por Dhlakama? Ou estão mais aborrecidos com as dívidas porque se usou parte do respectivo dinheiro para a compra de armas com que o Governo nos defende da sanha assassina da Renamo?

Como não acreditar que a vossa ira seja mesmo pelo facto de que essas armas estão, de certa forma, a travar o avanço da Renamo que faria com que a Frelimo fosse deposta à força, já que pela via eleitoral não tem sido possível? Terão por acaso uma explicação para este vosso mutismo?

Sei que há quem tentará negar esta minha asserção mas, como tenho dito, quem nega o que aqui digo é o mesmo que negar a existência do Sol – ele não deixará de se revelar com a sua luz.

Dhlakama não pode ter armas e toda a logística necessária para manter homens armados. Ele não tem fábrica de armamentos e de fardamentos em Gorongosa e nem noutras partes de Moçambique. O povo moçambicano merece sossego tal como desfrutam de sossego os povos da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, da Alemanha, da França, da Bélgica que sabem o quão trágico é o terrorismo.

É imperioso que os dirigentes e diplomatas destes países condenem firmemente Dhlakama com a mesma veemência com que condenam outros belicistas e, mais, que nos ajudem a combater este terrorismo da Renamo que resulta na morte de inocentes.

Não há nenhuma razão para Dhlakama manter-se belicista, depois do Acordo de Roma, porque ele passou a desfrutar, mais do que a maioria de nós, de excessivos direitos inerentes a um cidadão moçambicano, não obstante tenha liderado até 1992 uma guerra antipatriótica que causou a morte directa de mais de um milhão de seus compatriotas, e sofrimento indescritível e morte indirecta de milhões de outros.

Como também sabemos, por força do Acordo de Cessação das Hostilidades que Dhlakama assinou a 05 de Setembro com Guebuza aqui em Maputo, foram-lhe outorgados vários direitos e perdoado todos os crimes que mandou cometer quando das escaramuças que foram protagonizados na região de Muxúnguè entre 2012 a 2014. Entre esses direitos destaco o de Líder da Oposição, que lhe outorga a prerrogativa de receber 80 milhões de meticais por ano, só para ele e sem fazer mais nada! Estes são benefícios e privilégios invejáveis e bastantes num país cuja maioria ganha menos de dois dólares por dia, mas que ele agora pontapeou e optou pela reactivação dessas escaramuças que estão a causar, uma vez mais, a morte de civis e membros das FDS, e a destruição de bens e infra-estruturas públicas, assim como das referidas unidades sanitárias.

Se eu fosse um juiz, ou melhor, um Tribunal Internacional, como esses que há por esse mundo fora que têm julgado outros criminosos de guerra, mas que incrivelmente toleram Dhlakama, eu iria acusá-lo e julgar sem mais delongas. Mesmo assim, insto os que já foram vítimas ou que já perderam os seus entes queridos a submeterem queixas aos nossos tribunais e mesmo aos de índole mundial, para que Dhlakama e todos os que o apoiam sejam finalmente julgados.

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