DO RESCALDO DA VISTA DO PRESIDENTE NYUSI A PORTUGAL
RM Kuyeri, 11 de Julho de 2019

O Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, realizou Visita de Estado a Portugal, de 02 a 05 de Julho de 2019. Cá entre nós, muitas vozes se ergueram contra esta visita a Portugal, a convite do seu homólogo Marcelo Rebelo de Sousa. O problema levanta-se, porque o Estadista moçambicano solicitou a Comissão Permanente da Assembleia da República apenas dois dias de Visita de Estado e não quatro dias.

Para tanto, vocifera-se em nome da transparência. Pois, os mais atentos, querem saber quem paga as contas dos restantes dois dias que o estadista moçambicano permaneceu em Portugal. Sabe-se que, quando é uma Visita de Estado, quem paga geralmente é a contraparte que convida e os iluminados moçambicanos acreditam que os outros dois dias de permanência de Filipe Jacinto Nyusi em Portugal não vão ser da responsabilidade do Governo português. Esquecem-se os ilustres iluminados moçambicanos que Portugal tem interesses em Moçambique e vice-versa.

A incógnita sobre quem paga os restantes dois dias após a Visita de Estado, está a servir de mote para desconfianças exacerbadas de que o Presidente da República esteja a usar dinheiro do erário público de forma indevida e no interesse pessoal ou que esteja a ser despesista em tempo de crise, o que não significa que não possa ter recorrido a fontes lícitas para prolongar a sua estadia naquele país.
Mas, pese a desconfiança sobre a transparência, esta Vista de Estado foi marcada profundamente por uma controversa entrevista do Chefe de Estado Moçambicano a uma dupla de jornalistas portuguesa da RTP e RDP-África, esta última, filha de uma família de retornados que, pelo que tudo indica, teve a ocasião para uma oportunidade de ajuste de contas com o Presidente Filipe Jacinto Nyusi. Disso, as variadas sátiras em textos escritos, áudios e vídeos, para além de caricaturas em banda desenhada, o ilustraram à boa maneira moçambicana, em ambiente democrático e de liberdade de expressão e de opinião.

Esta era a peça que faltava ao público para completar o enredo de toda uma entrevista, um tanto quanto desmotivada, como quão emboscada se caracterizou para servir de presente envenenado num ano especialmente eleitoral, ficando tudo explicado. Mas nós somos moçambicanos e disso temos orgulho, independentemente dos defeitos de uns e de outros e das nossas próprias fraquezas institucionais, porque ainda estamos a lutar por edificar um verdadeiro Estado Democrático de Direito.

A referida filha de uma família retornada e jornalista da RDP-África se chama Carla Henriques, uma cidadã luso-moçambicana, porque nasceu em Moçambique, mas não sei em que província, que se fazia acompanhar da luso-caboverdiana, Isabel Silva Costa. Trata-se da mesma jornalista que, no ano passado, entrevistou Samora Machel Jr, à margem da entrega de um prémio “envenenado” sobre a sua ambição política e sobre o futuro de Moçambique, mas que, o principal foco era saber quem teria matado o seu pai, Samora Moisés Machel, vítima de acidente aéreo ocorrido em Mbuzi, em território da vizinha África do Sul, quando Moçambique estava em plena “guerra contra o comunismo”. Admira-me que Portugal tenha consentido atribuir prémio a um turra, a um terrorista, a um comunista, a um ditador.
Com uma carreira invejável de mais de vinte anos de rádio na RDP-África, Carla Henriques dedica boa parte da sua vida profissional no activismo político e, sobretudo, a promover ou a vender a imagem negativa do país que a viu nascer além fronteiras, recorrendo aos instrumentos à sua disposição, um dos quais a RDP-África, para passar a mensagem dos Retornados de Moçambique que exigem que o Estado moçambique os indemnize pelos bens deixados em Moçambique aquando do seu abandono do país, logo depois da proclamação da Independência Nacional, a 25 de Junho de 1975.

Pelo sim ou pelo não, na verdade ela parece representar o último reduto ou resquício da mentalidade colonial portuguesa que, a todo custo e a partir dos vários pontos onde o chamado Grupo de Retornados de Moçambique se encontra anichado, seja no Malawi, Quénia, África do Sul, eSwatini e Portugal, procura desferir portentosos golpes ao regime moçambicano instituído após a Independência Nacional. Tudo faz para perturbar a paz e estabilidade de um país soberano e independente, chamado Moçambique.

Este Grupo de Retornados de Moçambique faz tudo do seu melhor para transmitir aos seus filhos, netos e bisnetos, incluindo alguns dos seus moleques que os acompanharam para aquelas paragens, porque os seus integrantes não queriam ser governados por pretos ou por turras. Tudo fazem para que as novas gerações de luso-moçambicanos odeiem tudo o que Moçambique representa nas suas mentes. Eles se esquecem que jamais Moçambique voltará a ser colónia ou província ultramarina de Portugal.

Que a ilustre Carla Henriques, luso-moçambicana que é, saiba que não são os integrantes do Grupo de Retornados de Moçambique que representam os interesses dos moçambicanos. Se ela e a sua comparsa queriam saber algo de Moçambique do Presidente Filipe Jacinto Nyusi que o fizesse em primeira pessoa e não em nome dos moçambicanos, porque nós, os verdadeiros moçambicanos, nunca as procuramos para que nos representem. Nós temos os nossos deputados da Frelimo, Renamo e do MDM que nos representam na nossa Assembleia da República por livre escolha democrática. Por isso, ela e a sua escumalha nunca se dêem o direito de nos representarem, porque não têm legitimidade para tal.

Basta de nos terem instrumentalizado durante quase cinco séculos em que nos negaram o direito natural de sermos seres humanos e nos chamaram e trataram como macacos. Como se isso não bastasse, após a Independência Nacional e de forma ingénua, voltaram a instrumentalizar muitos dos nossos concidadãos, com a cumplicidade dos regimes segregacionistas e racistas da Rodésia do Sul e da África do Sul, para pegarem em armas e matarmo-nos entre nós. Agora que nós moçambicanos tentamos nos reconciliar para uma paz efectiva, voltam a engendrar motivos para que voltemos a matarmo-nos e do nosso sangue alimentarem o ódio dos vossos progenitores que integram o tal Grupo de Retornados de Moçambique.

Basta de instrumentalização que jamais conseguirão devolver Moçambique de bandeja aos vossos amos e, por via disso, recuperarem as empresas e prédios que os moçambicanos sabiamente reverteram a seu favor, porque fruto do seu próprio sangue e suor. Infelizmente, parece que a táctica é encontrar um interlocutor no interior da Frelimo para viabilizar o sonho de recolonização. Por isso, não nos admiramos de ver e assistir, nos próximos tempos, muitas homenagens a pessoas outrora por vós odiadas, como foi o caso de suposta homenagem a Samora Moisés Machel, a quem chamaram turra, terrorista, comunista e ditador. Com que mérito e razão homenagearam o Fundador do Estado moçambicano se nunca quiseram nos conceder a independência!

Deixem que os verdadeiros moçambicanos e os verdadeiros portugueses convivam, cooperem e realizem os seus interesses mutuamente, sem ressentimentos do passado colonial.

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