A ÚLTIMA CARTA DE MUAMMAR KHADAFI

RM Kuyeri, 21 de Abril de 2025

Em 2011, numa conspiração internacional, sob a égide dos EUA, promoveu uma subversão que levou milhares de pessoas a rebelarem-se na Líbia contra o Governo Socialista do Coronel Muammar Khadafi, uma figura altamente polarizante no Ocidente, por ter dominado a política durante quatro décadas, alegando que submetia às pessoas ao culto generalizado da sua personalidade.

O Coronel Muammar Khadafi governou a Líbia como Presidente Revolucionário da República Árabe Líbia de 1969 a 1977. Depois como Líder Fraternal do Grande Jamahiriya (Estado de massas) Árabe Popular Socialista da Líbia de 1977 a 2011, tendo desenvolvido o país com as receitas do petróleo e eliminado os impostos.

Mas o líder líbio era igualmente defensor e promotor do pan-africanismo. Ele apregoou e defendeu a libertação económica de África dos desígnios imperialistas do Ocidente, propondo a criação de uma federação de Estados Unidos da África. Uma federação de Estados africanos com moeda própria, o Dinar de Ouro, que suplantaria o Dólar dos EUA.

Para os EUA isso foi visto como o mesmo que decretar o fim da supremacia norte-americana e do Ocidente. Pois, o petróleo africano e muitos outros recursos naturais estratégicos africanos passariam a ser adquiridos no mercado internacional em Dinar de Ouro líbio.

A subversão levada durante décadas, tirou o povo líbio da prosperidade, porque incomodava o Ocidente. A Líbia mergulhou numa onda de “protestos pacíficos” que foram reprimidos pelas autoridades. Tal teria desencadeado uma suposta “guerra civil”. Várias pessoas, entre civis e desertores do exército foram mobilizadas e formaram as denominadas milícias kateebas (brigadas), supostamente para libertarem a Líbia da “ditadura”.

A suposta guerra civil na Líbia serviu de alegação internacional do Ocidente para intervir militarmente naquele país, através do exército da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que destruiu a Líbia após a captura e assassinato do Coronel Muammar Khadafi.

Ele estava bem de saúde quando foi capturado no seu esconderijo por traição dos seus colaboradores directos e colocado numa carrinha de caixa aberta para o local onde foi assassinado sem dó nem piedade pelas kateebas.

Diz-se que foi neste cenário que, numa quinta-feira daquele ano, pouco antes do seu assassinato, a 20 de Outubro de 2011, o Coronel Muammar Khadafi, então Presidente da Líbia escreveu uma carta ao seu povo a partir do seu esconderijo "em nome de Allah, o Misericordioso, o Compassivo".

Na sua carta, o Coronel Muammar Khadafi disse que, “por mais de 40 anos, talvez até mais… Já não me lembro. Fiz tudo o que pude para servir o meu povo. Construi casas, hospitais, escolas. Quando estavam com fome, dei-lhes de comer.

Em Benghazi, cheguei a transformar o deserto em terra arável. Resisti aos ataques daquele vaqueiro, Reagan, que matou a minha filha adoptiva, uma criança inocente, ao tentar assassinar-me. Apoiei também os meus irmãos africanos com recursos para fortalecer a União Africana.

Sempre procurei mostrar ao povo o verdadeiro significado da união: comités populares, dirigindo o seu próprio país. Mas, para alguns, isso nunca foi suficiente. Mesmo os que tinham casas luxuosas, roupas caras e carros importados, nunca estavam satisfeitos. Sempre queriam mais. Diziam aos zunianos (americanos) e aos visitantes que queriam "liberdade" e "democracia" sem entender que esse sistema nada mais é do que um grande mercado onde o mais forte devora o mais fraco.

Eles foram seduzidos por palavras bonitas, sem perceberem que, nos EUA, não há saúde gratuita, nem moradia gratuita, nem educação gratuita. Lá, é preciso implorar por comida ou esperar em longas filas por uma tigela de sopa. Não importa o quanto eu tenha feito, para alguns nunca bastou.

Mas outros sabiam que eu seguia os passos de Gamal Abdel Nasser, o único verdadeiro líder árabe e muçulmano desde Salah-al-Din (A Justiça da Fé). Como ele exigiu o Canal de Suez para o seu povo, eu reivindiquei a Líbia para os líbios. Lutei para libertar o meu povo do domínio colonial e dos saqueadores.

Agora estou sendo atacado pela maior força militar da história. Obama, meu "neto africano", quer matar-me, tomar a liberdade do meu país e nos privar de tudo o que conseguimos gratuitamente: moradia, saúde, educação e alimento, substituindo tudo isso pelo sistema capitalista americano.

Nós, do Terceiro Mundo, sabemos bem o que isso significa: grandes corporações dominando os nossos países e fazendo o povo sofrer. Por isso, não me resta outra escolha. Tenho que me preparar. E, se Allah quiser, morrerei seguindo o seu caminho: o caminho que tornou nosso país rico, fértil, com saúde, alimento e capaz de ajudar os nossos irmãos africanos e árabes, trabalhando juntos na Jamahiriya da Líbia.

Não quero morrer. Mas, se for pela salvação da minha terra e do meu povo, de todos os líbios que considero meus filhos, então que assim seja. Que esta carta seja a minha última voz no mundo.

Resisti à agressão das cruzadas da NATO, enfrentei a crueldade, frustrei a traição. Levantei-me contra o Ocidente e as suas ambições colonialistas. Com os meus irmãos africanos e árabes, permaneci firme, como um farol.

Enquanto outros construíam palácios, eu vivia numa casa modesta e numa tenda. Nunca esqueci as minhas origens em Sirte. Não gastei irresponsavelmente o tesouro nacional. Assim como Salah-al-Din, o grande líder muçulmano que libertou Jerusalém. Tomei-o um pouco para mim.

Mesmo sabendo da verdade, o Ocidente me chama de "louco" e "excêntrico". Continuam mentindo, mesmo sabendo que o nosso país é independente e livre, e que a minha visão sempre foi sincera e a favor do povo.


Lutarei até o meu último suspiro para manter a liberdade do meu povo.

Que Allah, o Todo-Poderoso, nos ajude a continuar firmes, fiéis e livres”.

Por mais que o Coronel Muammar Khadafi tenha cometido erros, isso não apaga o legado que ele deixou e, de facto, 14 anos depois da sua morte, a Líbia continua reduzida a escombros da guerra.

Os líbios deixaram de gozar a liberdade que tinham. Estão a atravessar desertos para alcançar a Europa para sobreviverem. Mas acabam virando alimento de tubarões e peixes nos mares, na tentativa de atravessar de África para Europa.

Enquanto isso, as multinacionais do Ocidente tiram o seu petróleo sem um cêntimo em troca. É a isso que chamam de democracia, de liberdade, de direitos humanos!

 

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