NA FALTA DE UMA LIDERANÇA
ESCLARECIDA, UM PAÍS À DERIVA?
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
CANALMOZ – 19.11.2015
São vários poderes existentes, sem que se manifeste
uma liderança
Multiplicam-se
os sinais de que Moçambique está caminhando para o abismo e para o regresso da
guerra civil.
A tentativa
de passagem de testemunho para um PR de outra geração parece que não ganha
tracção. Existe um novo PR, mas quem sempre mandou na Frelimo não lhe entregou
o poder.
O colectivo
de direcção da Frelimo, chamado Comissão Política, parido no seu último
congresso em Pemba, é um órgão de fundamental importância, pois é, afinal, quem
controla e decide o que a Frelimo faz, e esta decide o que o seu Governo faz.
Se por vezes
parece haver desencontros ou contradições entre o que alguns membros da
Comissão Política dizem em relação ao que o PR FJN diz, não é verdade. FJN sem
a Frelimo não é coisa alguma, como um dia Gabriel Muthisse disse.
Assiste-se a
um “forcing” por parte dos defensores da solução final e os que se poderiam
chamar “moderados”. Não há muita clareza quanto à real correlação de forças no
seio da Frelimo. Se, por um lado, subentende-se que Alberto Chipande finalmente
alcançou o que lhe estava reservado, do ponto de vista de herança do poder na
Frelimo, mesmo que seja por terceira pessoa, FJN, ainda não está claro como o
poder está estruturado.
AEG e JAC
não estão fora de cena, mesmo que oficialmente estejam.
Existe uma
velha guarda na Frelimo que não se imagina fora do poder e dos corredores do
mesmo.
Depois de
saborearem as mordomias que o poder lhes ofereceu, quando ascenderam ao poder
em 1975, não lhes passa pela cabeça que sejam relegados para posições
secundárias.
Observando o
comportamento dos membros da Frelimo nas cidades onde ficou oposição, fica
claro qual é a raiva e ressentimento que respiram. Inventam e constroem crises,
atacando quem governa sob pretextos e outras artimanhas. Procuram colocar a
população contra o partido que governa essas cidades, utilizando a terra como
meio.
Agora que se
reacendem as hostilidades em alguns pontos do país, verifica-se uma ofensiva de
ataque a membros da Renamo, sob alegações de que são “homens das catanas”.
Está montado
um clima perigoso de abuso dos direitos humanos muito similar ao que existia
nos dias do partido único de triste memória.
Os que
sempre dirigiram o país não aprenderam a liderar à base da consensualidade. Era
fácil governar ditatorialmente, e o que verificamos nos dias de hoje é uma
resistência à democracia que propala defender. A CRM é atiçada como
justificação de tudo o que dizem, mas, na verdade, o que pretendem é manter-se
indefinidamente no poder.
Na
comunicação social pública abunda um discurso “embrutecedor” dos dias do Departamento
de Informação e Propaganda da Frelimo.
Vende-se
banha de cobra todos os dias e, quando convém, risca-se dos noticiários os
assuntos que mais contam.
Vive-se uma
anormalidade normal em que os governantes fingem que está tudo bem quando se
sente que alguma coisa está prestes a explodir.
A falta de
concertação entre os verdadeiros detentores do poder na Frelimo está-se
constituindo como o verdadeiro perigo para Moçambique.
Quando se
dizia que existiam alas na Frelimo, o discurso oficial era sempre negando que
isso era verdade.
Onde estão
os “intelectuais de Dar e Argel”? Onde estão os “generais macondes”? Existe, ou
não, um grupo que se intitulava herdeiros do império de Gaza?
Moçambique
tem sido governado sucessivamente por militares, securocratas e comissários
políticos. E em eles todos a veia ditatorial e de exclusão foi marcante.
As alas
existem e estão de boa saúde. Se FJN, um tecnocrata, engenheiro, que assume o
poder porque o seu mentor assim preferiu, tiver que governar, terá que ser
respeitando o que o “conclave dos generais macondes” tiver decidido. É difícil
imaginar como ele sobreviveria não cumprindo as instruções, mesmo que veladas,
desse importante grupo.
Agora que os
resultados eleitorais homologados trouxeram instabilidade, a ala a quem cabe
governar parece disposta a entrar em mais um ciclo de violência. Como país,
temos um histórico de violência politicamente motivada que os políticos estão
sendo incapazes de tratar com cabeça fria e lucidez.
Algumas
situações fazem lembrar o ocorrido em alguns países no período da Primavera
Árabe, em que os filhos e apoiantes de líderes da Líbia e Egipto se negavam a
que houvesse soluções pacíficas para pôr fim às crises.
Optou-se
pela violência quando era possível encontrar soluções que respeitassem vidas
humanas.
Descambou-se
para a barbárie e destruíram-se Estados que antes eram mais ou menos sólidos.
Recuperados
dos dezasseis anos de guerra civil e com projecções de desenvolvimento
promissoras, os apetites vorazes de alguns compatriotas recusam-se a aceitar
“dividir o bolo”.
Se na
capital de Moçambique se vive uma aparente normalidade, o resto do país está
apreensivo, porque se sente que as nuvens negras prenunciam tempestade.
Este
Moçambique pode ainda ser uma história de sucesso. O capital de experiência
existente pode ser decisiva, mas aqui requer-se coragem e patriotismo acima das
proclamações ocasionais.
Não se trata
de determinar quem é o melhor ou quem tem mais razão, mas o que se deve fazer
para se manter a paz.
Haja coragem
e discernimento de calar as armas e a brutalidade e abusos contra os direitos
humanos dos moçambicanos.
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