MENTE COLONIZADA

 Por: RM Kuyeri, 04 de Outubro de 2023

 Há nas nações africanos resquícios quase que perenes de colonialismo mental à mistura com um nacionalismo ingénuo que são a causa do atraso do sistema de educação em África, devido à mentalidade retrógrada das elites que é a geradora dos problemas institucionais dos Estados africanos.

O conteúdo das constituições dos Estados africanos são produtos da descolonização forçada e não traduzem a verdadeira independência na sua acepção real que assenta na verdadeira soberania de Estado, pois não são os líderes africanos que definem os destinos das suas nações.

A legislação das nações africanas baseia-se em fundamentos e valores coloniais e não incorpora os fundamentos da cultura e valores das seculares civilizações africanas. Até jornalismo africano não se baseia nos postulados da filosofia do saber africano, senão a reprodução dos pensamentos e notícias das metrópoles coloniais.

É assim que, no dia-a-dia dos africanos, a imprensa africana reproduz valores e conceitos tais como:

  • Quando os europeus se mudaram da Europa para a África, as suas viagens foram de descobertas. A questão é o que eles descobriram que nós próprios não soubéssemos? Mas os orientais já cá estiveram e não descobriram nada; conviviam com os africanos a ponto de, da sua relação com os orientais, surgiu a civilização Swahili, sem relação de colonização.
  • Quando os africanos mudam-se hoje da África para a Europa são considerados imigrantes ilegais. Mas durante a escravatura são os africanos que foram levados à força para construírem a Europa e as Américas. Hoje os seus descendentes já não podem lá ir desfrutar daquilo que os seus ancestrais construíram.
  • Em ciências sociais, a antropologia estuda os africanos e a sociologia estuda os europeus. Porque os africanos viveram ao longo da história em comunidades primitivas e nunca evoluíram, enquanto os europeus evoluíram da família, propriedade privada (feudos) até nações que atingiram o estágio de Estados.
  • Os africanos na Europa são tidos como refugiados e os europeus em África são turistas. Para os africanos irem a Europa ou América é tão difícil como tentar ir ao sol, mas os europeus e americanos viajar para África é como sair do quarto para a sala. Eles impõem o endurecimento das suas leis migratórias e impõem leveza selectiva das leis migratórias africanas a seu favor e contra os orientais, alegadamente porque são investidores. Mas quem está a erguer infra-estruturas em África são os orientais.
  • Os africanos nas sua florestas tropicais de miombos são catalogados como caçadores furtivos e os europeus nas florestas africanas são turistas cinegéticos e investigadores. Quando dizimam a nossa fauna bravia é porque estão a praticar a caça desportiva.
  • Africanos negros a trabalharem num país estrangeiro são chamados imigrantes estrangeiros por causas económicas ou guerras. Quando pessoas brancas trabalham num país estrangeiro pelas mesmas causas, não são imigrantes estrangeiros, mas sim expatriados.
  • Escutar o rufar dos tambores africanos ecoando pelo horizonte em apelos à secular epopeia das civilizações africanas é reles. Escutar os sons embaladores de sono e letargia de Beethoven é sim cultura e símbolo de intelectualidade.
  • No futebol a colonização mental do africano é ainda muito pior. Quando as equipas europeias estão em jogo até se decreta tolerância de ponto para não se ir ao trabalho e assistir-se futebol porque joga o Manchester United, Madrid, Milão, Benfica, Sporting. O africanos conhecem todos os jogadores dos clubes e campeonatos europeus. Mas não conhecem as equipas que disputam o Campeonato Africano de Futebol (CAN) e até mesmo não conhecem as equipas que disputam campeonatos nacionais dos seus países.
  • Em Moçambique é muito fácil ver estandartes do Benfica e Sporting de Portugal do que ver estandartes dos Mambas, dos Ferroviários, da União Desportiva do Songo (UDS). O mais ridículo em Moçambique foi eliminar clubes com designação local por nomes de clubes portugueses como Sporting, a exemplo de Muahivile em Nampula e um outro clube local na Zambézia.
É caso para dizer que este mundo falhou com a África ou nós mesmos falhamos connosco próprios. Então o que valem as nossas independências e símbolos nacionais se não os valorizamos e nem a nós mesmos nos damos valor.
 
Parece que esta nossa colonização mental faz-nos o pior mal que o sistema colonial de dominação que combatemos com sacrifício dos melhores filhos de África. Pois, de facto, esta é a maior estupidez normalizada pelos africanos a ponto de:
  • Quando um cidadão francês não fala inglês, os africanos respeitam-no.
  •  Quando um espanhol não fala inglês, os africanos o respeitam.
  • Quando um chinês não fala inglês, os africanos o respeitam.
  • Quando um russo não fala inglês, os africanos o respeitam.
  • Quando um português não fala inglês, os africanos respeitam-no.
  • Mas quando um africano não fala inglês, os africanos semelhantes consideram-no uma piada, pouco inteligente, analfabeto, burro e estúpido.

Este é o nível calamitoso da extensão dos danos que sofremos como povos, a ponto de usarmos o inglês como parâmetro para medir a nossa inteligência. Infelizmente, estamos a transmitir isso às nossas crianças. Pois, nas nossas escolas as crianças são levadas a acreditar que são estúpidas, só porque não conseguem falar uma língua alheia à sua trajectória ancestral.

Irmãos africanos, ponhamos fim a esta escravidão mental.  Ensinemos os nossos valores e costumes aos nossos filhos e permitamos que os habitantes locais se sintam livres para falar a sua língua nativa sem qualquer estigma. Não ajudemos os opressores a prolongar a opressão contra os africanos. Já é tempo de nos despertamos.

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